O Som e a “Crise de Extensão Espacial"
Fevereiro 2025

Estimado (a) companheiro (a) estudante.

No livro Os Raios e as Iniciações, encontramos esta declaração sugestiva sobre a natureza do tempo e do espaço:

“Os Mestres sabem exatamente aquilo que precisa ser feito pela escolha do tempo adequado e pelo que tem sido chamado de “a crise de extensão espacial”. Eles chamam a isso - qualidade intercambiável do tempo e do espaço - uma frase sem sentido para vocês, mas algo que já começa a ser tenuemente percebido.” (1)

O modelo atual de tempo e espaço foi proposto em 1908, quando Hermann Minkowski os combinou num único continuum de quatro dimensões, vulgarmente conhecido como “espaço-tempo”. A teoria fornece uma interpretação geométrica da relatividade especial de Einstein e continua a captar a imaginação do público por meio de documentários populares e de ficção científica. No entanto, é importante ter em mente que o “espaço-tempo” é apenas um modelo matemático do universo; se for usado para além deste domínio como um modelo real da realidade, só pode distorcer e confinar o processo de pensamento ao domínio da ilusão e maya. Esta confusão é agravada pelo fato de se referir ao espaço-tempo como um “tecido” para visualizar o seu funcionamento; um divulgador científico explicou-o afirmando que o tecido do espaço-tempo é “simplesmente o nada que constitui o próprio Universo vazio!” (2)

Em contraste com isto, a Sabedoria Eterna considera o Espaço como o oposto de um vazio: um plenum vivo completamente preenchido com matéria - “os planos da subjetividade fundindo-se gradualmente com os da objetividade terrestre”. Neste cenário, a matéria pode descer e subir de um plano de manifestação para outro, um processo dirigido por hostes de “Forças e Poderes inteligentes e semi-inteligentes” que trabalham com o poder do som:

... “Os sete principais planos do nosso sistema, nada mais são do que os sete sub planos do plano cósmico mais baixo. Os sete Raios... também são apenas os sete sub-raios de um Raio cósmico. Mesmo as doze Hierarquias criadoras representam, tão somente, expressões subsidiárias de urna Hierarquia cósmica. Formam apenas um acorde na sinfonia cósmica. Quando aquele sétuplo acorde cósmico, do qual representamos parte tão insignificante, vibrar em perfeição sintética, então — e somente então — virá a compreensão das palavras contidas no Livro de Job: “As estrelas matinais cantaram em uníssono”. A dissonância ainda ressoa e a desarmonia surge de muitos sistemas, mas no caminhar da eternidade despontará uma harmonia ordenada e nascerá o dia em que (se nos atrevermos a falar de eternidade em termo de “tempo”) o som do universo perfeito ressoará até as mais longínquas fronteiras da constelação mais distante. Então será conhecido o mistério da “canção nupcial dos céus”. “ (3)

O “som celestial” tem um efeito expansivo sobre a substância do pensamento humano, produzindo a “crise de extensão espacial” mencionada na citação inicial. É um processo que liberta gradualmente a consciência humana do seu aprisionamento nos planos inferiores da Terra, mas que requer “tempo adequado” para evitar os riscos inerentes. A Grande Invocação, por exemplo, é um instrumento superlativo para direcionar o poder transformador do som para a consciência humana. No entanto, a Hierarquia espiritual do nosso planeta teve de realizar um extenso trabalho de planejamento e preparação antes de permitir a sua utilização pelos discípulos e aspirantes do mundo. Sem essa preparação, o uso prematuro de tão grande Palavra de Poder poderia ter causado uma crise de extensão espacial que teria distorcido, em vez de expandir, a percepção da realidade pela humanidade. Mesmo com as precauções necessárias, a sua distribuição comportava certos riscos:

“O principal resultado do uso correto da Grande Invocação (no que diz respeito à humanidade) é aceleração. Como assinalei, esta aceleração comporta seus riscos e, em consequência, temos o surgimento de problemas verdadeiramente tremendos e dos funestos acontecimentos que, durante muitos anos, se abateram sobre os aspirantes e discípulos no mundo.” (4)

