Cura Esotérica
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PARTE TRÊS
Capítulo VIII
CAPÍTULO VIII
As Leis e as Regras Enumeradas e Aplicadas (Parte 5)
LEI IX
A perfeição atrai a imperfeição à superfície. O Bem expulsa da forma do homem o mal no tempo e no espaço. O método usado pelo Uno Perfeito e aquele empregado pelo Bem é a inofensividade. Isto não é negatividade, mas o perfeito equilíbrio, o completado ponto de vista e a divina compreensão.
Esta lei é profundamente simples e significa exatamente o que diz. Pode ser interpretada de duas maneiras:
1. Refere-se ao desenvolvimento espiritual do homem através da forma, e ao modo ou lei pela qual o domínio latente da matéria - impregnada pelo egoísmo e por tudo aquilo que reconhecemos como o mal - é removido, e o homem fica liberto.
2. Pode também ser interpretada em termos de curador e paciente. Com frequência, o efeito da atividade e conhecimento do verdadeiro curador é trazer à superfície (em sua forma aguda) o mal (a doença) dentro da forma. O resultado disto pode ser a eliminação da doença e a garantia da saúde, ou a forma sucumbirá ao aumento da dificuldade e a probabilidade é que o paciente venha a morrer. Afortunadamente, porém, o curador comum é tão ineficaz que esta terrível possibilidade não se apresenta!
O método empregado sob a Lei da Perfeição é chamado “perfeita
inofensividade” e esse foi sempre o método usado pelo Cristo, o Ser
Perfeito, Não é a inofensividade tão frequentemente prescrita por mim ao
falar aos estudantes, mas sim uma inofensividade imposta pelo homem espiritual
e pelo seu destino natural. Consiste em não fazer caso do efeito ou resultado
produzido sobre a natureza da forma. Frequentemente lhes tenho dito que a
Hierarquia trabalha somente com a natureza espiritual, e que - para o Mestre -
a forma é considerada como relativamente sem importância. A liberação da
forma tripla é sempre vista pelo homem espiritual como o maior bem possível,
desde que ela seja alcançada sob a lei, como resultado de seu destino
espiritual e da decisão cármica; não deve resultar de um ato arbitrário, ou
de fuga da vida e suas consequências sobre o plano físico, ou auto
imposta.
Desta estranha atuação da Lei da Perfeição (estranha para o limitado ponto
de vista dos homens), a guerra de 1914-1945 foi um impressionante exemplo.
Milhões morreram; milhões outro sofreram cruelmente em sua natureza forma, e
muitos outros milhões sofreram, e continuam sofrendo, a agonia mental da
insegurança, da incerteza, e da pobreza. Não obstante, foram obtidos dois
importantíssimos resultados de natureza espiritual atuando sob a Lei da
Perfeição:
1. Almas foram liberadas de uma civilização retrógrada e decadente - pois assim é vista vossa jatanciosa civilização, sob o ângulo da Hierarquia - e retornarão em corpos melhores para uma civilização e cultura mais em conformidade com as necessidades do homem espiritual. A principal razão para uma tão completa destruição das velhas formas (física, emocional e mental) é que elas constituíam uma total prisão da alma e negavam, às massas dos homens, todo o verdadeiro crescimento.
2. Do rico ao pobre, do inteligente ao ignorante, uma coisa é agora claramente compreendida e que cada vez mais colorirá o pensamento humano: a felicidade e o sucesso não dependem da posse de coisas ou bens materiais. Essa ideia é o erro das organizações trabalhistas quando lutam e entram em greve por mais dinheiro para que possam viver com mais abastança; é o erro também do público em geral ao reagir à ação dos trabalhistas, pois rebela-se contra a diminuição do contínuo influxo de bens materiais. A humanidade tem incorrido neste erro há eras sem fim, e tem errado dolorosamente em sua ênfase sobre aquilo que beneficia a forma. Esta é a parte positiva na posição russa quando combate o capitalismo e enfatiza a educação. Todavia, sua falta de compaixão e sua crueldade e, acima de tudo, a supressão dos direitos individuais dos cidadãos de usufruir de certas liberdades essenciais pode eventualmente invalidar a beleza e a esperança do idealismo inicial. A Rússia está certa no seu idealismo, mas básica e terrivelmente errada em suas técnicas. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha estão num ponto a meio do caminho. Eles têm a visão, mas não sabem como materializá-la e torná-la real, pois não são favoráveis - no que estão corretos - a um regime totalitário. O espírito capitalista e o fascismo latente dos Estados Unidos constituem, neste momento, uma séria ameaça à paz mundial, e os capitalistas estão obstruindo os esforços dos homens de boa vontade. A Grã-Bretanha está, atualmente, impotente, financeiramente arruinada, sua antiga política imperialista descartada, e seu povo desalentado; está tão preocupada em lutar pela vida - e ela viverá - que lhe resta pouco tempo, interesse ou energia para tornar real a visão.
Existe sempre, como sabemos, uma analogia entre o homem individual e o mundo dos homens como um todo. Assim como na atualidade praticamente cada ser humano tem algo que anda mal fisicamente - olhos, ouvidos, dentes ou algum tipo de mal corporal - também a humanidade está doente e à espera de cura. A cura será efetuada por intermédio do Novo Grupo dos Servidores do Mundo e pelos homens de boa vontade, ajudados pela Hierarquia, de cujo centro planetário serão extraídas as energias curadoras. As imperfeições foram trazidas à superfície; os males a serem eliminados são do conhecimento de todos, e tudo isto ocorreu sob a influência da Lei da Perfeição. Refiro- me aqui mais à situação geral do que à relação individual entre o curador e um paciente, e o faço pela simples razão de que somente iniciados com experiência e compreensão podem acatar esta lei ou obedecer esta regra, e homens deste tipo encontram-se poucos atualmente na terra. A doença da humanidade como raça, e como resultado de eras de vida errônea, de propósitos egoístas e de cobiça produziu um sem número de males físicos; hoje, milhões de crianças nascem já claramente enfermas ou trazendo em si a semente de enfermidades. Quando o mal que fez sentir sua presença e as imperfeições que foram trazidas à superfície tiveram sido curadas ou arrastadas de volta ao seu lugar de origem, então - e somente então - a doença física terá um fim ou responderá facilmente ao tratamento.
Ao considerar o tema geral da imperfeição e do mal, estamos aqui lidando com causas, e isto o iniciado deve sempre fazer. Quando as causas são removidas, então desaparecem os efeitos. A Ciência Cristã e a Unidade estão portanto corretas em suas premissas e teoria geral, mas totalmente equivocadas em sua ênfase e métodos. No final de contas, todo o trabalho que eles realizam hoje é relativamente fútil, exceto pelo fato de que eles preservam e divulgam a Lei da Perfeição, embora o façam de modo canhestro e seu ensinamento esteja contaminando com o egoísmo universal.
