Livros de Alice Bailey
OS TRABALHOS DE HÉRCULES
Prefácio: O Propósito deste Estudo
O grande interesse que hoje se observa pela vida espiritual é, por si mesmo, justificativa para o estudo a que esta série de artigos se propõe. Em que pese o fato da religião acadêmica e teológica ter perdido a sua antiga atração, e apesar da revolta contra a religião organizada, o impulso para as realidades espirituais jamais foi tão intenso quanto agora. Chegou o tempo da experiência empírica em larga escala, e homens e mulheres por toda parte recusam-se a acreditar e aceitar cegamente, porque agora estão determinados a saber. A aceitação de dogmas impostos está agora cedendo lugar ao experimento; e a autodeterminação divina - baseada na compreensão da unidade com a Vida na qual vivemos, nos movemos e temos o nosso ser - está tomando o lugar da credulidade e da superstição.
O problema de todo instrutor, hoje, é descobrir novas maneiras pelas quais expressar as velhas verdades e de tal modo apresentar as antigas fórmulas para o desenvolvimento espiritual, que estas adquirirão nova e pulsante vida. Muitos livros têm sido escritos, nos dois hemisférios, sobre o Caminho do Discipulado, o Caminho da Santidade e o Caminho da Iluminação. A reafirmação dos problemas desse Caminho universal e das dificuldades que lhe são inerentes, não é justificável a menos que a aplicação seja moderna e prática. Ela deve indicar a inclusividade da meta, uma vez tenham sido superados esses problemas, e evitar a cansativa repetição daquela regra básica da vida, que tem sido expressa nas duas palavras: “Sede bons.” Repetidamente nos tem sido dito que precisamos vencer a tentação do mundo, da carne, e do diabo. Foi desenvolvido na mente do aspirante ocidental o sentimento de que o Caminho será, necessariamente, feito de angústia, autoabnegação e de infinito sofrimento. A atitude do aspirante é caracterizada por uma ativa sujeição ao sofrimento até quando ele, misteriosa e miraculosamente abre caminho para um mundo de paz e abundância, onde todas as angústias têm fim, a carne deixa de incomodá-lo, e o diabo encontra seu intempestivo fim. Tudo isso como recompensa pela dócil submissão à vontade de um criador inescrutável.
Contudo, começando a despontar na consciência humana, existe uma crescente conscientização da divindade inata e de que o homem é, verdadeiramente, feito à imagem de Deus, e uno, em natureza, com seu Pai no Céu. A ideia do propósito e do plano está sendo captada, e a atitude global do aspirante em relação à vida está mudando rapidamente. Seguramente, deveria ser agora possível obter um quadro sintético do progresso da alma, da ignorância até a sabedoria, do desejo material à conquista espiritual, de tal modo que o fim possa ser visualizado a partir do início, e a cooperação inteligente com o propósito da alma substitua o esforço feito às cegas? Quando isto acontecer, o peregrino poderá avançar pelo caminho com a face voltada para a luz, e irradiada de alegria.
Verificar-se-á que a história das dramáticas experiências desse grande e venerável Filho de Deus, Hércules ou Herakles, servirá para nos dar, justamente, esse quadro sintético. Sem deixar de focalizar qualquer uma das faces da vida do aspirante, ainda assim, liga-o ao empreendimento cósmico. Verificamos que o tema é tão inclusivo que todos nós, lutando em nossa atual vida moderna, podemos aplicar a nós mesmos os testes e provas, os fracassos e as conquistas desta Figura heroica que, há séculos passados, lutou valorosamente para atingir a mesma meta que nós almejamos. Através da leitura desta história talvez possa ser despertado na mente do aspirante confuso um novo interesse, e um tal quadro pintado do desenvolvimento e do destino sequencial do universo, que ele queira prosseguir com redobrada coragem.
Acompanharemos a história de Hércules e do seu esforço, para mostrar como ele, nos doze trabalhos, desempenhou o papel do aspirante no Caminho do Discipulado. Neste Caminho, ele desincumbiu-se de certas tarefas, de natureza simbólica, e viveu certos episódios e acontecimentos que retratam, em qualquer época, a natureza do treinamento e realizações que caracterizam o homem que se aproxima da libertação. Ele representa o Filho de Deus encarnado, mas ainda imperfeito, que definitivamente toma em suas mãos a natureza inferior, e voluntariamente, submete-a à disciplina que finalmente fará emergir o divino. É a partir do ser humano que falha, mas que é sinceramente sério, inteligentemente consciente do trabalho a ser realizado, que se forma um Salvador do Mundo.
