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Livros de Alice Bailey

O Reaparecimento do Cristo


 CAPÍTULO II

OPORTUNIDADE EXCEPCIONAL DO CRISTO

O Mundo de Hoje

Uma das dificuldades que se apresentam, atualmente, para a aceitação de todo o ensinamento referente à vinda de Cristo, se deve a que nada sucedeu, apesar de haver sido divulgada durante séculos. Isto é verdade, e nisto reside grande parte de nossa dificuldade. A expectativa de Sua vinda não constitui um acontecimento novo, nada excepcional tampouco, nem diferente. Aqueles que ainda permanecem fiéis a esta ideia são olhados com complacência, com condescendência, quando não são alvo de zombaria. Uma análise dos tempos e das épocas; dos significados; da intenção divina ou da vontade de Deus, e mais a consideração da situação mundial, pode conduzir- nos, entretanto, a crer que omomento presente é excepcional, em mais de um sentido, e que o Cristo enfrenta, também, uma oportunidade excepcional, produzida por certas condições mundiais, que também, são excepcionais. Existem, hoje, determinados fatores no mundo e tiveram lugar certos acontecimentos no século passado nunca antes ocorridos, que seria de grande valor considerá-los, a fim de se ter uma melhor perspectiva. Ele virá a um mundo renovado, conquanto não seja ainda um mundo melhor; novas ideias ocupam a mente das massas e novos problemas aguardam solução. Consideremos esta oportunidade com o fim de adquirir algum conhecimento da situação, na qual o Cristo aparecerá. Abordemos este tema de forma realista, evitando os pensamentos místicos e vagos. Se é verdade que Ele considera que deva reaparecer; se é um fato que trará consigo os Seus discípulos - Os Mestres de Sabedoria - e se esta vinda é iminente, quais são os fatores que, tanto Ele quanto Seus discípulos devem ter em conta?

Antes de tudo, virá a um mundo que é, essencialmente, uno. Seu reaparecimento e Seu consequente trabalho não podem estar confinados a uma pequena localidade, ou território desconhecido para a grande maioria, como sucedeu em Sua Anterior aparição. O rádio, a imprensa e a difusão de notícias farão com que Sua vinda seja diferente da de qualquer outro Mensageiro que Lhe precedeu. Os rápidos sistemas atuais de transporte permitirão que as multidões cheguem a Ele; pela televisão, Seu rosto chegará a ser familiar a todos e, em verdade, "todos os olhos O verão". Ainda que não exista um reconhecimento geral de Seu estado espiritual e de Sua mensagem, deve haver, logicamente, um interesse universal, pois hoje, mesmo os muitos falsos Cristos e Mensageiros despertam esta curiosidade universal e não podem ocultar-se. Isto cria uma condição extraordinária para trabalhar, que nenhum Filho de Deus, salvador e energetizador, jamais tivera que enfrentar.

A reação dos povos do mundo, no sentido do novo ou necessário, é também muito diversa: o homem reage, hoje, com mais facilidade ao bem e ao mal, e possui um mecanismo de resposta mais sensível que o que possuía a humanidade em épocas primitivas. Se quando veio o Mensageiro obteve uma rápida resposta, hoje sua aceitação ou rejeição serão mais gerais e imediatas. Atualmente, o homem é mais analítico, está melhor educado, é mais intuitivo, e espera, como em nenhuma outra época da história, o excepcional e o inusitado. Sua percepção intelectual é mais penetrante; seu sentido dos valores, mais agudo; sua capacidade para discriminar e escolher se desenvolve aceleradamente e penetra, com maior rapidez, no significado das coisas. Estes fatos condicionarão o reaparecimento do Cristo e tenderão a propagar, mais rapidamente, a notícia de Sua vinda e o conteúdo de sua mensagem.

Quando de Sua volta, encontrará um mundo excepcionalmente livre do domínio e das garras dos eclesiásticos. A Palestina, no passado, estava sujeita à férula dos dirigentes religiosos judeus, e os Fariseus e Saduceus eram para os povos dessa terra o que os potentados da igreja são para os povos do mundo atual. Houve, porém, na humanidade, um saudável e útil afastamento das igrejas e das religiões ortodoxas, durante o século passado, e isto oferecerá uma oportunidade excepcional para a restauração da verdadeira religião e para a apresentação de um simples retorno aos caminhos da vida espiritual. Os sacerdotes, Levitas, Fariseus e Saduceus não foram aqueles que O reconheceram quando Ele veio. Temiam-no, e é muito pouco provável que os eclesiásticos reacionários O reconheçam hoje. Talvez reapareça sob uma aparência completamente inesperada. Quem poderá dizer se será político, financista, líder do povo (surgido do seio deste mesmo povo), cientista ou artista?

