Como a arte criativa é percebida e valorizada na educação
Estimado(a) Condiscípulo(a)
Este mês continuamos a refletir sobre o tema “circulação e transformação” como premissa central da tônica da conferência: Que as 'Forças da Vida Criativa' circulem e que a Lei da Elevação Controle. No mês passado, consideramos como a descoberta de uma Lei da Natureza para guiar esse processo poderia revolucionar a ciência da cosmologia e estabelecer as bases reais para um mundo de unidade e interdependência. Estamos agora direcionando nossos pensamentos para a circulação e transformação em relação às artes e, especificamente, à educação.
Ao mesmo tempo que a influência das artes na educação tem diminuído, o problema econômico tem aumentado. Isso levou um estudante a expressar: "Parece haver uma correlação entre a necessidade não verificada (e deliberadamente superestimulada) de consumir bens materiais e acumular dinheiro e a privação cultural e social. Uma das causas disso é o papel das artes e da criatividade (ou falta delas) na educação, que interrompe a capacidade humana espontânea de se expressar nas artes em um contexto social criativo e vibrante ... ”.
Abordar este problema requer alguma reflexão sobre a forma como a arte criativa é geralmente percebida e valorizada na educação. Uma perspectiva interessante foi dada pelo educador Gert Biesta, que descreve um "duplo ato de desaparecimento" em que tanto a arte quanto a educação estão desaparecendo da teoria e da prática da educação artística. A arte, afirma Biesta, está desaparecendo da educação, à medida que é vista menos em termos de seu próprio valor intrínseco e mais em termos do impacto que tem em outras áreas do currículo que são consideradas mais importantes, em relação ao desempenho acadêmico e o desenvolvimento de habilidades criativas, discernimento e atitudes que promovam o social. A segunda parte do ato de desaparecimento, o desaparecimento da educação artística contemporânea, está relacionada ao que ele chama de "justificativas expressivas" do papel que as artes deveriam desempenhar. Em outras palavras, há uma ênfase exagerada no papel das artes em fornecer oportunidades para os jovens expressarem sua própria e única voz e sua criatividade e identidade, em vez da questão mais importante e difícil que é a qualidade correta destas expressões. Pouco se leva em conta o fato de que "nem tudo o que se expressa ... é necessariamente bom, nem para quem o expressa, nem para o mundo material e social em que tais expressões acontecem". (1)
Pensando nisso, como o processo de circulação e transformação poderia ser aplicado à educação artística de forma a aprofundar seu valor sociocultural? Nas palavras de Biesta: “As artes ... oferecem possibilidades existenciais únicas para perceber a resistência do mundo material e social e para 'romper' essa resistência ... ao mesmo tempo, trata-se de perceber e 'romper' os desejos que temos sobre o mundo e nossa existência nele e com ele ... Assim como a arte é o diálogo dos seres humanos com o mundo, é também a exploração e transformação de nossos desejos para que possam se converter em uma força positiva para as maneiras como buscamos existir no mundo com maturidade. E é aí que podemos encontrar o poder educacional das artes." (2) Com essa abordagem, a experiência educacional de fazer arte recebe cada vez mais atenção, enfatizando a pesquisa pelo artista das qualidades que ele ou ela está tentando expressar por meio de um ato de criação e da resistência a esta pesquisa. Isso inclui não apenas a resistência à madeira, à argila, à tinta, ao metal e ao som na criação de música, à austeridade e natureza corporal na dança, etc., mas também a resistência aos materiais sutis da mente, às emoções e a natureza física. Tudo isso deve ser coordenado de tal maneira que uma ideia seja expressa no mundo objetivo 'para o bem'.
Embora as 'belas-artes' sejam geralmente apreciadas por sua beleza intrínseca e harmonia de cor e escala, o processo de sua criação, como toda arte, envolve necessariamente conflito, porque o desejo de criar algo de qualidade sempre encontra resistência no mundo objetivo. É aqui que entra o valor do ensino da arte, à medida que o artista considera o significado da criação desejada em termos de valor social e o que é realisticamente possível. Essas deliberações conectam conscientemente os mundos do significado e da aparência, desenvolvendo assim um ponto de tensão entre eles. Este é o momento transformador em que o desejo do criador e a resistência do ambiente se reconciliam. A harmonia surge do conflito e a criação segue seu curso.
Essa perspectiva cada vez mais ampla da arte leva ao que o artista Joseph Beuys chamou de Escultura Social, a iniciativa de construir 'Um organismo social como uma obra de arte'. Isso inclui toda atividade humana que se esforça para "estruturar e moldar a sociedade ou o meio ambiente ... usando a linguagem, pensamentos, ações e objetos". Beuys baseia-se na convicção de que “todo ser humano é um artista que, a partir do seu estado de liberdade - a posição de liberdade que vive diretamente - aprende a determinar as outras posições da Obra Artística Total da Futura Ordem Social”. (3) Em A Arte de Ser Humano, Deborah Ravetz acrescenta: "Na medida em que cada um de nós possui uma imaginação, cada um de nós tem a capacidade de reimaginar, remodelar ou reformar o mundo ... A Escultura Social amplia a missão da arte para incluir nossa vida interior, nossa capacidade de resposta e sentimento, e nossa habilidade de trabalhar juntos para a transformação. (4)
Essas perspectivas da arte como força motriz da evolução social são consistentes com a visão esotérica, uma vez que o desenvolvimento evolutivo do reino humano está sob a influência motriz de uma grande Vida que incorpora a energia da Harmonia, da Beleza e da Arte. Esta Vida transmite a inspiração para a vida criativa, que “produz beleza e harmonia na vida exterior, para que outros vejam a realização”. (5) Em termos de um processo, esta grande Vida é conhecida como o Raio da Harmonia através do Conflito. Aplicado à educação artística é uma exploração da relação entre Desejo e Resistência e o poder transformador que isso tem. A educação esotérica é um processo semelhante. O estudante estuda a relação entre sua aspiração espiritual e a resistência exercida pela personalidade e as circunstâncias ambientais para impedi-lo de realizar essa aspiração. Oculto nessa relação está o poder transformador que extrai harmonia do conflito para expressá-lo na beleza do serviço. Os mesmos poderes transformadores que têm sido descobertos pelo discípulo agora se adaptam e circulam por toda a esfera social a fim de apoiar os objetivos da evolução.
Em iluminado companheirismo grupal,
Grupo da Sede
ARCANE SCHOOL
Escola Arcana
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1. Gert Biesta, Letting Art Teach, p. 372.
2. Idem, p. 118 e Art, Artists and Pedagogy, p. 183.
3. Caroline Tisdall, Society into Art.
4. Deborah Ravetz, The Art of Being Human, p. 116.
5. A.A.Bailey, Discipulado na Nova Era, Vol II p. 201.