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Livros de Alice Bailey

Iniciação, Humana e Solar


CAPÍTULO I - Introdução
Prefácio
Introdução

DISSE O SENHOR BUDA...

...que não devemos crer em algo meramente porque seja dito; nem em tradições porque vêm sendo transmitidas desde a antiguidade; nem em rumores; nem em textos de filósofos, porque foram estes que os escreveram; nem em ilusões supostamente inspiradas em nós por um Deva (isto é, através de presumível inspiração espiritual); nem em ilações obtidas de alguma suposição vaga e casual; nem porque pareça ser uma necessidade análoga; nem devemos crer na mera autoridade de nossos instrutores ou mestres. Entretanto, devemos crer quanto o texto, a doutrina ou os aforismos forem corroborados pela nossa própria razão e consciência. “Por isto”, disse o Buda, ao concluir, “vos ensinei a não crerdes meramente por que ouvistes falar, mas, quando houverdes crido de vossa própria consciência, então devereis agir de conformidade e intensamente.”
(“A Doutrina Secreta” Vol. III Pág. 401).

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PREFÁCIO

O tema da Iniciação é de uma natureza que exerce grande fascínio sobre os pensadores de todas as escolas de pensamento e, mesmo aqueles que mantêm uma atitude cética e crítica, gostariam de acreditar na possibilidade desta realização máxima. Este livro é oferecido àqueles que não creem que este objetivo seja alcançável, pelo seu possível valor como formulação de uma interessante hipótese. Aos que preveem esta realização final como resultante de todos os seus esforços, oferecemos este livro, na esperança de que lhes possa dar inspiração e ajuda.

Entre os pensadores ocidentais da atualidade, existe uma ampla diversidade de opiniões sobre este momentoso assunto. Há os que pensam que o tema não se reveste de importância suficiente e imediata para merecer a sua atenção, e que se o homem comum seguir o caminho do dever e dispensar atenção concentrada ás suas tarefas, chegará, finalmente, ao seu destino. Sem dúvida, isto é verdade; mas, como a capacidade de prestar maior serviço e o desenvolvimento dos poderes a serem usados na ajuda à raça, constituem a recompensa daquele que está desejoso de empreender o maior esforço e de pagar o preço exigido para a Iniciação, talvez este livro possa incitar alguns á realização a que, do contrário, somente se aproximariam a passo lento. Posteriormente, estes homens passarão a ser doadores, ao invés de recebedores de ajuda.

Há, também, aqueles que consideram errados os ensinamentos iniciáticos até agora expostos em várias obras. A iniciação foi descrita como relativamente simples de alcançar, não exigindo aquela retidão de caráter que se poderia prever. Os capítulos seguintes servirão para mostrar que a crítica não é desmerecida. A iniciação é profundamente difícil de ser alcançada e exige uma vigorosa disciplina de toda a natureza inferior e uma vida de devoção discreta e de renúncia. Ao mesmo tempo, eleve ser lembrado que o ensinamento anterior está certo, na sua essência, embora a sua interpretação tenha sido reduzida em importância.

Outrossim, alguns há, interessados, mas que sentem que as possibilidades implícitas são demasiadamente avançadas para eles, e que não precisam ocupar-se com elas neste estágio de sua evolução. Este livro procura tomar aparente que o homem comum pode começar a construir, aqui e agora, aquele caráter e aquelas bases de conhecimento que são necessários, mesmo antes que o Caminho do Discipulado possa ser seguido. O devido preparo poderá agora ser feito, e homens e mulheres, em toda a parte, pedem — se assim o escolherem — preparar-se para o discipulado e trilhar o Caminho Probatório.

Centenas, no Oriente e no Ocidente, se estão aproximando, insistentemente, deste objetivo e, na unidade do seu ideal, na sua aspiração e esforço comuns, acabarão encontrando-se ante o Portal único. Reconhecer-se-ão, então, como irmãos, separados pelo idioma e aparente diversidade de arenga, mas, fundamentalmente unidos na crença da mesma verdade única e no serviço ao mesmo Deus.

Alice A. Bailey
Nova York, 1922

Imagem. Crédito: Núcleo Aquariano Brasil (adaptada)

A CONSTITUICÃO DO HOMEM

A constituição do homem, como considerada nas páginas seguintes, é basicamente tríplice, ou seja:

I. A Mônada, ou Espírito Puro, O Pai nos Céus.

Este aspecto reflete os três aspectos da Divindade:

1. Vontade, ou Poder - o Pai.
2. Amor-Sabedoria - o Filho.
3. Inteligência Ativa - o Espírito Santo.

Este aspecto é apenas alcançado nas iniciações finais, quando o homem se está aproximando do fim da sua jornada, sendo já perfeito. A Mônada reflete-se, novamente, em

II. O Ego, Eu Superior, ou Divindade.

Este aspecto é, potencialmente,

1. Vontade Espiritual - Atma.
2. Intuição - Búdi., Amor-Sabedoria, o principio crístico.
3. Mente mais elevada ou abstrata Manas Superior.