Frequentemente tem sido repetido que há dois modos de realização espiritual: o longo e difícil caminho da evolução, ao fim do qual se chega a resultados relativamente pequenos, ou o longo e ainda mais árduo - mas muito mais rápido - caminho da iniciação. Há longo tempo permaneceu a questão (um ponto discutível, não é assim que o chamam?) se o mundo dos homens escolheria (e seria melhor que o fizesse) o método lento, porém seguro. É um método no qual a imperfeição é eliminada apenas muito gradativamente, sem muita pressão e com pequeno esforço por parte do homem. É um modo pelo qual o bem é lentamente alcançado e e o mal muito, muito vagarosamente rechaçado. A vontade-para-o-bem de Shambala, sob o sistema evolutivo usual, está apenas fracamente presente, e inumeráveis eons quedariam à frente da humanidade antes que o atual ponto de desenvolvimento humano pudesse ter sido atingido.
Mas algo aconteceu que não havia sido previsto nem mesmo pela Hierarquia. Durante os últimos duzentos anos o quadro todo foi alterado. Individualmente, um número adequado de homens alcançaram a iniciação e penetraram nos Ashrams dos Mestres, e pela decisão destes bem sucedidos aspirantes e em função de sua contínua atividade, determinaram eles, pela humanidade, que deveria ser tentado o caminho rápido e árduo. Desde então três fatores têm estado presentes:
1. O fator de tremendo progresso de elevar a consciência da humanidade, em massa, a níveis intelectuais muito mais altos. Disto dão testemunho o progresso da educação, as descobertas da ciência e o controle do plano material e do ar.
2. O fator do sofrimento mundial, do desastre econômico, das guerras mundiais, dos cataclismos naturais e das miríades de ocorrências e dificuldades que tornam a vida individual, nacional e planetária tão difícil nestes dias. Ninguém é poupado, não há distinções.
3. O fator do crescente conhecimento sobre a Hierarquia e, acima de tudo, do Plano espiritual. Para isso foi necessário que os aspirantes e discípulos ativos apresentassem ao homem a meta, e delineassem as técnicas do Caminho pelo qual a meta pode ser alcançada. Isto não foi feito pelos grupos religiosos espalhados pelo mundo, mas sim por membros dos Ashrams. Tudo que as igrejas têm feito é preservar na mente do público o fato de Deus Transcendente, enquanto ignoram o Deus Imanente; testemunhar a existência do Cristo, enquanto parodiam Seu ensinamento; e ensinar o fato da imortalidade, enquanto repudiam a Lei do Renascimento.
A humanidade está, pois, progredindo rapidamente no Caminho Ascendente, e como consequência podemos procurar ver duas coisas: primeiro que as imperfeições e o mal (aquelas latentes, e este em retirada) tornar-se-ão cada vez mais aparentes ao homem inteligente, e segundo, que o modo de eliminá-los tornar-se-á conhecido.
Não estou tratando aqui da natureza da imperfeição ou do propósito do mal. Será preciso assinalar aos meus leitores a inexorável presença de ambos? Posso dizer que a imperfeição é inerente à natureza da própria matéria e constitui a herança de um sistema solar anterior. Posso indicar que o mal emana da hierarquia das Forças do mal, as quais são a correspondência material da Hierarquia espiritual. Isto está relacionado ao fato de que todos os nossos planos são compostos de substância do plano físico cósmico. Podemos também dizer que quando a imperfeição da matéria for compreendida e corrigida, e quando o interesse e a ênfase da humanidade se afastarem das condições materiais, então as Forças do Mal nada terão nos três mundos - os três níveis inferiores do plano físico cósmico - onde atuar; nada haverá que elas possam influenciar, e nenhum modo de influenciar o homem existirá, então, no que tange ao mal. Não posso esperar que, nesta época, se compreenda o significado de minhas palavras. Contudo, elas estão relacionadas com as palavras da Grande Invocação que dizem, “...e cerre a porta onde mora o mal”. Existe uma porta para o reino do mal e da escuridão, assim como há uma porta para o mundo do bem e da luz; o diabo é para o homem que está dedicado e consagrado ao mal, o que o Morador do Umbral é para o aspirante espiritual.
A principal tarefa da Hierarquia espiritual tem sido sempre permanecer entre as Forças do Mal e a humanidade, trazer à luz a imperfeição de modo que o mal não possa encontrar lugar para agir, e manter aberta a porta para o reino espiritual. Isto a Hierarquia tem feito com uma pequena ajuda da humanidade; esta situação está agora mudada e a guerra mundial foi o símbolo e a garantia dessa mudança. Nela, as Forças da Luz, a massa das Nações Unidas, lutaram contra as Forças do Mal no plano físico e derrotou-as. O significado espiritual da guerra é muito maior do que se percebe. Ela mudou a direção do mundo; reorientou a humanidade para o bem; afastou as Forças do Mal e tornou definitivamente clara (e isto foi algo novo e necessário) a real distinção entre o bem e o mal, e isto não apenas no sentido teológico - como estabelecido pelos comentaristas religiosos - mas de forma prática e óbvia, como se evidencia pela desastrosa situação econômica e pela ganância dos homens proeminentes em todos os países. O mundo dos homens - mediante a óbvia diferença entre o bem e o mal - acordou para o fato da exploração materialista, para a falta de real liberdade e para os direitos, ainda não reclamados, do indivíduo. A habilidade do homem para resistir à escravidão tornou-se visível em toda parte. Que os que lutam pela liberdade estão empregando métodos errados e frequentemente combatem o mal com o mal é absolutamente verdade, porém isto indica apenas técnicas transitórias e uma fase temporária; temporária, sob o ponto de vista da Hierarquia, embora possivelmente longa quando vista pelo ângulo dos homens nos três mundos, mas não é necessariamente preciso que se alongue atualmente.
Tão grande tem sido o progresso do homem nos últimos duzentos anos que o Conselho da Câmara em Shambala viu-se forçado a levá-lo em consideração. Como resultado desta atenção das Grandes Vidas que rodeiam Sanat Kumara e Seu interesse nos assuntos dos homens, duas coisas aconteceram:
1. O aspeto vontade da divindade fez seu primeiro contato, direto e definido, com a humanidade. O impacto foi direto e sem desvios - como até então sucedera - para a Hierarquia, e dela para a humanidade. De acordo com o tipo de homem ou grupo que respondeu ou reagiu a este contato, assim foram os resultados: muito bons ou excepcionalmente maus. Grandes homens de bem apareceram e enunciaram as verdades necessárias para a Nova Era, como Lincoln, Roosevelt, Browning, Briand e uma legião de homens menos conhecidos. Também surgiram homens maus e perniciosos, como Hitler e o grupo que se formou ao seu redor, trazendo tanto mal à Terra.
2. Ao mesmo tempo, a vontade-para-o-bem vinda de Shambala evocou a boa vontade latente no homem de modo que hoje e crescentemente através dos últimos 100 anos, a bondade do coração, a bondade na ação, a consideração pelos demais e a ação da massa para promover o bem estar humano se espalharam pela Terra.
O surgimento da imperfeição e o esforço planificado do mal têm corrido paralelamente ao aparecimento do Novo Grupo dos Servidores do Mundo e à preparação que a Hierarquia está fazendo para sua exteriorização no plano físico. A Hierarquia está agora extremamente poderosa; seus Ashrams estão repletos de iniciados e discípulos, e sua periferia, ou campo magnético, atraí para si milhares e milhares de aspirantes. A guerra desferiu um golpe de morte no mal material, e seu domínio sobre a humanidade está grandemente enfraquecido.
