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Livros de Alice Bailey

DE BELÉM AO CALVÁRIO - As Iniciações de Jesus


A Terceira Iniciação:

A TRANSFIGURAÇÃO SOBRE UMA ALTA MONTANHA

PENSAMENTO CHAVE

1 - Então dirigiu Arjuna ao Senhor Abençoado estas palavras: Os teus ensinos, ó Senhor! com os quais Te dignaste explicar-me o grande mistério do Espírito, destruíram a minha ilusão e ignorância.

2 - Tu me revelaste a plena verdade a respeito da criação e destruição de todas as coisas, a respeito da Tua grandeza, infinita perfeição e universal imanência.

3 - Tu és, em verdade, o Senhor do universo, como me expuseste e me convenceste. Mas, se é possível, ó meu Senhor e Mestre! Mostra-me a Tua majestosa forma.

4 - Se julgas que sou capaz de vê-la, faz-me ver a Tua própria Face e Forma, o Teu Eterno Eu, ó Adorado! (Bhagavad Gita, VI, 33-34)

Parte 1

Outro período de serviço terminou. O Cristo enfrentou outra crise interior e, desta vez, de acordo com a história, uma crise que compartilhou com Seus três discípulos favoritos, com as três pessoas que Lhe eram mais chegadas. Seu autocontrole - e, por conseguinte, Sua imunidade à tentação, tal como a podemos compreender - demonstrado, fora seguido por um período de intensa atividade. Ele havia também lançado o fundamento do reino de Deus, que tinha por missão estabelecer, e cuja estrutura interior fora erigida sobre os doze apóstolos, os setenta discípulos que Ele selecionara e preparara, e os grupos de homens e mulheres de toda parte que responderam à sua mensagem. Até aqui Ele fora bem sucedido. Agora Ele enfrentava uma nova iniciação e uma expansão mais ampla de consciência. Estas iniciações, às quais Ele se submetera em nosso benefício, e às quais todos nós poderemos aspirar no devido tempo, constituem, em si próprias, uma síntese viva da revelação que nos poderá ser proveitoso estudar, antes de considerarmos o detalhe da estupenda revelação que foi concedida aos três apóstolos no topo da montanha. Três dessas crises são, talvez, de maior significação do que até agora tenha sido alcançado pela humanidade, que tende a dar ênfase, principalmente, a apenas uma delas, a Crucificação.

Indaga-se, algumas vezes, se as demais tremendas experiências pelas quais o Cristo passou teriam sido relativamente desprezadas em favor da Crucificação, caso as Epístolas jamais tivessem sido escritas e se somente tivéssemos como base de nossa fé cristã, a narrativa dos Evangelhos. Este é um ponto a considerar, merecedor de séria especulação. A influência de S. Paulo sobre a teologia cristã talvez tenha desequilibrado a estrutura da apresentação do Cristo, tal como nos fora destinada. As três iniciações que, em última análise, podem significar o máximo para aquele que busca a verdade, são o nascimento no reino, aquele augusto momento em que a natureza inferior inteira se transfigura e no qual nos conscientizamos da adequação dos filhos de Deus à cidadania daquele reino, e a crise final, em que a imortalidade da alma é demonstrada e reconhecida. O Batismo e a Crucificação têm outros valores, ao enfatizar a purificação e o autossacrifício. Isto pode surpreender o leitor por parecer diminuir o Cristo, mas nos é profundamente necessário ver o quadro tal como os Evangelhos no-lo apresentam, sem as tonalidades das interpretações de um posterior filho de Deus, ainda que tão brilhante e sincero como S. Paulo. Ao tratarmos do assunto da Divindade, foi-nos sempre dito que conhecemos Deus através de Sua natureza, e aquela natureza é Espírito ou Vida, Alma ou Amor consciente e Forma inteligentemente motivada. Vida, qualidade e aparência - esses são os três mais importantes aspectos da divindade - e não conhecemos outros; mas isso não significa que não iremos constatar outros aspectos quando estivermos, finalmente, dotados do mecanismo de conhecimento e da intuição para penetrarmos mais profundamente a natureza divina. Ainda não conhecemos o Pai. O Cristo revelou-O, mas o Pai Mesmo permanece, por enquanto, por trás das cenas, inescrutável, invisível e desconhecido, exceto quando revelado através da vida dos Seus filhos e pela revelação dada ao Ocidente, de maneira peculiar, por Jesus Cristo.

Ao considerarmos tais iniciações, as três acima mencionadas se destacam claramente. No nascimento em Belém, temos o aparecimento de Deus, Deus se manifesta na carne. Na Transfiguração temos a qualidade de Deus revelada em sua transcendente beleza, ao passo que na iniciação da Ressurreição, o aspecto vida da divindade faz sentir sua presença.

Em Sua existência terrestre, portanto, Cristo fez duas coisas:

1 - Revelou a natureza tríplice da Divindade na primeira, terceira e quinta iniciações.

2 - Demonstrou as expansões de consciência que vêm quando os requisitos são devidamente satisfeitos - a purificação e o autossacrifício.

Toda a história da iniciação é contada nesses cinco episódios; o nascimento, a subsequente purificação para que a correta manifestação da Divindade se pudesse seguir, a revelação da natureza de Deus por intermédio de uma personalidade transfigurada e, finalmente, o objetivo - a vida eterna e sem fim, porque descentralizada e liberta das limitações autoimpostas, da forma.

Essas três iniciações maiores, a primeira, a terceira e a quinta, constituem as três sílabas da Palavra feita carne, encarnam o acorde musical da vida do Cristo, uma vez que serão encarnadas na vida de todos os que seguirem Seus passos. Através da reorientação para novas maneiras de viver e de ser, passamos através dos necessários estágios de adaptação dos veículos da vida, até aquele topo da montanha onde o divino em nós é revelação em toda sua beleza. Passamos, então, para uma “alegre Ressurreição” e para aquela eterna identificação com Deus que é a experiência permanente de todos aqueles que são perfeitos. Poderíamos descrever assim o processo:

1.a Iniciação 3.a Iniciação 5.a Iniciação
Novo Nascimento Transfiguração Ressurreição
Iniciação Revelação Completação
Começo Transição Consumação
Aparecimento Qualidade Vida

Esta é a primeira das experiências na montanha. Tivemos a experiência na caverna e a iniciação na corrente. Cada uma delas operou seu trabalho, cada uma revelando mais e mais divindade no Homem, Cristo Jesus. A experiência do Cristo, como vemos, foi passar de um processo de unificação a outro. Um dos objetivos primários de Sua missão foi resolver as dualidades em Si próprio, produzindo a unidade e a síntese. Quais são essas dualidades que devem ser resolvidas na unidade antes que o espírito no homem possa resplandecer em sua radiação? Poderíamos relacionar cinco, para ganhar uma ideia do que precisa ser feito e para compreender a magnitude da conquista do Cristo. A Transfiguração não é possível antes dessas unificações terem sido concretizadas.

Primeiro, o homem e Deus devem fundir-se num todo funcionante. Deus, feito carne, deve de tal modo dominar e controlar a carne, que esta não constitua obstáculo à plena expressão da divindade. Tal não é o caso no homem comum. Nele, a divindade pode estar presente, mas profundamente oculta. Hoje, todavia, através de nossas investigações psicológicas, muito está sendo descoberto quanto a este ser superior e inferior, e a natureza daquilo que por vezes é chamado o “ser latente” está emergindo, através de um estudo da reação do ser ativo externo às atividades daquela direção subjetiva, interna. Que o homem é dual, foi reconhecido em toda parte, e isto em si mesmo apresenta um problema com o qual os psicólogos constantemente se defrontam. As personalidades parecem funcionar de maneira “dividida”; as pessoas ficam perturbadas por esta cisão. Ouvimos de personalidades múltiplas; da necessidade de integração e de coordenação entre os diferentes aspectos do homem. A fusão de sua natureza em um todo funcionante se torna mais e mais urgente. O reconhecimento do alcance do homem e a constante atração do mundo dos valores transcendentais produziram um agudo problema para o mundo. O primitivo e o transcendental; o homem consciente externo e o homem subjetivo subliminar; o ser superior e o inferior; personalidade e individualidade; alma e corpo - como se reconciliarão esses? Dos valores superiores o homem está incessantemente consciente. Do homem que quer fazer o bem e da natureza que, em oposição, o leva a praticar o mal, todos os santos dão testemunho.

A família humana inteira está, hoje, cindida sobre a rocha da dualidade. Ou a personalidade é dual e por isso impossível de ser manipulada, ou os grupos e nações estão divididos em campos opostos e, novamente, a dualidade emerge em intensa dificuldade dinâmica.

É a integração que o Cristo tão plenamente exemplificou, assim resolvendo as dualidades do superior e do inferior em Si Mesmo, fazendo dos “dois um novo homem” (1), “novo homem” esse que resplandeceu na Transfiguração, ante o olhar atônito dos três apóstolos. É esta integração ou unificação básica que a religião deveria buscar produzir e é esta coordenação entre dois fundamentais aspectos da natureza humana - a natural e a divina - que a educação deveria efetivar.