É um sofisma crer, como acontece com alguns, que o principal trabalho de Cristo será realizado por intermédio das igrejas ou das religiões mundiais. Logicamente, trabalhará por meio delas, se as condições o permitirem e se houver um núcleo vivente de verdadeira espiritualidade dentro dessas instituições, ou desde que sua súplica invocadora seja suficientemente poderosa para chegar até Ele. Ele empregará todo e qualquer canal pelo qual a consciência do homem possa expandir-se e obter a correta orientação. Todavia, seria mais exato afirmar que atuará como Instrutor mundial e que as igrejas constituirão somente um dos meios de que lançará mão para instruir. Tudo o que ilumina a mente dos homens, qualquer propaganda que tenda a produzir corretas relações humanas, todos os modos de adquirir verdadeiro conhecimento, os métodos para transmutar o conhecimento em sabedoria e compreensão, tudo o que expanda a consciência da humanidade e os estados sub- humanos de percepção e sensibilidade, tudo aquilo que dissipe a miragem vã e a ilusão, destrua a cristalização e modifique as condições estáticas, ficarão dentro das verdadeiras atividades da Hierarquia que Ele supervisiona. Cristo estará restrito pela qualidade e dimensão da demanda invocadora da humanidade, e isto, por sua vez, estará condicionado pelo grau de evolução alcançado.

Durante a Idade Média e anteriormente, as igrejas e as escolas de filosofia proporcionaram os principais canais para realizar a Sua atividade subjetiva; porém, isto não sucederá, quando estiver aqui em forma objetiva e real. Esta circunstância as igrejas e organizações religiosas fariam bem em recordar. Na atualidade, Seu interesse e atenção estão voltados para dois novos campos de esforço: primeiro, para o campo da educação mundial e, segundo, em implementar, inteligentemente, as atividades que correspondem ao setor governamental, em seus três aspectos: estadístico, político e legislativo. O homem comum já se dá conta da importância e responsabilidade que tem o governo; portanto, a Hierarquia compreende que, antes de se poder estabelecer a verdadeira democracia (tal como existe, essencialmente, e que, oportunamente, se manifestará), é imperativo que se ensine às massas num estadismo cooperativista, na estabilização econômica através da correta participação e na honesta interação política. A larga separação existente entre política e religião deve desaparecer; isto pode ser alcançado agora, devido ao alto nível de inteligência atingido pela massa e, também, ao fato de que a ciência tem aproximado tanto os homens e de tal modo, que o que acontece em algum lugar da terra se converte em algo de interesse geral, em poucos minutos. Isto possibilita, de maneira excepcional, Seu trabalho futuro.

Aquilo de que mais se necessita, na atualidade, como preparação para o seu reaparecimento, é desenvolver o reconhecimento espiritual, pois ninguém sabe em que nação aparecerá; pois quem poderá dizer se será inglês, russo, negro, latino, turco, hindu ou de qualquer outra nacionalidade? Talvez professe a fé cristã, hindu ou budista, ou não pertença a nenhum credo; não virá restaurar nenhuma das antigas religiões, inclusive a cristã, senão restabelecer nos homens a fé no Amor do Pai, na realidade da vivência do Cristo e na íntima relação, subjetiva e inquebrantável, de todos os homens. Estarão à Sua disposição todos os sistemas mundiais de comunicação e relação, os quais contribuem para tornar mais excepcional Sua oportunidade, e, para isto, também Ele deve preparar-se.

Outro fator inusitado, que caracterizará Sua vinda, será, não somente a expectativa geral, como também o fato de que hoje se sabe e ensina muito sobre o Reino de Deus ou da Hierarquia espiritual do planeta. Em toda parte se contam milhares de pessoas que se interessam pela existência dessa Hierarquia, creem nos Mestres da Sabedoria - os discípulos do Cristo, e não lhes surpreenderá o aparecimento deste grupo de filhos de Deus, em torno do Seu Mentor - o Cristo. Todas as igrejas do mundo têm familiarizado o público com a frase "o Reino de Deus". Durante o século passado, os esoteristas e ocultistas deram a conhecer, publicamente, a realidade da existência da Hierarquia; os espíritas puseram em relevo a sobrevivência daqueles que têm passado ao mundo oculto do ser e seus guias também testemunharam a existência de um mundo espiritual interno. Estas forças espirituais e muitas outras, tanto dentro como fora das religiões mundiais e dos grupos filosóficos e humanitários, estão sendo dirigidas em seu trabalho, estão estreitamente relacionadas e suas atividades são intimamente sincronizadas. Trabalham unidas (ainda que não em aparência física), porque na família humana se encontram todas as etapas de sensibilidade. As forças de regeneração, reconstrução, restauração e ressurreição estão fazendo sentir sua presença em todos os muitos grupos que tratam de ajudar à humanidade e elevá-la; de reconstruir o mundo, restaurar a estabilidade e o sentido de segurança, preparando, assim (consciente ou inconscientemente) o caminho para a vinda do Cristo.

