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Livros de Alice Bailey

A Alma e Seus Mecanismos


Capítulo III
A Teoria do Corpo Etérico

O psicólogo oriental começa pelo que o Ocidente considera como hipotético. Ele enfatiza a natureza espiritual do homem e crê que a própria natureza psíquica seja o resultado de uma atividade espiritual. Ele afirma que tudo o que se vê objetivamente não é senão a manifestação exterior de energias subjetivas e interiores. Ele considera todos os mecanismos do cosmos e do homem como efeitos e pensa que a ciência trata apenas dos efeitos. Sua posição pode ser resumida da seguinte maneira:

Primeiro: Nada existe além da energia; e ela funciona por meio de uma substância que interpenetra e cria todas as formas e que é semelhante ao éter do mundo moderno. A matéria é energia ou espírito em sua forma mais densa, e o espírito é a matéria em seu aspecto mais sublimado.

Segundo: Como todas as formas são interpenetradas pelo éter, cada forma possui uma forma etérica ou um corpo etérico.

Terceiro: Assim como o minúsculo átomo tem um núcleo positivo, ou núcleos positivos, bem como aspectos negativos, assim também em cada corpo etérico acham-se centros positivos de força em meio à substância negativa. O ser humano possui também um corpo etérico, que é positivo em relação ao corpo físico negativo, que impulsiona esse corpo à ação e age como sua força de coesão, mantendo-o vivo.

Quarto: O corpo etérico do homem tem sete núcleos principais de energia, através dos quais fluem diversos tipos de energia, produzindo sua atividade psíquica. Esses núcleos são ligados ao sistema cérebro-espinhal, e a base dessa atividade psíquica ou sede da alma encontra-se na cabeça. O princípio que rege o conjunto acha-se, pois na cabeça e, deste centro, todo o mecanismo deveria estar dirigido e vitalizado por meio dos seis outros centros de força.

Quinto: Somente certos centros funcionam no homem, atualmente; os outros ainda não estão despertos. Num ser humano perfeito, todos os centros são ativos e levam a um desenvolvimento psíquico perfeito e a um perfeito mecanismo.

A importância que o Oriente dá à energia espiritual, e a que o Ocidente dá à estrutura ou ao mecanismo justificam plenamente a natureza psíquica do homem, tanto em seus aspectos superiores quanto em seus aspectos inferiores.

Se se quiser fundir a concepção vitalista do oriente e a concepção mecanicista do ocidente, cobrindo assim o vazio que os separa, é preciso demonstrar a existência do corpo etérico.

O sistema oriental é abstruso e complexo; ele não pode ser resumido. Contudo, é preciso fazer uma breve introdução sobre ele e indicar suas grandes linhas. Será um trabalho incompleto, mas por outro lado, se ele der uma ideia geral desse sistema, ainda que breve, isso atenderá aos nossos objetivos.

Neste relato, faremos afirmações definidas em vez de continuamente repetirmos que “o psicólogo oriental pensa”, que “os orientais declaram” e outras fórmulas semelhantes. Basta reconhecer de uma vez por todas e deliberadamente que o pensamento oriental deve ser apresentado ao Ocidente como uma hipótese, a ser submetido à prova, o que demonstrará seu valor, ou então determinará sua rejeição.

Após essa introdução, descreveremos as grandes linhas da teoria oriental.

Existe uma substância universal, fonte de tudo, tão sutil, tão refinada, que ela está verdadeiramente além do que a inteligência humana pode realmente compreender. Comparados a esta substância, os perfumes mais delicados, o eclodir dos raios de sol, a glória púrpura do sol poente não são senão matéria terrestre grosseira. E uma “rede de luz” sempre invisível ao olho humano.

A palavra-chave “substância”, que sugere algo de material, não é apropriada. É oportuno reportá-la a suas raízes latinas, “sub” que significa por baixo e “stare”, que significa manter-se. Portanto, a substância é o que se acha por baixo, o que é subjacente.

