Meditação
Guia de Introdução à Meditação
“A verdade está dentro de nós; não nasce das coisas externas, ainda que assim o creiam. Há um centro muito interior em todos nós, onde a verdade reside plenamente; e em torno de muro sobre muro, a carne grosseira envolve-a, ...e conhecer consiste mais em abrir um caminho por onde o prisioneiro esplendoroso possa escapar, do que em efetuar uma entrada para uma luz supostamente de fora.” (Robert Browning, Paracelso)
“Três espécies de homens veem Deus. Os primeiros veem-nO pela fé; não O conhecem mais do que podem parcialmente discernir. O segundo contempla Deus à luz da graça, mas somente como uma resposta às suas aspirações, como O que lhes dá a doçura, a devoção, a intimidade e outras coisas semelhantes. A terceira espécie vê Deus na luz divina.” (Franz Pfeiffer, Meister Eckhart)
É esta luz que o processo de meditação revela e com a qual aprendemos a trabalhar. (Alice A. Bailey)
GUIA DE MEDITAÇÃO PARA PRINCIPIANTES
Extratos dos livros “Do Intelecto à Intuição” e “Luz da Alma”, de Alice A Bailey
Comentários Introdutórios
O interesse suscitado atualmente pelo tema da meditação evidencia uma necessidade mundial que é necessário compreender claramente. Quando encontramos uma tendência popular para uma direção particular e constante, pode-se assumir com segurança que dela surgirá aquilo que a raça precisa em sua marcha para diante. Que a meditação seja considerada como um “modo de orar” pelos que dão definições irresponsáveis, é desgraçadamente verdade. Mas pode-se demonstrar que na compreensão exata do processo da meditação e na sua justa adaptação às necessidades da civilização moderna, encontrar-se-ão a solução do impasse atual da educação e o método pelo qual deverá ser comprovada a existência da alma – esta coisa viva a que chamamos “Alma”, por falta de melhor termo.
Houve, no decorrer dos tempos, uma constante progressão da consciência humana em evolução, um contínuo crescimento da compreensão da natureza, do mundo no qual o homem vive, e um cada vez maior alcance do Todo e hoje o mundo inteiro está ligado pelos meios de comunicação. O homem é onipresente e a mente é o fator principal na realização deste aparente milagre. Adquirimos uma compreensão das leis que governam o mundo natural e de algumas das que regem o psíquico. As leis do reino chamado espiritual permanecem por serem descobertas e utilizadas cientificamente. São conhecidas de um pequeno número de seres que a respeito delas falaram à humanidade. ...Entre esses poucos que figuram como os conhecedores eminentes encontram-se o Buda, o Cristo, Platão, Aristóteles, Pitágoras, Eckhart, Jacob Boehme, Spinoza. A lista é longa.
Façamos a pertinente pergunta: não será possível que centenas de seres estejam agora no ponto em que podem coordenar o cérebro, a mente e a alma, e assim cruzar o portal da percepção mental e penetrar no reino da luz, da percepção intuitiva, até o mundo das causas? Os conhecedores dizem-nos que podemos e indicam-nos o caminho.
ALGUMAS QUESTÕES IMPORTANTES
Quais São os Objetivos da Meditação?
O propósito da meditação é o contato com a alma e, finalmente, a união com a alma. Todo seu objetivo é, portanto, tornar o homem capaz de manifestar externamente o que está na sua realidade interior e de identificar-se com o seu aspecto alma e não simplesmente com as suas características inferiores.
Pela meditação são desenvolvidos os poderes da alma. Cada um dos veículos pelos quais a alma se exprime possui no estado latente certas forças inerentes, mas a alma, que é a fonte de todas elas, os possui sob a forma mais pura e mais sublimada.
Estes poderes desenvolvem-se normal e naturalmente, não porque sejam desejados ou conscientemente desenvolvidos, mas porque ao mesmo tempo que o Deus interno assume o controle dos Seus corpos e os domina, Seus poderes tornam-se aparentes no plano físico e as potencialidades manifestam-se então como realidades conhecidas.