Este problema dos dois seres, que o Cristo tão surpreendentemente sintetizou em Si Próprio, é o estrito problema humano. O ser secundário, em contraposição ao ser divino, é um fato na natureza, todavia, podemos tentar fugir à evidência e recusar reconhecimento à sua existência. O “homem natural” existe, tal como o “homem espiritual”, e na interação dos dois está focalizado o problema humano. O próprio homem torna isto claro. Falando do homem, o Dr. Bosanquet diz que:

“... sua autotranscendência inata, sua inerradicável paixão pelo todo, torna inevitável que, fora da superfluidade que não pode sistematizar sob o bem, ele formará um ser negativo e secundário, um ser deserdado, hostil ao imperativo domínio do bem que é, ex hypothesi, somente parcial. E esta discordância é verdadeiramente necessária ao bem; pois estabelece seu problema característico, a conquista do mau. E o bem é necessário ao mal, pois, além da rebelião contra o bem, a possível totalidade do ser deserdado não pode encontrar qualquer outra unidade.” (2)

Aqui jaz o problema do homem e aqui o seu triunfo e a expressão de sua divindade essencial. O ser superior existe e, final e inevitavelmente, deverá conquistar a vitória sobre o ser inferior. Uma das coisas que estão acontecendo, hoje, é a descoberta da existência desse eu superior e muitos são os testemunhos de sua natureza e qualidades. Através de uma consideração do ser em cada homem, estamos nos aproximando de uma compreensão da divindade.

Por trás da manifestação de Jesus Cristo jazem eons de experiência. Deus Se expressara através de processos naturais, através da humanidade como um todo e através de indivíduos específicos, à medida que as épocas correram. Então veio o Cristo e, no curso do tempo, como um definido cumprimento do passado e como uma garantia do futuro, sintetizou em Si Próprio, em uma transcendente Personalidade, tudo que tinha sido conquistado em tudo que fora imediato na experiência humana. Ele foi uma Personalidade, assim como uma Individualidade divina. Sua vida, com sua qualidade e seu objetivo, estabeleceu seu selo sobre nossa civilização e Sua demonstrada síntese é a inspiração do presente. Esta consumada Personalidade, sintetizando em Si Própria tudo que precedeu na evolução humana e expressando tudo que é possível imediatamente ser, é a grande dádiva de Deus ao homem.

Cristo, como a Personalidade que curou a divisão na natureza humana, e Cristo, como a síntese dos aspectos superior e inferior da divindade, é a gloriosa herança da humanidade de hoje. Isto é o que foi revelado na Transfiguração.

Todavia, é útil recordar que somente num certo estágio do desenvolvimento humano se torna possível a expressão da vida e da consciência do Cristo interno. O fato da evolução, com suas necessárias distinções e diferenças, é incontestável. Os homens não são todos iguais. Variam, em sua apresentação da divindade. Alguns continuam realmente subumanos, até agora. Outros, são simplesmente humanos, e ainda outros estão começando a ostentar qualidades e características sobre-humanas? Poderia justificadamente surgir a questão: quando chega o homem a alcançar a possibilidade de transcender o humano e se tornar divino? Dois fatores controlarão, então. Ele terá transcendido as naturezas física e emocional e, entrando no reino do pensamento, deveria estar respondendo de alguma maneira aos ideais que lhe foram apresentados pelos pensadores do mundo. Deverá chegar um tempo, no progresso de cada ser humano, em que o desenvolvimento da tríplice natureza humana - física, emocional e mental - alcance um ponto de possível síntese. Ele ter-se-á tornado, então, uma personalidade. Ele pensa. Ele decide. Ele determina. Ele assume controle de sua vida e se torna, não somente um centro originador de atividade, mas uma influência marcante no mundo. É a entrada, com poder, da qualidade da mente, e da capacidade de pensar que torna isto possível.

É esta insistência sobre o pensamento e esta determinação em lidar com a vida do ângulo da mente e não da emoção, que distingue uma “personalidade” dentre a vulgaridade dos seres humanos. O homem que pensa e age sobre as resoluções e incentivos que têm sua origem em realidades-pensamento devidamente consideradas, torna-se com o tempo, uma “personalidade” e começa a agir sobre outras mentes. Ele exerce uma influência definida sobre outras pessoas. Entretanto, supervisionando a personalidade está o homem espiritual interno, ao qual poderíamos chamar de “indivíduo.” É aqui, novamente, que o Cristo alcançou êxito e a segunda dualidade, que Ele tão significativamente resolveu, é aquela do eu pessoal e da “individualidade.” O finito e o infinito devem ser trazidos a uma relação íntima. Isto, o Cristo demonstrou na Transfiguração, quando, por intermédio de uma personalidade purificada e desenvolvida, Ele manifestou a natureza e a qualidade de Deus. A natureza finita tinha sido transcendida e não mais podia controlar suas atividades. Ele passara, em Sua consciência, ao reino da conscientização inclusiva, e as regras ordinariamente governantes do indivíduo finito, com seus problemas medíocres e sua pequena reação aos acontecimentos e pessoas, não mais poderiam influenciá-Lo nem determinar Sua conduta. Ele alcançara o contato com aquele reino do ser no qual há, não somente compreensão, mas paz, através da unidade.

O Cristo havia superado regras, limitações e considerações e, consequentemente, funcionava como um indivíduo e não como uma personalidade humana. Ele era governado pelas regras que regem o reino do espírito e foi isto que os três Apóstolos reconheceram na Transfiguração e que os levou, a partir de então, a se submeterem a Ele, como sendo o Uno Que para eles representava a Divindade. O Cristo, portanto, na Transfiguração, uniu em Si Próprio Deus e o Homem, Sua Personalidade desenvolvida fundindo-se com Sua Individualidade. Ele permaneceu como a expressão perfeita da possibilidade máxima a que a humanidade poderia aspirar. As dualidades, das quais a humanidade é expressão tão desgraçada, encontraram-se n’Ele e resultaram numa síntese de tal perfeição que, por todo o tempo, Ele determinou a meta de nossa raça.

Há uma síntese ainda maior, e esta o Cristo também resumiu em Si Mesmo - a síntese da parte com o Todo, da humanidade com a Realidade última. A história do Homem tem sido a do desenvolvimento do estado de inconsciente reação da massa, até o de uma responsabilidade grupal lentamente reconhecida. O ser humano de baixo grau, ou indivíduo não pensante, tem uma consciência coletiva. Ele pede considerar-se como uma pessoa, mas não elabora um pensamento claro quanto às relações humanas, ou quanto ao lugar da humanidade na escala da existência. Ele é facilmente agitado pelo pensamento coletivo, ou da massa, e é arregimentado e padronizado pela psicologia da massa. Ele se movimenta no ritmo da massa dos homens; ele pensa como pensam os demais (se é que pensa); sente facilmente como a massa sente e permanece indiferenciado de sua espécie. Os oradores e ditadores baseiam nisso o seu êxito. Através de sua oratória de língua dourada, ou através de suas personalidades dominantes e magnéticas, eles impulsionam as massas conforme sua vontade, porque trabalham com a consciência coletiva, embora não desenvolvida.

Deste estágio passamos para o da personalidade emergente que desenvolve seu próprio pensar, faz seus próprios planos e não pode ser arregimentada ou iludida por palavras. Ele é um indivíduo pensante e a consciência coletiva e a mente da massa não podem mantê-lo em servidão. Estas são as pessoas que se adiantam até a libertação, e que, de uma expansão de consciência a outra, gradualmente se tornam partes conscientemente integradas do todo. Finalmente, o grupo e sua vontade (não a massa e seu sentimento) se torna de suprema importância, porque eles veem o grupo como Deus o vê, tornam-se guardiães do Plano Divino e partes conscientes, integrais, inteligentes, do todo. Sabem o que estão fazendo e por que. O Cristo fundiu em Si mesmo a parte com o todo e efetuou uma unificação entre a vontade de Deus, sintética e compreensiva, e a vontade individual, que é pessoal e limitada. Num comentário sobre o Bhagavad Gita, aquela suprema discussão sobre a vida do todo fundida na divindade, Charles Johnston assinala:

“A verdade pareceria ser que, num certo ponto da vida espiritual, o discípulo ardente, que procurou em todas as coisas trazer sua alma em uníssono com a Grande Alma, aspirou fazer sua vontade chegar à semelhança da Vontade de Deus, passa por uma experiência espiritual marcante, na qual a Grande Alma o eleva, a Vontade Divina eleva sua consciência até a unidade com a Consciência Divina; por um tempo, ele percebe e sente, não mais como pessoa, mas como Super alma, ganhando uma profunda visão das maneiras de viver divinas e sentindo o infinito Poder que trabalha através da vida e também da morte, através do sofrimento e da alegria, através da união e da separação, através da criação, da destruição e da recriação. O pavor e o mistério que cercam aquela grande revelação puseram o seu selo em todos os que passaram por ela.” (3)

Esta conscientização está longe do homem comum e, ainda mais distante, do não desenvolvido.

O divino é o Todo, informado e animado pela vida e pela vontade de Deus; e na extrema autorrendição, com todo o poder de Sua purificada natureza e divina compreensão e Sabedoria, o Cristo fundiu em Si Mesmo a consciência coletiva, a conscientização humana e a Totalidade divina. Algum dia compreenderemos isto mais claramente. Por enquanto é algo que não podemos alcançar, a não ser que para nós a Transfiguração seja uma realidade e não uma meta.