Um ressurgimento singular dos antigos ensinamentos do Buda também está penetrando no Ocidente e encontra fervorosos adeptos, em todos os países. Buda é o símbolo da iluminação; atualmente, se põe singular ênfase, em toda parte, sobre o aspecto luz. Milhões de seres, no transcurso das épocas, reconheceram Buda como o Portador da Luz, vinda do alto. Suas Quatro Nobres Verdades apontam para as causas das dificuldades humanas e indicam o remédio. Ensinou: "Cessem de identificar-se com as coisas materiais ou com seus desejos; adquiram um exato senso dos valores; cessem de considerar as posses e a existência terrestre como de principal importância; sigam o Nobre Caminho óctuplo - a Senda de corretas relações com Deus e corretas relações com seus semelhantes - e assim serão felizes". Os degraus deste Caminho são:

Valores Retos.
Palavra Reta.
Modo de viver Reto.
Pensar Reto.
Aspiração Reta.
Conduta Reta.
Esforço Reto.
Enlevo, Arrebatamento ou Felicidade retos.

Esta mensagem é excepcionalmente necessária, no mundo de hoje, em que a maioria destes passos certos para a felicidade têm sido ignorados. Sobre a base deste ensinamento, o Cristo levantará a superestrutura da fraternidade entre os homens, porque as corretas relações humanas são uma expressão do amor de Deus; elas constituirão a principal e a seguinte demonstração da divindade no homem. Hoje, em meio a este devastado, caótico e desditoso mundo, a humanidade tem uma nova oportunidade de rechaçar a vida egoísta e materialista, para começar a percorrer o Caminho Iluminado. No momento em que a humanidade demonstre vontade de percorrê-lo, então o Cristo virá; existem indícios de que os homens, na atualidade, estão aprendendo esta lição e dando os primeiros e vacilantes passos naquele Caminho Iluminado das corretas relações.

A época atual é excepcional, porque se caracteriza por um ciclo ou período em que têm lugar conferências - comunais, nacionais e internacionais - e reuniões. Formam-se clubes e elaboram-se plataformas, realizam-se conferências, congressos e comitês, em toda parte, a fim de discutir e estudar o bem-estar e a libertação do homem; este fenômeno é um dos indícios mais veementes de que o Cristo está em Seu caminho. Ele personifica a liberdade e é o Mensageiro da Libertação. Estimula o espírito e a consciência grupais e a Sua energia espiritual é a força atrativa que une os homens para o bem comum. Seu reaparecimento unirá e vinculará os homens e mulheres de boa vontade de todo o mundo, sem distinção de religião e nacionalidade. Sua vinda evocará um mútuo e amplo reconhecimento do bem que existe em todos. Isto constitui parte do excepcional de Sua vinda, e para isso já nos estamos preparando. Uma análise das notícias diárias o comprova. Será a demanda invocadora dos diversos grupos que trabalham em bem da humanidade (consciente ou inconscientemente), que produzirá Sua vinda. Aqueles que realizam este grande ato de invocação são os espiritualistas, os estadistas iluminados, os líderes religiosos e os homens e mulheres cujos corações estão cheios de boa vontade. Conseguirão evocá-lo se puderem manter-se unidos com intenção conjunta e esperançosa expectativa. Este trabalho preparatório deve ser focalizado e complementado pelos intelectuais de todo o mundo e pelos destacados benfeitores da humanidade, pelos grupos dedicados ao melhoramento humano e pelos representantes altruístas de todos os povos. O êxito do trabalho que o Cristo e a Hierarquia espiritual planejam realizar hoje, depende de que a humanidade consiga utilizar, habilmente, a luz que já possui, a fim de estabelecer corretas relações, em suas famílias, na comunidade, na nação e no mundo.

Por conseguinte, a excepcional diferença que existe entre a esperada vinda do Cristo, agora, e a da época em que veio anteriormente, se deve a que no mundo há uma infinidade de grupos que trabalham pelo bem-estar humano. Este esforço, considerado à luz de passados períodos da história humana, é relativamente novo, e para isso o Cristo deve preparar-se e trabalhar, seguindo essa tendência. O "ciclo de conferências", que está chegando ao apogeu, constitui parte da excepcional situação que o Cristo está enfrentando.