O testemunho dos místicos e iniciados de todos os tempos pode corroborá-los. O fato de que outros tenham atingido o fim pode encorajar-nos e interessar-nos, mas não faz, a não ser que tomemos alguma atitude efetiva, porque este processo para o desenvolvimento da consciência raciocinadora deve ser auto aplicado e auto iniciado.
Isto implica o desenvolvimento do mental numa síntese, ou senso comum, e o governo do seu emprego em relação ao mundo da vida terrestre, das emoções e do pensamento. Envolve também a sua orientação à vontade para o mundo da alma e a sua capacidade de agir como intermediário entre a alma e o cérebro físico.
A primeira relação é desenvolvida e alimentada através de métodos sadios, de treinamento e de educação exotérica. A segunda é tornada possível pela meditação, uma forma superior do processo educativo.
Pode Alguém, que Desejar, Beneficiar-se com a Prática da Meditação e Dominar a sua Técnica?
É preciso recordar, de início, que o próprio desejo em si de empreendê-lo pode ser tomado como um apelo da alma, para o Caminho do Conhecimento. Ninguém deverá desencorajar-se se concluir estar deficiente em certas qualificações essenciais. Na maior parte dos casos estamos mais adiantados, somos mais sábios e estamos mais bem equipados do que imaginamos. Todos podemos começar imediatamente a concentrar-nos, se de imediato nos decidirmos a isso.
Possuímos um grande saber, capacidades e uma força mental que nunca passaram do reino do subconsciente à utilidade objetiva; quem já tiver apreciado o efeito da Meditação num iniciante confirmará estas afirmações.
Os resultados do primeiro passo na disciplina de Meditação, isto é, da Concentração, são amiúde surpreendentes. As pessoas “reencontram-se”, descobrem dons ocultos e uma compreensão nunca aplicados antes; ganham uma consciência, mesmo do mundo fenomenal, num grau para elas miraculoso; verificam repentinamente a existência da mente, a possibilidade de utilizá-la e a distinção entre o conhecedor e o instrumento do conhecimento torna-se-lhes estável e reveladoramente cada vez mais autêntica.
Ao mesmo tempo registra-se uma sensação de perda. Os antigos estados sonhadores de bem-aventurança e de paz, que alcançavam na oração mística e na meditação, desaparecem; e, temporariamente, experimentam uma aridez, uma ausência e um vazio muito deprimentes com frequência. Isto provêm do fato da atenção estar desviada das coisas dos sentidos, por muito belas que sejam.
As coisas que o intelecto conhece e de que pode guardar recordação não estão ainda registradas, nem o aparelho sensorial causando seus impactos familiares sobre a consciência. É um período de transição, que é preciso suportar até o momento em que o mundo novo comece a impressionar o aspirante. Esta é uma razão por que a persistência e a perseverança são essenciais, particularmente nos estágios iniciais do processo de meditação.
Um dos primeiros efeitos do trabalho da meditação é o aumento da eficiência na vida diária, seja em casa, no escritório ou em qualquer outro domínio da atividade humana. A aplicação mental nas coisas da vida é, em si, um exercício de concentração que conduz a notáveis resultados. Quer um homem alcance, ou não, a iluminação final pela prática da concentração e da meditação, ele terá pelo menos aprendido muito e enriquecido grandemente a sua via; e a sua utilidade e poder serão enormemente acrescidos e a sua esfera de influência expandida.
Todo aquele que não for puramente emocional, que recebeu uma sólida educação e que quer trabalhar com perseverança, pode abordar com bastante coragem o estudo da meditação. Pode começar a organizar a sua vida de modo a dar os primeiros passos no caminho da iluminação e esta organização é um dos degraus mais difíceis. É bom recordar que todos os degraus iniciais são penosos porque temos de modificar os hábitos e os ritmos de muitos anos. Cumprido e dominado isto, o trabalho torna-se mais fácil.