Não confundam o mal com as atividades dos bandidos e dos criminosos. Estes são o resultado do surgimento maciço das imperfeições; são vítimas da ignorância, dos maus tratos quando crianças e da incompreensão das corretas relações humanos ao longo das eras. A Lei do Renascimento, no devido tempo, os conduzirá para o caminho do bem. Os homens verdadeiramente malignos são aqueles que procuram impor a volta dos antigos e maus métodos; que se empenham em manter nesta ou naquela forma de escravidão os seus semelhantes, que impedem a expressão de uma ou de todas as Quatro Liberdades; que adquirem riquezas materiais à custa dos explorados, ou que procuram reter para si e para seu lucro o produto da terra, e assim tornar proibitivo o custo das necessidades da vida para aqueles que não possuem riqueza. Esses que assim agem, pensam e planejam são encontrados em todas as nações, e são geralmente proeminentes devido à sua riqueza e influência; contudo, eles pecam contra a luz e não devido à ignorância; suas metas são materiais, não espirituais. Eles são relativamente poucos, se comparados com as centenas de milhões de homens, porém são tremendamente poderosos; são altamente inteligentes, mas inescrupulosos, e é através deles que as Forças do Mal trabalham, retardando o progresso, promovendo a pobreza, incentivando o ódio e as distinções de classe, fomentando diferenças raciais visando seus próprios fins e mantendo a ignorância no poder. Grande é o seu pecado e é difícil para eles mudar, porque o poder e a vontade-para-o-poder- à medida que milita contra a vontade- para-o-bem - é o fator predominante e controlador de suas vidas. Esses homens estão hoje trabalhando contra a unidade das Nações Unidas, através de sua ganância, sua determinação para possuir os recursos da terra, como o petróleo, a riqueza mineral e os alimentos, e assim manter fraco o povo e com alimentação inadequada. Esses homens - encontrados em todas as nações - entendem-se perfeitamente e trabalham juntos em grandes associações para explorar as riquezas da terra à expensa da humanidade.
Singularmente, a Rússia está atualmente livre de tais homens, por isso o que foi dito não se refere a esse imenso país, como muitos de seus inimigos podem supor. A Rússia está cometendo grandes erros, mas esses são os erros de um idealista fanático ou de um bandido que peca devido à ignorância, à imaturidade ou à fúria que acomete diante do mal que o rodeia. Isto é totalmente diferente do mal a que me referi, e não será duradouro, porque a Rússia aprenderá, enquanto aqueles outros não aprendem.
Usei a ilustração acima para tornar mais claro o meu tema. Todavia, o problema do mal é vasto demais para poder ser abordado aqui, e sequer é aconselhável ou prudente discutir a fonte do mal (não da imperfeição), a Loja Negra. A energia segue o pensamento, e a palavra falada pode ser potentemente evocativa; por conseguinte, enquanto não formos um membro da Grande Loja Branca, faz parte da sabedoria evitar considerarmos forças suficientemente potentes para utilizar inteligentemente a imperfeição latente na humanidade e impor o vasto mal da guerra, com todos os seus resultados e efeitos de longo alcance sobre a humanidade. A Loja Negra é problema da Loja Branca, e não da humanidade; há inúmeras eras a Hierarquia tem lidado com este problema, e está agora no processo de resolvê-lo. Ele é, contudo, a principal consideração e problema de Shambala, pois está relacionado ao aspeto vontade, e somente a vontade-para-o-bem será capaz de aniquilar e eliminar a vontade-para-o-mal. A boa vontade não será suficiente, embora o apelo unificado e invocativo dos homens de boa vontade em todo o mundo - crescentemente expressado pela Grande Invocação - servirá para "cerrar a porta onde mora o mal”.
É por trás dessa porta, lidando com as forças lá escondidas e mobilizadas, que a Hierarquia é efetiva; os métodos e modos pelos quais Ela protege a humanidade contra o mal mobilizado, e que gradualmente o estão fazendo recuar, não serão compreendidos por aqueles que não tenham ainda atravessado a porta que leva ao Caminho da Evolução Superior.
Que direi a respeito da inofensividade? Não me é fácil mostrar ou provar a efetividade do aspeto superior, espiral ou fase da inofensividade, tal como empregada pela Hierarquia, sob a direção do Ser Perfeito, o Cristo. A inofensividade de que antes tratei relaciona-se com a imperfeição contra a qual a humanidade está lutando, e bem sabem como é difícil aplicá-la em qualquer circunstância. A inofensividade a que me refiro concernente a vocês não é a atividade negativa, doce e bondosa, como tantas pessoas acreditam; é um estado mental que de modo algum nega a ação firme e até mesmo drástica; diz respeito ao motivo e envolve a determinação de que o motivo por trás de toda atividade seja a boa vontade. Este motivo pode levar a atos e palavras positivas e, às vezes, desagradáveis; porém, à medida que a inofensividade e a boa vontade condicionarem a abordagem mental, nada poderá surgir a não ser o bem.
Numa volta mais alta da espiral, a Hierarquia também emprega a inofensividade, mas relacionada com a vontade-para-o-bem, e envolve o uso da energia elétrica, dinâmica, sob direção intuitiva. Este tipo de energia nunca é trazida à atividade pelo homem, pois é uma energia que ele ainda não pode manipular. Este tipo de inofensividade está baseado em completo e total auto sacrifício, onde a vontade-para-o-sacrifício, a vontade-para-o-bem e a vontade-para-o-poder - três fases do aspeto vontade, expressando-se através da Tríade Espiritual - fundem-se todas em uma única energia dinâmica de uma natureza profundamente espiritual. Esta energia é a epítome da completa ou perfeita inofensividade no que concerne à humanidade e aos reinos subsidiários da natureza, porém é expulsiva em seu efeito e dinâmica no seu impacto aniquilador, no que diz respeito às Forças do Mal.
Um acurado, mas esotérico, estudo das três tentações do Cristo revelará
três importantes ocasiões quando o Ser Perfeito, expressando Sua mais elevada
inofensividade, forçou o expoente do mal a recuar. Este triplo episódio está
relatado simbolicamente, porém são de natureza factual. Pouco se tem pensado
sobre qual seria o efeito no mundo, no transcurso dos séculos, se o Cristo
não tivesse reagido como o fez. De pouco vale especular, mas poderia dizer-se
que todo o curso da História e do progresso evolutivo da humanidade teria sido
alterado de maneira terrivelmente calamitosa. Porém, a inofensividade
dinâmica, a expressão da vontade-para-o-bem e a demonstração da
vontade-para- o-poder - forçando o mal a abandoná-Lo - marcaram uma das mais
importantes crises na vida do Cristo.
A história do Evangelho (com seu resumo das cinco iniciações) refere-se ao
progresso e triunfo do Mestre Jesus; a história das três tentações indicou
a consecução de uma iniciação ainda mais elevada, a sexta, pelo Cristo, a
qual Lhe conferiu completo domínio sobre o mal, e não o domínio sobre a
imperfeição, uma vez que, por ser Ele o Ser Perfeito é que Lhe foi possível
receber essa iniciação.