Entretanto, antes que Ele possa vir com Seus discípulos, terá que desaparecer nossa atual civilização. No próximo século, começaremos a compreender o significado da palavra "ressurreição" e a nova era começará a revelar seus profundos propósitos e intenções. O primeiro passo será a emergência, da humanidade, da morte de sua civilização, de suas antigas ideias e modos de viver, do abandono de suas metas materialistas e de seu detestável egoísmo, do seu progresso em direção à clara luz da ressurreição. Estas não são palavras simbólicas nem místicas, senão parte do clima geral que envolverá o período do Reaparecimento do Cristo; é um ciclo tão real como o ciclo de conferências que, afanosamente, se está realizando agora. Quando o Cristo veio anteriormente, nos ensinou o verdadeiro significado da Ressurreição ou Crucificação; desta vez, Sua mensagem versará sobre a vida de ressurreição. O presente ciclo de conferências prepara os homens para as relações humanas, ainda que pareçam, hoje, ser de natureza tão divergente; o fator importante, porém, é constituído do pensamento e interesse humanos em estabelecer a necessidade, os objetivos implícitos e os meios a serem empregados. O período de ressurreição que o Cristo inaugurará e que constituirá Seu trabalho singular - dentro do qual estarão compreendidas todas as Suas atividades - será o resultado da fermentação e germinação, que já se levam a cabo no mundo, evidenciadas, externamente, em infinidades de conferências.

As distintas e excepcionais condições que o Cristo enfrentou, durante os anos de guerra, O forçaram a decidir a aceleração de Sua vinda, tendo em vista a necessidade humana. O infausto estado do mundo, como resultado da guerra mundial e de séculos de egoísmo, a sensibilidade excepcional que os homens demonstraram, generalizadamente (como resultado do processo evolutivo); a inusitada difusão do conhecimento a respeito da Hierarquia espiritual e o singular desenvolvimento da consciência grupal, manifestando-se por toda parte, mediante incontáveis conferências; tudo isto confrontou o Cristo, com Sua oportunidade excepcional, impondo-se-Lhe uma decisão a que não pôde evitar.

Podemos dizer, com reverência, que nesta "oportunidade" do Cristo estavam envolvidos dois fatores, difíceis de ser compreendidos pelo homem. Devemos reconhecer o fato da sincronização de Sua vontade com a do Pai, a qual O conduziu a uma decisão fundamental. Não é fácil para o cristão comum compreender que o Cristo passa, constantemente, por grandes experiências e que em Sua divina experiência não existe nada estático nem permanente - exceto Seu inalterável amor pela humanidade.

Um profundo estudo do Evangelho, sem as limitações das interpretações ortodoxas, muitas coisas revelaria. As interpretações correntes (se fossem reconhecidas em seu verdadeiro significado), consistem, simplesmente, no que alguém compreendeu de uma série de palavras aramaicas, gregas e latinas. O fato de que a maioria dos comentaristas aceitos viveram há muitos séculos, tem dado a ditas palavras um valor totalmente deturpado. As palavras de um comentarista ou intérprete não têm hoje valor evidente algum, em comparação com os da antiguidade, não obstante o comentarista moderno ser, provavelmente, mais inteligente e estar melhor instruído, com a vantagem, também, de que existem muitas traduções aceitas e uma ciência exata. A teologia sofre as consequências da ignorância do passado; causa estranheza supor que um comentarista antigo tenha mais autoridade do que um moderno, mais instruído e inteligente. Se O Novo Testamento é veraz, na apresentação e representação das palavras do Cristo, afirmando que podemos fazer "maiores coisas" que as que Ele fez; e se há verdade no que disse: "Sede, pois, perfeitos, como vosso Pai Celestial é perfeito", onde está o erro em reconhecer a capacidade de um ser humano para se pôr em sintonia com a mente do Cristo e conhecer o que Ele quer que saibamos? Também disse que "se um homem fizer a vontade de Deus, conhecerá"; assim foi como o Próprio Cristo aprendeu e esse é o método que, conforme Ele nos assegura, proporcionará êxito a cada um de nós.