É interessante ter em mente uma outra unificação que o Cristo realizou. Ele unificou em si mesmo o passado e o futuro, na medida em que isto diga respeito à humanidade. Isto é significativamente ilustrado no aparecimento, com Ele, de Moisés e Elias, no Monte da Transfiguração, respectivamente os representantes da Lei e dos Profetas. Numa das figuras nós vemos simbolizado o passado do homem, com sua somação na Lei de Moisés, estabelecendo os limites além dos quais o homem não pode passar, definindo as injunções que ele deve impor à sua natureza inferior (a natureza-desejo) e pondo ênfase nas restrições que a raça, como um todo, deve impor às suas próprias ações. Um cuidadoso estudo revelará que todas essas leis dizem respeito ao governo e controle da natureza-desejo, do emocional, do corpo sensorial, aos quais já tivemos necessidade de fazer referência. Curiosamente bastante, o nome “Moisés”, de acordo com a Cruden’s Concordance, significa “salvo das águas.” Já vimos que a água é o símbolo da natureza-desejo fluídica emocional na qual o homem habitualmente vive. Moisés, por isso, apareceu com o Cristo numa ilustração do passado emocional do homem, e a técnica do seu controle deverá ser substituída quando a mensagem da vida do Cristo seja plenamente compreendida, derramando-se através da consciência do homem, cada vez mais plenamente. Cristo indicou o novo mandamento sintético que é o “amai-vos uns aos outros.” Isto tornaria desnecessária toda a Lei e os Profetas, e relegaria os Dez Mandamentos a um segundo plano da vida, tornando-os supérfluos, porque o amor que fluirá do homem para Deus, e do homem para o homem, automática e positivamente, produzirá aquela ação reta que tornará impossível romper os mandamentos. O “não” de Deus, falado através de Moisés, do Monte Sinai, com sua ênfase negativa e sua interpretação punitiva, dará lugar à irradiação de amor e à compreensão da boa vontade e luz que o Cristo irradiou sobre o monte da Transfiguração. O passado se encontrou Nele e foi substituído por um presente vivo.

Elias, cujo nome significa “a força do Senhor,” ficou ao lado de Jesus como o representante de todas as escolas dos Profetas que haviam predito, durante séculos, a vinda d’Aquele Que simbolizaria a perfeita Retidão e Que, em Sua Própria Pessoa, encarnaria, como faz hoje, a conquista e o objetivo futuros da humanidade. Que o futuro guarda alcances de consciência e padrões de conquista muito além das do Cristo tanto quanto Sua expressão ultrapassa a nossa, é inteiramente possível. A natureza do Pai ainda está por ser conhecida; alguns dos seus aspectos, tais como o amor e a sabedoria de Deus, nos foram revelados pelo Cristo. Para nós, hoje, e para nosso objetivo imediato, Cristo representa o Profeta Eterno, de Quem Elias e todos os Profetas dão testemunho. Por isso, ao permanecer sobre o topo da montanha, o passado e o futuro da humanidade se encontraram n’Ele.

Que Ele unificou em Si Próprio certas roturas básicas humanas é assim aparente e, às acima enumeradas, podemos acrescentar uma já considerada, a fusão, em Si Próprio, de dois grandes reinos da natureza, o humano e o divino, tornando possível a emergência de um novo reino na terra - o reino de Deus, o quinto reino da natureza.

Ao considerarmos a Transfiguração, é necessário termos consciência de que ela não foi simplesmente uma grande iniciação, na qual Deus Se revelou em Seu esplendor e glória ao homem, mas que ela teve relação definida com o veículo da revelação - a natureza física material, a que chamamos de “aspecto Mãe.” Vimos, ao estudarmos a iniciação do Nascimento, que a Virgem Maria (ainda que reconhecendo, como o fizemos, a historicidade da existência do Cristo) é o símbolo da natureza da forma, da natureza material de Deus. Ela simboliza, em si mesma, aquilo que preserva a vida de Deus, ainda latente em suas infinitas potencialidades. Cristo revelou a natureza-amor, no Pai. Através de Sua Pessoa, Ele revelou o propósito e o objetivo da vida-forma do homem.

Nessa experiência da montanha vemos a glorificação da matéria ao revelar e expressar o Cristo divino interno. A matéria, a Virgem Maria, revela Deus. A forma, o resultado dos processos materiais ativos, deve expressar a divindade e a revelação disto é um dom divino para nós, trazido pela Transfiguração. O Cristo foi o “próprio Deus do próprio Deus,” mas Ele foi também “carne de nossa carne” e, na reciprocidade e na fusão de ambos, Deus ficou revelado em toda a Sua magnética e radiante glória.

Quando nós, como seres humanos, alcançarmos a consciência do propósito divino e chegarmos a considerar nossos corpos físicos como meios para revelar o Cristo divino interno, ganharemos uma nova visão da vida física e um renovado incentivo para o apropriado cuidado e tratamento do corpo físico. Apreciaremos esses corpos, através dos quais nós funcionamos temporariamente, como os guardiães da revelação divina. Considerá-los-emos, cada um de nós, como a Virgem Maria considerou seu corpo, como o repositório do Cristo oculto, e ansiaremos por aquele momentoso dia em que nós, também, estaremos no Monte da Transfiguração, revelando a glória do Senhor por intermédio de nossos corpos. Browning sentiu isso e nos deu o pensamento nos seguintes versos, bem conhecidos:

“A verdade está dentro de nós; ela não se eleva
De coisas exteriores, quaisquer possais crer.
Em cada um de nós existe um íntimo centro
Onde a verdade habita em sua plenitude; e, em torno,
Parede após parede, a densa carne a encerra
.................................................................. E, saber,
Consiste antes em abrir um caminho
Pelo qual o esplendor aprisionado possa escapar
Do que em promover a entrada de uma luz
Que se supõe vir do exterior.” (4)

Assim, o Cristo foi revelado para a humanidade como a expressão de Deus. Não há outra meta para nós. Entretanto, recordemos com humildade e veneração que as estupendas palavras pronunciadas por Krishna, no Bhagavad Gita, também continuam verdadeiras, como uma afirmação última relativa à transfiguração do mundo inteiro:

- “Sem fim são as minhas manifestações divinas, o’ Arjuna! Só exemplos delas te apresentei. Os meus poderes são infinitos em qualidade e variedade.

- Todo ser e toda coisa são o produto de uma infinitésima porção do meu Poder e da minha Glória.

- Mas para que mais minúcias, o’ príncipe? Sabe que Eu sustento todo este universo continuamente, só com um infinitesimal fragmento de Mim mesmo.” (5)

Sob o impacto da exigência da evolução, Deus se move na direção de uma identificação mais plena. “Purificação” é a palavra geralmente usada para cobrir o processo pelo qual o veículo da expressão divina é preparado para uso. A experiência da Galileia e o esforço diário para viver e ir ao encontro das finalidades da existência humana (que parecem tornar-se mais drásticas e disciplinadoras à medida que a grande roda da vida gira, e, ao girar, impulsiona para diante a humanidade), trazem o homem até o ponto em que esta purificação não é simplesmente o resultado da própria vida, mas algo que é definitivamente imposto pelo homem à sua própria natureza. Quando este processo é autoiniciado, então a velocidade com a qual o trabalho é desenvolvido, é grandemente acelerada. Isto produz uma transformação de grande significação no homem exterior. A lagarta se transforma na borboleta. Bem no íntimo do homem jaz esta beleza oculta, não conscientizada, mas lutando para se libertar.

A vida do Cristo interno produz a transformação do corpo físico mas, mais profundamente ainda, aquela vida opera sobre a natureza sensorial-emocional e, através do processo da transmutação, converte desejos e sentimentos, dores e prazeres, em suas correspondências superiores. A transmutação foi definida como “a passagem de um estado da existência para outro, por intermédio do fogo.” (6) É oportuno, a esse respeito, lembrar que o homem inferior triplo, com quem temos lidado tantas vezes nestas páginas, é um tênue reflexo da própria divindade. O corpo físico está relacionado com o terceiro aspecto da divindade, o do Espírito Santo, e essa verdade pode ser constatada se estudarmos o conceito cristão da Virgem Maria, ofuscado pelo Espírito Santo. O Espírito Santo é aquele aspecto da divindade que é o princípio ativo na matéria e, disto, o corpo físico é uma correspondência. A natureza emocional, sensorial, é um reflexo tênue e distorcido da natureza-amor de Deus, que o Cristo cósmico, a segunda Pessoa da Trindade, tenta revelar; e este aspecto (transmutado por intermédio do fogo, a vontade ou espírito de Deus) produz a transformação do corpo físico. A mente, por sua vez, é portanto o reflexo do aspecto mais elevado da divindade, o Pai, ou Espírito, de Quem é dito que nosso “Deus é um fogo consumidor.” (7) A atividade libertadora desta forma do espírito de Deus, produz, finalmente, aquele esplendor (como resultado da transformação e da transmutação) que foi a característica da iniciação da Transfiguração. O “Resplendor é a transmutação em processo de realização.” A transmutação, sendo a liberação da essência para que ela possa procurar um novo centro, o processo pode ser reconhecido como “radioatividade” no que diz respeito à humanidade.” (8)

Foram esses processos, desenvolvidos na natureza da forma, que finalmente conduziram os Apóstolos à revelação da natureza essencial do Mestre que amavam e seguiam, e é este aspecto do Cristo - a realidade esplendorosa interna - à qual os místicos de todos os tempos dão testemunho, não somente com relação a Cristo, mas, em menor grau, reciprocamente, também. Uma vez transcendido o mundo dos sentidos e ativadas as correspondências superiores, revelando o mundo interior de beleza e verdade, chegará ao místico uma conscientização de um mundo subjetivo cujas características são luz, esplendor, beleza e indescritível maravilha. Todos os escritos místicos são tentativas para descrever este mundo ao qual os místicos parecem ter acesso, com suas formas variando de acordo com o período, raça e ponto de desenvolvimento do observador. Sabemos somente que o divino permanece revelado, enquanto que a forma exterior, que a encobriu e ocultou, se dissolve, ou é de tal forma transformada, que somente a realidade interna é registrada. O temperamento e as tendências do místico - sua própria qualidade inata - também têm muito a ver com sua descrição do que vê. Todavia, todos estão de acordo na essencialmente transcendente natureza da experiência e convencidos da natureza divina da pessoa em referência.