Dei-lhes bastante material para uma madura consideração e lancei alguma luz sobre uma iniciação a respeito da qual pouco podemos conhecer. Chamo-lhes também a atenção para os três requisitos fundamentais para uma abordagem bem sucedida a esta iniciação: perfeito equilíbrio, um perfeitamente concluído ponto de vista e divina compreensão. Será interessante ver como estas três qualidades funcionam em relação às três tentações, pois assim muita luz será lançada sobre a vida, a natureza e o caráter do Cristo.
Sob a Lei da Perfeição, foi-nos dada a chave para a civilização e o ciclo de evolução que Ele inaugurou - cujo ideal não está perdido, embora a aplicação do ensinamento que Ele deu tenha sido negligenciado pelas igrejas e pela humanidade. Notarão também que uma tentação tem lugar no cume de uma alta montanha; a partir dessa elevação, o tempo e o espaço são totalmente obliterados, pois a visão do Cristo abarcava o passado, o presente e o futuro. Este estado de percepção (não posso chamá-lo consciência, e percepção é ainda pouco adequada), somente é possível após a quinta iniciação, e alcança um alto ponto de expressão na sexta iniciação.
Gostaria de considerar agora a natureza dos três requisitos apresentados como essenciais para certa iniciação, porque eles fornecem o elo entre a Lei IX e a Regra Seis. Esta regra é tão clara e concisa que requer poucas explicações, pois enfatiza a energia que deve ser usada e a que não deve ser usada:
REGRA SEIS
O curador ou o grupo de cura precisa manter a vontade sob controle. Não é a vontade que deve ser usada, mas o amor.
Estes três requisitos básico são concernentes à realização nos vários planos do universo; embora me tenha ocupado deles em conexão com a abordagem à sexta iniciação, eles têm - numa volta mais baixa da espiral - suas correspondências, e são portanto de aplicação prática pelo discípulo iniciado, particularmente aquele que já alcançou a terceira iniciação. Vamos considerá-los um por um:
Perfeito equilíbrio indica completo controle sobre o corpo astral, de modo que são superadas as desordens emocionais, ou pelo menos grandemente minimizadas, na vida do discípulo. Indica, também, em uma volta mais alta da espiral, a habilidade para funcionar livremente em níveis búdicos, devido à completa liberação - e consequente equilíbrio - de todas as influências e impulsos motivados pelos três mundos. Este tipo ou qualidade de equilíbrio implica - se pensarem seriamente - num estado mental abstrato, pois nada que é considerado imperfeito pode criar distúrbios. Certamente vocês podem compreender que, se estivessem inteiramente livres de todas as reações emocionais, a lucidez de sua mente e a habilidade para pensar com clareza seriam enormemente aumentadas, com tudo que isso envolve.
Naturalmente, o perfeito equilíbrio de um discípulo iniciado e o do Mestre iniciado são diferentes, pois um concerne ao efeito dos três mundos, ou seu não-efeito, e o outro concerne à adaptabilidade ao ritmo da Tríade Espiritual. Contudo, o primeiro tipo de equilíbrio deve preceder a realização posterior, e daí minhas considerações sobre o assunto. Este equilíbrio perfeito - que é uma realização possível para aqueles que me leem - é alcançado quando são rechaçados as seduções, anelos, impulsos e atrações de natureza astral ou emocional, e também pela prática da Divina Indiferença, já anteriormente mencionada.
Um Ponto de Vista Perfeitamente Concluído. Necessária e primariamente isto refere-se ao ponto de vista universal da Mônada, e portanto, a um iniciado de grau superior. Contudo, pode ser interpretado num degrau inferior da escada da evolução, e refere-se à função da alma como um Observador nos três mundos e ao quadro completo tal como gradualmente o vê um tal observador. Isto é produzido pelo desenvolvimento das duas qualidades: o desapego e a discriminação. Estas duas qualidades, quando expressas no Caminho da Evolução Superior, tornam-se Abstração e Vontade-para-o-bem.
Um ponto de vista concluído - tal como é experimentado nos níveis da alma - indica a remoção de todas as barreiras e a libertação do discípulo da grande heresia da separatividade; ele terá assim criado um canal desimpedido para o fluir do puro amor. Perfeito equilíbrio, visto a partir desse mesmo nível, removeu todos os impedimentos e aqueles fatores emocionais que até então bloqueavam o canal, preparando assim o caminho para que o Observador veja verdadeiramente; o discípulo então funciona como um limpo canal para o amor.
A Divina Compreensão também precisa ser estudada a partir de dois pontos de vista. Como uma qualidade da alma, ela indica uma mente que pode ser mantida firme na luz, e pode portanto refletir a razão pura - o amor puro - que qualifica os reflexos do Filho da Mente, a alma em seu próprio plano. No superior Caminho do Mestre, relaciona- se com aquela identificação que ultrapassa a consciência individualista; todas as barreiras desaparecem, e o iniciado vê as coisas como elas são; ele conhece as causas das quais todos os fenômenos são efêmeros efeitos. Em consequência, isto permite-lhe compreender o Propósito, tal como emana de Shambala, assim como o iniciado menor compreende o plano tal como ele é formulado pela Hierarquia.
Todos estes três atributos divinos são, em certa medida, essenciais no desenvolvimento do iniciado curador; ele precisa trabalhar para desenvolvê-los como parte necessária de seu equipamento; ele tem de saber que todas as reações de natureza emocional criam uma parede ou barreira entre o livre fluxo da força curadora e o paciente, e que esta barreira é criada por ele e não pelo paciente. As emoções do paciente não devem ter efeito sobre o curador ou desviá-lo da intensa concentração necessária para o seu trabalho, nem podem, por si mesmas, criar uma barreira suficientemente forte para desviar a força curadora.
Um ponto de vista concluído envolve, no mínimo, a tentativa do discípulo para penetrar no mundo das causas, e assim ficar sabendo, se possível, o que é responsável pela doença do paciente. Isto não implica em penetrar em prévias encarnações, ou sequer é isso essencial como afirmam alguns curadores modernos, geralmente fraudulentos. Existe, comumente, suficiente evidência psicológica, ou indicações de tendências herdadas, para dar uma pista ao curador e permitir-lhe obter um quadro bastante completo da situação. É óbvio que esta "penetração” nas causas do problema somente será possível se o curador amar o bastante, porque por amar, ele atingiu um equilíbrio tal que nega o mundo da ilusão e da miragem. A divina compreensão é simplesmente a aplicação do princípio do puro amor, da razão pura. a todos os homens e a todas as circunstâncias, somada à correta interpretação das dificuldades existentes do paciente, ou das que possam existir entre o paciente e o curador.
Acrescentaria a estes requisitos outro fator: o do médico, clínico ou cirurgião, que está fisicamente responsável pelo paciente. Na era vindoura, o curador trabalhará sempre com o auxílio científico de um médico treinado; este fator, atualmente, deixa surpreso o comum dos curadores modernos pertencentes a algum culto ou que expressem alguma forma não ortodoxa da cura.
