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Livros de Alice Bailey

A Alma e Seus Mecanismos


Capítulo VII
Conclusão

Neste livro, temos considerado os dois sistemas de Psicologia, o oriental e o ocidental. Em seu conjunto, temos um quadro completo do homem, como alma vivente, que funciona por meio de um determinado mecanismo. Parte deste, o corpo etérico, com seus centros, é sutil, invisível e está além do alcance de nossos cinco sentidos; a outra parte está no reino do físico, do denso, principalmente nas glândulas endócrinas e no sistema nervoso, que controla o restante da manifestação física densa. Ambas as partes, a nosso ver, formam um todo.

A alma é sempre a grande realidade, a expressão da Vida Una, constituída pelos corpos etérico e denso. A força da alma, atuando sobre o corpo etérico e funcionando por meio deste, desenvolve os centros especializados desse corpo, o qual, por sua vez, atua sobre o corpo físico denso.

A questão que mais atrai a mente ocidental é como obter maior eficiência na atividade. O homem, a alma, está limitado em sua eficiência operacional pela condição de seu instrumento. Se as glândulas, o sistema nervoso e o corpo etérico e seus centros não estão ajustados nem funcionam de maneira adequada, o homem, a alma, deve repará-los ou curá-los. É somente porque o homem é essencialmente uma alma vivente, que cabe pensar que suas glândulas podem não funcionar adequadamente e que deveríamos estudá-las, corrigi-las e aperfeiçoá-las.

Tratar diretamente as glândulas e os centros nervosos, com medicamentos e outros recursos, é estritamente uma tarefa de reparação e não chega ao estado elevado dessas particulares glândulas e centros nervosos, originalmente criados pelo homem em questão. O mesmo atinge e, talvez mais enfaticamente, aos centros do corpo etérico, que podem ser afetados por certas práticas orientais de respiração, por mantrans e posturas muito perigosas que, com frequência, conduzem à loucura. É de se esperar que cheguemos, finalmente, a ter suficiente conhecimento e experiência, para atuar inteligente e diretamente sobre os centros e poder regular, com mais eficácia, as glândulas e neuroses do corpo físico.

Aparentemente, surgem três teorias como resultado de nossa investigação, constituindo uma tríplice hipótese que define o homem como um organismo, que manifesta vida, autoconsciência e propósito inteligente.

A primeira hipótese é: Como são as glândulas e o sistema nervoso do homem, assim ele é. Seu temperamento, suas qualidades naturais e o manejo inteligente das experiências de sua vida e meio ambiente estão determinados por seu sistema endócrino. Assim pensa o ocidente.

A segunda hipótese é: Como são seus centros assim é o homem. A passividade e a atividade de certos pontos focais de energia, no corpo etérico humano, determinam no homem seu caráter, seu modo de expressão, o tipo e também a posse de seu corpo. Suas atividades no plano físico dependem, por completo, das qualidades da força que flui por seus centros. Assim pensa o oriente.

A terceira hipótese é: As glândulas, os neurônios e os centros estão condicionados pelo controle ou ausência de controle da alma.

Pode-se arguir que só temos conseguido voltar ao assunto nos reinos do invisível e do improvável. Mas, será realmente assim? Não são aceitos, agora, como realidades, muitos fatores surgidos das conjecturas e vagas hipóteses de épocas passadas? Não se tem provado e demonstrado, hoje, o que se considerava improvável antes? Não será possível aplicar uma técnica e um método que, com o tempo, bastem mediante o conjunto de evidências disponíveis, proporcionando uma clara percepção de fatores, tão obscuros atualmente?

O ocidente oferece, segundo temos visto, seus fatos referentes à estrutura. O mecanismo do homem está determinado por seu sistema endócrino, além do sistema nervoso, o equipamento de resposta. Será que podemos encarar o tema desse ângulo e, atuando sobre as glândulas, produzir a perfeição do corpo humano e conduzir o homem, afinal, até chegar à plena luz da alma? Será que a divindade pode ser desenvolvida por meios físicos? Ou seja, aceitando a posição oriental de que os centros são os meios de expressão da alma e os responsáveis pela construção e controle do corpo por meio do sistema nervoso e das glândulas, poderemos investigar e aplicar um método, reconhecido como perigoso, e atuar diretamente através dos centros sobre os mesmos?

Existe um terceiro método pelo qual podemos evitar a ação puramente física e também o risco de despertar os centros prematuramente? Não será possível encontrar uma solução e um método que dê à alma o pleno uso de seu instrumento, e produza essa perfeita interação entre a alma e o corpo que a correta atividade dos centros, segundo se afirma, produz?