Por mais sutil e fugaz que ela seja, esta substância universal é contudo, num certo sentido, mais densa que a própria matéria. Se se pudesse conceber um agente fora da substância universal hipótese contrária a todos os fatos e todas as possibilidades e se um tal agente externo buscasse comprimir a substância universal ou influenciá-la de alguma outra maneira a partir do exterior, descobrir-se-ia então que a substância é mais densa que qualquer outro material conhecido.

Inerente à substância e formando sua perpétua contraparte, existe a vida, a vida que jamais cessa. A vida e a substância são uma única e mesma coisa, para sempre inseparáveis, mas ao mesmo tempo aspectos diferentes da mesma realidade. A vida é como a eletricidade positiva, e a substância, a negativa. A vida é dinâmica e a substância, estática. A vida é atividade ou espírito, a substância é forma ou matéria. A vida é o pai que produz, a substância é a mãe que concebe.

Além desses dois aspectos, existe um terceiro. A vida é atividade teórica ou potencial; ela necessita de um campo de ação. A substância fornece isto e na união da vida e da substância surge a flama da energia ativa.

Assim, temos uma única realidade, a substância universal; mas, ao mesmo tempo, uma dualidade coexistente a vida e a substância, e ao mesmo tempo uma trindade coexistente, a vida, a substância e a atividade recíproca que daí resulta, e é o que chamamos consciência ou alma.

Todo o mundo manifestado provém da energia (e dos fatores concomitantes, a substância e a consciência). Tudo o que podemos ver, desde o menor grão de areia até a imensidão dos céus estrelados, do selvagem ao Buda ou ao Cristo, são produtos da energia. A matéria é a energia na sua forma mais densa ou mais baixa; o espírito é essa mesma energia em sua forma mais alta ou mais sutil. A matéria é pois o espírito cadente e degradado; reciprocamente, o espírito é a matéria ascendente e glorificada.

À medida que se torna mais densa, a energia desce nos sete graus ou planos. O homem manifesta três. Ele tem um corpo físico, um corpo emocional e um corpo mental; ele funciona consequentemente em três planos, ele é consciente em três planos, os planos físico, emocional e mental. Ele está a ponto de reconhecer um quarto fator, mais elevado, a Alma, o Self, ou Si mesmo, e brevemente ele tomará consciência dela. Os três planos superiores dispensam comentários nesta discussão elementar.

Cada um dos sete planos é subdividido em sete sub planos. Só trataremos aqui dos sete subplanos do plano mais baixo, o plano físico.

Todo mundo conhece os três subplanos do plano físico, os subplanos sólido, líquido e gasoso, (por exemplo, o gelo, a água e o vapor). Além destes, existem quatro subplanos mais sutis, ou então quatro diferentes formas de éter; eles coexistem com cada um dos três subplanos bem conhecidos, e os interpenetram.

O corpo físico do homem não faz exceção. Ele tem também sua contraparte etérica, seu corpo etérico positivo, ao passo que o corpo físico denso é negativo. O corpo etérico é o fator de coesão que mantém o corpo físico em vida.

A contraparte etérica de um homem, ou de qualquer coisa física, é composta de substância universal, de vida universal e de energia universal; ela faz parte desses três elementos, mas ela não tem vida independente, nem é autossuficiente. Ela é alimentada pelo reservatório de energia universal, do qual ela é a vida, o movimento e o ser. É pois por meio do corpo etérico que funciona a energia.

Isto é igualmente verdadeiro para o homem. A energia universal funciona através de seu corpo etérico. Como o homem existe em sete planos, o corpo etérico tem pois sete pontos de contato com a energia; mas como apenas três planos estão em atividade, os quatro outros estando ainda adormecidos, existem apenas três centros de força que estão completamente desenvolvidos e quatro que não estão. Falaremos disso mais tarde.

Ao tentarmos aproximar as duas escolas, pode-se naturalmente questionar: a ciência ocidental corrobora a teoria oriental?