Portanto, a resposta à nossa pergunta é a seguinte:
Primeiro: aceitamos a hipótese da existência da alma e que esta alma pode ser conhecida do homem que sabe educar e controlar a sua mente.
Segundo: baseando-nos nesta hipótese, começamos a coordenar os três aspectos da natureza inferior e a unificar a mente, a emoção e o corpo físico num Todo inclusivo e organizado. Alcançamos isso pela prática da concentração.
Terceiro: à medida que a concentração se funde na meditação (que é o ato da concentração prolongada), a imposição da vontade da alma sobre a mente começa a fazer-se sentir. Pouco a pouco, a alma, a mente e o cérebro são postos em estreita relação. Primeiro, a mente controla o cérebro e a natureza emocional. Depois a alma controla a mente. O primeiro é consequência da concentração; o segundo, da meditação. Fora desta sequência de atividades, o investigador interessado se dará conta de que há um verdadeiro trabalho a ser realizado e que a primeira das qualidades essenciais é a perseverança, ...a organização da vida mental, sempre e em qualquer lugar, e, em segundo lugar, a prática da concentração cada dia, se possível à mesma hora, contribui para a atitude unidirecionada, e estes dois elementos reunidos significam o sucesso.
É Necessário Retirar-se para a Solidão ao Evocar a Alma?
Na maioria, vivemos no meio duma multidão em tropel e numa situação caótica que deixa totalmente fora de hipótese a visão de um local calmo e pacífico. A solução está na compreensão exata do nosso problema e no privilégio que nos é conferido de manifestar um mais novo aspecto da velha verdade.
Pertencemos, no Ocidente, a uma raça mais jovem. No velho Oriente, alguns pioneiros aventureiros procuraram a reclusão e determinaram para nós as oportunidades bem como nos salvaguardaram as regras. Retiveram para nós em segurança a técnica até que as grandes massas dos homens estivessem prontas para avançar em grupos, e não mais um ou dois de cada vez.
Este tempo chegou agora. Na tensão e agitação da vida moderna..., os homens e mulheres podem e por certo descobrem o centro de paz em seu próprio íntimo e conseguem realmente penetrar naquele estado de concentração positiva e silenciosa que lhes permite alcançar o mesmo objetivo, obter o mesmo conhecimento e entrar na mesma Luz como outrora testemunharam grandes Seres da humanidade.
O lugar retirado, para o qual um homem se retira, ele descobre estar dentro dele mesmo; o lugar silencioso onde tomamos contato com a vida da alma é aquele ponto no interior da cabeça onde a alma e o corpo se encontram. ...O homem que pode treinar-se para ficar suficientemente unidirecionado, pode a qualquer momento e em qualquer lugar, retirar o seu pensamento para um centro, no interior da cabeça, onde é conduzido o grande trabalho de unificação.
A verdadeira concentração decorre de uma vida governada pelo pensamento e, para o aspirante, o primeiro passo consiste em começar a organizar a sua vida cotidiana, em regular as suas atividades e em tornar-se focalizado e unidirecionado na sua maneira de viver. Isto é possível para todos os que se ocuparem o suficiente para fazer o esforço necessário e mantê-lo com perseverança.
Quando podemos organizar e reorganizar a nossa vida, abandonando as atividades não essenciais, provamos o nosso ardor e a fortaleza do nosso desejo. Ver-se-á que é impossível qualquer negligência no dever para o homem unidirecionado. Os seus deveres para com a família, os amigos e os negócios ou o trabalho serão mais perfeita e eficientemente cumpridos.
A MECÂNICA DO PROCESSO DE MEDITAÇÃO
A hipótese em que se apoia a mais nova escola, no domínio da educação podem ser expressas pelas seguintes proposições:
1 – O centro de energia pelo qual a alma age acha-se no cérebro superior. No decorrer da meditação, se é efetiva, a energia da alma inunda o cérebro e atua de forma definida sobre o sistema nervoso. Mas, se a mente não está controlada e predomina a natureza emocional (como no caso de um místico puro), os efeitos fazem-se sentir em primeiro lugar no aparelho sensorial, nos estados emocionais do ser.