Duas grandes e dramáticas histórias têm sido conservadas diante dos olhos dos homens ao longo do tempo. Nos doze trabalhos de Hércules, aquele Caminho do Discipulado é retratado e suas experiências, preparatórias do grande ciclo final da Iniciação, encontram pronta resposta em cada homem que aspira. Na vida e obra de Jesus, o Cristo, esse radiante e perfeito Filho de Deus, que “penetrou o véu por nós, deixando-nos o exemplo para que seguíssemos seus passos”, temos retratadas as cinco etapas do Caminho da Iniciação, que são os episódios culminantes para os quais os doze trabalhos preparam o discípulo.
O oráculo falou e, através dos tempos, se tem ouvido a palavra: “Homem, conhece-te a ti mesmo.” Este conhecimento é a mais importante realização no Caminho do Discipulado, e a recompensa de todo o trabalho realizado por Hércules.
A Natureza do Discipulado
Neste ponto talvez, fosse útil analisarmos, sucintamente, a natureza do discipulado. Esta é uma palavra de uso tão constante entre os aspirantes nos países cristãos quanto nas religiões orientais. O discipulado poderia ser definido como a etapa final do caminho da evolução, e como aquele período na experiência do homem no qual ele chega a ser definitivamente autoconsciente. É a etapa na qual ele, intencionalmente, se impõe, a vontade da alma - que é essencialmente a vontade de Deus - sobre a natureza inferior. Neste caminho o homem submete-se a um processo forçado, para que a flor da alma possa desabrochar mais rapidamente. A inevitabilidade da perfeição humana sustenta sua disposição para tentar palmilhar o caminho. Esta perfeição pode ser alcançada de duas maneiras. Pode ser o resultado do lento e contínuo crescimento evolutivo, levado avante sob o efeito das leis da natureza, ciclo após ciclo, até que, gradualmente, o Deus oculto possa ser visto, no homem e no universo. Ou, pode ser o resultado de sistemática aplicação e disciplina por parte do aspirante, o que produz um desabrochar mais rápido do poder e vida da alma.
Em uma das análises do discipulado, este foi definido como “um solvente psíquico que consome toda a escória e deixa apenas o ouro puro.” E um processo de refinação, de sublimação e de transmutação, continuamente levado adiante até finalmente se alcançar o Monte da Transfiguração e da Iluminação. Os mistérios ocultos e as forças latentes nos seres humanos precisam ser descobertos e têm que ser utilizados de maneira divina e de acordo com o divino propósito, inteligentemente entendido. Quando são utilizados desta maneira, o discípulo se vê em sintonia com energias e poderes divinos similares, que sustentam as operações do mundo natural. Assim ele se toma um trabalhador sob o plano da evolução e um cooperador com aquela grande “nuvem de testemunhas” que, através do poder da sua supervisão, e resultado de sua realização, constituem os Tronos, os Principados e os Poderes por meio dos quais a Vida Una guia toda a criação para uma gloriosa consumação.
Essa é a meta do trabalho de Hércules, como essa é a meta da humanidade como um todo, cuja conquista espiritual grupal última será alcançada pelas múltiplas perfeições individuais.
Conotações Astrológicas
Um objetivo secundário deste estudo é apresentar um aspecto da astrologia que deferirá do que geralmente é apresentado. Acompanharemos a história de Hércules à proporção que ele percorre os doze signos do zodíaco. Ele expressou, uma a uma, as características de cada signo, e em cada um, ele conquistou um novo conhecimento de si mesmo, e através desse conhecimento, demonstrou o poder do signo e adquiriu os dons que o signo conferia. Em cada signo, vamos encontrá-lo superando suas próprias tendências naturais, controlando e governando seu próprio destino, e demonstrando o fato de que os astros predispõem, mas não controlam.
A forma de astrologia que, creio eu, com o tempo substituirá o tipo comum, que trata de horóscopos, é aquela apresentação sintética dos acontecimentos cósmicos que se refletem na nossa vida planetária, na vida da humanidade como um todo, e na vida do indivíduo, o qual é sempre o microcosmo do macrocosmo. Este tipo de astrologia limita sua atenção, primordialmente, ao desenvolvimento do plano das idades; esta, no que toca à humanidade, a História pouco revela, e um estudo mais abrangente das épocas e estações pode trazer-nos maior compreensão dos propósitos de Deus. Por detrás da humanidade, jaz um vastíssimo passado; eons e eons vieram e se foram; a roda da existência gira continuamente, o pergaminho da vida desenrola-se, e nós somos impelidos para frente e sob o impulso de uma força recorrente, em direção a um novo aspecto da mente e a uma mais ampla visão e realização. A concentração sobre o horóscopo pessoal e o grande interesse que o indivíduo demonstra pelos seus próprios assuntos triviais podem ser naturais e normais, mas não deixam, contudo, de ser tacanhos. Somente a consciência de que somos partes integrantes de um Todo maior e o conhecimento da divina totalidade, pode revelar o propósito mais vasto. Estas são as ideias que devem afinal superpor-se às nossas concentrações pessoais. As pequeninas histórias de nossas vidas têm que desaparecer no quadro maior. Hércules representou astrologicamente a história da vida de cada aspirante, e demonstrou o papel que a unidade tem que desempenhar no Empreendimento eterno.