Um sábio tão notável quanto Isaac Newton aceita sem discutir a existência do éter como intermediário universal. No último parágrafo de sua obra “Principia”, ele escreve:

“Poderíamos acrescentar algo relativo a certo espírito dos mais sutis que penetra e se acha em todos os corpos; por sua força e sua ação, as partículas dos corpos atraem-se mutuamente a pequena distância e juntam-se se elas são contíguas; e os corpos elétricos operam a distâncias maiores, tanto repelindo quanto atraindo os corpúsculos vizinhos; a luz é emitida, reproduzida, refratada, refletida, e aquece os corpos; todas as sensações acham-se estimuladas, e os membros dos corpos animais movem-se e obedecem às ordens da vontade pelas vibrações desse espírito que são propagadas ao longo dos filamentos dos nervos, dos órgãos externos dos sentidos ao cérebro, e do cérebro aos músculos. Mas essas coisas não podem ser explicadas em poucas palavras, nem dispomos de experiência suficiente para determinar e demonstrar com rigor as leis que regem a atividade desse espírito elétrico e elástico.” (1)

Pode-se concluir, do texto acima, que Newton reconhecia a existência do corpo etérico subjacente a todas as formas, inclusive a humana.

Como Newton não é mais tão atual, consultemos uma recente edição de Enciclopédia Britânica (1926). O que se segue é dado sob o título “éter”.

“Sob uma forma ou outra, debateu-se frequentemente a questão de saber se o espaço constitui uma simples abstração geométrica, ou se ele tem propriedades físicas definidas que podem ser examinadas. No que diz respeito às partes ocupadas pela matéria, quer dizer, de substância que lança mão dos sentidos, não há nenhuma dúvida; pode-se dizer que toda a ciência não é senão o estudo das propriedades da matéria. Mas de tempos em tempos a atenção foi dirigida para porções intermediárias do espaço onde a matéria tangível está ausente; pois elas têm também propriedades físicas das quais apenas se começou a fazer uma investigação completa.

“Essas propriedades físicas não apelam diretamente aos sentidos e são, portanto, relativamente obscuras; mas não se pode duvidar de sua existência; mesmo nos meios onde ainda se prefere denominá-lo de 'espaço'. Mas um espaço dotado de propriedades físicas é mais que uma abstração geométrica; e é mais fácil pensar nele como uma realidade substancial para a qual um outro nome seria mais apropriado. O termo utilizado importa pouco, mas há muito tempo que se inventou o termo ÉTER; foi adotado por Isaac Newton e também serve para nós. Esse termo significa portanto a existência de uma verdadeira entidade que ocupa todo o espaço, sem interrupção, única realidade física onipresente, que é considerada cada vez mais como aquilo de que consiste tudo no universo material; a própria matéria, provavelmente, não é senão uma de suas modificações...

“Assim, um éter é necessário para transmitir o que é chamado força de gravidade entre dois fragmentos de matéria, e também com o intuito, mais importante e universal, de transmitir ondas de radiação entre diferentes fragmentos da matéria, por menores que sejam e mais distanciados que estejam...

“Provavelmente não se poderá expressar as propriedades do éter tendo a matéria como base; mas, já que não temos ponto de referência melhor, devemos proceder por analogia para podermos falar da elasticidade e da densidade do éter como sendo o que, se se tratasse de matéria, seria chamado por esses nomes. Não sabemos ainda o que esses termos expressam realmente; mas se a matéria atômica for, como se admite agora, uma estrutura no éter, tem-se todas as razões para dizer que, em certo sentido, o éter é muito mais denso que qualquer substância material conhecida

“A matéria pode, pois, ser comparada a uma estrutura de redes num meio bastante substancial.... “ (2)

Esses pontos de vista são retomados e comentados por outros sábios reputados.