No mundo de hoje, a crise de extensão espacial pode ser percebida no aumento dramático da velocidade dos acontecimentos. Há uma sensação de que o tempo voa e as coisas estão fora de controlo. As crises acumulam-se incessantemente ao nível nacional e internacional; o carma global intensifica-se e tanto os aspectos mais elevados como os mais baixos da natureza humana são estimulados como nunca. A acompanhar tudo isto, e possivelmente a causa em grande medida, está o enorme problema da poluição sonora. Sabe-se que o ambiente sonoro que vivem as sociedades modernas tem um efeito prejudicial no bem-estar das pessoas. Um investigador pioneiro neste domínio foi o compositor e educador musical Ray Murray Schafer, que promoveu estudos de ecologia acústica e fundou o World Soundscape Project. Num livro intitulado The Soundscape: Our Sound Environment and the Tuning of the World, escreveu

“A Revolução Industrial introduziu uma multiplicidade de novos sons com consequências infelizes para muitos dos sons naturais e humanos, que tenderam a ser ofuscados; e este desenvolvimento estendeu-se a uma segunda fase quando a Revolução Elétrica acrescentou novos efeitos próprios e introduziu dispositivos para embalar sons e transmiti-los esquizofonicamente (*) através do tempo e espaço, produzindo existências amplificadas ou multiplicadas. Atualmente, o mundo sofre de congestão sonora; há tanta informação acústica que pouca consegue emergir claramente.... Se tivermos alguma esperança de melhorar o desenho acústico do mundo, isso só será possível após recuperarmos o silêncio como um estado positivo nas nossas vidas. Silenciar o ruído da mente: esta é a primeira tarefa - depois disso, o resto seguir-se-á a seu tempo...

... toda a pesquisa sonora deve concluir com o silêncio, não o silêncio de um vazio negativo, mas o silêncio positivo da perfeição e da realização. Assim, tal como o homem aspira à perfeição, todo o som aspira à condição de silêncio, à vida eterna da Música das Esferas. O silêncio pode ser ouvido? Sim, se pudéssemos estender a nossa consciência ao universo e à eternidade, poderíamos ouvir o silêncio. Através da prática da contemplação, pouco a pouco, os músculos e a mente relaxam, e todo o corpo se abre para se tornar um ouvido. Quando o iogue indiano atinge um estado de libertação dos sentidos, ouve o anãhata, o som “não pulsado”. Então, a perfeição é alcançada. O hieróglifo secreto do Universo é revelado. O número torna-se audível e flui, enchendo o receptor de tons e luz. “ (5)

Estas palavras oferecem uma perspectiva valiosa sobre o tema principal da Conferência da Escola deste ano: Que o Grupo expresse a Qualidade da Visão Oculta. Como Ray Murray Schafer compreendeu, “quando não há som, a audição está muito alerta - o silêncio é, de fato, uma novidade para aqueles que possuem clariaudiência.” Do mesmo modo, à medida que os sons “não pulsados” do Plano Divino ressoam através dos planos superiores do ser, pode o grupo da Escola Arcana abrir-se a eles como um único ouvido que escuta? E pode então o grupo ressoar com a qualidade acústica da visão oculta de uma forma que amplifique e transmita os seus “tons sonoros de significado” profundamente para a consciência da raça humana?

Em iluminado companheirismo grupal,

Grupo da Sede
ARCANE SCHOOL
Escola Arcana

__________

1. Os Raios e as Iniciações, p. 238.
2. Ethan Siegel, Is Spacetime Really
3. Iniciação, Humana e Solar, pp. 3-4.
4. A Exteriorização da Hierarquia, p. 152.
5. The Soundscape: Our Sonic Environment and the Tuning of the World. Páginas 109, 389-90 & 393-394.

__________

(*) ESQUIZOFONIA - R. Murray Schafer (EE)

O prefixo grego schizo significa cortar, separar. E phone é a palavra grega para voz. Esquizofonia refere-se ao rompimento entre um som original e sua transmissão ou reprodução eletroacústica. É mais um desenvolvimento do século XX.

No princípio, todos os sons eram originais. Eles só ocorriam em determinado tempo e lugar. Os sons, então, estavam indissoluvelmente ligados aos mecanismos que os produziam. A voz humana somente chegava tão longe quanto fosse possível gritar. Cada som era individual, único. Os sons têm semelhanças entre si, a exemplo dos fonemas que se repetem numa palavra, mas não são idênticos. Testes mostraram que é fisicamente impossível para o ser mais racional e calculista da natureza reproduzir duas vezes exatamente da mesma maneira um só fonema de seu próprio nome...
________

Início