Quando o significado da vontade de Deus penetrou na consciência do Cristo, conduziu-O a certas grandes decisões, obrigando-O a exclamar: "Pai, não minha vontade, senão a Tua seja feita". Estas palavras indicam, terminantemente, um conflito e não a sincronização de duas vontades; assinalam a determinação, por parte do Cristo, de não opor Sua vontade à de Deus. Repentinamente, teve uma visão da emergente intenção divina para a humanidade e - por intermédio desta - para todo o planeta. Na determinada etapa de desenvolvimento espiritual que o Cristo havia então alcançado e que O transformou em Mentor da Hierarquia espiritual, n'Aquele que planejou o surgimento do Reino de Deus e o impôs como Mestre dos Mestres e Instrutor de anjos e de homens, Sua consciência estava completamente identificada com o Plano divino. Sua aplicação na Terra e o objetivo de estabelecer o Reino de Deus e a aparição do quinto reino da natureza, foram simplesmente, para Ele, o cumprimento da lei, e para isso estava disposto a dedicar, como dedicou, Sua vida inteira.

O Plano; seu objetivo, técnicas e leis; sua energia (a do amor), e a íntima e crescente relação entre a Hierarquia espiritual e a humanidade, Ele os conhecia e compreendia, plenamente. No momento máximo em que obteve pleno conhecimento, e no de Sua total entrega para realizar o sacrifício necessário de Sua vida, a fim de cumprir este Plano, produziu-se, subitamente, uma grande expansão de consciência. O significado, a intenção, o propósito de tudo isso, bem assim a abarcante ideia divina (tal como existia na mente do Pai) surgiu de Sua alma, não de Sua mente, porque a revelação foi muito mais grandiosa que isso. Pôde desentranhar, mais profundamente que nunca, o significado da divindade; o mundo de significados e o mundo dos fenômenos se desvaneceram e - falando esotericamente - tudo Ele perdeu. Nesse momento, nem a energia da mente criadora nem a energia do amor lhe tinham sido deixadas. Foi despojado de tudo aquilo que Lhe fizera a vida suportável e plena de significado. Um novo tipo de energia fez-se acessível- a energia da vida mesma, impregnada de propósito e ativada pela intenção. Era, Porém, nova e desconhecida para Ele e, até esse momento, incompreendida. Pela primeira vez, percebeu, com clareza, a relação que existia entre a vontade, que até então se havia expressado em Sua vida por meio do amor, e o trabalho criador de inaugurar a nova dispensação. Nesse momento, passou pelo Getsêmaní da Renúncia. E Lhe foi revelado, o que é mais grandioso, mais vasto e mais inclusivo, perdendo-se de vista, nessa visão maior, tudo aquilo que, até então, parecera tão vital e importante. Esta vital compreensão de Ser e a identificação com a divina intenção de Deus Mesmo, o Pai, o Senhor do Mundo, nos níveis de percepção, a respeito dos quais ainda nada sabemos (por enquanto), constituiu o desenvolvimento da percepção do Cristo, no Caminho da Evolução Superior. Este Caminho Ele o percorre na atualidade, e começou a palmilhá-lo há dois mil anos, na Palestina. Conheceu, em sentido até então desconhecido para Ele, qual era o propósito de Deus, o significado do destino humano e a parte que Lhe tocaria desempenhar, no cumprimento desse destino. Durante séculos, a humanidade tem prestado pouca atenção à reação do Cristo, face a Seu próprio destino, no que afetava ao humano, assim como à Sua reação ao conhecimento, na medida em que Lhe era revelado. Em relação ao Seu trabalho e sacrifício, temos sido egoístas, cobiçosos e renitentes.

A palavra "conhecer" (em relação com a consciência iniciática do Cristo e ainda de iniciados menores), se refere à exatidão do conhecimento que o iniciado obtém, por meio da experimentação, da experiência e da expressão. Os primeiros tênues indícios do "destino" monádico e da ampla influência universal que o Filho de Deus pode exercer, fizeram-se sentir na consciência do Cristo, como na consciência de todos aqueles que obedecem a Seu mandato e chegam à perfeição que Ele indicou como possível. A qualidade ou aspecto divino superior já se está fazendo sentir na vida do progressista Filho de Deus, que conhece o significado da inteligência e compreende o significado do amor e de sua natureza atrativa. Hoje - devido a estes dois reconhecimentos - percebem-se o poder da vontade e a realidade do propósito divino que esta mesma vontade deve forçosamente desenvolver. Esta foi a maior crise do Cristo.