O Eu Superior começa a fazer sentir a sua força nos homens mais avançados, e, de modo crescente, no caminho probacionário, até que, na terceira Iniciação, realiza-se o controle do eu inferior pelo superior, e o aspecto mais elevado começa a fazer sentir a sua energia.

O eu Superior reflete-se

III. Na personalidade, ou eu inferior, o homem do plano físico.

Este aspecto também é tríplice:

1. Corpo mental - manas inferior.
2 Corpo emocional - corpo astral.
3. Corpo Físico - o físico denso e o corpo etérico.

Por isso, a finalidade da evolução consiste na conscientização do aspecto Egoico pelo homem, subordinando a natureza inferior ao seu controle.

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INTRODUÇÃO

Antes de abordarmos o tema dos artigos que se seguem, sobre a Iniciação, sobre os Caminhos que se abrem diante do homem aperfeiçoado e sobre a Hierarquia Oculta, podem ser feitas certas elucidações que parecem essenciais para o estudo criterioso e para a compreensão das ideias aqui expostas.

Deve-se ter em mente que, em todo este livro, são citados fatos e feitas declarações precisas, que não podem ser comprovadas de imediato pelo leitor. A fim de que não seja imaginado que a autora reivindique para si qualquer crédito ou autoridade pessoal pelo conhecimento exposto, a Sra. Bailey desautoriza, enfaticamente, quaisquer reivindicações ou alegações do gênero. Ela não pode proceder de outro modo, senão apresentar estas declarações como fatos. Não obstante, recomendaria àqueles que encontrarem algo de meritório nestas páginas, que não se sintam chocados pela aparência de dogmatismo na apresentação. Também, a personalidade inadequada da autora não deve ser um empecilho para a análise franca da mensagem à qual o seu nome aconteceu ficar ligado. Nomes, personalidades e a voz da autoridade externa, ocupam pequeno espaço em assuntos espirituais. Já isto representa um guia seguro, cuja garantia deriva do reconhecimento e da direção internos. Portanto, não é essencial que o leitor receba a mensagem destas páginas como apelo espiritual segundo uma conceituação idealística, como uma exposição de fatos ou como uma teoria desenvolvida por um estudante e apresentada à consideração dos demais estudantes. A cada qual ela é oferecida segundo a resposta interna que possa evocar, pela inspiração e luz que possa trazer, não importa a sua natureza.

Nestes dias de esfacelamento das formas tradicionais e da construção de novas, há necessidade de adaptação. Precisamos evitar o perigo de cristalização através da flexibilidade e expansão. A “velha ordem esta mudando”, mas basicamente, é urna mudança de dimensão e de aspecto, e não de material ou de fundamento. Os fundamentos sempre foram verdadeiros. A cada geração cabe urna parcela na preservação dos aspectos essenciais da forma tradicional e amada, mas cabe-lhe, igualmente, a sua expansão e o seu enriquecimento. Cada ciclo terá de acrescentar as conquistas de novas pesquisas e trabalhos científicos, eliminando aquilo que está gasto e destruído de valor. Cada época terá de construir o produto e os triunfos de seu período, abandonando as realizações passadas que possam diminuir e distorcer os contornos atuais. Acima de tudo, a cada geração é dada a alegria de demonstrar a força dos fundamentos antigos e a oportunidade para construir, sobre eles, urna estrutura que atenda às necessidades da vida interna em evolução.

As ideias aqui expostas são corroboradas por determinados fatos contidos na literatura ocultista ainda existente. Estes fatos são em número de três:

(A) Na criação do sol e dos sete planetas sagrados que compõem o nosso sistema solar, o nosso Logos empregou matéria que já estava impregnada com determinadas qualidades. A Sra. Besant declara na sua obra “Avatares” (segundo alguns de nós, uma de suas mais valiosas obras, por ser urna das mais sugestivas) que “o nosso sistema solar é formado de matéria já existente, de matéria já dotada de determinadas propriedades...” (pg. 48). Deduzimos, portanto, que esta matéria possuía determinadas faculdades latentes que tiveram de se demonstrar de urna forma peculiar, sob a Lei de Causa e Efeito, como ocorre com tudo no universo.