Há um meio pelo qual o homem pode se assegurar de que realmente é uma alma e pode controlar seu instrumento de expressão, quer dizer, a tríplice natureza inferior e todos os estados psíquicos e mentais. Por meio deste método é possível levar a cabo a união da Sabedoria do Oriente e o conhecimento do ocidente, de modo que fiquem disponíveis os melhores aspectos de cada sistema para todo o gênero humano.

Ao considerar a possibilidade de que o homem descubra sua alma, tem que se partir de uma hipótese e aceitá-la voluntariamente, pois toda hipótese tem sido sempre o ponto de partida do conhecimento. Supomos que o homem, como hipótese ativa, é uma alma e possui um corpo, e que existe um meio unificador que os vincula como um corpo de energia.

Aqueles que trataram de comprovar a realidade da existência da alma e de seu mecanismo vitalizador, podem ser divididos em dois grupos; por um lado, estão os místicos, que empregaram a aspiração e a emoção, além dos meios físicos; por outro lado, aquelas pessoas mais puramente mentais, que utilizaram o intelecto e a mente para chegar ao conhecimento espiritual. Esta grande gama de conhecedores de Deus empregaram diferentes terminologias, mas não tem importância para nossos fins que a alma seja denominada de Eu, a Amada, o Uno, Deus ou Cristo! O místico flagelava-se e mortificava seu corpo pelo jejum e excessiva disciplina. Deste modo, minorava a demanda dos apetites carnais e aumentava a devoção à Amada e o anseio pela Visão. Ao final de anos de fervoroso exercício, encontrava o que buscava e se unia com a Bem Amada.

Os do segundo grupo empregavam a razão e praticavam o controle da mente, juntamente com o mais severo controle emocional e físico. Pela unidirecionalidade de sua busca, eles, também descobriam a realidade e penetravam na ampla consciência do plano eterno, chegando à união com a Alma Universal.

Ambos os grupos testemunharam a verdade da existência da alma, mas limitados por sua peculiar inclinação e método, seu testemunho é unilateral. Um é excessivamente visionário, místico e emocional; o outro, demasiado acadêmico, intelectual e construtor de formas. Agora, devido à ampla difusão do conhecimento humano e ao estreito intercâmbio existente entre as mentes por meio da literatura, da palavra falada e das viagens, chegou o momento em que é, geralmente possível, pela primeira vez, uma fusão e, como resultado das conclusões anteriores de filósofos e santos de ambos os hemisférios, deveríamos poder desenvolver um sistema e um método, que sejam o modo de conquista espiritual para nossa época e geração.

Portanto, torna-se prático dar certos passos iniciais, os quais se podem resumir do seguinte modo:

(a) O tratamento saudável do corpo físico, utilizando o conhecimento do ocidente, em particular o referente à medicina preventiva, e à saúde geral do sistema endócrino.

(b) A compreensão intelectual e aplicação dos fatos básicos da Psicologia moderna e de uma sã psicanálise, chegando assim a um conhecimento do mecanismo mental, emocional e físico, por cujo meio a alma trata de se expressar.

(c) O reconhecimento de que, assim como o corpo físico é um autômato que responde aos desejos e à natureza emocional, e está controlado por eles, de forma análoga estes estados emotivos de consciência (que abarcam desde o amor ao alimento até o amor a Deus) podem ser controlados pela mente racional.

(d) Do crescimento de tudo isso resultará um estudo das leis da mente e se poderá compreender e utilizar a relação entre a mente e o cérebro.

Quando estes quatro pontos forem bem compreendidos e seus efeitos se fizerem sentir na personalidade do homem, teremos um organismo integrado e coordenado; a estrutura poderá ser, então, considerada apta para ser dirigida pela alma. As mencionadas etapas não devem ser consideradas em ordem consecutiva, mas sim numa progressão simultânea. É evidente que o perfeito conhecimento intelectual da alma e do mundo que a alma revela é possível somente para o homem que possui as mencionadas faculdades. O sentimento de Deus, a apreciação do verdadeiro e do belo e o contato com a visão mística são sempre possíveis para aqueles que têm o centro cardíaco desperto e ativo. Estes homens, que amam assim a Deus, sempre existiram no transcurso das épocas; sentem, percebem, amam e adoram, mas carecem da ligação entre a alma, a mente e o cérebro. Quando, a estas faculdades místicas, se agregam as faculdades intelectuais, então o centro coronário desperta e a glândula pineal deixa de se apresentar numa condição atrofiada e passa a ser identificada como a sede da alma e da vontade dirigente espiritual. Quando ambos os centros estão despertos, temos essas grandes e destacadas personalidades espirituais, que trabalham consagrando seu coração e cérebro, e deixam seu legado no pensamento do mundo. Até agora, o caminho da maioria tem sido o místico, e o intelectual para uns poucos, porém a espécie humana se encontra em um ponto em que, baseando suas hipóteses sobre as experiências místicas de muitos, pode progredir desde o sentimento e adoração até o conhecimento, e desde o amor a Deus até o conhecimento de Deus.

