Falar e agir com o poder da Boa Vontade

Estimado(a) condiscípulo(a).

A carta de setembro concluiu com alguns pensamentos sobre a grande Vida Planetária que incorpora as qualidades de Harmonia, Beleza e Arte, e a influência que elas têm na evolução humana. Paradoxalmente, o efeito inicial desta Vida é alterar o equilíbrio da consciência causando conflito psicológico. Isso serve para conduzir o ser humano por ciclos de experiência e crescimento, produzindo constante transmutação da consciência e a expressão da beleza rítmica no cotidiano. Isso será explorado, oportunamente, com mais detalhes em carta de Lucis Trust, juntamente com os detalhes do Seminário Mundial de Boa Vontade de novembro. (*)

O Senhor da Harmonia, Beleza e Arte é geralmente referido como o Raio da Harmonia através do Conflito, enfatizando um processo mais que uma qualidade. O Princípio do Conflito é a característica marcante deste Raio, “que produz guerra de uma forma ou de outra, depois rejeição e, finalmente, liberação” (1). Esotericamente, isso é expresso em ciclos de crise, tensão e emergência que aceleram enormemente a evolução da humanidade. A história devastadora das Nações do mundo devido à guerra mostra que o Princípio do Conflito repetidamente abre caminho para a expressão física, em vez de no nível psicológico. Culminou nas duas guerras mundiais do século 20, e no final delas o Tibetano disse:

“Ao estudarmos o efeito do Principio de Conflito como o instigador de eventual harmonia em relação às nações, lembremo-nos que o vasto alcance do conflito é indicativo de clímax, de que os “pontos de crise” que expressam o conflito são do conhecimento de todos os homens, de que um “ponto de tensão” foi agora alcançado (do qual as Nações Unidas são um símbolo) que, eventualmente, provará ser o agente que produzirá um “ponto de emergência”. Peço-lhes que mantenham estas três frases - descritivas do trabalho do Raio da Harmonia através do Conflito - sempre em mente em relação aos desenvolvimentos de sua própria vida, na vida de sua nação ou de qualquer nação, e na vida da humanidade como um todo. Elas corporificam a técnica por meio da qual a Hierarquia espiritual do nosso planeta extrai o bem do mal sem originar o mal ou infringir o livre arbítrio da humanidade.” (2)

Este fragmento é uma lente útil através da qual o estado atual das relações internacionais pode ser interpretado enquanto nos preparamos para o seminário de Boa Vontade Mundial. O mundo se transformou de muitas maneiras extraordinárias desde os anos 1940, mas em vez de um relaxamento da pressão, testemunhamos a proliferação de "conflitos de baixa intensidade" de uma perspectiva militar, bem como de ciclos de conflito em muitas outras áreas da vida internacional, alguns precipitando para a expressão física e outros sujeitos aos níveis mental e emocional. Como as Nações Unidas enfrentam desafios significativos para serem capazes de atuar com eficácia, as perspectivas seriam sombrias se continuasse sendo apenas um símbolo do atual ponto de tensão mundial. No entanto, hoje isso muda se levarmos em conta a nova "União Continental", as organizações intergovernamentais, institutos e grupos da sociedade civil global e, talvez mais importante, o surgimento de mais de dez milhões de Organizações Não Governamentais. (3)

Coletivamente, isso representa um ponto de tensão global estupendo, com vasto apoio público representando o ponto de emergência. Muitos desses grupos estão se identificando como Organizações de Benefício Social e, como mostra o site da NGO Advisor, esse 'rótulo' representa muito mais a boa vontade dinâmica que expressam. Considerando o grande número e variedade de problemas que todos esses grupos enfrentam, é claro que o Princípio do Conflito está operando tão vigorosamente como sempre na consciência humana e que isso tem o potencial de extrair o bem dos males prevalecentes.

Um exame do período desde a Guerra Mundial até hoje mostra que o mal se fragmentou de muitas maneiras diferentes, e as características das "Novas Guerras", como Mary Kaldor, Professora de Governança Global as chama, incluem:

1 - violência entre diferentes combinações de redes estatais e não estatais.

2 - lutas em nome da "política de identidade" ao invés da ideologia.

3 - tentativas de alcançar o controle político da população, ao invés de físico, por meio do medo e do terror.

4 - conflito financiado não necessariamente pelo Estado, mas por outros meios predatórios que buscam a continuação da violência. (4)

Na visão de Kaldor, as características desses novos tipos de guerra devem ser analisados no contexto da globalização. Estratégias internacionais desatualizadas ainda as tratam como guerras convencionais, mas exigem respostas políticas diferentes, que só podem ser estabelecidas em nível mundial. Por isso, em vez de ver as novas guerras como um sintoma da globalização, ela vê as coisas pelo contrário: ela as vê como possibilidades de globalização e governança global. A dinâmica do Princípio do Conflito está mudando e os pontos de crise, tensão e emergência resultantes estão empurrando os 'estados-nacionais' para uma maior cooperação. Mas a crise fundamental diz respeito à natureza mutável do estado-nação, e é uma crise de identidade que está no centro do debate sobre a globalização. Isso é inevitável para avançar em direção ao tipo de governança global necessária para extrair o bem das mudanças táticas do mal.

A guerra sempre foi vista como o exercício máximo do poder de uma nação, mas a relação entre o poder estatal e a violência está mudando rapidamente em um mundo interconectado e impulsionado pela tecnologia, onde esses novos recursos estão disponíveis para todos e para usos bons e maus. Com o advento das redes de comunicação e mídia eletrônica ao redor do mundo, também temos uma guerra de palavras se desenvolvendo, e nesta era de política "pós-verdade" e desinformação, é mais importante do que nunca entender a verdadeira natureza do poder, conforme descrito pela filósofa política, Hanna Arendt:

"O poder só é efetivado enquanto a palavra e o ato não se divorciam, quando as palavras não são vazias e os atos não são brutais, quando as palavras não são empregadas para velar intenções mas para revelar realidades, e os atos não são usados para violar e destruir, mas para criar relações e novas realidades.” (5)

Todo aspirante ao conhecimento esotérico está ciente do poder das palavras, e o atual mal uso das palavras nos assuntos nacionais e internacionais tem feito com que a voz da sociedade civil mundial tenha se elevado exponencialmente. É uma indicação de que o caminho da política transnacional está se tornando mais claro, com possibilidades de criação de novos tipos de assembleias parlamentares para restabelecer o sentido fundamental de 'parlamento' (falar), e falar com honestidade e convicção no contexto de uma sociedade mundial emergente, ou seja, falar com o poder da boa vontade.

Em iluminado companheirismo grupal,

Grupo da Sede
ARCANE SCHOOL
Escola Arcana

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(*) Tema do seminário de novembro: A dinâmica espiritual da crise no caminho para a cooperação global.
1. Alice Bailey, Os Raios e as Iniciações, p.607
2. Idem, p.623.
3. Global Leadership Bulletinhttp://www.standardizations.org/bulletin/?p=841
4. Mary Kaldor, New and Old Wars: Organized Violence in aGlobal Era
5. Hannah Arendt, The Human Condition p. 200

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