A respeito do zodíaco e da astrologia, um grande Mestre do oriente expressou-se por este sugestivo pensamento:
“Que a astrologia é uma ciência, e uma ciência emergente, é
verdade. Que a astrologia, em seu mais elevado aspecto e verdadeira
interpretação, finalmente capacitará o homem a focalizar sua compreensão e
a atuar corretamente, é igualmente verdade. Que nas revelações que a
astrologia fará, no devido tempo, encontrar-se-á o segredo da verdadeira
coordenação entre a alma e a forma, é também correto. Mas este tipo de
astrologia ainda não foi descoberto. Inúmeros pontos são desprezados e muito
pouco conhecido para fazer da astrologia uma ciência exata, como muitos
afirmam. Tal alegação será concretizada em alguma data futura, mas ainda
não chegou o tempo.
A astrologia como atualmente é praticada está fadada a desmoronar-se, dada a
rapidez com que as almas estão controlando as suas personalidades. O
horóscopo da alma não será feito com base no nosso conhecimento
tridimensional, uma vez que as leis de tempo e espaço não exercem influência
alguma sobre a alma.” (Astrologia Esotérica)
Por conseguinte, neste estudo, trataremos de uma astrologia não matemática, e que não terá relação com o traçado dos horóscopos. Dirá respeito aos doze tipos de energias por meio dos quais a consciência da Realidade divina é obtida, por intermédio da forma. Hércules não chegou a esse conhecimento em algum céu distante, ou em algum estado subjetivo. No corpo físico, embaraçado e limitado pelas tendências a ele conferidas pelo signo no qual ele cumpria sua tarefa, ele alcançou a compreensão da sua própria divindade essencial. Através da superação da forma e da subjugação da matéria, é-nos mostrado um quadro do desenrolar da autorrealização divina. Por esta razão, no estudo de Hércules, o discípulo, e de Cristo, o Salvador do Mundo, vemos retratadas por inteiro as etapas finais do desenvolvimento que está à espera de todos nós. As cinco grandes Iniciações, como nos são descritas na história de Jesus, o Cristo, não serão aqui abordadas, mas constituem o assunto de outro livro (De Belém ao Calvário). ver este livro
Ao estudarmos a história de Hércules, acompanhando-o nos seus doze trabalhos, dando a volta pelo grande zodíaco dos céus, nossa abordagem será feita sob dois ângulos: o do aspirante individual e o da humanidade como um todo. É agora possível considerar que a família humana chegou - praticamente “en masse” - ao estágio do aspirante, o estágio do investigador inteligente; o estágio do homem que, tendo desenvolvido sua mente e coordenado suas habilidades mentais, emocionais e físicas, exauriu os interesses pelo mundo fenomênico, e está procurando uma saída para um reino mais vasto de percepção, e para uma esfera de iniciativas mais segura. Este estágio foi sempre expresso por indivíduos avançados em todos os tempos, mas nunca antes a própria humanidade esteve nesta condição. Nisto reside a maravilha da conquista passada, e nisto reside a hora da oportunidade presente.
O Discípulo do Mundo, Hoje
As provas a que Hércules voluntariamente se submeteu, e os trabalhos a que, às vezes impensadamente, se atirou, são aquelas possíveis para muitos milhares de indivíduos hoje. Será também evidente quão curiosamente aplicáveis às condições modernas são os vários detalhes da dramática, e por vezes, divertida história dos seus esforços no caminho da ascensão. Cada um de nós é um Hércules em embrião, e cada um de nós se depara com idênticos trabalhos; cada um de nós tem a mesma meta a conquistar, e o mesmo círculo do zodíaco a abranger. O trabalho a ser feito como objetivo primeiro é a eliminação de todo o medo e o controle das forças naturais da natureza humana. Estas, em todas as combinações possíveis, Hércules tem que enfrentar, antes de escalar o monte da iniciação em Capricórnio, e tornar-se o servidor da humanidade.