Isto dar-se-á quando o conhecimento do ocidente se adicionar à sabedoria do oriente e se impuser a técnica da ciência da alma sobre nossos tipos intelectuais ocidentais. Não é possível explanar muito sobre esta técnica. Sem dúvida, é possível descrevê-la brevemente, dividindo-a em oito etapas que podem ser classificadas como:

1. Controle de nossas relações com as demais pessoas, sintetizado pela palavra inofensividade, definida no oriente por cinco mandamentos. São eles: inofensividade, a prática da verdade, o abster-se de roubar, da incontinência e da avareza. (1)

2. Pureza de vida, tal como é definida pelas cinco regras: purificação interna e externa, contentamento, aspiração ardente, leitura espiritual e devoção a Ishvara (o Eu Divino). (2)

3. Equilíbrio.

4. Correto controle da força vital, e daí, ação direta da alma sobre o corpo etérico. O controle da energia dos centros e do corpo físico só é possível depois que o homem tenha obtido pureza e equilíbrio. Não é permitido ao homem conhecer as leis que regem a energia antes que ele tenha alcançado, por meio da disciplina, o controle de sua natureza animal e alcançado um ponto de onde não mais seja impelido pelos estados de tensão nem pelo egoísmo.

5. Abstração. Termo que abarca o poder de centrar a consciência na cabeça e atuar ali como alma, ou retirar a consciência exteriorizada das coisas objetivas e tangíveis, e dirigi-la novamente ao interior.

6. Atenção ou concentração. Significa viver de maneira uni direcionada e implica também colocar a mente em atividade ao invés das emoções. Assim, o homem emocional e físico é controlado pela mente enfocada.

7. Meditação é atenção ou concentração prolongada, e proporciona o poder de enfocar a mente na alma e no que diz respeito a esta, daí produzindo mudanças radicais no organismo e corroborando a verdade da afirmação de que “como o homem pensa, assim ele é”.

8. Contemplação é o ato da alma que, em seu próprio reino, observa as formas e estabelece contato com as energias do quinto reino da natureza, o reino espiritual. Este ato é seguido pela descida ao cérebro (por meio da mente controlada) do conhecimento e energia da alma; esta atividade da alma produz o que se chama iluminação: a energização do homem por inteiro e o despertar dos centros com um ritmo apropriado e progressivo.

Esta energia espiritual, conscientemente dirigida, atuando por meio do corpo vital e dos centros, afirma-se, deveria levar o homem material e o sistema endócrino a uma condição de perfeita saúde e, portanto, a possuir um mecanismo perfeito para a expressão da alma. Com respeito a isso, ensina-se que o homem pode alcançar um conhecimento definido da alma e se conhecer como “o Ser mais profundo”, capaz de utilizar seu mecanismo com um fim determinado, e assim atuar como alma.

Um estudo das vidas dos grandes místicos, santos e adeptos de ambos os hemisférios proporcionará muita luz sobre os efeitos fenomênicos resultantes do método mencionado, mesmo depois de se ter eliminado grande parte das informações que têm um sabor de alucinações ou de condições psicopáticas. Frequentemente, observam-se formas de clarividência, de previsão e comunicação telepática, de faculdades clariaudientes, e o peculiar poder de psicografar. Deve-se ter presente, sem dúvida, que todos estes poderes têm suas manifestações espirituais e também as inferiores. Disse A. E. Powell:

“Em termos gerais, há dois tipos de clarividência, a inferior e a superior. A primeira aparece esporadicamente em gente pouco evoluída como os selvagens da África Central; é uma espécie de sensação massiva que vagamente pertence a todo o corpo etérico. mais do que a uma perfeição sensorial definida e precisa, transmitida por um órgão especializado. Acha-se, praticamente, muito além do controle do homem. O Duplo Etérico estando em uma relação excessivamente íntima com o sistema nervoso, qualquer ação de um deles repercute rapidamente sobre o outro. Na clarividência inferior, a perturbação nervosa correspondente se produz quase totalmente no sistema nervoso autônomo.

Nas raças mais desenvolvidas, esta vaga sensibilidade geralmente desaparece à medida que se desenvolvem as faculdades mentais. Mais tarde, quando se desenvolve o homem espiritual, recobra-se o poder clarividente, só que, então, a faculdade é exala e precisa, controlada pela vontade e exercitada mediante um órgão sensitivo. Toda ação nervosa tem lugar quase exclusivamente no sistema cérebro-espinhal.