Grande, de fato, foi o poder e o mistério da divindade que o Cristo revelou ao olhar atônito de Seus três amigos no Monte da Transfiguração. Em uma das antigas escrituras da Índia, citada pelo Dr. Otto, há uma tentativa para expressar ou revelar aquele divino Espírito essencial manifestado na Transfiguração:

“Mais fino do que o fino, contudo Sou o maior,
Eu sou o Todo em sua completa plenitude,
Eu, o mais antigo, o espírito, o Senhor Deus.
O dourado reluzir sou Eu, da divina forma.
Sem mão nem pé, rico em incomensurável poder,
Visão sem olhos, audição sem ouvidos,
Livre de toda forma, Eu sei. Mas a mim,
Ninguém conhece. Pois Eu sou Espírito, sou a Existência.” (9)

A massa de literatura que foi escrita numa tentativa de retratar a maravilha da transfiguração e a visão de Deus, é um fenômeno proeminente da vida religiosa e um dos mais fortes testemunhos do fato das revelações.

A própria simplicidade da narrativa, como é relatada nos Evangelhos, tem majestade e poder de convicção próprios. Os apóstolos viram uma visão e participaram de uma experiência em que Jesus Cristo se apresentou diante deles como um Homem perfeito, porque plenamente divino. Eles haviam participado com Ele em Seu serviço; eles haviam deixado suas várias vocações para estar com Ele; eles O haviam acompanhado de lugar a lugar e ajudado em Seu trabalho, e agora, como recompensa pela fidelidade e reconhecimento, tinham tido permissão para ver a Transfiguração. “Quando a mente,” diz Santo Agostinho, “foi imbuída com o começo da fé que opera pelo amor, ela prossegue vivendo bem, até chegar também à visão em que há indescritível beleza conhecida de elevados e santificados corações, cuja plena visão é a maior de todas as felicidades.” (10)

Parte 2

“Seis dias após, tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e a João, seu irmão, e os conduziu em particular até um alto monte e se transfigurou diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o Sol, e suas vestes se tornaram tão brancas como a luz.

E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele.

E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, é bom estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés e um para Elias.

E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo: ouvi-o.

E os discípulos, ouvindo isto, caíram sobre seus rostos e tiveram grande medo.

E aproximando-se Jesus, tocou-lhes e disse: Levantai-vos; e não tenhais medo.

E, erguendo eles os olhos, ninguém viram, senão unicamente a Jesus.” (11)

Uma apreciação das várias unificações que o Cristo praticou em Si Mesmo ter-nos-á preparado para o estupendo fenômeno da revelação que prostrou os três discípulos. Três reis ou magos assistiram de joelhos à iniciação do nascimento. Nesta crise havia três discípulos prostrados sobre o solo, incapazes de encarar a glória que lhes havia sido revelada. Pensavam que conheciam seu Mestre, mas a Presença familiar se tinha transformado e eles estavam diante da Presença. O sentimento de respeito, de maravilha e de humildade é sempre uma reação que se realça nos místicos de todos os tempos, diante da revelação da luz. Este episódio é o primeiro no qual contatamos o esplendor e a luz que emanavam do Salvador e que O capacitavam a dizer, com autenticidade, “Eu Sou a Luz do Mundo.” O contato com Deus fará sempre uma luz brilhar. Quando Moisés desceu do Monte Sinai, sua face estava tão resplandecente que os homens não puderam fitá-la e a história conta que ele teve de usar um véu para ocultar aquele esplendor dos demais. Mas a luz que estava no Cristo brilhava plenamente de Sua Pessoa inteira, Creio que, à medida em que o processo evolutivo se desenvolver, alcançaremos, de maneira crescente, uma compreensão mais profunda do significado da luz em relação à humanidade. Falamos da luz do conhecimento e na direção dessa luz e de seu crescimento, todo o nosso processo educacional e suas instituições estão consagrados. Desejamos profundamente a luz da compreensão que se expressa em sabedoria e caracteriza o sábio e o prudente na terra; esta luz os distingue das pessoas de inteligência mediana, tornando importantes suas palavras e valorizando seu conselho. Temos sido levados a crer que há, no mundo, os illuminati, trabalhando quieta e silenciosamente por trás das cenas, no cenário mundial, derramando luz nos lugares trevosos do mundo, quando necessário, elucidando problemas e, finalmente, trazendo à luz aquilo que deva ser erradicado e aquilo que é necessário. Temos também aprendido a reconhecer os eternos condutores da Luz e sentimos que no Cristo a luz dos tempos está focalizada e a luz de Deus centrada. Seus discípulos entraram no raio de ação desta luz, pela primeira vez, no topo da montanha, após seis dias de trabalho, como nos é relatado, e não puderam suportar a vista de tamanho esplendor. Todavia, sentiram que “era bom para eles estar lá.” Entretanto, ao considerarmos a luz que estava no Cristo e o êxtase dos Apóstolos ante sua revelação, não percamos de vista o fato de que Ele Próprio nos conta que também em nós há uma luz, e que ela também deve brilhar para ajudar o mundo e a glorificação de nosso Pai que está no Céu. (12) Os místicos dão testemunho desta luz, luz esta em que penetramos e que penetra neles, revelando a luz que está latente, potencializando-a. “Em Tua luz veremos luz.” Este é o fato marcante do misticismo científico. Deus é tanto luz quanto vida. Isto, o místico provou e disso ele dá, eternamente, testemunho.

Esta percepção do fato da divindade está estabelecida em nossa consciência, antes de tudo, através do reconhecimento da maravilha latente em todo ser humano. Aquele homem que não vê bem nenhum em seus semelhantes é aquele que não tem consciência de sua própria bondade; aquele homem que somente vê o mal naqueles à sua volta, é aquele que os vê através das lentes distorcidas de sua própria natureza pervertida. Mas aqueles que estão despertando para o mundo da realidade estão constantemente se conscientizando da divindade no homem, através de suas ações altruístas, de sua bondade, de seu espírito pesquisador, de sua alegria na dificuldade e de sua bondade básica essencial. Esta conscientização se aprofunda à medida que ele estuda a história da raça e a herança religiosa de todos os tempos e, acima de tudo, quando ele é posto face a face com a bondade transcendente e a maravilha que o Cristo revelou. Desta conscientização ele prossegue até a descoberta do divino em si mesmo e inicia aquela longa luta que o conduz através das etapas da conscientização intelectual da possibilidade e da percepção intuitiva da verdade, até aquela iluminação que é a prerrogativa e o dom de todos os perfeitos filhos de Deus. O radiante corpo de luz interior está presente, tanto no indivíduo quanto na humanidade, invisível e não revelado, mas, lenta e certamente, emergente. Na hora presente, um grande número, na humanidade, está envolvido nas atividades dos seis dias que precedem a experiência da transfiguração.

É importante estudar aqui, brevemente, o lugar dos discípulos nesta experiência. Ao longo da narrativa bíblica encontramos esta triplicidade. Moisés, Aarão e Joshua; Jó e seus três amigos; Shadrach, Meschach e Abednego, os amigos de Daniel; os três reis no berço de Belém; os três discípulos na Transfiguração; as três Cruzes no Calvário! Por que esta constante recorrência dos três? Que simboliza? À parte de sua possível aparência histórica, haverá por trás deles alguma peculiar simbologia que possa, quando compreendida, tornar claras as circunstâncias nas quais representaram seu papel? Um estudo dos seus nomes e de sua interpretação, tal como fornecido no familiar Cruden’s Concordance pode dar um indício. Tomai, por exemplo, o significado dos nomes dos amigos de Jó. Eles eram Elifaz, o temanita, Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita. Elifaz, o temanita, significa “meu Deus é ouro” e também o “quarto meridional”, o polo oposto ao norte. O ouro é o símbolo do bem-estar material e o polo oposto ao espírito é a matéria, por isso, neste nome foi simbolizada a forma externa tangível do homem, ativada pelo desejo dos bens materiais e do conforto. Zofar o naamatita significa “aquele que fala”, e seu tema é o prazer, que é a interpretação dada à palavra “Naamatita”. Aqui temos caracterizado o corpo de desejos, com sua sede do prazer, de felicidade e bem-estar e uma indicação do constante e incessante chamado e voz da natureza sensorial, ao qual damos testemunho. Bildade, o Suíta, representa a natureza mental, a mente, significando, ao fazer a “contrição”, que esta somente se torna possível quando a mente começa a se ativar (incluindo a consciência). Suíta significa “prostração ou fraqueza”, isto é, que sozinha e sem ajuda a mente pode revelar, mas não ajudar. O remorso e o sofrimento, envolvendo a memória, são o resultado da atividade mental. Assim, nos três amigos de Jó, os três aspectos da natureza inferior são revelados. O mesmo se passa quando estudamos os nomes dos três amigos de Daniel. Abednego significa o “servo do sol”, o servidor da luz; nesse significado está resumido todo o dever e o propósito do homem físico exterior. O nome de Shadrach tem uma conotação francamente emocional, pois ele significa “regozijando-se no caminho”, e onde quer que encontremos referência às dualidades básicas de prazer e dor, estaremos considerando a natureza do sentimento emocional. Meschach - que significa “ágil”, de movimentos rápidos, o que é, em si mesmo, uma descrição muito boa da natureza mental. Arjuna, no Bhagavad Gita, (13) põe isto em destaque nas palavras a Krishna: “Esta união através da unidade, tal como ensinada por Ti... eu não percebo sua firmeza nesse domínio da mente; eu sei que a mente se agita inquieta, turbulenta, vacilante, obstinada e insubmissa à vontade; e me parece que dominar suas inclinações... é tão difícil como reter um forte vento.”