Descritos no Evangelho (como testemunho deste progressivo desenvolvimento divino), encontramos quatro momentos em que se comprovou e demonstrou essa compreensão universal ou monádica. Vejamos, brevemente, cada um deles:

1 - Temos, antes de tudo, a manifestação feita a Seus pais, no templo: "Não sabeis vós que devo ocupar-me dos assuntos do meu Pai?". Há de observar-se que, nessa ocasião, tinha Ele doze anos de idade e já havia terminado o trabalho que devia realizar (como alma); doze é o número do trabalho terminado, como o atestam os doze trabalhos de Hércules, outro Filho de Deus. O simbolismo de Seus doze anos é substituído, agora, pelo dos doze apóstolos, símbolo de serviço e sacrifício. Também esteve no templo de Salomão, símbolo da perfeita vida da alma, assim como o Tabernáculo, no deserto, simboliza a imperfeita vida efêmera da personalidade transitória. Cristo falava, portanto, desde o nível da alma, não apenas como homem espiritual, na Terra. Quando pronunciou essas palavras, também prestava serviço como Membro ativo da Hierarquia espiritual, pois Seus pais O encontraram ensinando aos sacerdotes, Fariseus e Saquceus. Tudo isto indica que reconhecia o trabalho que Lhe correspondia, como um Instrutor Mundial, percebendo, pela primeira vez, em Seu cérebro físico, o divino propósito ou a divina vontade.

2 - Mais adiante a Seus discípulos: "Devo ir a Jerusalém" e, em seguida, lemos que "resolutamente volveu Seu rosto para ir" a essa cidade. Esta foi a indicação de que, agora, tinha um novo objetivo. O único lugar de completa "paz" (significado do nome de "Jerusalém") e "o centro de onde a vontade de Deus é conhecida". A Hierarquia espiritual de nosso planeta (a Igreja invisível do Cristo) não é um centro de paz, senão um verdadeiro vórtice de atividade amorosa, o lugar onde se reúnem as energias provenientes do centro da vontade divina, e da humanidade - o centro da inteligência divina. O Cristo se orientou para esse centro divino, denominado nas antigas Escrituras "o lugar de serena determinação, de equilibrada e obediente vontade". Esta afirmação assinalou um ponto crucial e de determinação na vida do Cristo, e demonstrou Seu progresso no cumprimento da realização divina.

3 - Então, no Horto de Getsêmani, exclamou: "Pai, faça-se a Tua Vontade e não a minha", indicando com isso, que compreendia o destino divino. O significado destas palavras não implica (como amiúde o afirmam os teólogos cristãos) aceitar o sofrimento de um futuro infortunado e a morte. Foi uma exclamação, evocada por Sua verdadeira conscientização das implicações universais de Sua missão, e pelo intenso enfoque de Sua vida em um sentido universal. A experiência de Getsêmani era unicamente possível àqueles Filhos de Deus que alcançaram Seu excepcional ponto de evolução; não tinha conexão alguma com o episódio da crucificação, como afirmam os comentaristas ortodoxos.

4 - As últimas palavras de Cristo a Seus apóstolos foram: "Eis aqui, Eu estou convosco todos os dias, até o fim da idade" ou ciclo: (São Mateus, 28, 20). A palavra importante é "fim". O vocábulo empregado vem do grego, "sun-teleia" e significa o fim de um período de tempo com outro que lhe segue imediatamente (o que poder-se-ia chamar o fim de um ciclo). Em grego, o fim total é outra palavra: "teles". Em São Mateus 24, 6: "mas ainda não é o fim" se usa a outra palavra telos porque significa que "o fim do primeiro período não foi ainda alcançado". Então, falava como Mentor da Hierarquia espiritual, expressando Sua vontade unificada agora, com a vontade de Deus, para instruir, continuamente, o mundo dos homens, e compenetrá-lo com Sua suprema consciência. Esta foi uma grandiosa afirmação enviada pela energia de Sua vontade amadurecida, Seu amor que inclui a tudo e Sua mente inteligente - afirmação que tornou possíveis todas as coisas.

Cristo também se referiu ao poder magnético da vontade, quando disse: "Eu, se for elevado, atrairei para mim todos os homens". Isto não se referia à crucificação, senão ao poder de Sua vontade magnética para atrair a todos os homens que vivem no mundo de valores materiais, por meio da vida do Cristo imanente, em todos os corações, e levá-los ao mundo do reconhecimento espiritual. Não se referia à morte e sim à vida; tampouco referia-se à cruz, mas à ressurreição. No passado, a tônica da religião cristã foi a morte, simbolizada na morte de Cristo, muito deformada por São Paulo, em seu esforço por fundir a nova religião, que Cristo estabeleceu, com a antiga religião do sangue, dos judeus. No ciclo que Cristo inaugurará depois de Seu reaparecimento, a meta de todo ensino religioso no mundo consistirá em ressuscitar o espírito na humanidade; dar-se-á importância à vivência da natureza crística em todo ser humano e ao emprego da vontade para obter esta vital transfiguração, aqui, da natureza inferior. A prova disso será o Cristo ressuscitado. Este "Caminho de Ressurreição" é o Caminho radiante, o iluminado Caminho que conduz o homem de uma expressão da divindade a outra, é o caminho que expressa a luz da inteligência, a radiante substância do verdadeiro amor e a vontade inflexível, que não permite nenhuma derrota ou deserção. Tais são as características que porão em evidência o Reino de Deus.