As formas inferiores de psiquismo são mais frequentes nos animais e nos seres humanos pouco inteligentes. O psiquismo histérico e mal regulado deve-se ao pouco desenvolvimento do cérebro e ao domínio do sistema simpático, cujas grandes células ganglionares, agrupadas em núcleos, contêm uma grande porção de matéria etérica e podem ser afetadas facilmente por vibrações astrais grosseiras.” (3)

Tem-se observado, com frequência, que os gatos e os cães e os seres humanos pouco evoluídos podem ver e ouvir muitas vezes o que as pessoas normais e mais inteligentes não podem perceber. Esta faculdade é, não obstante, inconsciente, e o homem se torna, com frequência, vítima de alucinações. O santo e o vidente veem e ouvem de modo igual, mas seus poderes são utilizados por sua vontade e estão totalmente sob seu controle. Os investigadores do psiquismo terão, daqui para frente, um amplo campo de investigação sobre estes temas e, quando se admitir a hipótese da existência do corpo vital e dos centros, obter-se-á muito conhecimento real.

Os instrutores da ciência oriental da alma afirmam que o despertar dos diversos centros revela estados da matéria mais sutil que a condição física. O homem espiritual ocupa-se, principalmente, dos centros localizados acima do diafragma, que conferem poderes tais como a percepção espiritual e a correta compreensão e interpretação de nossos semelhantes, de maneira a saber, como ocorreu com o Cristo, o que existe no homem, e compreender porque um homem é o que é, e age como o faz. A força da inspiração, o poder mais elevado de todos, alua como impulso inspirador do trabalho criativo através do centro laríngeo e como propulsor das empresas humanitárias mediante o centro cardíaco.

Este grupo tem afirmado que o segundo efeito é transferir a força que se encontra nos centros abaixo do diafragma para os centros acima do diafragma. Pela evolução e pelo efeito da prática da meditação o homem pode atuar conscientemente através de seus três centros principais (coronário, cardíaco e laríngeo), deixando que os três centros inferiores (base da coluna vertebral, sacro e plexo solar) executem sua função normal de energizar automaticamente o corpo, a fim de que o aparelho digestivo e o sistema reprodutor e certos aspectos do mecanismo nervoso possam levar adiante sua tarefa. Segundo esta teoria, a maioria das pessoas vive “abaixo do diafragma”, estando a força vital centrada na vida puramente animal e sensitiva; a vida sexual e a emocional predominam e toda a força que aflui ao centro sacro e através dele e do plexo solar, vai estimular certos processos fisiológicos e psíquicos inferiores. À medida que o homem evolui, muda, por conseguinte, a direção da força. Vimos que a força é dupla, uma parte vital e outra egoica; uma expressa-se por meio do sangue, a outra por meio do sistema nervoso. O aspecto força vital continua desempenhando sua função de vitalizar e dar vigor a todos os órgãos e estruturas do corpo; porém, a força da alma, até aqui relativamente inativa, começa a ascender. A força da alma, que se encontra no centro da base da coluna vertebral, é levada à cabeça pelo canal medular, passando, por sua vez, por cada centro, acumulando em cada ponto uma acrescentada energia da alma.

São interessantes os efeitos psicológicos desta transferência da consciência. Quando a alma está “entronizada” (como dizem os livros orientais) na cabeça, atrai para cima, sobre si, pelo poder de seu próprio magnetismo, a força latente na base da coluna vertebral. Assim se produz a completa fusão da energia espiritual e da força da própria matéria por meio da energia atrativa da alma. Isto é o que significa quando se fala do despertar do poder kundalínico, e deve ocorrer pelo magnetismo da alma dominante e não pela meditação sobre qualquer centro específico, nem pela ação consciente sobre a força da matéria.

A energia da alma do centro sacro deve ser levada ao mais alto centro criativo, o laríngeo. Então, dar-se-á ênfase ao trabalho criativo levado a cabo pelo bem do grupo e não à vida sexual ativa da pessoa em questão.

A energia do centro do plexo solar deve ser, de modo análogo, transferida e levada ao coração e, assim, a consciência não fica mais autocentrada nem puramente egoísta, mas o homem se torna consciente do grupo e inclusivo em suas atitudes para com as pessoas e a vida. Não fica mais antagônico nem excludente. Sabe e compreende. Tem piedade, ama e serve. Temos, aqui, um amplo campo de investigação, uma vez que se capta a relação entre um centro e outro, e entre os centros e as glândulas. Os efeitos, tanto fisiológicos como psíquicos, merecem um estudo mais detalhado.