Assim, nos três amigos e nas várias triplicidades que encontramos na Bíblia, descobrimos um simbolismo que é vitalmente iluminador. Os três aspectos através dos quais a alma se deve expressar e através dos quais deve brilhar são assim retratados. É o mesmo com relação aos três amigos de Jesus Cristo. Não posso aqui tocar nas amizades de Jesus Cristo. Elas são muito reais e muito profundas e universais em sua abrangência. Elas são infinitas e eternas, e os amigos do Cristo são encontrados em toda raça (Cristã ou outra qualquer) em qualquer latitude e em ambos os hemisférios. E, seja lembrado, são somente os amigos do Cristo que têm qualquer direito a serem dogmáticos sobre Ele, ou que podem falar com qualquer autoridade a Seu respeito ou sobre Suas ideias, porque sua é a autoridade de amor e compreensão.

Encontramos também essa básica triplicidade nas pessoas de Pedro, Jaime e João, e em seus nomes encontramos atuando o mesmo simbolismo essencial, dando-nos assim a pista para o significado desta maravilhosa narrativa: Pedro, como bem sabemos, significa “rocha”. Aqui está o fundamento, o aspecto mais concreto, a forma física exterior que, na Transfiguração, é transformada pela glória de Deus, de modo que a imagem exterior desaparece e Deus Mesmo resplandece. Jaime, é-nos dito, significa “ilusão”, distorção. Aqui temos referência ao corpo emocional-sensorial, com seu poder de distorcer e falsear, iludir e desviar. Onde entra a emoção e onde o foco da atenção se acha na reação sensitiva e sensual, o que não for verdadeiro rapidamente aparece e o homem se torna sujeito à ilusão. É este corpo de ilusão que é finalmente transmutado e de tal maneira modificado e estabilizado, que provê um claro veículo para a revelação da divindade. João significa “o Senhor falou” e aqui a natureza mental é demonstrada, porque somente quando o aspecto mental começa a se manifestar é que temos o aparecimento da fala daquele animal pensante e falante ao qual chamamos “homem”. Assim, na hábil simbologia da Escritura, os três amigos do Cristo representaram os três aspectos de Sua natureza humana, e foi sobre esta personalidade integrada, focalizada e consagrada, que a transfiguração provocou seu impacto e produziu a revelação. Assim, novamente, a dualidade essencial da humanidade é revelada através do Cristo, e sua tríplice personalidade e Sua divindade essencial nos são retratadas de tal maneira que a lição (e a possibilidade) não nos pode escapar. Os Apóstolos identificaram Deus em seu Mestre, apoiando-se no fato desta divindade, como têm feito os místicos de todos os tempos.

Eles “sabiam em Quem haviam crido.” (14) Eles viram a luz que brilhava na Pessoa de Jesus Cristo, Quem, para eles, era mais do que a Pessoa que haviam conhecido até então. Através daquela experiência Deus se tornou uma realidade para eles.

Na síntese do passado, do presente e do futuro, Cristo e Seus amigos imediatos encontraram-se com Deus, e tão potente foi essa combinação que evocou do Próprio Deus uma resposta imediata. Quando o sentimento e o pensamento se encontram num momento de realização, há uma simultânea precipitação de energia e a vida se torna, a partir de então, diferente. Aquilo em que se acreditara passa a ser conhecido como um fato e a crença não é mais necessária.

Parte 3

A cena da transfiguração foi o ponto de encontro de fatores significativos e, a partir daquele momento, a vida da humanidade mudou radicalmente. Foi um momento, na história da humanidade, tão potente quanto a Crucificação, talvez de maior potência do que mesmo aquele grande e trágico acontecimento. Raras vezes tais momentos ocorrem. Usualmente, nós somente vemos fracos lampejos da possibilidade, raros clarões de iluminação e fugazes segundos, nos quais uma síntese aparece e nos deixa com um sentimento de ajustamento, de integração, de propósito e da realidade subjacente. Mas tais momentos são raros, de fato. Nós sabemos que Deus existe. Sabemos que a realidade existe. Mas a vida, com sua ênfase dirigida para os fenômenos, suas tensões, de tal modo nos preocupa que não temos tempo, depois do trabalho de seis dias, para escalar a montanha da visão. Uma certa familiaridade com a natureza de Deus deve certamente preceder Sua revelação, a qual Ele pode conferir e, por vezes, o faz. Os três amigos de Cristo tinham sido admitidos a um grau de intimidade com Ele que assegurou a escolha como Seus companheiros na cena de Sua experiência, onde Ele representava, em benefício da humanidade, um acontecimento simbólico bem como uma definitiva experiência para a qual uma preparação adequada tivera de ser feita, com participantes corretamente escolhidos e treinados, de modo que o simbolismo que encarnavam pudesse aparecer e suas reações intuitivas ser corretamente dirigidas. Foi necessário que o Cristo tivesse junto a Si aqueles em quem pudesse se apoiar para reconhecerem a divindade quando ela apareceu, e cuja percepção espiritual intuitiva fosse tal que - por todo o tempo - o significado interior pudesse ter-se tornado aparente àqueles de nós que, mais tarde, seguimos Seus passos. Este é um ponto às vezes esquecido. Inevitavelmente “seremos como Ele, pois O veremos como Ele é.” (15)

Mas para se alcançar esta semelhança, duas coisas são necessárias ao discípulo consagrado e dedicado. Ele deve ser capaz de ver claramente, enquanto permanecer na iluminação que se irradia do Cristo, e sua intuição deve ser ativa, de modo que ele possa corretamente interpretar o que vê. Ele ama seu Mestre e serve com aquela fidelidade possível; mas, é necessário mais do que devoção e serviço. É preciso que ele seja capaz de encarar a iluminação e, ao mesmo tempo, precisa ter aquela percepção espiritual que, ultrapassando o ponto até onde o intelecto pode levá-lo, vê e toca a realidade. É o amor combinado com o intelecto, mais o poder de saber, que é inerente à alma, que reconhece intuitivamente aquilo que é sagrado, universal e real e que é, contudo, específico e verdadeiro, todo o tempo, para todos os seres.

O Cristo revelou a qualidade da natureza divina por intermédio da matéria, da forma, e “foi transfigurado diante deles.”

“A palavra grega aqui usada é “metamorfoseado”, a própria palavra usada por S. Paulo para descrever a transmutação do corpo mortal no corpo da ressurreição; pois no dia da realização, quando o discípulo perfeito atinge a maestria, a ‘Vestimenta de Glória’ resplandece com tal esplendor através da roupagem de carne, que todos os contemplativos podem percebê-la e, seus olhos e ouvidos sintonizados com a vibração sutil mais fina, eles contemplam seu Mestre em toda a Sua divina humanidade.” (16)

É interessante notar que, apesar de reconhecerem o significado do acontecimento do qual participavam, os três Apóstolos, falando pela boca de S. Pedro, não foram capazes de expressar mais do que sua veneração e perplexidade, seu reconhecimento e crença. Não puderam explicar nem compreender o que tinham visto, nem encontramos qualquer registro de que jamais o tivessem feito. O significado da Transfiguração é algo que deve ser talhado na vida antes que possa ser definido ou explicado. Quando a humanidade, como um todo, aprende a transformar a carne através da experiência divina, a transmutar a natureza sensorial através da expressão divina e a transferir a consciência, do mundo da vida mundana para o mundo das realidades transcendentais, os verdadeiros valores subjetivos desta iniciação revelar-se-ão às mentes dos homens. Virá, então, uma expressão mais profunda daquilo que foi intuído. Dr. Sheldon nos conta, com propriedade, que “tudo que há de melhor no pensamento e no sentimento humano é conduzido, durante gerações, provavelmente eras, às mentes intuitivas, muito antes de se tornar articulado”. (17) Nós ainda não estamos articulados, no que concerne a esta experiência. Percebemos tenuemente, e à distância, sua maravilha e sua finalidade. Ainda não passamos, como um todo, pelo novo nascimento; a experiência do Jordão somente é atingida por uns poucos, por enquanto. É a rara e desenvolvida alma que escalou a Montanha da Transfiguração, e lá viu e se encontrou com Deus na glorificada Pessoa de Jesus Cristo. Observamos este episódio através dos olhos de outros. Pedro, Jaime e João, através de um outro apóstolo, Mateus, no-lo relataram. Permanecemos como observadores, mas é uma experiência da qual iremos, algum dia, participar. Isto, nós esquecemos. Tomamos para nós mesmos a linguagem do quarto grande acontecimento na vida do Cristo e muitos de nós temos tentado participar e penetrar no significado da Crucificação. Observamos a Transfiguração, mas não tentamos tornar-nos ativamente transfigurados. Mas isso terá que nos acontecer, algum dia, e somente após a Transfiguração poderemos ousar escalar o Monte do Golgotha. Somente quando tivermos conseguido expressar a divindade na e através da natureza pessoal inferior, teremos alcançado aquele valor que mereça a permissão, sob o Plano divino, para sermos crucificados. Esta é uma verdade esquecida. Entretanto, é inteiramente parte do processo evolutivo pelo qual Deus é revelado através da humanidade.