Competição e objetivos egoístas têm que ser completamente mudados e eliminados, e encontraremos Hércules aprendendo a lição de que agarrar-se a qualquer coisa para o eu separado, não faz parte da missão de um filho de Deus. Ele tem que descobrir que é um indivíduo, somente para descobrir que o individualismo deve ser inteligentemente sacrificado pelo bem do grupo. Ele descobre, também, que a ambição pessoal não tem lugar na vida do aspirante que está em busca de libertação dos recorrentes ciclos de existência e da constante crucificação na cruz da matéria. As características do homem imerso na vida da forma e sob o domínio da matéria, são o medo, o individualismo, a competição e a cobiça. Estes têm que ceder lugar à confiança espiritual, à cooperação, à consciência grupal e ao altruísmo. Esta é a lição que Hércules nos traz; esta é a demonstração da vida de Deus que está sendo trazida à operação no processo criativo, e que floresce, de maneira sempre mais bela, a cada volta que a vida de Deus faz em toro do zodíaco, o que, dizem-nos os astrônomos, leva aproximadamente vinte e cinco mil anos para completar-se.
Esta é a história do Cristo cósmico, crucificado na Cruz Fixa dos céus; esta é a história do Cristo histórico, apresentada na história do evangelho e representada, na Palestina, há dois mil anos; esta é a história do Cristo individual, crucificado na cruz da matéria, e encarnado em cada ser humano, Deus, encarnado na matéria. Esta é a história do nosso sistema solar, a história do nosso planeta, a história do ser humano. Assim, ao admirarmos os estrelados céus acima de nós, temos eternamente representado para nós este grande drama, o qual é detalhadamente explicado ao aspirante pela história de Hércules.
Pensamentos-Chave
Quatro pensamentos-chave podem ser aqui apresentados, que expressam o propósito subjacente do processo criativo e o objetivo, tanto do Cristo Cósmico quanto do aspirante individual. Estes pensamentos-chave nos dão a pista para a realização do plano. Tomados em conjunto, eles demonstram toda a história da relação espírito e matéria, vida e forma, e alma e corpo.
Primeiro: “A natureza expressa energias invisíveis através de formas visíveis”. Por trás do mundo fenomênico objetivo, humano ou solar, pequeno ou grande, orgânico ou inorgânico, estende-se um mundo subjetivo de forças, o qual é responsável pela forma externa. Por trás da concha material externa encontra-se um vasto império da EXISTÊNCIA, e é neste mundo de energias vivas que tanto a religião quanto a ciência estão agora penetrando. Todas as coisas externas e tangíveis são símbolos de forças criativas internas, e é esta ideia que serve de fundamento a toda simbologia. Um símbolo é uma forma externa e visível de uma realidade espiritual interna.
É com esta inter-relação entre a forma externa e a vida interna que Hércules se debate. Ele conhece-se como a forma, o símbolo, pois o domínio da natureza material inferior fez sua presença sentir-se com a facilidade advinda de longas eras de expressão. Ao mesmo tempo ele sabia que o seu problema era expressar o ser e a energia espirituais. Ele tinha que aprender de fato e pela experiência que ele era Deus, imanente na natureza; que ele era o “Self” em íntima relação com o Não-Eu; ele tinha que fazer experimentos com a lei de causa e efeito, isto do ponto de vista do iniciador das causas, a fim de produzir efeitos inteligentes. E assim ele percorreu os doze signos do zodíaco, lutando para trabalhar subjetivamente, e esforçando-se para rejeitar o fascínio e atração da forma tangível externa.
O segundo pensamento-chave pode ser expresso nas palavras seguintes: “A concepção de uma Deidade oculta jaz no coração de todas as religiões.” Esta é a realização mística e o objetivo da busca que a humanidade tem empreendido desde o início dos tempos. Os expoentes das religiões mundiais personificam nos seus ensinamentos um aspecto da busca, aceitando o fato de Deus como premissa básica, e pelo amor, devoção e adoração de seus corações, provando a realidade de sua Existência. O testemunho dos místicos de todas as épocas e raças é tão vasto que agora, por si mesmo, constitui um corpo de fatos comprovados e não pode ser contestado.