O Dr. Burtt cita Henry More, especialista em Platão no século XVII:

“Eu me pergunto, pois, se seria indigno para um filósofo perguntar a outro filósofo se não existe na natureza uma substância incorpórea que, ao mesmo tempo que imprimisse num corpo todas as qualidades do corpo, ou pelo menos a maioria delas, como o movimento, a forma, a posição dos elementos que o compõem, etc... seria ainda capaz (já que é quase certo que essa substância desloca e para os corpos) de acrescentar tudo o que implicam semelhantes movimentos; quer dizer unir, dividir, dispersar, ligar, formar pequenas partes, ordenar as formas, animá-las com um movimento circular, se elas são capazes, ou movê-las de qualquer modo, parar sua corrida circular, ou fazer com elas o que seria necessário para produzir, segundo vossos princípios, as luzes, as cores e os outros objetos percebidos pelos sentidos... Finalmente, uma substância incorpórea tendo o maravilhoso poder de agregar e dissipar a matéria, de combiná-la, de dividi-la, de projetá-la para a frente e ao mesmo tempo de mantê-la sob controle, permanecendo ela mesma, sem ligações, sem projeções nem outros instrumentos; é provável que essa substância possa entrar novamente nela mesma, já que nada há que a torne impermeável, e que ela possa dilatar-se e novamente recomeçar. “

Comentando a posição de Henry More, E. A. Burtt acrescenta:

“Nessa passagem, More prossegue seu raciocínio partindo da existência de uma substância incorpórea nos seres humanos à suposição da existência de uma substância incorpórea, semelhante, mas mais vasta, na natureza como um todo, pois ele estava convencido que os fatos científicos mostravam que a natureza, da mesma forma que o homem, não é mais que uma simples máquina. “ (3)

Escrevendo igualmente no século 17, Robert Boyle propôs a mesma hipótese, e dotava o éter de duas funções: propagar o movimento por impulsos sucessivos, e ser um intermediário pelo qual manifestam-se curiosos fenômenos, tais como o magnetismo. Ele dizia:

“Aqueles que afirmam a existência de uma semelhante substância no universo, trarão como provas, provavelmente, vários fenômenos dos quais vou falar; mas não tratarei da existência de uma matéria correspondendo exatamente às descrições que fazem do primeiro e do segundo elemento, ainda que diversas experiências pareçam provar a existência de uma substância etérea extremamente sutil e bastante difusa. “ (4)

Voltando aos tempos modernos, William Barret diz: “O universo nos mostra, através de um conjunto de fenômenos físicos, vitais e intelectuais que o elo existente entre o mundo do intelecto e o da matéria é o mundo da vitalidade organizada, ocupando todo o reino animal e vegetal; por meio dele, de uma maneira incompreensível para nós, movimentos nascem entre as moléculas da matéria, de um caráter tal que parecem colocá-los sob o controle de um agente não físico, transcendendo as leis ordinárias que regem os movimentos da matéria inanimada; em outros termos, ele gera movimentos que não resultariam da ação dessas leis. Esse princípio implica, consequentemente, a origem da força”.

O ensinamento do Oriente considera o corpo vital como o intermediário entre o físico e o intelectual; ele age como órgão da mente no ser humano, e da Mente universal em um sistema solar. É interessante observar, a esse respeito, a enumeração que faz W. Barrett: “físico, vital e intelectual”.

Oliver Lodge foi frequentemente criticado por suas ideias a respeito da comunicação entre os vivos e os mortos; mas no que concerne à ciência pura, ele está na linha de frente dos sábios de seu tempo. Ele diz:

“Que dizer do éter, que mantém juntos os átomos, que os solda, que é essencial na configuração característica de um corpo, e que é tão essencial quanto a própria matéria?

“Geralmente, não nos ocupamos do aspecto etérico de um corpo: não temos nenhum órgão nem nenhum sentido que nos permita avaliá-lo; somente percebemos diretamente a matéria. Esta, nós percebemos claramente quando somos crianças, mas ao crescermos, inferimos também o Éter; pelo menos alguns de nós o fazem. Sabemos que um certo corpo, tendo uma certa forma, não pode existir sem as forças de coesão não pode pois existir sem o Éter querendo dizer por Éter, agora, não a totalidade, mas a sua parte imaterial, a parte que é a região da tensão, o receptáculo da energia potencial, a substância na qual se acham embebidos os átomos de matéria. Não apenas existe um corpo material, mas há também um corpo etérico; ambos coexistem. “ (6)

O. Lodge trata ainda desse mesmo assunto em um artigo que apareceu no Hibbert Journal; ele dá ali sugestões e tira conclusões do mais alto interesse:

“A luz é um atributo do éter. A luz está para o éter assim como o som está para a matéria... O éter, sujeito a todas as leis do tempo e do espaço, inteiramente submetido às leis da energia, em grande parte fonte da energia terrestre, governando todas as manifestações das forças físicas, na base da elasticidade, da tenacidade e de toda outra propriedade estática da matéria, apenas começa a assumir seu justo lugar no esquema da física...