O grande e natural fenômeno que a humanidade algum dia - através da expressão própria e também sob a lei - revelará em si mesma, inclui a beleza que resplandeceu do Cristo quando Ele se transfigurou diante de Seus três amigos, foi reconhecido por Deus, Seu Pai, e recebeu o testemunho de Moisés e Elias - a Lei e os Profetas, o passado e aquilo que dá testemunho ao futuro.

Um ponto poderia aqui ser destacado. Na correspondência oriental dessas cinco crises na vida de Jesus Cristo, este terceiro episódio é chamado o da iniciação da “cabana” e as palavras de S. Pedro, ao sugerir que deveriam fazer três “cabanas”, uma para o Cristo, uma para Moisés e uma para Elias, ligam este acontecimento cristão ao seu antigo protótipo. Sempre, nesses acontecimentos que raramente ocorrem, Deus foi glorificado pela luz, inefável e fulgente, resplandecendo através da vestimenta da carne, e esta experiência da montanha não é exclusivamente cristã. Mas o Cristo foi o primeiro a reunir, numa apresentação sequencial, todas as possíveis experiências da divindade manifestada, e as retratou para nossa edificação e inspiração, na história de Sua vida e nos episódios dos cinco Evangelhos. Mais e mais homens passarão através da câmara do nascimento, entrarão na corrente e escalarão a montanha, adiantando o trabalho de Deus para a humanidade; e o exemplo do Cristo está rapidamente frutificando e produzindo resultados. A divindade não pode ser desmentida - e o homem é divino. Se não for, então a Paternidade de Deus não passa de uma forma vazia de palavras e o Cristo e Seus Apóstolos estariam em erro ao terem reconhecido, como constantemente o faziam, o fato de nossa filiação. A divindade do homem não pode ficar sujeita a explicações. É um fato ou não é. Deus pode ser conhecido na carne, por intermédio de Seus filhos, ou não pode. Tudo se apoia em Deus, o Pai, o Criador, Aquele em quem nós vivemos, nos movemos e temos nosso ser. Deus é imanente em todas as Suas criaturas. Deus é transcendente e além da manifestação, ou então não há realidade básica, propósito ou origem. Provavelmente, o crescente reconhecimento, nas mentes dos homens, de que Ele é tanto imanente quanto transcendente, é verdadeiro, e podemos valorizar Sua paternidade sabendo que nós mesmos somos divinos, porque o Cristo e a Igreja de todos os tempos o testemunharam.

Desta vez a Palavra falada difere da anterior. A primeira parte do pronunciamento feito pelo Iniciador Que fica silenciosamente por trás das cenas à proporção que Jesus recebe iniciação após iniciação, é praticamente a mesma que na iniciação do Batismo, exceto por um comando expresso. Ele disse, “Este é meu filho amado, em quem me comprazo”, mas desta vez acrescentou, “Ouvi-O.” No primeiro grande episódio, Deus o Pai, de Quem o Iniciador é o símbolo, não fez conhecida a Sua Presença. Os anjos falaram a palavra, encarnando a missão do Cristo em apoio a Ele. No Batismo ele obteve reconhecimento, mas isso foi tudo. Nesta Iniciação, Deus ordenou à humanidade que prestasse atenção a esta particular crise na vida do Cristo e ouviu Suas palavras. O poder, e o direito de falar, é agora conferido ao Cristo e é interessante registrar que a maior parte do ensinamento (tal como dado no Evangelho de S. João e em muitas das parábolas), foi dado pelo Cristo somente depois de ter vivido essa experiência. Mais uma vez, Deus evidenciou que reconhecia o Messianismo do Cristo, cuja palavra é a interpretação do homem, do reconhecimento. No Batismo, Ele O reconheceu como Seu Filho, enviado ao mundo, do seio do Pai, para cumprir a vontade de Deus. Aquilo que o Cristo havia reconhecido no Templo, como criança, foi posteriormente endossado por Deus. Este reconhecimento é repetido, e o endosso fortalecido, pela ordem ao mundo para ouvir as palavras do Salvador ou, talvez, do ponto de vista esotérico e espiritual, ouvir a Palavra que era Deus feito Carne.

“Há, de fato, uma conexão interior entre o Batismo e a Transfiguração. Em ambos os casos uma condição de êxtase acompanha a revelação do segredo da pessoa de Jesus. Da primeira vez, a revelação foi feita só para ele; aqui, os Discípulos também participaram dela. Não ficou claro até que ponto eles próprios foram transportados pela experiência. Tanto é certo, que na estupefação da qual eles somente despertam no final da cena (S. Marcos, IX, 8) a figura de Jesus aparece-lhes iluminada por uma luz e glória sobrenaturais e uma voz afirma que ele é o Filho de Deus. A Ocorrência somente pode ser explicada como fruto de grande excitação escatológica.” (18)

O mesmo escritor continua a assinalar:

“Temos, portanto, três revelações do segredo do messianismo e de tal maneira pendem juntas que cada uma implica a subsequente. No monte próximo a Bethsaida foi revelado aos Três o segredo que fora transmitido a Jesus em seu batismo. Isso foi após a colheita. Poucas semanas mais tarde, tornou-se conhecido dos Doze, pelo fato de ter Pedro, em Cesareia de Felipe, respondido à pergunta de Jesus sobre o conhecimento que ele adquirira no alto da montanha. Um dos Doze traiu o segredo para o Sumo Sacerdote. Esta última revelação do segredo foi fatal, pois provocou a morte de Jesus. Ele foi condenado como messias embora nunca se tivesse apresentado como tal.(19)

Isso evoca em sua globalidade a questão quanto à natureza daquela missão que o Cristo veio desempenhar e que constituiu a Vontade de Deus que Ele veio cumprir. Três pontos de vista principais usualmente sustentados pelos cristãos ortodoxos poderiam ser enumerados, como a seguir:

1 - Ele veio a morrer na Cruz para apascentar a raiva de um Deus irado e tornar possível a ida para o Céu, daqueles que creem n’Ele.

2 - Ele veio para mostrar-nos a verdadeira natureza da perfeição e como, na forma humana, a divindade poderia manifestar-se.

3 - Ele veio para nos deixar um exemplo, de modo que pudéssemos seguir seus passos.

O próprio Cristo não deu ênfase à morte na Cruz como sendo o ápice da obra de Sua vida. Ela resultou do trabalho de Sua vida, mas não foi para ela que Ele veio ao mundo. Veio, para que tivéssemos “vida abundantemente”, e S. João nos conta em seu Evangelho que o novo nascimento depende da crença no Cristo, quando o poder nos é dado para nos “tornarmos Filhos de Deus, mesmo para aqueles que acreditam em Seu nome, que nasceram, não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” (20)

Não será razoável concluirmos, dessas palavras, que quando um homem alcança um ponto de reconhecimento e crença no Cristo cósmico, “O Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”, (21) o novo nascimento se torne, assim, possível, posto que a vida daquele Cristo universal, animando toda forma de expressão divina, pode então consciente e definitivamente conduzir o homem a uma nova manifestação da divindade? O “sangue é a vida”, (22) e é o Cristo vivo que possibilita, a todos, tornarem-se cidadãos daquele reino. É a vida do Cristo em cada um de nós que nos torna filhos do Pai, não é Sua morte que nos torna filhos. Em nenhum trecho da narrativa dos Evangelhos uma afirmação oposta encontra apoio. O Cristo, no serviço da comunhão, deu aos Seus discípulos a taça para beber, dizendo, “Isto é meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos para a remissão dos pecados.” (23) Mas essas são Suas únicas referências ao sangue em seu aspecto medicamentoso, tão fortemente enfatizado nas Epístolas, e Ele Próprio em lugar algum correlaciona sangue com Crucificação. Ele fala no tempo presente e não relaciona o sangue ao novo nascimento ou à Crucificação, nem faz dele um fator na exclusividade que tão profundamente coloriu a apresentação do cristianismo no Mundo.

É a vida do Cristo, em todas as suas formas, que constitui o impulso evolutivo. É a vida do Cristo que torna possível a expressão da divindade, firmemente se revelando, no mundo natural. Está bem no fundo do coração de todo homem. A vida do Cristo leva-o finalmente ao ponto em que ele sai do reino humano (quando o trabalho da evolução normal fez sua parte) e o conduz para o reino do espírito. A identificação da vida do Cristo na forma do homem leva todo ser humano, em algum momento, a desempenhar o papel da Virgem Maria para aquela realidade que vive em seu íntimo. É a vida Crística que, no novo nascimento, alcança uma expressão mais plena e, de crise em crise, guia o filho de Deus em desenvolvimento até chegar à perfeição, tendo alcançado “a medida da estatura completa de Cristo.” (24)

Veremos, mais tarde, que a nova religião mundial deverá apoiar-se na revelação do Cristo levantado. O Cristo na Cruz, como se tornará aparente ao estudarmos a grande crise seguinte, mostrou-nos o amor e o sacrifício levados à sua extrema expressão; mas o Cristo vivo de todos os tempos, e vitalmente vivo hoje, é a chave da nova era, e sobre esta verdade deve ser construída a nova apresentação da religião e, mais tarde, constituída a nova teologia. O verdadeiro significado da Ressurreição e da Ascensão ainda não foi alcançado; como uma realidade divina subjetiva, aquelas verdades ainda aguardam a revelação. A glória da nova era será a remoção do véu daqueles dois mistérios e nossa entrada numa compreensão mais plena de Deus como vida. A verdadeira Igreja do Cristo é a reunião dc todos os que vivem através da vida do Cristo e cuja vida seja una com a Sua. Isto será conscientizado de maneira crescente e conduzirá a uma luz mais clara e radiante, a maravilha e a glória que permanecem ainda não reveladas em Deus, o Pai.