Será evidente, portanto, como estes três requisitos divinos - quando trazidos a uma volta inferior da espiral para uso do discípulo no mundo moderno - indicam uma linha de treinamento ou de autodisciplina à qual todos se devem submeter. Quando tiverem dominado mesmo algumas das primeiras fases desta tripla realização, verão que podem aplicar a Regra Seis com facilidade.
Que significam as palavras “refrear a vontade”? O aspeto vontade aqui considerado não é o da vontade-para-o-bem e sua expressão inferior, a boa vontade. A vontade-para-o-bem significa a orientação estável e imovível do discípulo iniciado, enquanto a boa vontade pode ser considerada como a sua expressão no serviço diário. A vontade-para-o-bem tal como a expressa um iniciado superior, é uma energia dinâmica que tem predominantemente um efeito grupal, e por esta razão, os iniciados superiores raramente se preocupam com a cura de um único indivíduo. Seu trabalho é por demais potente e importante para permitir-lhes fazer isso, e a energia da vontade, que incorpora o Propósito divino, poderia ter um efeito destrutivo sobre o indivíduo, pois o paciente não conseguiria recebê-la ou absorvê-la. Contudo, presume-se que a boa vontade colore todas as atitudes e o pensamento do discípulo curador.
A vontade que precisa ser refreada é a da personalidade, a qual, no caso do discípulo iniciado, é de ordem muito elevada. Relaciona-se também à vontade da alma, emanando das pétalas do sacrifício no lótus egoico. Todos os verdadeiros curadores têm de criar um pensamento-forma de cura, e trabalhar através dele, seja consciente ou inconscientemente. É esta forma de pensamento que precisa ser mantida livre do uso potente demais da vontade, pois ela pode (a menos que seja refreada, diminuída, modificada ou, se necessário, totalmente eliminada) destruir, não apenas o pensamento-forma criado pelo curador, mas pode também criar uma barreira entre o curador e o paciente, quebrando assim a empatia iniciai. Somente um Cristo pode curar pelo uso da vontade, e na realidade, Ele poucas vezes curou. Nos casos em que se conta que Ele o fez, foi para provar a possibilidade da cura; mas - como notarão, se conhecem o Evangelho - não deu nenhuma instrução a Seus discípulos sobre a arte da cura. Isto é significativo.
A vontade própria do curador - não importa quão elevada seja a qualidade - e seu esforço determinado para curar o paciente criam uma tensão no curador que pode seriamente desviar a corrente de energia curadora. Quando este tipo de vontade está presente, como frequentemente está no curador inexperiente ou curador não-iniciado, ele tende a absorver a dificuldade do paciente e sentirá seus sintomas e dores. Sua voluntariosa determinação para ajudar age como um bumerangue e ele sofre, enquanto não é realmente ajudado.
Por isso a instrução para usar o amor, e aqui surge uma grande dificuldade. Como pode o curador usar o amor, livre de sua qualidade emocional ou inferior e fazê-lo surgir em seu estado puro para a cura do paciente? Somente quando o curador cultivou os três requisitos, e portanto se tornou um canal puro. Sua tendência é preocupar-se tanto consigo mesmo, com a definição de amor, e com a determinação de curar o paciente que os três requisitos são negligenciados. Então tanto ele quanto o paciente estão desperdiçando seu tempo. Ele não precisa refletir ou preocupar-se com a natureza do puro amor, ou esforçar-se ardentemente para compreender como a razão pura e o amor puro são termos sinônimos, ou se ele pode mostrar amor suficiente para efetuar uma cura. Que ele reflita sobre os três requisitos, particularmente o primeiro, e que em si mesmo realize estes três requisitos até onde lhe seja possível e o seu ponto de evolução o permita. Ele então tornar-se- á um puro canal e os obstáculos ao influxo de puro amor serão automaticamente removidos, pois “como um homem pensa em seu coração, assim ele é”. Então, sem obstrução ou dificuldade, puro amor jorrará através dele e o paciente será curado - se esta for a lei para ele.
Chegamos agora à última e mais misteriosa de todas as leis que já apresentei. Já anteriormente chamei a atenção para ela, quando declarei que “esta última lei é o enunciado de uma nova lei que substituirá a Lei da Morte, e que se relaciona somente àqueles que se encontram nas últimas etapas do Caminho do Discipulado e nas etapas do Caminho da Iniciação”. Por estas últimas etapas refiro-me ao período depois da segunda iniciação e anterior à terceira. Esta lei não é aplicável de modo algum enquanto a natureza emocional possa perturbar o livre ritmo da personalidade à medida que ela responde ao impacto da energia da alma, e mais tarde, à energia monádica. Não há, pois, muita coisa que eu possa tornar clara quanto ao funcionamento desta lei, mas posso indicar certas idéias e correspondências bastante interessantes, o que fomentará pensamentos especulativos e construtivos, enquanto que ao mesmo tempo incorporam fatos comprovados para aqueles de nós que somos discípulos iniciados do Cristo ou de Sanat Kumara.
LEI X
Ouve, ó Discípulo, ao chamado que parte do Filho para a Mãe, e então obedece. A Palavra anuncia que a forma cumpriu seu propósito. O princípio da mente então organiza-se e a seguir repete aquela Palavra. A forma que espera responde e desprende-se. A alma fica livre.
Responde, ó Nascente Uno, ao chamado que parte da esfera da obrigação; reconhece o chamado que provém do Ashram ou da Câmara do Conselho onde aguarda o próprio Senhor da Vida. O som é emitido. A alma e a forma juntas têm que renunciar ao princípio da vida e assim permitir que a Mônada se liberte. A alma reponde. A forma então despedaça a conexão. A vida está agora liberada, graças à qualidade do conhecimento consciente e dos frutos de toda a experiência. Esses são os dons da alma e da forma combinados.
Esta lei é a precursora de muitas novas leis que dizem respeito à relação da alma com a forma ou do espírito com a matéria, e é dada primeiro por duas razões:
1. Ela pode ser aplicada por discípulos, o que prova ser verdadeira para a massa dos homens, e acima de tudo, para o mundo científico.
2. No acúmulo de testemunhas e no tipo de morte - nesta etapa chamada de “transferência” - o fato da Hierarquia e de Shambala pode ser estabelecido.
Há três fontes de abstração a que nós chamamos “morte”, se excluirmos acidentes (que podem ser incidentais ao carma de outras pessoas) guerra (que envolve o carma planetário) e catástrofes naturais (que estão inteiramente relacionadas com o corpo de manifestação Daquele no Qual nós vivemos, nos movemos e temos o nosso ser).
Posso deter-me nesta ideia e tornar mais clara a distinção entre este
“Deus desconhecido”, que se expressa através do planeta como um todo, e
Sanat Kumara em Seu alto posto em Shambala. Sanat Kumara é em Si mesmo a
Identidade essencial, responsável pelos mundos manifestados, mas tão grande
é o Seu domínio de energias e forças - devido ao seu desenvolvimento
cósmico - que Ele requer o planeta inteiro para expressar tudo que Ele é.