“As cargas elétricas, compostas de éter modificado, serão reconhecidas como sendo o material de construção cósmico... Existe uma grande quantidade de éter não diferenciado que preenche todo o espaço e no qual se produz tudo o que é material. Através de toda a Física se acha a dualidade: éter e matéria.

“Toda energia cinética pertence ao que denominamos matéria, seja sob a forma atômica, seja corpuscular; o movimento ou a locomoção é sua característica. Toda energia estática pertence ao éter não modificado e universal; suas características são a tensão e o esforço. Incessantemente, a energia passa e repassa de um ao outro do éter à matéria e vice-versa e é nessa passagem que o trabalho se realiza.

“É provável que todo objeto tangível possua ao mesmo tempo uma contraparte material e uma outra etérica. Nossos sentidos só têm consciência de um único aspecto; é preciso deduzir o outro. Mas a dificuldade de perceber este outro aspecto a necessidade de inferir indiretamente depende sobretudo da natureza dos órgãos sensoriais, os quais nos ensinam sobre a matéria, mas não sobre o éter. E contudo um é tão real e substancial quanto o outro, e suas qualidades fundamentais são a coexistência e a interação. Não a interação sempre e em toda parte, pois muitas zonas são sem matéria, apesar de que não há zona sem éter. Mas em todos os lugares prevalece a potencialidade da interação e frequentemente sua realidade é evidente; ela constitui o conjunto de nossas experiências do mundo.

Em uma nota suplementar a esse artigo, o autor acrescenta:

“O éter pertence ao quadro físico das coisas e ninguém pensa que ele seja uma entidade psíquica, mas ele tende provavelmente a se servir dos objetivos psíquicos, assim como faz a matéria. Os professores Tait e Balfour Stewart supunham e davam, já em 1875, um significado psíquico; numa obra muito criticada, “o Universo Invisível”, eles o consideravam de um ponto de vista religioso. Em seu artigo sobre o “Éter” que apareceu na nona edição da Enciclopédia Britânica, o grande matemático e físico James Clerk Maxwell concluía por uma expressão de fé, não nessa hipótese, sobre a qual ele se mostrava muito prudente, mas na real existência de um meio de ligação universal suprassensível, e na probabilidade de que houvesse um grande número de funções insuspeitadas. “ (7)

O Dr. Sajous, professor de Endocrinologia na Universidade da Pensilvânia, afirma sua crença nesse meio universal, nos seguintes termos:

“Parece claro que a necessidade de um meio primário inteligente, coordenador e criativo afirma-se por todos os lados...

“O éter, tal como interpretado pelos cientistas, preenche todas essas condições e é o único meio conhecido pela ciência que é capaz de fazê-lo. Ele é invisível, penetra em qualquer matéria e se espalha pelo espaço por movimentos de ondas, e no universo ele não tem limites. Ele não oferece praticamente nenhuma resistência à energia irradiante, nem mesmo à luz do sol e das estrelas mais longínquas que se pôde descobrir. É o meio que transmite as ondas “rádio”, as ondas da telegrafia sem fio, os raios de Becquerel, os raios X ou de Roentgen, etc...

“O éter é dotado de um poder criador no espaço e sobre a terra... Consequentemente, o éter do espaço constrói os sistemas solares como ele constrói a matéria, com inteligência e coordenação, e ele dota todos os elementos químicos que ele forma, das propriedades que nós conhecemos... (8)

C. Joad, da Universidade de Oxford, descreve-nos as atividades dessa força vital, desse “estado de vida” que anima a matéria, e nos mostra a relação entre a vida e a forma. Ele se aproxima, de fato, muito de perto da teoria oriental da contraparte etérica e da energia que funciona por seu intermédio.