Somente o homem que tenha compreendido algo do valor da iniciação da Transfiguração e a natureza da perfeição então revelada, pode acompanhar o Cristo até a visão que Lhe foi dada ao descer daquele alto ponto de realização espiritual e, mais tarde, compartilhar com Ele na compreensão da natureza do serviço mundial. Este serviço mundial é tornado perfeito por aqueles cuja perfeição interna se aproxima da do Cristo e cujas vidas são controladas pelos mesmos impulsos divinos e subordinadas à mesma visão. Este estágio conota aquela completa liberdade espiritual que devemos finalmente alcançar. Agora chegou o tempo dos seres humanos abandonarem o crer e passarem ao verdadeiro conhecimento, por intermédio do método do pensamento, da reflexão, da experimentação, da experiência e da revelação. O problema imediato para todos aqueles que estão buscando este novo conhecimento e que desejam tornar-se conhecedores conscientes em vez de fiéis crentes, é que deverão alcançá-lo no mundo do cotidiano. Após cada expansão de consciência e cada desenvolvimento de uma percepção aprofundada, nós voltamos, como fez o Cristo, à simplicidade do cotidiano e ali sujeitamos nosso conhecimento à prova, descobrimos sua realidade e verdade, e achamos também onde se encontra, para nós, o ponto de expansão seguinte e que novo conhecimento deve ser adquirido. A tarefa do discípulo é compreender e usar esta divindade. O conhecimento de Deus imanente, entretanto, baseado numa crença em Deus transcendente, é nosso empenho.

Esta foi a experiência dos apóstolos no alto da montanha. É-nos dito que “quando elevaram seus olhos, a ninguém viram mais, a não ser somente Jesus.” (25) O familiar reapareceu para eles. É realmente interessante comparar uma narrativa algo semelhante, relatada no Bhagavad Gita, em que a gloriosa forma do Senhor é revelada a Arjuna. No final da revelação, Deus, na pessoa de Krishna, lhe diz, com ternura e compreensão, “não deixes que o medo nem a confusão te dominem, por teres contemplado Minha forma tão terrível! Vê, mais uma vez, minha forma anterior, sem temor, teu coração tranquilo!” e depois prossegue, dizendo:

“A forma em que me viste, ó príncipe! é tal, que a poucos é dado contemplá-la. Os deuses, os arcanjos e os espíritos dos mais altos céus desejam ardentemente vê-la, mas não podem encarar-Me como tu Me encaraste. A esta visão não se chega pela leitura das Escrituras, nem por voluntários martírios, nem pela distribuição de esmolas ou sacrifícios. Só pelo verdadeiro amor e verdadeira devoção se pode chegar ao conhecimento do Meu Ser, e conhecer e ver e penetrar Minha essência.” (26)

A Palavra de Reconhecimento havia sido pronunciada e a ordem para ouvir o Cristo fora dada. Tendo Jesus voltado à “Sua própria forma”, a descida da montanha devia seguir-se. Ocorreu, então, o que poderia ser considerado como uma grande, triste, inevitável e terrível reação espiritual, expressa pelo Cristo nas seguintes palavras:

“O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e estes o matarão e no terceiro dia ele ressuscitará.” (27)

Depois vem o simples comentário de que os discípulos “ficaram muito tristes.” Esta visão do Cristo, se a seguirmos nos registros, dividiu-se em duas partes. Primeiro, Ele teve uma visão da realização espiritual. A conquista no alto da montanha, uma grande experiência espiritual, ficara para trás. Agora Ele tem a visão de uma consumação física na forma da entrada triunfal em Jerusalém. Mas isto é acompanhado por um pressentimento ou uma previsão da culminação de Sua vida de serviço, na Cruz. Ele viu claramente, talvez pela primeira vez, o que O esperava, e a direção para a qual Seu serviço ao mundo o estava conduzindo. A via dolorosa de um Salvador Mundial se estendia diante de Si; o destino de todas as almas pioneiras tinha o seu clímax na Sua experiência e Ele se viu rejeitado, posto no pelourinho e morto, tal como muitos outros menores filhos de Deus. A rejeição mundial sempre precede a aceitação mundial. A desilusão é um estágio no caminho para a realidade. O ódio daqueles que ainda não estão prontos para reconhecer o mundo dos valores espirituais é sempre o lote daqueles que o estão. Isto, o Cristo encarou e, entretanto, Ele “manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém.” (28)

Ao considerarmos este acontecimento, a prova especial que o Cristo agora encontrara se torna clara em nossas mentes. Foi novamente uma prova tripla, como aquela que se seguiu à iniciação do Batismo; mas, desta vez, de uma natureza muito mais sutil. Ele se deparou com a prova de ter de suportar e lidar com o êxito no mundo e prosseguir no caminho triunfal de Sua entrada na Cidade Santa sem se desviar de Seu propósito, sem se deixar arrastar pelas conquistas materiais, ao ser aclamado Rei dos Judeus. O sucesso impõe uma disciplina muito mais drástica e produz muito mais numerosas oportunidades para esquecer Deus e a realidade, do que o fracasso e o desprezo. A autopiedade, um senso de martírio e a resignação são meios potentes e suficientes para lidar com o próprio fracasso. Mas, elevar-se até a crista da onda, receber o reconhecimento público e parecer ter conquistado o objetivo terrestre, são fatores muito mais difíceis de enfrentar. A esses, o Cristo efetivamente enfrentou, e o fez com equilíbrio espiritual e com aquela sabedoria ampla que produz um correto senso de valores e um senso de proporção apropriado.

A segunda fase da prova consistiu em Sua previsão quanto ao Próprio fim. Ele sabia que teria de morrer e sabia como haveria de morrer; entretanto, prosseguiu, sem Se desviar, no curso que Lhe fora destinado, embora Ele próprio tivesse antecipado o desastre. Não somente teve de demonstrar o poder de suportar o êxito, como também teve de demonstrar o poder de encarar o desastre, equilibrando um contra o outro e vendo em ambos, simplesmente, oportunidades para expressão divina e campos para a demonstração do desapego - aquela proeminente característica do homem que tornou a nascer, purificado e transfigurado. A essas provas Ele acrescentou aquela com que antes se deparara no deserto, a da extrema solidão. O poder de suportar o êxito! O poder de suportar o desastre! O poder de ficar absolutamente só! Isto, o Cristo teve de demonstrar ao mundo, e assim o fez. Ele permaneceu triunfante diante do mundo, num estágio intermediário no Seu caminho para a Cruz. A agonia da solidão no Horto do Gethsemani foi para Ele, provavelmente, um momento muito mais difícil do que a publicidade no Monte Golgotha. Mas, nessas provas mais sutis, a qualidade do Próprio Deus se revelou e são a qualidade e o significado de Deus que salvam o mundo - a qualidade de Sua vida, que é Amor e Sabedoria, e Valor e Realidade. Foi tudo isso que o Cristo realizou.

Imediatamente após a descida da montanha, o Cristo recomeçou a servir. Ele se encontrou, como bem o sabemos, com uma pessoa em grande aflição e imediatamente atendeu à sua necessidade. Uma das características marcantes de cada iniciação é a capacidade aumentada, do iniciado, em servir. O Cristo demonstrou um modo inteiramente novo e ímpar, pelo qual se dirigir às massas, assim como de ensinar particular e pessoalmente aos Seus poucos escolhidos. Seu poder de curar ainda continuava, mas o trabalho se transferiu para um campo de novos valores e Ele falou dessas palavras e enunciou aquelas verdades que (confirmaram o fundamento da crença daqueles que tiveram a visão interior de penetrar na apresentação teológica do Cristianismo e ali encontrar a realidade. Seu serviço desta vez consistiu, primariamente, em ensinar e falar. Mas - tal é a sabedoria e a beleza de Sua apresentação da verdade de -, Ele situou a divindade em formas que o homem comum pudesse alcançar. Ele ligou o velho ao novo e enunciou aquela nova verdade e aquela especial revelação que eram então necessárias, para unir a antiga sabedoria e a mais moderna esperança. Keyserling alcançou o maravilhoso do que faz o Salvador do Mundo, e o proclama em palavras que eu cito:

“. . . a grande mente é essencialmente o Despertador. Se tal mente deveria proclamar o inteiramente novo, o único, isto nada significaria para outros homens. Seu valor social depende inteiramente de sua capacidade de proclamar claramente o que todos sentem ser verdadeiro, no mais profundo dos seus corações, - pois poderia ele ser entendido de outro modo? - e proclamá-lo de u’a maneira tão universal, isto é, tão sintonizada com as leis objetivas em questão, que suas ideias se tornam órgãos para os outros.” (29)