Tendo total consciência do plano astral cósmico e ao plano mental cósmico,
Ele pode aplicar energias e forças - sob a lei cósmica - que criam, sustentam
e utilizam, para fins de Seu divino Propósito, o planeta inteiro. Ele anima o
planeta com Sua vida; Ele sustenta o planeta e tudo que existe nele ou sobre
ele através da qualidade de Sua alma, que Ele partilha, em variadas medidas,
com cada forma; Ele cria continuamente as novas formas necessárias para
expressar “a vida mais abundante” e “o crescente propósito de Sua
vontade” que o progresso das eras torna ciclicamente possível. Vivemos
atualmente num ciclo quando a Sua intensa atividade está utilizando a técnica
de destruição divina para a liberação da vida espiritual, e Ele está
simultaneamente criando a nova estrutura de civilização que expressará mais
plenamente a consecução do planeta e dos reinos da natureza, conduzindo
finalmente à perfeita expressão de Sua divina vida e propósito
Seria talvez aconselhável se analisássemos esta lei detalhadamente, onde isso
for possível, para chegar à síntese que ela pretende expressar, e assim de
algum modo compreender que a própria morte é uma parte do processo criativo
de sintetização. É essencial que novas ideias e uma nova abordagem ao
problema da morte sejam introduzidas.
Ouve, ó Discípulo, o chamado que parte do Filho para a Mãe, e então obedece.
Embora o contexto nos leve a entender que isto se refere ao abandono do corpo físico, é útil lembrar que ele pode implicar muito mais do que isso. Pode ser interpretado como referindo-se a toda a relação da alma com a personalidade, envolvendo a pronta obediência da Mãe (a personalidade) ao Filho (a alma). Sem sua pronta obediência que envolve o reconhecimento da Voz que forma, a personalidade permanecerá surda ao chamado da alma para abandonar o corpo, uma vez que não adquiriu o hábito de responder. Pediria que refletissem sobre as implicações.
Sei que estou recapitulando quando destaco que o aspeto Mãe é o aspeto material e a alma - no seu próprio plano - é o Filho. Esta injunção, portanto, refere-se à relação da matéria e alma, e assim estabelece o fundamento para todas as relações que o discípulo tem de aprender a reconhecer. A obediência aqui não é forçada: é incidental ao fato de ouvir; então a obediência figura como o desenvolvimento seguinte. Este é um processo mais fácil, mesmo que vocês não pensem assim. Esta distinção, relativa ao processo de obediência, é interessante porque o processo de aprender pela audição é sempre lento e é uma das qualidades ou aspetos da etapa de orientação. Aprender pela visão está definidamente ligado ao Caminho do Discipulado, e aqueles que desejam tornar-se sábios e verdadeiros trabalhadores têm de aprender a distinguir entre os ouvintes e os videntes. A conscientização dessa diferença levará a mudanças básicas na técnica. Em um caso, trabalha- se com aqueles que estão definidamente sob a influência e controle da Mãe, e que precisam ser treinados a ver. No outro, lida-se com aqueles que já ouviram e que estão desenvolvendo a correspondência espiritual da vista, e que são, portanto, susceptíveis à visão.
A Palavra anuncia que a forma cumpriu seu propósito
Esta palavra, ou esta “proclamação espiritual” da alma, pode ter um duplo propósito: pode produzir a morte, ou pode simplesmente resultar num afastamento da alma de seu instrumento, a personalidade tríplice. Consequentemente, isto pode resultar em deixar a forma sem estruturação e sem morador no corpo. Quando isto acontece, a personalidade, isto é, o corpo físico, astral e mental do homem, continuará a funcionar. Se ela for de alta qualidade, poucas pessoas perceberão que a alma está ausente. Isto acontece frequentemente na velhice ou doenças graves, e pode persistir durante anos. Acontece às vezes com crianças pequenas, o que provoca ou a morte ou imbecilidade, uma vez que houve pouco tempo para treinar os veículos inferiores da personalidade. Uma pequena reflexão sobre esta “Palavra anunciadora” lançará muita luz sobre circunstâncias consideradas desconcertantes, e sobre estados de consciência que até agora constituíram problemas quase insolúveis.
O princípio da mente então organiza-se e a seguir repete a Palavra. A forma que espera responde e desprende-se.
No aspeto de morte aqui referido, é a mente que atua como agente de autoridade, transmitindo ao cérebro (onde se localiza o fio da consciência) as instruções para retirar-se. A seguir, o homem no corpo passa isto para o coração (onde o fio da vida está ancorado), e então - como bem sabem - começa o processo de retirada. O que transpira nesses intermináveis momentos que antecedem a morte ainda ninguém sabe, pois jamais alguém retornou para nos contar. A questão é: se o tivessem feito, ter-lhes-íamos dado crédito? Provavelmente não.
O primeiro parágrafo desta Lei X refere-se à saída do corpo (isto é, o aspeto forma do homem tríplice inferior) do aspirante comum inteligente, olhando esta lei a partir de uma de suas correspondências mais baixas; todavia, sob a mesma Lei das Correspondências, a morte de todos os homens, desde o tipo de homem mais baixo até, e inclusive, do aspirante, distingue-se basicamente pelo mesmo idêntico processo; a diferença existe no grau de consciência evidenciado - consciência do processo e intenção. O resultado é o mesmo em todos os casos:
A alma fica liberta
Este momento de verdadeira liberdade pode ser breve e fugaz, como no caso do homem não desenvolvido, ou pode ser de longa duração, de acordo com a utilidade do aspirante nos planos internos. Já tratei deste assunto e não há necessidade de voltar a ele aqui. Progressivamente, à medida que os anseios e influências dos três níveis inferiores de consciência enfraquecem seu controle, o período de dissociação torna-se cada vez mais longo, e caracteriza-se por uma desenvolvida clareza mental e por um reconhecimento do ser essencial, e isto em etapas progressivas. Esta clareza e progresso podem não ser trazidas à plena realização ou expressão quando tem lugar o renascimento, por serem excessivas as limitações impostas pelo corpo físico denso; não obstante, a cada vida nota-se um firme crescimento da sensibilidade, e também o acúmulo de informação esotérica, usando a palavra "esotérica" no sentido de tudo aquilo que não diz respeito à vida normal da forma ou à consciência do homem comum nos três mundos.
Falando em termos muito gerais, à medida que se desenvolve, a vida esotérica o faz em três etapas que se processam na consciência do homem paralelamente ao reconhecimento e aspetos comuns da vida da forma nos três níveis de experiência:
1. A etapa de recepção de conceitos, de idéias e de princípios, assim gradualmente assegurando a existência da mente abstrata.
2. A etapa de “recepção de luz”, ou aquele período quando se desenvolve a visão interna espiritual, quando a visão é vista e aceita como verdadeira, e quando a intuição ou “percepção búdica” é desenvolvida. Isto traz consigo a afirmação da existência da Hierarquia.
3. A etapa de abstração, ou o período no qual se consegue a plena orientação, torna-se claro o caminho para o Ashram, e o discípulo começa a construir o antahkarana entre a personalidade e a Tríade Espiritual. É nesta etapa que a natureza da vontade é tenuemente vista, trazendo com seu reconhecimento a implicação de que existe um “centro onde a vontade de Deus é conhecida”.