Também é interessante observar outra afirmação feita pelos estudantes da Sabedoria Eterna. Quando um homem alcança um elevado estado de evolução, o centro laríngeo fica ativo e ele ocupa o lugar que lhe corresponde no trabalho mundial; ele tem uma tarefa definida a realizar em algum campo da atividade mundial. Sua personalidade pode, então, se considerar organizada e se pode admitir que ele alcançou a maturidade. Segundo os psicólogos, o corpo pituitário é a sede das características emocionais e mentais. Em um de seus lóbulos fica a sede da mente racional e, em outro, a sede das faculdades imaginativas emocionais e o poder de visualizar. No homem dotado de poder criador, que desenvolveu sua personalidade, os dois lóbulos da hipófise respondem às exigências, e deles se pode deduzir o status do aspecto material ou o mecanismo por cujo meio se move e se expressa a alma. Esta glândula se refere ao centro entre as sobrancelhas, que é negativo com respeito ao centro coronário que responde pela energia da Alma. Quando, por meio da técnica descrita, a alma assume o controle, energiza o centro coronário e faz com que a glândula pineal passe do estado de atrofia ao de atividade, como nos dias da infância. Então, o aspecto positivo começa a desempenhar sua parte. Estabelece-se a relação entre o centro negativo e sua contraparte, a hipófise, e entre o centro positivo e sua contraparte a glândula pineal. À medida que o tempo passa, segundo se afirma, estabelece-se um campo magnético; a alma e o corpo unem-se, o pai e a mãe entram em relação e a alma vem à existência na consciência do homem. Este é o nascimento de Cristo na Casa de Deus, e o surgimento da existência do homem verdadeiro. Os órgãos sexuais e suas atividades reprodutoras no plano físico, são disso um símbolo eterno. As perversões da magia sexual, tão amplamente prevalecentes, são uma deformação desta união ou fusão verdadeiramente espiritual dos centros de energia da cabeça, que representam, por sua vez, a relação entre a alma e o corpo. A magia sexual relega o processo aos centros abaixo do diafragma e à relação entre duas pessoas, ao plano físico. O verdadeiro processo desenvolve-se dentro da própria natureza do homem, centrado na cabeça; a relação é entre alma e corpo, ao invés de ser entre homem e mulher.

Outro efeito que se atribui à relação entre os dois centros da cabeça e suas correspondentes glândulas é que a interação entre ambas produz o resplendor de uma luz. Muitas provas corroboram isto nas Escrituras do Mundo, incluindo o comando do Cristo a seus seguidores, “deixem brilhar sua luz”. Há, também, evidências na vida dos místicos que, em várias ocasiões, têm dado testemunha em seus escritos, da luz que viram. Em uma oportunidade, enviei uma carta a um grupo de estudiosos (que haviam praticado a meditação durante vários anos) perguntando-lhes se haviam percebido algum fenômeno de interesse como resultado de seu trabalho. A carta não foi enviada a neuróticos nem a tipos visionários, mas somente a homens e mulheres bem conceituados nas esferas comerciais, artísticas e literárias, e de comprovadas realizações. Setenta e cinco por cento atestaram que percebiam uma luz na cabeça. Estavam todos alucinados? Eram todos vítimas de suas imaginações? Afinal, o que foi que viram e veem constantemente?

Há, aqui, um interessante campo de investigação e os resultados podem ter como base a realidade reconhecida pela ciência de que a luz é matéria e a matéria é luz. Quando a alma atua e o homem consegue a união consciente com essa alma, pode-se, pelo estímulo extraordinário que isso implica, perceber a luz do corpo etérico, em seu ponto principal de união com o corpo físico, no centro mais importante do corpo, o coronário. O professor C. B. Bazzoni disse:

“Temos visto que todas as formas de matéria na terra estão formadas por 92 tipos diferentes de átomos agrupados em moléculas que, juntos em incontáveis milhões, constituem todos os corpos que vemos ao nosso redor e até nossos próprios corpos. Agora, quaisquer destes 92 tipos de átomos, quando são estimulados por certos métodos bem conhecidos pela ciência, podem ser levados a emitir luz geralmente luz colorida e a natureza desta luz é peculiar e característica para cada um dos 92 átomos”. (4)

Será que isso traz alguma luz sobre o problema, sempre que se admite a hipótese de um corpo etérico? A auréola que rodeia a cabeça dos santos e das divindades, nas antigas pinturas de ambos os hemisférios, não indica, por acaso, que os artistas sabiam que pintavam homens iluminados, tanto física como espiritualmente? Estas questões deveriam ser investigadas e comprovadas ou refutadas.

A possibilidade de unificar as duas grandes escolas de pensamento que tentam explicar a unidade homem em termos de conquistas espirituais ocidentais, e da filosofia oriental, baseada na técnica do controle pela alma, tem, portanto, caráter de experimento. Havendo a disposição de aceitar o que o estudante ocidental considera hipotético, tendo uma mente aberta, o que se poderá fazer de importância prática e específica para demonstrar como verídicos, ou rechaçar, como falsos, os argumentos apresentados neste livro?