A humanidade encontra-se, hoje, em um peculiar e excepcional ponto médio, entre um passado desventurado e um futuro cheio de promessas, sempre que se reconheça o reaparecimento do Cristo e se leve a cabo a preparação para a Sua vinda. O presente está pleno de promessas e também de dificuldades; atualmente, e no presente imediato, a humanidade tem em suas mãos o destino do mundo ou - se se pode expressar assim, com toda reverência - a atividade imediata do Cristo. A agonia da guerra e a angústia de todo o gênero humano, conduziram o Cristo, em 1945, a tomar uma grande decisão, manifestada em duas importantes declarações. Primeiro, anunciou à Hierarquia espiritual e a todos os Seus Servidores e discípulos que vivem na Terra, que havia decidido surgir novamente e estabelecer contato físico com a humanidade, se se levassem a termo as etapas iniciais para o estabelecimento de corretas relações humanas; segundo, deu ao mundo, (para o uso do "homem da rua"), uma das mais antigas preces conhecidas, cujo uso até agora só havia permitido aos Seres espirituais mais elevados. Ao que se disse, Ele Mesmo a recitou pela primeira vez, em 1945, durante a Lua cheia de junho, conhecida como a Lua cheia do Cristo, assim como a Lua cheia de maio é conhecida como a do Buda. Não foi fácil traduzir estas frases antigas (tão antigas que não têm data certa nem antecedente algum) em palavras modernas. Mas isso se fez, e a Grande Invocação que, oportunamente, tornar- se-á prece mundial, foi por Ele pronunciada e transcrita por Seus discípulos. Sua tradução é a seguinte:

Do ponto de Luz na Mente de Deus
Flua luz às mentes dos homens.
Que a Luz desça à Terra.

Do ponto de Amor no Coração de Deus
Flua amor aos corações dos homens.
Que o Cristo volte à Terra.

Do centro onde a vontade de Deus é conhecida
Guie o propósito as pequenas vontades dos homens -
O propósito que os Mestres conhecem e a que servem.

Do centro a que chamamos raça dos homens
Cumpra-se o Plano de Amor e Luz.

E que ele vede a porta onde mora o mal.

Que a Luz o Amor e o Poder restabeleçam o Plano na Terra.

Seu extraordinário poder pode-se constatar no fato de que centenas de milhares de pessoas já a estão usando diariamente e também várias vezes ao dia. Em 1947, já havia sido traduzida em dezoito idiomas e dialetos; nas selvas da África a empregam grupos de nativos e pode-se vê-la nas mesas de escritórios de destacadas personalidades, em nossas principais cidades; difundida pelo rádio, na Europa e América e não existe país ou ilha onde não seja usada. Tudo isto levou dezoito meses.

Se esta nova Invocação for amplamente divulgada, poderá ser para a nova religião mundial o que o Pai Nosso foi para a cristandade e o Salmo 23 para o judeu espiritual. Existem três maneiras de se fazer contato com esta grande Prece ou Invocação:

1 - A do público em geral;
2 - A dos esoteristas, ou dos aspirantes e discípulos do mundo;
3 - A dos Membros da Hierarquia.

Primeiro, o público em geral a considerará como uma prece a Deus Transcendente. Estes ainda não O reconhecem como Imanente em Sua criação; elevá-la-ão em aras de esperança - esperança de luz, amor e de paz, a que todos anelam, incessantemente. Também a considerarão como prece que ilumina os governantes e dirigentes de todos os grupos que manipulam os assuntos mundiais; como rogativa para que flua amor e compreensão entre os homens, para que possam viver em paz entre si; como busca, para que se cumpra a vontade de Deus - a respeito da qual o público nada sabe, considerando-a tão inescrutável e oniabarcante que se resigna a esperar e crer, sem discutir; como oração para fortalecer o senso de responsabilidade humana, a fim de que os males atuais - que tanto afligem e confundem a humanidade - possam ser eliminados, tendo em vista refrear essa indefinida fonte do mal. Finalmente, será considerada como uma oração para que se restabeleça uma condição primordial, também indefinida, de beatífica felicidade, e desapareça da Terra todo sofrimento e dor. Tudo isto é útil para a massa, sendo a única coisa que se pode fazer, de imediato.