A Força da Vida. Suponhamos que, inicialmente, o universo fosse puramente material. Ele era caótico, obscuro, sem vida, sem energia e sem objetivo. Nesse universo inorgânico, num determinado momento, introduziu-se, de uma fonte ignorada, um princípio de vida; por “vida” quero dizer algo que não pode ser explicado em termos de matéria. Cego e oscilante no início, simples ímpeto ou impulso instintivo, este princípio busca em seguida expressar-se pela luta para alcançar um nível de consciência cada vez mais elevado. Podemos conceber o objetivo último da força de vida como sendo a conquista de uma consciência total e universal, que só poderá ser obtida por uma penetração de todo o universo pela vida e a energia, de modo que tendo começado por ser um mundo de “matéria”, o universo possa terminar por se tornar o mundo de “mente” ou “espírito”. Na matéria e por meio dela, esse princípio trabalha com esse objetivo, infundindo e penetrando a matéria com seu próprio princípio de vida e de energia. A essa matéria assim infundida damos o nome de organismos vivos, que devem ser considerados como instrumentos que a força de vida cria a fim de ajudá-la a alcançar seus objetivos. Como o próprio universo, cada organismo vivo é formado por uma essência de matéria animada pela vida, de maneira bem semelhante ao fio carregado de uma corrente elétrica. É uma corrente de vida isolada em um fragmento de matéria.

“A força da vida está longe de ser todo-poderosa. Ela é limitada pela matéria que ela busca dominar: seus métodos são de natureza experimental, variando segundo o estágio de evolução alcançado nos organismos que ela criou. Diferentes tipos de seres servem melhor ao seu propósito em diferentes estágios”. (9)

Will Durant, sem dúvida nenhuma o mais popular autor de obras filosóficas, diz o seguinte:

“Quanto mais estudamos a matéria menos ela nos aparece como fundamental, mais nós a percebemos como sendo simplesmente o lado externo da energia, assim como a nossa carne é o aspecto externo da vida e da mente... No coração da matéria, dando-lhe forma e poder, acha-se algo que não é material, que possui sua própria espontaneidade e sua própria vida; e essa vitalidade sutil, oculta e, contudo, sempre revelada, é a essência final de tudo o que conhecemos... Em primeiro lugar, e interiormente, existe a vida; a matéria, com ela coexistindo no tempo, e inextricável no espaço, lhe é inferior em essência, em lógica e em importância; a matéria é a forma e o lado visível da vida...

“A vida não é uma função da forma, e sim sua geradora; o peso e a solidez da matéria são o resultado e a expressão da energia intra-atômica, e cada músculo ou cada nervo do corpo é o instrumento modelado do desejo. “ (10)

Esses livros e cientistas mostram que a doutrina oriental, que considera o corpo etérico como o intermediário de uma força vital, da energia ou da vida, não é o vago sonho de um povo propenso ao misticismo, mas considerado como um fato natural por inúmeros pesquisadores ocidentais com senso prático.

Poderíamos resumir assim nossas ideias:

Por trás do corpo objetivo acha-se uma forma subjetiva formada de matéria etérica que age como condutor do princípio de vida, ou energia, ou prana. Esse princípio de vida é o aspecto força da alma; a alma anima a forma por meio do corpo etérico, dá-lhe suas qualidades e atributos particulares, imprime sobre ela seus desejos e finalmente dirige-a pela atividade da mente. A alma, por intermédio do cérebro, leva o corpo à atividade consciente, e por intermédio do coração, todas as partes do corpo acham-se permeadas de vida.

Essa teoria tem íntima correspondência com a teoria animista ocidental e nós a ela retornaremos. Até agora, o termo “animismo” foi suficiente; mas é provável que ele venha a ser substituído por “dinamismo”, devido aos desenvolvimentos da própria consciência humana. O homem, sendo agora uma entidade plenamente autoconsciente, sua personalidade funcionando agora como um todo integrado, o tempo é chegado em que ele pode experimentar, pela primeira vez, propósitos conscientes e vontade diretora.