Os estudantes tendem a pensar que a morte põe fim às coisas, enquanto que do ponto de vista de terminação estamos lidando com valores que persistem, com os quais não há, nem pode haver, interferência alguma, e que guardam em si mesmos as sementes da imortalidade. Gostaria que refletissem sobre isto e soubessem que tudo que é de verdadeiro valor espiritual é persistente, intemporal, imortal e eterno. Somente morre aquilo que não tem valor, e - do ponto de vista da humanidade - isto quer dizer aqueles fatores que enfatizam e assumem importância no que tange à forma. Porém, aqueles valores que são baseados em um princípio e não sobre o detalhe da aparência, têm em si aquele imorredouro princípio que conduz um homem dos “portões da natividade, através dos portões da percepção, até os portões do propósito” - como está dito no Velho Comentário.
Tenho-me empenhado em mostrar como a primeira parte desta Lei X tem uma simples aplicação para a humanidade, assim como um abstrato e abstruso significado para os esoteristas.
O último parágrafo desta mesma Lei não pode ser interpretado da mesma maneira, nem aplicado deste modo; concerne unicamente à “ultrapassagem” ou “eliminação dos empecilhos” pelos discípulos muito avançados e os iniciados. Isto está explícito no uso das palavras, “Ó Nascente Uno” - um termo aplicado somente àqueles que já receberam a quarta iniciação e que não estão, portanto, presos a qualquer aspeto da natureza da forma, seja ela uma forma tão elevada e transcendental como a alma em seu próprio veiculo, o corpo causal ou o lótus egoico. Ainda assim, deve ser e está sendo desenvolvida facilidade em responder a esta lei nas primeiras etapas do discipulado, onde o ouvir, o responder e o obedecer ocultos se estão desenvolvendo e alcançam sua extensão nos níveis superiores da experiência espiritual.
Aqui precisamos mais uma vez considerar palavras e expressões para que possamos entender seu real significado.
Respondo, ó Nascente Uno, ao chamado que parte da esfera da obrigação.
Qual é esta esfera de obrigação à qual o iniciado de alto grau deve prestar atenção? A vida toda de experiência, desde a esfera da natividade até os mais altos limites de possibilidade espiritual, abrange quatro palavras, aplicáveis às várias etapas da evolução. São elas: Instinto, Dever, Darma e Obrigação. Compreender suas diferenças serve para trazer iluminação e, consequentemente, ação correta.
1.A esfera do instinto. Isto refere-se ao cumprimento, sob a influência do simples instinto animal, das obrigações que qualquer responsabilidade assumida traz, mesmo quando assumida sem verdadeira compreensão. Como ilustração disto está o cuidado instintivo de uma mãe para com sua prole ou a relação entre macho e fêmea. Aqui não é preciso entrar em maiores detalhes, uma vez que é bem conhecido e compreendido, pelo menos por aqueles que já ultrapassaram a esfera de obrigações instintivas elementares. Para eles não há qualquer chamado, mas este mundo instintivo de toma lá dá cá é suplantado, por fim, por uma esfera de maior responsabilidade.
2. A esfera do dever. O chamado que vem desta esfera provém de um reino da consciência que é mais estritamente humano e não tão predominantemente animal como o reino instintivo. Ele arrasta para o seu campo de atividade todas as classes de seres humanos e exige deles - vida após vida - o estrito cumprimento do dever. O ‘‘cumprir o seu dever”, que proporciona poucos elogios e pequena apreciação, é o primeiro passo em direção do desenvolvimento daquele princípio divino a que chamamos senso de responsabilidade, e que - quando desenvolvido - indica um firme e crescente controle da alma. O cumprimento do dever, o senso de responsabilidade, e o desejo de servir são três aspetos da mesma coisa: discipulado em sua etapa embrionária. Isto é duro de dizer-se para aqueles que se veem a braços com a aparentemente desesperançosa tarefa do cumprimento do dever. É duro para eles compreenderem que este dever que parece escravizá-los às tarefas diárias, aparentemente sem significado e sem agradecimentos, é um processo científico conduzindo-os a fases superiores da experiência, e finalmente, ao Ashram do Mestre.
3. A esfera do darma. Esta é o resultado das duas etapas anteriores; é aquela na qual o discípulo reconhece pela primeira vez com clareza, sua parte no processo dos acontecimentos mundiais e sua inescapável parte no desenvolvimento mundial. Darma é aquele aspeto do carma que dignifica qualquer ciclo mundial particular e as vidas daqueles implicados na sua consecução. O discípulo começa a ver que se ele assumir sua fase ou parte neste darma cíclico e trabalhar compreensivamente para seu correto cumprimento, ele está começando a compreender o trabalho grupal (tal como os Mestres o compreendem) e a desempenhar sua parte na elevação do carma mundial, que se realiza no darma cíclico. O serviço instintivo, o cumprimento de todos os deveres e a participação no darma grupal fundem-se todos em sua consciência e tornam-se um grande ato de serviço vivo e fiel; ele está então no ponto de avançar para o Caminho do Discipulado, no qual o Caminho da Provação se perde inteiramente de vista.
Estes três aspetos de atividade vivente são a expressão embrionária, na vida do discípulo, dos três aspetos divinos
a) Vida instintiva ....... aplicação inteligente.
b) Dever ................... amor responsável.
c) Darma .................. vontade, expressa através do Plano.
4. A esfera da obrigação. O iniciado tendo aprendido a natureza das três outras esferas de ação correta, e - devido à atividade dessas esferas - tendo desenvolvido os aspetos divinos, passa agora para a esfera da obrigação. Esta esfera, que só pode ser penetrada após uma larga medida de liberação ter sido alcançada, direciona as reações do iniciado em duas fases de sua vida:
a. No Ashram, onde ele é governado pelo Plano, o qual ele reconhece que expressa sua maior obrigação na vida. Uso a palavra “vida” no seu mais profundo sentido esotérico.
b. Em Shambala, onde o emergente Propósito de Sanat Kumara (do qual o Plano é uma interpretação no tempo e espaço) começa a ter significado e significância de acordo com o seu ponto de evolução e sua abordagem ao Caminho da Evolução Superior.
Na Ashram, a vida da Tríade Espiritual gradualmente supera a vida da personalidade controlada pela alma. Na Câmara do Conselho em Shambala, a vida da Mônada supera todas as demais expressões da Realidade essencial. Mais não posso dizer.
Reconhece o chamado que provém do Ashram ou da Câmara do Conselho onde aguarda o Próprio Senhor da Vida.
Aqui mais uma vez nos deparamos com todo o subjacente e evolutivo tema da Invocação e Evocação. Aqui são os dois centros superiores da Existência divina que estão incessantemente invocando o centro inferior; um dos fatores que governam todo o processo criativo depende da habilidade das Grandes Vidas em evocar a resposta dos reinos humanos e subumanos ou as vidas agrupadas nos três mundos de vida da forma. Os homens estão tão preocupados com os seus próprios problemas que tendem a pensar que - no fim de contas - o que acontece é inteiramente devido ao seu comportamento, conduta, e poderes invocativos. Há, porém, outro lado da questão, o qual envolve a habilidade na ação, corações compreensivos e a clara e direta vontade da Hierarquia e de Shambala.