Segundo, os esoteristas, os aspirantes e aqueles que estiverem espiritualmente orientados, alcançarão uma aproximação mais profunda e compreensiva, do seu sentido. Reconhecerão o mundo das causas e Aqueles que, subjetivamente, se acham por detrás dos assuntos mundiais - os Dirigentes espirituais de nossa vida. Eles estão preparados para dar àqueles que possuem verdadeira visão e indicar não somente a razão dos acontecimentos suscitados nos diversos setores da vida humana, senão também revelar-lhes aquilo que permitirá à humanidade passar da obscuridade à luz. Se se adotar esta atitude fundamental, será evidente a necessidade de difundir, amplamente, os fatos subjacentes, iniciando-se uma era de divulgação espiritual, arquitetada pelos discípulos e levadas a efeito pelos esoteristas. Esta era começou em 1875, quando se proclamou a realidade da existência dos Mestres de Sabedoria, a qual permaneceu, apesar do escárnio, da negação e das errôneas interpretações dessa realidade. Tem sido de grande utilidade e reconhecimento da natureza substancial do que pôde ser corroborado, bem como a resposta intuitiva dos estudantes esotéricos e de muitos intelectuais de todo o mundo.

Um novo tipo de místico está surgindo. Difere dos místicos do passado, porque se interessa, de forma prática, pelos acontecimentos mundiais, e não somente pelas questões religiosas da igreja. Caracteriza-se pela falta de interesse dirigido para o seu desenvolvimento pessoal, pela sua capacidade de ver o Deus Imanente em toda crença, e não apenas em seu próprio e determinado credo religioso, bem assim pela aptidão de viver sua vida na luz da divina Presença. Todos os místicos têm podido fazê-lo em maior ou menor grau, porém o místico moderno difere dos do passado porque, é capaz de indicar aos demais, com toda clareza, as técnicas a seguir, na Senda; combina mente e coração, inteligência e sentimento, além de uma percepção intuitiva, de que carecia até agora. Não somente a luz de sua própria alma, senão também a clara luz da Hierarquia espiritual iluminam, agora, o caminho do místico moderno, em ritmo crescente.

Terceiro, ambos os grupos - o público em geral e os aspirantes mundiais, em seus diversos graus - têm, em seu seio, aqueles que se destacam do estofo comum, porque possuem uma profunda visão e compreensão; ocupam a "terra de ninguém", entre a massa e os esoteristas, de um lado, e entre estes e os Membros da Hierarquia, do outro lado, os quais também empregam a Grande Invocação, poisnão passa um dia sequer sem que o Cristo Mesmo a recite.

Sua beleza e potência residem em sua singeleza e no fato de expressar certas verdades essenciais, que todos os homens aceitam, inata e naturalmente: a verdade da existência de uma Inteligência fundamental, a Quem, vagamente, denominamos Deus; a verdade de que, por detrás de todas as aparências externas, o amor é o poder motivado do universo; a verdade de que vem à Terra uma grande Individualidade, chamada Cristo pelos cristãos, O qual encarnou esse amor, para que dele adquiríssemos compreensão; a verdade segundo a qual o amor e a inteligência são consequência davontade de Deus; e, finalmente, a verdade evidente de que o Plano Divino só pode desenvolver-se através da humanidade.

Este Plano exorta o gênero humano a expressar o Amor e insta com os homens para que "deixem brilhar sua luz". Logo vem a solene e final rogativa para que este Plano de Amor e de Luz, desenvolvendo-se através da humanidade, possa "murar a porta onde mora o mal". A última linha contém a ideia de restauração, dando a tônica para o futuro, e indicando que a ideia original de Deus, e Sua intenção inicial já não serão frustradas pelo mal e pelo livre-arbítrio do homem - materialismo e egoísmo puros; então, cumprir-se-á o propósito divino, graças às mudanças produzidas nos objetivos e sentimentos da humanidade.

Este é o significado óbvio e simples, que se ajusta à aspiração espiritual de todos os homens do mundo.

O emprego desta Invocação ou Prece, mais a crescente expectativa da vinda do Cristo, oferecem, hoje, a máxima esperança para a humanidade. Se assim não fosse, então a oração seria inútil, constituindo-se somente em uma alucinação, e as Escrituras do mundo, com suas profecias comprovadas, são também inúteis e enganosas. As épocas atestam o contrário. A Prece sempre receberá e tem recebido resposta; egrégios Filhos de Deus sempre têm vindo em resposta à súplica da humanidade, e sempre virão, e Aquele a quem todos os homens esperam está em caminho.

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