(B) Toda manifestação é de natureza sétupla e a Luz Central a que chamamos de Divindade, o Raio único da Divindade, manifesta-se primeiramente como Trindade e depois como um Setenário. O Deus Único manifesta-se como Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo, e estes três aspectos são novamente refletidos através dos Sete Espíritos diante do Trono, ou os sete Logos Planetários. Os estudantes de ocultismo de origem não cristã poderão denominar de Raio Único a estes Seres, atuante através dos três Raios principais e dos quatro menores, constituindo um Setenário divino. O Raio Sintético que os une a todos é o grande Raio de Amor e Sabedoria, pois em verdade “Deus é Amor”. Este Raio é o da cor índigo, senda o Raio da combinação. É o Raio que, no final do ciclo maior, absorverá os demais na realização da perfeição sintética. É a manifestação do segundo aspecto da vida do Logos. É este aspecto — o de Construtor das Formas — que faz com que o nosso sistema solar seja o mais concreto dos três sistemas maiores. O aspecto Amor ou Sabedoria se exterioriza através da construção das formas, pois “Deus é Amor', e neste Deus de Amor “vivemos e nos movemos e temos nossa existência,” e assim será até o fim da manifestação eónica.

(C) Os sete planos da Manifestação Divina, ou os sete principais planos do nosso sistema, nada mais são do que os sete subplanos do plano cósmico mais baixo. Os sete Raios de que ouvimos falar tanto, e que encerrara tanto interesse e mistério, também são apenas os sete sub-raios de um Raio cósmico. Mesmo as doze Hierarquias criadoras representam, tão somente, expressões subsidiárias de urna Hierarquia cósmica. Formam apenas um acorde na sinfonia cósmica. Quando aquele sétuplo acorde cósmico, do qual representamos parte tão insignificante, vibrar em perfeição sintética, então — e somente então — virá a compreensão das palavras contidas no Livro de Job: “As estrelas matinais cantaram em uníssono”. A dissonância ainda ressoa e a desarmonia surge de muitos sistemas, mas no caminhar da eternidade despontará uma harmonia ordenada e nascerá o dia em que (se nos atrevermos a falar de eternidade em termo de “tempo”) o som do universo perfeito ressoará até as mais longínquas fronteiras da constelação mais distante. Então será conhecido o mistério da “canção nupcial dos céus”.

Antes de começar o estudo da Iniciação, o leitor também deverá lembrar e pesar determinadas ideias. Devido à extrema complexidade da matéria, torna-se totalmente impossível que apresentemos mais do que uma ideia geral do esquema; daí, a futilidade do dogmatismo. Mais não podemos fazer do que sentir uma fração de algum todo maravilhoso, totalmente fora do alcance de nossa consciência — que o Anjo mais alto, ou Ser mais perfeito, apenas está começando a conceber. Quando reconhecemos o fato de que o homem comum, por enquanto, tem a sua consciência plenamente desenvolvida somente no plano físico, é quase consciente no plano emocional e apenas desenvolve a consciência no plano mental, torna-se óbvio que a sua compreensão da informação de ordem cósmica somente pode ser rudimentar. Quando reconhecemos o outro fato de que ser consciente num plano e ter controle nele são duas condições muito diferentes, torna-se aparente quão remota é a possibilidade de nos aproximarmos além das generalidades do esquema cósmico.

Precisamos, também, admitir que os dogmas e os fatos ocultos dos livros de texto encerram perigos e que a segurança está na flexibilidade e numa mudança do ângulo de apreciação das coisas. Por exemplo, um fato encarado do ponto de vista da humanidade (empregando a palavra “fato”, no sentido científico, como aquilo que tem sido demonstrado além de qualquer dúvida) pode não constituir um fato, do ponto de vista de um Mestre. Para Ele, poderá representar, apenas, parte de um fato maior, apenas uma fração do todo. Como Sua visão atua na Quarta e quinta dimensões, Sua percepção do lugar do tempo na eternidade terá de ser mais exata do que a nossa. Ele vê as coisas de cima para baixo, e como alguém para quem o tempo não existe.

Há um inexplicável principio de mutação na Mente do Logos, ou da Divindade do nosso sistema solar, que governa todas as Suas ações. Nós apenas vemos as formas sempre cambiantes e vislumbramos a vida em evolução constante, naquelas formas, mas ainda não possuímos a chave para o principio que atua através do caleidoscópio dos sistemas solares, raios, hierarquias, planetas, planos, esquemas, ciclos, raças e sub-raças. São entrelaçados, interligados e se interpenetram mutuamente, e ficamos tomados de espanto total diante do maravilhoso modelo que se desenrola diante de nós. Sabemos que, em algum ponto neste esquema, nós, a hierarquia humana, temos o nosso lugar. Por isso, tudo que podemos fazer é nos apegarmos a qualquer informação que pareça afetar o nosso próprio bem-estar e que diga respeito a nossa própria evolução, procurando compreender, um pouco que seja, do macrocosmo, com base no estudo do ser humano, nos três mundos. Não sabemos como o uno pode tornar-se três e os três tornarem-se sete, continuando, assim, a inconcebível diferenciação. Para a visão humana, este entrelaçamento do sistema forma um complexo inimaginável, cuja chave parece ainda não ter sido achada. Visto do ângulo de um Mestre, sabemos que tudo segue urna sequencia ordenada. Visto do ângulo da percepção divina, o Todo move-se em uníssono harmonioso, produzindo uma forma geometricamente exata. Browning expressou parte desta verdade quando escreveu:

“Tudo é mudança, mas também permanência”... e continuou:
“Verdade interna e, também, verdade externa; e entre ambas está a falsidade que é a mudança, como a verdade é a permanência.”
“A verdade sucessivamente toma forma, um grau acima da sua última exteriorização...”

Precisamos ter em mente, também, que não é seguro, nem sábio levar o conhecimento dos fatos do sistema solar além de determinados limite. Muito precisa permanecer esotérico e velado. Os riscos do conhecimento demasiadamente profundo são muito maiores do que a ameaça do demasiadamente limitado. Com o conhecimento, vêm responsabilidade e poder — duas coisas para as quais a raça ainda não está preparada. Portanto, tudo que podemos fazer é estudar e estabelecer a correlação com a parcela de que dispomos de sabedoria e prudência, empregando o conhecimento, que possa surgir, para o bem daqueles a quem procuramos ajudar, e reconhecendo que o uso sábio e criterioso do conhecimento traz maior capacidade para receber a sabedoria oculta. Também conjugados à sabia adaptação do conhecimento às necessidades circundantes, deverão crescer a capacidade de exercer discreta reserva e o emprego da faculdade de discriminação. Quando ternos capacidade de empregar sabiamente, reservar discretamente e discriminar adequadamente, proporcionamos aos Instrutores vigilantes da raça, a mais segura garantia de que estamos prontos para uma nova revelação.

Precisamos nos resignar com o fato de que o único caminho que nos permite encontrar a chave para o mistério dos raios, sistemas e hierarquias, é o do estudo da lei de correspondências ou analogias. É o único fio que nos permite encontrar o nosso caminho através do labirinto, e o único raio de luz que brilha na escuridão da ignorância circundante. Isto nos foi revelado por H. P. Blavatsky na “Doutrina Secreta”, mas até agora muito pouco tem sido feito pelos alunos, no sentido de recorrerem a esta chave. No estudo da Lei, precisamos lembrar que a correspondência reside na sua essência e não na configuração esotérica de detalhes, como os encaramos do nosso ponto de vista atual. O fator tempo nos desvia devido ao seguinte: erramos ao tentar fixar limites ou períodos de tempo; tudo na evolução progride através de fusão, segundo um constante processo de justaposição e combinação. O estudante comum tem apenas a possibilidade de reconhecer generalidades e os pontos fundamentais da analogia. No momento em que se esforçar por reduzir seu reconhecimento, sob a forma de uma projeção esquemática, e fazer ilações detalhadas, penetrará em campos nos quais está destinado a errar e, assim, tropeçará através de uma neblina que o dominará finalmente.

Não obstante, o estudo científico desta lei da analogia trará uma gradual expansão do conhecimento e uma forma de permanente expansão será gradualmente construída na lenta acumulação dos fatos, que abrangerá grande parte da verdade. O estudante despertará, então, para a compreensão de que, após todos os estudos e esforços, terá adquirido ao menos um amplo conceito geral do pensamento — forma do Logos, no qual poderá encaixar os detalhes, na medida em que os adquirir através de muitas encarnações. Isto nos conduz ao último ponto a ser examinado antes de abordarmos o tema propriamente dito, ou seja:

Que o desenvolvimento do ser humano nada mais é do que a passagem de um estado de consciência para outro. É urna sucessão de expansões, um crescimento daquela faculdade da plena percepção, que constitui a característica predominante do Pensador que reside em nosso intimo. É o progredir da consciência polarizada na personalidade, no eu inferior, ou no corpo, para a consciência polarizada no Eu superior, ou alma e, dali, para urna polarização na Mônada, ou Espírito, até que, finalmente, a consciência passe a ser Divina. Como desenvolvimento do ser humano, a faculdade da plena percepção estende-se, primeiramente, além das paredes que a limitam dentro dos reinos inferiores da natureza (os reinos mineral, vegetal e animal) para os três mundos da personalidade em evolução, para o planeta no qual labuta, para o sistema do qual o planeta faz parte, até que, finalmente, a consciência escapa do sistema solar para tornar-se universal.

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