Maeterlinck cita Herbert Spencer para dizer que:

“Construir, perpetuamente, ideias que requerem o máximo esforço de nossas faculdades e perpetuamente descobrir que tais ideias devem ser abandonadas como inúteis imaginações, pode nos provar, mais completamente que outro meio qualquer, a grandeza daquilo que, em vão, tentamos captar.... Ao tentarmos continuamente saber e nos defrontarmos com a profunda convicção da impossibilidade de saber, podemos manter viva a consciência de que isto corresponde à nossa mais alta sabedoria e é nosso dever mais alto considerar como o Incognoscível aquilo por meio do qual todas as coisas existem”. (5)

Mas, não será possível aclarar um pouco mais nossa visão e de certo modo “aprofundando nossa convicção”, chegar a uma melhor compreensão das formas e aspectos que velam essa incognoscível Realidade essencial, em cujo Corpo nós “vivemos, nos movemos e temos nossa existência”?

Aceitando-se que é o mundo fenomênico seja que estejamos considerando a família humana, sejam as formas visualizadas com as quais tenhamos feito contato no Reino da Alma, talvez se comprove a verdade de que progressivamente as formas (quando ascendem na escala da existência) podem revelar, com o tempo, verdades mais amplas sobre a vida essencial. À medida que o mecanismo se desenvolve e se aperfeiçoa, também se ampliam nossos conceitos sobre a Divindade. Edward Carpenter expressa essa ideia nas seguintes palavras:

“O Dr. Prazer, na conclusão de sua grande obra The Golclen Bough, despede-se de seus leitores com as seguintes palavras: 'As leis da natureza são meramente hipóteses idealizadas para explicar a fantasmagoria sempre mutante do pensamento, que dignificamos com os altissonantes nomes do Mundo e do Universo. Em última análise, a magia, a religião e a ciência somente são teorias (do pensamento); assim como a ciência tem suplantado os seus predecessores, igualmente daqui para frente poderá ser substituída por outra hipótese mais perfeita; talvez de uma maneira completamente diferente de considerar os fenômenos e registrar o que ocorre nas sombras, da qual nós, desta geração, não podemos formar'. Sou de opinião que o Dr. Prazer tem razão ao pensar que algum dia prevalecerá uma maneira de considerar os fenômenos, diferente da ciência. Porém, creio que esta mudança virá, não tanto pelo desenvolvimento da ciência ou pela ampliação de suas 'hipóteses', como pelo desenvolvimento e expansão do coração humano, e por uma mudança em sua psicologia e poderes de percepção”. (6)

Maeterlinck resume isto muito sucintamente, quando diz: “Portanto é conveniente nos livrarmos de conceitos que emanam só de nosso corpo, assim como as brumas que enevoam a luz do dia para nossa visão, emanam somente das terras baixas. Pascal disse, de maneira definitiva que: 'Os estreitos limites de nossa existência ocultam o infinito de nossas vistas'.” (7)

São necessárias sugestões práticas na tentativa de renegar o sobrenatural (se assim nos podemos expressar) e provar que os estados subjetivos, testemunhados pelo místico e pelo vidente, são simples demonstrações de forças e poderes naturais. O homem não conseguiu até agora reconhecer nem controlar estes poderes, tampouco conseguiu, através dos séculos, identificar essas forças que agora, em certa medida, é capaz de entender e empregar, e que são a glória de nossa civilização atual. Devemos provar que um destes poderes da alma é um fato na natureza, e assim abrir-se-ão, para a humanidade, os portais de um mundo novo. O Dr. Daniel H. Leary também valoriza isso quando diz:

“Pressente-se, de certo modo, que algumas qualidades, alguns traços, pelo menos, em certas personalidades, não podem ser explicados em termos de atividade de qualquer estrutura física. Este não é um ponto sem importância, que possa ser rechaçado irracionalmente como mera superstição; está demasiado difundido, altamente carregado de emoção, bastante compartilhado ainda por alguns psicólogos, para ser ignorado. Vale à pena mencionar, uma vez mais, que se existem tais traços espirituais ou seja lá o que for, cuja definição não esteja baseada em uma estrutura, a admissão de algo menor e aparentemente insignificante contradiz inevitavelmente e totalmente o campo da ciência, pois o determinismo, para ser verdadeiro, deve ser completo”. (8)

Primeiro, deveria haver um laboratório onde as afirmações do estudante da filosofia oriental, com relação à alma vitalizadora, pudessem ser comprovadas ou refutadas. Os fenômenos da morte podem ser estudados do ponto de vista da saída da alma. As radiações do corpo humano logicamente têm recebido atenção; mas a investigação específica sobre a coluna vertebral e sua relação com os centros é, ainda, um novo campo de estudo, ainda que o Dr. Baraduc de Sorbonne, Paris, tenha feito um interessante trabalho a este respeito, fazem quarenta e cinco anos. Seu livro L'Ame Vitale é sugestivo, ainda que seja conjectural, e suas afirmações necessitam ser comprovadas.