Os investigadores cientistas têm procurado encontrar a verdade por meio de um conhecimento da forma, e colocaram-nos numa posição de amplo conhecimento e, ao mesmo tempo, nos dando conta de nossa profunda ignorância. Através da física, química, biologia e outras ciências, muito aprendemos sobre a roupagem externa de Deus, mas estamos agora às voltas com um reino em que tudo aparece como hipóteses e inferências. Tudo que sabemos com certeza é que todas as formas são aspectos da energia; que há uma interação e um impacto de energias sobre o nosso planeta; que o planeta é, ele próprio, uma unidade de energia composta por inumeráveis unidades de energia, e que o próprio homem é igualmente um feixe composto de forças e se move num mundo de força. Este é o ponto a que a ciência tão maravilhosamente nos conduziu, e é neste ponto que o astrólogo, o ocultista, o idealista e o místico também se encontram e dão testemunho de uma Deidade oculta, de um Ser vivente, de uma Mente Universal, e de uma Energia Central.
No drama que se desenrola nos céus, nas conclusões dos investigadores científicos, nos cálculos matemáticos dos astrólogos, e no testemunho dos místicos, podemos observar, emergindo com firmeza, a manifestação desta divindade oculta. Pouco a pouco, através do estudo da história, da filosofia e das religiões comparadas, vemos o plano dessa Deidade tornar-se significativamente aparente. Na passagem do sol pelos doze signos do zodíaco, podemos observar a maravilhosa organização do plano, a focalização das energias, e o crescimento da tendência para a divindade. Agora, finalmente, neste século, o objetivo e o subjetivo tornaram-se tão estreitamente misturados e fundidos que é quase impossível dizer-se onde um começa e o outro acaba. O véu que esconde a Deidade oculta adelgaça-se, e o trabalho daqueles que conquistaram o conhecimento, o programa do Cristo e da sua Igreja, os planos do grupo dos trabalhadores do mundo, dos Rishis e da Hierarquia oculta do nosso planeta, estão agora concentrados em conduzir a humanidade pelo Caminho do Discipulado, e preparar muitos dos indivíduos mais avançados para que eles se tornem os conhecedores e os iniciados da nova era. Assim, os homens passarão da Câmara do Aprendizado para a Câmara da Sabedoria; do reino irreal para o Real, e da escuridão exterior da existência fenomênica para a luz que internamente brilha no reino do espírito.
O terceiro pensamento-chave dá-nos uma indicação do método. No transcurso dos tempos têm soado as palavras: “Eu sou aquele... que desperta o observador silencioso.” Tornou-se claro para os pesquisadores em todos os campos, que no interior de todas as formas há um impulso para a expressão inteligente, e uma certa qualidade de vivência a que chamamos consciência, e que, na família humana, toma a forma de autoconsciência. Quando verdadeiramente desenvolvida, esta autoconsciência capacita o homem a descobrir que a Deidade oculta no universo é de natureza idêntica - embora muitíssimo superior em grau e consciência - à da Deidade oculta no seu interior. O homem pode, então, conscientemente tomar-se o Espectador, o Observador e o Percebedor. Ele não mais está identificado com o aspecto matéria, mas passa a ser Aquele que a usa como um meio de expressão.
Quando este estágio é alcançado, iniciam-se os grandes trabalhos, e a batalha progride conscientemente. O homem é arrastado para duas direções. O hábito chama-o, sedutoramente, a identificar-se com a forma. A nova compreensão impele-o a identificar-se com a alma. Tem lugar, então, uma reorientação, e um esforço novo e autodirecionado se inicia, e que é descrito na história de Hércules, o Deus-Sol. No momento em que a altitude intelectual foi alcançada, o “Observador silencioso” desperta para a atividade. Hércules dá início aos seus trabalhos. O ser humano, até então arrastado pelo impulso da onda evolucionária, e governado pelo desejo de experiência e de posses materiais, passa a ser controlado pelo Morador interno divino. Hércules emerge como o aspirante, inverte a direção e começa a trabalhar através dos doze signos do zodíaco, só que agora trabalha partindo de Áries para Peixes, através de Touro (no sentido oposto ao dos ponteiros do relógio), em vez de trabalhar de modo retroativo como a humanidade comum, ou seja, de Áries para Touro, via Peixes (no sentido dos ponteiros do relógio).
Finalmente, a mudança do foro de sua vida e a firme dedicação aos doze trabalhos nos doze signos habilita o discípulo a tornar-se o vencedor triunfante. Então, ele pode compreender a significação do quarto pensamento-chave e, em uníssono, a Deidade Cósmica, pode exclamar:
“Ouvi este grande segredo. Embora Eu esteja acima do nascimento e renascimento, ou Lei, sendo o Senhor de tudo que existe, pois tudo de mim emana, ainda assim Eu quero aparecer no meu próprio universo, e nasço, portanto, por meu Poder, e Pensamento, e Vontade.” (Bhagavad Gita, compilado e adaptado pelo Iogue Ramacharaka)