Os três estados da natureza humana aos quais fez-se referência no início deste capítulo físico, sensorial e mental formam, pela primeira vez na raça humana, uma unidade coordenada. O eu dirigente pode, pois, agora, assumir o controle, e por meio da mente, agindo sobre o corpo vital ou etérico, e tendo seu ponto de contato no cérebro, conduzir seu instrumento a uma expressão inteiramente controlada e à subsequente atividade criadora. Assim emergirá o que Keyserling chama de “Ser mais profundo”. Ele diz:

“A próxima questão é saber se e como é possível desenvolver o Ser mais profundo. Quando falamos do Ser de um homem e distinguimo-lo de suas capacidades, queremos dizer sua alma vital; e quando dizemos que esse Ser toma decisões, queremos dizer que todas as suas impressões estão impregnadas de vida individual, que cada expressão particular irradia a personalidade, e que essa personalidade é, em última análise, responsável. Tal penetração pode ser realizada lá onde ela não existe ainda. É possível, graças ao fato de que o homem, tendo uma mente e uma alma, constitui uma conexão de Sentidos na qual sua consciência se move livremente. Ele é livre para dar ênfase ao que quiser; conforme o “lugar” para onde o homem dirigiu sua atenção, o organismo psíquico achará um novo centro de Ser. Consequentemente, se a pesquisa teórica mostrar que o homem terá seu centro ou em seu Ser ou na superfície, dependendo de onde estiver concentrada sua consciência, deve ser então possível, na prática, induzir o necessário processo de transferência. Resulta daí que, em princípio, qualquer um pode elevar seu Ser; para consegui-lo, basta dar ênfase, com perseverança, ao seu Ser essencial, impondo-se firmemente a só experimentar o que é compatível com o seu Ser interior. Esta é certamente uma árdua tarefa. Não apenas o processo é muito lento, como também demanda uma técnica específica de treinamento. “

Quando a psicologia oriental e a ocidental se tiverem fundido e a relação das Glândulas com o corpo vital e seus centros de força tiver sido estudada e compreendida, então para o homem será acelerada a possibilidade de funcionar como alma, como síntese de mecanismo, de vida, de propósito e de vontade. A esse respeito, Hocking chega à seguinte conclusão:

“Parece que há razões para esperar um melhor futuro físico para a raça humana com o apoio de uma sã higiene mental. Terminada a era de charlatães e, numa certa medida com sua ajuda, parece que será possível estender gradualmente o autocontrole, já que o caráter espiritual de uma disciplina como o Ioga agrupa os simples elementos da psicologia ocidental e uma ética sadia. Nenhum deles tem muito valor sem os outros. “ (12)

Antes de passar ao exame dos ensinamentos orientais a respeito dos centros de força, dois pontos merecem nossa atenção. Um considera a natureza da alma, e a outra é uma tentativa de considerar os testemunhos dos séculos passados a respeito da provável localização da consciência da alma.

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1 - Burtt, Edwin Arthur, Ph. D., Metaphysical Foundations of Modern Physical Science, p. 275.
2 - Enciclopédia Britânica, 13a Edição: Artigo: Éter.
3 - Burtt, Edwin Arthur, Ph. D., Metaphysical Foundations of Modern Physical Science, pp 131-
132.
4 - Ibidem, pp 182, 183.
5 - Barret, Sir William, On The Threshold of the Unseen, p. 274.
6 - Lodge, Sir Oliver, Ether and Reality, pp 161, 162.
7 - Lodge, Sir Oliver, Ether, Matter and the Soul, Hibbert Journal, January, 1919.
8 - Sajous, Chas.E.de M.,M. D.,ScD.,LLD.,Strength of Religion as Shown by Science, pp.152,153.
9 - Joad, C. E. M., B. A., Mind and Matter. pp 178, 179.
10 - Durant, Will, Mansions of Philosophy, pp. 66, 67, 80, 81.
11 - Keyserling, Count Hermann, Creative Understanding, pp. 180, 181.
12 - Hocking, Wm. E., Self, Its Body and Freedom, p. 75.

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