Quando a mente é o fator dominante, então o aparelho do pensamento, no cérebro superior, entra em atividade organizada. Aquele que medita adquire uma nova faculdade de pensar clara, sintética e poderosamente.
2 – Temos, na região do corpo pituitário, a sede das faculdades inferiores quando coordenadas no tipo humano superior. É aí que estão coordenadas e sintetizadas e – como nos indicam certas escolas reputadas de psicologia e endocrinologia – se encontram as emoções e os aspectos mentais mais concretos (nascidos dos hábitos da raça e dos instintos herdados e, por conseguinte, não necessitando do exercício da mente criativa ou superior).
3 – Quando a personalidade – a soma total dos estados mental, emocional e físico – é de ordem elevada, então o corpo pituitário funciona com uma eficácia aumentada e a vibração do centro de energia situado na sua vizinhança torna-se extremamente potente. Devemos registrar que, segundo esta teoria, quando a personalidade é de um tipo inferior, quando as suas emoções são, sobretudo, instintivas e a mente praticamente não funciona, então o centro de energia encontra-se na região do plexo solar e a natureza do homem é sobretudo animal.
4 – O centro na região da glândula pineal e o cérebro superior entram em atividade através do aprendizado da focalização da consciência atenta na cabeça.
As diversas avenidas da percepção sensorial são conduzidas a uma condição de quietação. A consciência do homem real não mais se apresenta voltada para as suas cinco avenidas de contato. Os cinco sentidos estão dominados pelo sexto, a mente, e toda a consciência e a faculdade perceptiva do aspirante estão sintetizadas na cabeça e voltadas para o interior e para o alto. A natureza psíquica está desse modo subjugada e o plano mental torna-se o campo da atividade humana. Este processo de retirada ou de abstração comporta-se por etapas:
A – a retirada da consciência física ou da percepção pela audição, o tato, a visão, o paladar e o olfato. Estes modos de percepção tornam-se temporariamente adormecidos, a percepção torna-se simplesmente mental e a consciência cerebral é a única coisa ativa no plano físico.
B – a retirada da consciência para a região da glândula pineal, de tal modo que o ponto de conscientização do homem fique centralizado na região entre o meio da fronte e a glândula pineal.
5 – Estando isto realizado e tendo o aspirante adquirido a capacidade de se concentrar na cabeça, o resultado deste processo de abstração é o seguinte:
Os cinco sentidos encontram-se firmemente sintetizados pelo sexto sentido, a mente. Este é o fator de coordenação. Mais tarde compreende-se que a alma tem uma função análoga. A personalidade tripla é assim levada a uma linha de comunicação direta com a alma e, por conseguinte, com o tempo, o homem perde a consciência das limitações da natureza corporal e o cérebro pode ser, por intermédio da mente, diretamente impressionado pela alma. A consciência cerebral é mantida numa condição de expectativa positiva, com todas as suas reações ao mundo fenomenal totalmente suspensas, se bem que de modo temporário.
6 – A personalidade altamente desenvolvida intelectualmente, em que o foco da atenção está na região do corpo pituitário, começa a vibrar em uníssono com o centro superior na vizinhança da glândula pineal. Então se estabelece um campo magnético entre o aspecto positivo da alma e a personalidade expectante tornada receptiva pelo processo de focalização da atenção. Então, é-nos dito, irrompe a luz, e encontramo-nos em presença do homem iluminado, e do aparecimento da luz na cabeça.
Tudo isto resulta de uma vida disciplinada e da concentração da consciência na cabeça. Isto, por seu turno, é realizado à custa do esforço de concentração na vida cotidiana e também através de exercícios de concentração definidos. Estes são seguidos pelo esforço de meditação e, mais tarde – muito mais tarde – faz-se sentir o poder da contemplação.