Todo o tema do corpo vital e seus efeitos sobre o sistema nervoso e as glândulas abre um imenso campo de estudo; ao passo que a relação entre o corpo etérico do homem não só com seu sistema nervoso, mas também com o corpo etérico planetário ou o éter no qual ele, como um organismo, ocupa seu lugar, é ainda um terreno virgem.

Segundo, deveria ser possível reunir testemunhos a respeito da realidade e natureza da luz na cabeça, da qual muitos dão testemunho.

Os recentes experimentos espetaculares sobre a natureza da telepatia vão por bom caminho, se bem que este assunto esteja ainda em seus primórdios. Muito se descobrirá quando se estabelecer a diferença entre a comunicação de mente para mente, a telepatia mental, e uma forma muito mais rara de comunicação, ou seja, de uma alma para outra e de uma alma para o cérebro. Esta última forma tem sido chamada de inspiração, e tem produzido as Escrituras e os denominados “escritos inspirados” do mundo, que têm guiado os processos mentais dos grandes inventores, cientistas, poetas e artistas.

A telepatia e a inspiração dependem tanto do corpo etérico humano e sua relação com o éter universal, como o rádio depende da eletricidade. Tudo isto dá testemunho deste sutil mundo do espírito e da alma.

Disse Michael Pupin no epílogo de seu livro A Nova Reforma:

“O poder criador da alma é o único guia quando tentamos decifrar o significado desta substância ultramaterial. Proporciona o parâmetro mais firme para comparar a alma de um homem com a de outro homem e com a alma dos animais inferiores. Esta comparação, semelhante em certo aspecto aos métodos científicos de medida quantitativa, vem sendo aplicada desde o começo da civilização. O procedimento nesta investigação é, em muitos sentidos, equivalente ao método científico de investigação pela observação, pelo experimento e pelo cálculo. O que falta em precisão é suprido pelo grande número de provas e erros que se estendem por muitos séculos de medidas qualitativas, mediante uma cuidadosa comparação. Isto acabou resultando no veredicto universal de que não só a alma do homem é muito superior à alma animal, mas que esta diferença é imensamente maior que a de suas estruturas corpóreas. A comparação revela também um elemento nesta diferença, que se eleva muito acima dos demais elementos diferenciadores. É o elemento espiritual. O poder criador da alma humana criou um novo mundo na consciência humana: o mundo espiritual”.

Em outras linhas passíveis de investigação está a continuação da obra do doutor Kilner sobre a aura humana, que foi incluída em seu livro The Human Atmosphere. Outras frases a respeito da investigação sobre os poderes supranormais tem sido sintetizadas em uma declaração de um periódico australiano chamado The Federal Independent, do qual reproduzimos dois parágrafos:

“Um homem da ciência, que tem feito um estudo especial da mais recente teoria sobre a relatividade, Einstein, tem projetado nova luz sobre o episódio referente a Cristo caminhando sobre as águas. Como resultado de suas investigações, o professor H. H. Sheldon disse que considera possível afirmar que a narração bíblica, com a qual tanto se tem enganado os céticos, é um fato explicável pelas leis científicas. ’O milagre pode ser aceito pelas mentes mais céticas, desde que reconheçam o fato de que as leis fundamentais da mecânica relativista e da eletricidade podem se reduzir a uma fórmula, e que o poder do eletro- magnetismo pode influenciar a gravidade e domina-la por completo’. Segundo a última teoria matemática de Einstein, existe tão somente uma substância e uma lei universal que contém os componentes elétrico e gravitacional, os quais estão unidos em uma só fórmula, influindo um sobre os outros. O Dr. Sheldon crê que. como resultado desta descoberta, coisas como manter os aviões no ar sem motor nem apoio material, ou saltar de uma janela sem ler medo de cair, podem ser sugeridas como linhas de investigação a serem seguidas. ’Se esta teoria é mantida como prova de que a eletricidade e a gravidade são virtualmente a mesma coisa, poderemos efetivamente isolar-nos da força da gravidade’, declarou. Como prova real destas possibilidades aparentemente incríveis, o Dr. Sheldon demonstrou que uma barra de liga metálica, normalmente sensível ao magnetismo, suspensa aparentemente só pelo ar, permanecerá se um imã for colocado debaixo dela.

À luz da nova teoria de Einstein, pode-se considerar, portanto, que a liberação de Cristo das leis aceitas da gravidade, que o teriam feito submergir das águas tão logo seus pés tocaram a superfície do mar, foi devido a uma prodigiosa quantidade de eletromagnetismo de Seu próprio corpo, e de uma força que surgira da fortaleza de Sua personalidade e vitalidade. Em todas as pinturas que representam o Cristo, sempre é mostrado com uma auréola ao redor de Sua cabeça. Durante um tempo, se considerou isso como um produto da imaginação exuberante de Seus discípulos porém, durante os últimos anos, a ciência, juntamente com muitos que estudam os fenômenos psíquicos, tem demonstrado, por meio de experimentos positivos, que lodo ser humano tem uma aura que se assemelha, em muito, ao fulgor que emana de qualquer poderosa máquina elétrica.