Torna-se pois clara, quão essencial é que todos os discípulos e iniciados saibam exatamente que lugar ocupam no Caminho, o aspeto final da escada da evolução, sem o que, eles interpretarão mal o chamado e não reconhecerão a fonte de onde provém o som. Quão facilmente isto pode acontecer é evidente a qualquer professor avançado de ocultismo e esoterismo quando ele percebe com que facilidade pessoas sem importância e iniciantes interpretam as mensagens e chamados que ouvem ou recebem como oriundas de alguma alta e elevada fonte, enquanto que muito provavelmente estão ouvindo o que emana de seu próprio subconsciente, de sua própria alma ou de um professor (não um Mestre) que está tentando ajudá-los.
O chamado a que nos referimos aqui, porém, vem das mais altas fontes e não pode ser confundido com as pequenas vozes de pequenos homens.
O SOM é emitido
Não é minha intenção aqui tratar do som criativo, além de chamar a atenção para o fato de que ele é criativo. O Som que foi a primeira indicação da atividade do Logos planetário não é uma palavra, mas um som plenamente reverberante, contendo em si todos os outros sons, todos os acordes e certas tonalidades musicais (a que tem sido dado o nome de “música das esferas”) e dissonâncias ainda desconhecidas ao ouvido moderno. É este som que “Aquele que Ascende” precisa aprender a reconhecer, e ao qual precisa responder não somente através do sentido da audição e suas correspondências superiores, mas através de uma resposta de cada parte e aspeto da natureza da forma nos três mundos. Quero lembrar também que, do ângulo da quarta iniciação, mesmo o veículo egoico, o corpo da alma, é considerado e tratado como uma parte da natureza da forma.
Embora a “destruição do Templo de Salomão” ocorra no momento da quarta iniciação, as qualidades de que ele era composto foram absorvidas pelos veículos que o iniciado está usando para Seus contatos nos três mundos. Ele é agora, essencialmente, a essência de todos os Seus corpos, e - de Seu ponto de vista e compreensão técnica - é preciso lembrar que todo o plano mental é um dos três planos que constituem o plano físico denso cósmico; este é um ponto geralmente esquecido pelos estudantes que quase invariavelmente colocam o corpo da alma e o átomo mental permanente fora dos limites da forma e daquilo a que nós chamamos os três mundos. Tecnicamente, e a partir de ângulos superiores, isto não é assim, e este fato definidamente muda e condiciona o pensamento e o trabalho do iniciado de quarto e quinto graus. Explica também a necessidade de que o corpo egoico desapareça.
O Som reverbera através dos quatro subplanos superiores do plano físico cósmico, que são a correspondência superior dos quatro níveis etéricos do plano físico nos três mundos - os três físicos densos e os quatro planos etéricos. Devemos lembrar, portanto, que nossos planos, com os quais estamos tão familiarizados, são do físico cósmico, e que aquele que melhor conhecemos é o mais denso dos sete - daí toda a nossa luta e dificuldade.
Partindo do “silêncio que é som, a nota reverberativa de Shambala”, o som focaliza-se ou na Tríade Espiritual ou no Ashram, de acordo com o status do iniciado e se ele tem uma alta posição nos círculos ashramicos, ou ainda mais alta, nos círculos através dos quais radia a luz da Câmara do Conselho. No primeiro caso, será o centro do coração que responde ao som, e daí para todo o corpo; no segundo caso, a consciência já foi ultrapassada por um tipo ainda mais elevado de reconhecimento espiritual, ao qual foi dado o inadequado nome de identificação. Quando o som foi registrado no coração do iniciado, este já desenvolveu todos os possíveis tipos de conhecimento que a natureza forma - alma e corpo - lhe permite; quando o registro é na cabeça, a identificação produziu uma unidade tão completa com todas as expressões espirituais da vida, que a palavra “mais” (significando aumentada) tem que forçosamente ceder lugar à palavra “profunda”, no sentido de penetração. Tendo dito isto, irmão meu, que compreendeu você?
É neste ponto que o iniciado se depara com os Sete Caminhos, porque cada Caminho constitui um modo de penetrar em reinos de realização que estão além do nosso planeta.
Para isto, o iniciado tem que demonstrar seu domínio da Lei da Diferenciação e chegar a um conhecimento dos Sete Caminhos por meio da diferenciação dos sete sons que formam o Som único, mas que não estão relacionados aos sete sons que compõem o tríplice AUM.
Juntas, a alma e a forma têm que renunciar ao princípio da vida, e assim, permitir que a Mônada se liberte. A forma então rompe a conexão.
Vemos aqui porque eu enfatizei o fato de que o iniciado é o recipiente da qualidade ou qualidades essenciais que a forma revelou e desenvolveu, e que a alma absorveu. Nesta particular crise, o iniciado dentro do Ashram ou “no Seu caminho de glória para o Lugar onde habita o Senhor” (Shambala) resume ou contém em si mesmo todo o bem essencial que ele armazenou na alma antes de sua destruição na quarta iniciação. Ele sintetiza em si mesmo o conhecimento e a sabedoria de eons de luta e de paciente resistência. Nada mais existe para ser obtido pela aderência à alma ou à forma. Ele tomou-lhes tudo que elas tinham para dar, o que lança uma luz sobre a Lei espiritual do Sacrifício. É interessante notar como a alma se torna, neste ponto, simplesmente o intermediário entre a personalidade e o iniciado de grau superior. Porém, agora nada mais há para relatar, informar ou transmitir, e - à medida que o Som reverbera - a alma desaparece, como testemunho de resposta. Nada mais é agora do que uma concha vazia, porém sua substância é de ordem tão elevada que se torna uma parte integral do nível búdico, e sua função lá é etérica. O princípio da vida foi renunciado e retorna ao reservatório da vida universal.
Gostaria que observassem a importância da atividade da forma. É a Forma que despedaça a conexão (a forma geralmente desprezada, diminuída, frustrada é a que executa o ato final) trazendo completa liberação. O “Senhor Lunar” da personalidade atingiu seu objetivo, e aqueles elementos que compunham seus três veículos (físico, astral e mental) juntamente com o princípio da vida, constituirá a substância atômica do primeiro corpo de manifestação de alguma alma buscando a encarnação pela primeira vez. Isto está intimamente ligado ao abstruso tema dos átomos permanentes. Marca um momento de alta iniciação para este Senhor Lunar quando ele rompe a conexão e corta toda relação com a alma que até então o animava. Ele não é mais apenas uma sombra, mas agora tem aquelas qualidades que o tornam “substancial”, no sentido esotérico, e um novo fator no tempo e no espaço.
As palavras restantes desta lei não necessitam de explicação e marcam um apropriado fecho para esta seção de nossos estudos:
A vida está agora liberada, graças à qualidade do conhecimento consciente e do fruto de toda a experiência. Estes são os dons da alma e da forma combinados.