Cristo nos deu uma grande ideia. Ele nos deu o novo conceito de que Deus é Amor, não importando o que pudesse estar acontecendo no mundo, à sua volta. Todas as grandes ideias proveem do mundo da divindade, por intermédio dos grandes Intuitivos, e a história da humanidade é essencialmente a história das ideias - sua vinda por intermédio de algum pensador intuitivo, seu reconhecimento por uns poucos, seu crescimento em popularidade e sua integração final no pensamento mundial, o mundo dos pensadores da humanidade. Seu destino é então determinado e, finalmente, a nova e ímpar ideia se torna o modelo popular e publicamente aceito, da conduta humana. “À pergunta, então, se são as personalidades ou as ideias que decidem o destino de uma era, a resposta é que a era obtém suas ideias das personalidades.” (30) O Cristo encarnou uma grande ideia, a ideia de que Deus é Amor, e aquele amor é o poder motivador do universo. Isto constitui a iluminação que o Cristo, como a Luz do Mundo, refratou sobre todos os acontecimentos mundiais. A majestade dessa realização não pode ser subestimada. Precisamos conscientizá-la muito mais profunda e potentemente do que o fazemos, pois ela constitui o caráter e a qualidade básica e fundamental de todos os acontecimentos, pouco importando a aparência exterior. O Cristo ilumina a vida. Esta foi uma de Suas mais importantes contribuições à vida, tal como é hoje vivida. Ele disse, com efeito: Deus ama o mundo; tudo que acontece segue a linha do amor. Se isto for conscientizado como um fato e uma verdade fundamental, iluminará toda a vida e aliviará todas as cargas; causa e efeito serão reunidos, e o propósito de Deus e Seu método serão vistos como um. Os teólogos se esqueceram disso, muitas vezes, ao disputarem sobre os aspectos mais técnicos da vida do Cristo. O que Ele iluminou em sua atuação como a “Luz do Mundo”, o que Ele recebeu da Luz divina e derramou para o mundo, o que Ele refratou, é muitas vezes omitido na disputa para provar doutrinas tais como o fato de que a Virgem Maria teria sido uma virgem imaculada e que o Cristo teria, portanto, nascido de uma imaculada concepção. Hoje, somente uns poucos da mais nova geração se importam com tais pontos doutrinários. Afirmemos isso enfaticamente. Mas nos importamos, de fato, com que o amor que Ele expressou seja demonstrado no mundo e que a iluminação que Ele conduziu “ilumine as nossas trevas.”

O Cristo emitiu com clareza a nota que pode anunciar a nova civilização e a nova ordem, e um cuidadoso estudo dos ideais e das ideias que hoje, sem exceção, subjazem a cada uma das grandes experiências conduzidas pelas várias nações, mostrará que eles estão baseados, em essência, em algum conceito assemelhado, definitivamente, ao cristão. Que os seus métodos de aplicação e as técnicas empregadas sejam frequentemente não cristãos, é tristemente verdadeiro, mas os conceitos fundamentais conduzirão, com equanimidade, a luz que o Cristo pode lançar sobre eles. A principal dificuldade tem sido que nosso alcance intelectual dos conceitos precede nosso próprio desenvolvimento pessoal e, por isso, colore de maneira desastrada nossa aplicação dos mesmos. Quando essas ideias básicas forem transmutadas em ideais mundiais pelos pensadores consagrados da raça e aplicadas no espírito no qual o Cristo as concebeu, então, na verdade, inauguraremos uma nova ordem mundial.

É de supremo valor para nós, compreendermos que, realmente, o que o Cristo fez, foi anunciar a era do Serviço, mesmo que hoje estejamos somente começando (dois mil anos após Ele nos ter deixado o exemplo) a alcançar as implicações dessa palavra tão largamente usada. Nós nos tornamos aptos para considerar a salvação em termos do individual e a estudá-la do ângulo da salvação individual. Esta atitude deve acabar, se quisermos de algum modo entender o espírito do Cristo. Um grande japonês levanta a aguda questão, “Qual é o primeiro objetivo de uma religião que mereça existir?” e prossegue, dizendo-nos que é a salvação, mas uma salvação que esteja prenhe com o alívio e a renovação da vida e do mundo.” (31) O Serviço está-se tornando mais e mais um objetivo em todos os assuntos mundiais. Mesmo nos negócios modernos está-se chegando ao reconhecimento de que é preciso haver um agente motivador se o negócio, como o entendemos no sentido moderno, tiver de sobreviver. Em que se baseia esta tendência geral? Certamente, em nossa relação universal com a Divindade e em nossas relações subjetivas recíprocas, que têm sua raiz em nosso relacionamento com Deus.

Essa é, naturalmente, a base do serviço. Deve ser, como no caso de Jesus Cristo, um produto espontâneo da divindade. Um dos mais fortes argumentos para o desenvolvimento divino do homem é a emergência, numa larga escala, desta tendência para servir. Estamos somente começando a ter uma tênue visão do que o Cristo pensava por serviço. Ele “levava este motivo atuante do serviço ao ponto de dizer que quando o bem comum se conflitar com Vosso êxito ou bem-estar pessoal, vós vos deveis sacrificar, e não ao próximo.” (32) Esta ideia de serviço está, naturalmente, em completo conflito com a atitude normalmente competitiva ante a vida e o egoísmo geralmente demonstrado pelo homem comum. Mas, para o homem que procura seguir o Cristo e que visa, finalmente, escalar o Monte da Transfiguração, o serviço conduz, inevitavelmente, à iluminação aumentada e a iluminação, por sua vez, deve encontrar sua expressão no serviço renovado e consagrado. Assim encontramos nosso caminho - através do serviço aos nossos semelhantes - até o Caminho que o Cristo trilhou. Seguindo Seus passos, nós alcançamos finalmente o poder para viver como homens e mulheres iluminados e semelhantes ao Cristo, em nosso ambiente normal cotidiano.

Qual é, pois, a dádiva que cada um de nós pode proporcionar ao mundo, ao estudarmos a vida do Cristo e viajarmos com Ele em nossas mentes, de uma iniciação a outra? Podemos visar aquela grandeza de ação que redimirá nossa natural mediocridade e revelará, progressivamente, a divindade em cada um de nós. Cada um pode permanecer como a luz de um farol, indicando o caminho para o centro de onde a Palavra é emitida; e cada um pode começar a expressar, em sua vida diária, algo da qualidade de Deus que o Cristo tão perfeitamente retratou e que O conduziu em triunfo, do Monte da Transfiguração até o vale do dever e do Serviço, e que O capacitou a prosseguir com inabalável determinação, até a experiência na Cruz, através do triunfal caminho da aclamação e dos dolorosos caminhos da deserção e da solidão.

O impulso é forte, para encerrar com algumas palavras de Arjuna, ditas a Krishna, muito antes da era cristã, após a revelação da beleza desnudada, à qual ele havia sido admitido. Sua relevância é inquestionável. Pode-se quase imaginar S. Pedro ou S. João dirigindo-se ao Cristo, quando abriram seus olhos e “viram somente Jesus.” Talvez elas se possam aplicar a nós também, ao considerarmos o Cristo e nossa relação para com Ele:

41 - Perdoa-me que, confidentemente,
Eu Te chamasse: Ó Krishna! amigo meu!”
Perdoa-me esta leviandade
E a falta de respeito a Ti devido.

42 - Perdoa as faltas minhas cometidas,
Talvez, no gracejar, em companhia,
Ou quando estava só, em pé, no leito,
Parado ou caminhando, em ignorância!

43 - Ó Senhor do Universo! Pai de tudo!
Ó Fonte do Saber! Supremo Mestre!
Não há ninguém que seja igual a Ti.
Tu, infinitamente poderoso!

44 - Humildemente, prostro-me a Teus pés,
Imploro, meu Senhor, Tua clemência.
Oh! sê-me afável, como o pai ao filho,
Como um amigo, ou um amante, ao outro.

45 - Mirando as Tuas grandes maravilhas,
Me extasio, porém temor me invade;
Desejo em outra forma contemplar-Te;
Oh! Mostra-Te, Bondoso, noutro aspecto! (33)

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Notas:

(1) - Eph., II, 15. (18) - The Mistery of the Kingdom of God, por Albert Schweitzer, págs. 181-182.
(2) - The Value and Destiny of the Individual, por B. Bosanquet, pág. 210. (19) - The Mistery of the Kingdom of God, por Albert Schweitzer, págs. 217-218.
(3) - Bhagavad Cita, tradução de Charles Johnston, pág. 128. (20) - S. João, I, 13.
(4) - Paracelsus, por Robert Browning, Oxford Edition, pág. 444. (21) - Rev., XIII, 8.
(5) - O Bhagavad Gita, Livro X, 40x, 41, 42. (22) - Gen. IX, 4.
(6) - Um Tratado sobre o Fogo Cósmico, Alice A. Bailey, pág. 476. (23) - S. Mateus, XXVI, 28.
(7) - Deut, IV, 24 (24) - Eph., IV, 13.
(8) - Um Tratado sobre o Fogo Cósmico, por Alice A. Bailey, pág. 478. (25) - Mateus, XVII, 8.
(9) - Kaivalya, II, 9. Citado em Mysticism, East and West, por Rudolph Otto, págs. 98-99. (26) - O Bhagavad Gita, Livro XI, 49, 52, 53, 54.
(10) - Psychology and God, por L. W. Grensted, pág. 75. (27) - S. Mateus, XVII, 22, 23.
(11) - Mateus, XVII, 1,8. (28) - S. Lucas, IX, 51.
(12) - Mateus, V, 16. (29) - The Recovery of Truth, por Hermann Keyserling, pág. 213.
(13) - O Bhagavad Gita, VI, 33, 34. (30) - The Decay and Restoration of Civilisation, por Albert Schweitzer, pág. 82.
(14) - II Tim. 1, 12. (31) - Modem Trends in World Religions, editado por A. E. Haydon, citando Kishio Satomi, pág. 75.
(15) - I. S. João, III, 2. (32) - Modem Trends in World Religions, editado por A. E. Haydon, citando Kishio Satomi, pág. 106.
(16) - The Mistery Teaching in the West, por Jean Delaire, pág. 121. (33) - O Bhagavad Gita, livro XI, 41-45.
(17) - Psychology and lhe Prcmethean Will, por W. H. Sheldon, pág. 116.  

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