Tal declaração é outra prova de que a ciência está cruzando a fronteira que separa as coisas materiais das espirituais. Uma vez reconhecido que o conhecimento das leis superiores pode vencer a resistência das inferiores, só então entraremos na posse de nosso verdadeiro patrimônio espiritual”.

Estamos na expectativa do alvorecer desse dia em que a religião se fundará sobre uma base científica, e as verdades que testemunham as idades serão corroboradas e provadas porque como disse também o Dr. Michael Pupin:

“As realidades espirituais de Deus são invisíveis, mas se acham exemplificadas e são inteligíveis pelas realidades físicas reveladas nas coisas físicas que são feitas. De acordo com esta interpretação das palavras dos Apóstolos, as realidades físicas e espirituais se complementem entre si. São os dois extremos das mesmas realidades, um reside na alma humana e o outro nas coisas do mundo exterior. Eis aqui uma das razões fundamentais do porque a ciência e a religião se complementarem. São os dois pilares do portal, pelo qual a alma humana entra no mundo em que reside a divindade.” (10)

Então surgirá uma nova raça, com novas capacidades, novos ideais, novos conceitos de Deus e da matéria, da vida e do espírito. Em toda essa raça e na humanidade futura, será percebido não só um mecanismo e uma estrutura, mas também uma alma, uma entidade que, utilizando o mecanismo, manifeste sua própria natureza, que é amor, sabedoria e inteligência.

A ciência tem até reconhecido esta última possibilidade e tem observado que a orientação do processo evolutivo se faz através de uma adaptação mais perfeita da forma e da vida. Em todas as partes, em toda a criação, se está cumprindo um propósito, está se manifestando uma vontade voltada para a perfeição. Este propósito e esta vontade estão controlados pelo amor e pela sabedoria; e esses dois tipos de energia (o propósito do espírito e a força atrativa da alma) aplicam-se inteligentemente ao aperfeiçoamento do aspecto matéria. Espírito, alma e corpo divina triplicidade manifestam-se no mundo e acompanharão tudo até a consumação, representada para nós, nas Escrituras do mundo, com riqueza de imagens, de cor e de forma. A visão que teve Browning desta verdade e sua expressão resumem os resultados de nosso estudo, que constituirá um apropriado final para este ensaio.

“ - e Deus renova
Seu antigo êxtase. Assim Ele mora em tudo,
Desde o diminuto começo da vida, até finalizar
Para o homem a consumação deste esquema
Da existência, o término desta esfera
Da vida: cujos atributos haviam sido, antes, aqui e ali
Espalhados por todo o mundo visível,
Pedindo para serem combinados como fragmentos destinados
A se unirem em maravilhoso todo,
Qualidades imperfeitas disseminadas por toda a criação,
Sugerindo uma criatura ainda não-criada,
Algum ponto onde estes raios dispersos possam unir-se
Convergindo para as faculdades do homem....
Quando a raça for toda perfeita,
Isto é, como um homem, de tudo dado ao gênero humano,
E pelo homem produzido até agora, tiver chegado a seu fim;
Porém no homem íntegro se inicia novamente
Uma tendência para Deus. As predições auguraram
A aproximação do Homem; assim no eu do homem surgem
Augustas antecipações, símbolos, tipos
De tênue esplendor, sempre existentes
Nesse eterno círculo perseguido pela vida.
Pois os homens começam a cruzar os limites da natureza,
Descobrindo novas esperanças e obrigações que rapidamente suplantam
Suas próprias alegrias e pesares; chegam a ser demasiado grandes
Para os estreitos credos do mal e do bem, que se desvanecem
Ante a imensurável sede do bem; enquanto
Surge neles a paz, cada vez mais.
Estes homens se acham na terra,
Serenos, em meio às criaturas semi-formadas.”

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1 - Bailey, Alice A., A Luz da Alma p. 184.
2 - Bailey, Alice A.., Ibid. p. 187.
3 - Povvell. A. E., The Etheric Double, pp. 102.103.4 - Bazzoni,C.B.,Kernels of the Universe,p. 31.
5 - Maeterlinck, Maurice, The Light Beyond, p. 95.
6 - Carpenter, Edward, Pagan and Christan Creeds; Their Origen and Meaning, p. 278.
7 - Macterlinck, Maurice, The Light Beyond, p. 73.
8 - Leary, Daniel H., Ph. D., Modern Psychologv: Normal and Abnormal, pp 191 192.
9 - Pupin, Michael, The New Reformation, pp. 264, 265.
10 - Pupin, Michael, The New Reformation, pp. 272.
11 - Browning, Robert, Paracelsus

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