Esta é uma breve exposição, necessariamente sucinta e incompleta, do mecanismo do processo. Estas ideias, não obstante, deverão ser aceitas experimentalmente antes de poder haver uma inteligente prática da meditação.
Com a nossa hipótese formulada e temporariamente aceita, vamos prosseguir o trabalho até prova de erro ou até o momento em que a nossa atenção se disperse. Uma hipótese não é necessariamente falsa porque não se demonstre no tempo que julgamos conveniente. Frequentemente, pessoas renunciam ao propósito de prosseguir nas suas buscas neste campo do conhecimento por falta da necessária perseverança ou porque o seu interesse se deslocou para algures.
Contudo, estamos resolvidos a seguir em frente em nossa investigação, dando às antigas técnicas e fórmulas, tempo para se demonstrarem. Vamos, portanto, cumprir as primeiras exigências e esforçando-nos por levar uma vida de atitude mental mais concentrada, praticando diariamente a meditação e a concentração.
Se somos principiantes, ou se possuídos de uma mente desorganizada, fluida, versátil e instável, começaremos por praticar a concentração. Se temos intelectos treinados ou se possuímos a atenção concentrada que a prática dos afazeres desenvolve, será suficiente reorientar a mente para um novo campo de consciência e começar verdadeiramente a meditar. É fácil ensinar a meditação ao executivo de negócios interessado.
ALGUMAS SUGESTÕES PRELIMINARES
Encontrando Tempo
É aconselhável reservar um período em cada dia para este trabalho específico. No princípio, quinze minutos são suficientes. Sejamos honestos conosco mesmo e reconheçamos as coisas como elas são. O pretexto “não tenho tempo”, é absolutamente fútil; indica simplesmente falta de interesse. Na verdade pode dizer-se que não está interessado quem não encontrar quinze minutos livres no decurso de mil quatrocentos e quarenta minutos que compõem um dia.
Primeiramente, tratemos de obter o tempo para o trabalho da meditação cada manhã cedo. Há uma razão para isso: quando participamos dos acontecimentos do dia, no toma lá dá cá da vida, a mente fica num estado de vibração violenta; não é este o caso, quando começamos o nosso dia pela meditação. Então há ainda uma relativa tranquilidade e podemos adaptar-nos mais rapidamente aos estados de consciência superiores.
Além disso, começamos o dia com a concentração da atenção sobre coisas espirituais e sobre as questões da alma, viveremos o dia de uma maneira diferente. Quando isto se torna um hábito, descobriremos em breve que mudam as nossas reações aos problemas da vida e que começamos a pensar segundo os pensamentos da nossa alma. Isto se torna o processo da atuação de uma lei, segundo a qual “conforme um homem pensa, assim ele é”.
Encontrando um Lugar para a Meditação
Em seguida, faremos por encontrar um lugar realmente tranquilo, ao abrigo de qualquer intrusão. Por tranquilo não quero dizer livre do ruído, porque o mundo está cheio de sons, mas livre da aproximação de pessoas ou do chamado de outrem.
Os aspirantes à meditação falam demasiado da oposição que encontram na sua família e entre os seus amigos. Na maioria dos casos, a falta é do próprio aspirante. As pessoas falam muito. O que fazemos cada manhã nos nossos quinze minutos não diz respeito a ninguém, não há necessidade de falar nisso com a nossa família, nem exigir-lhes o silêncio porque queiramos meditar.
Se nos é impossível encontrar tempo para a meditação antes da família se dispersar para os afazeres do dia ou antes de nos entregarmos às nossas próprias ocupações, procuremos esse tempo mais tarde durante o dia. Há sempre uma maneira de contornar uma dificuldade, se quisermos uma coisa muito firmemente, e um meio que não implique a omissão de qualquer dever ou de alguma obrigação. Como último recurso, é sempre possível levantar-se quinze minutos mais cedo cada manhã.
A PRÁTICA DA MEDITAÇÃO
Postura
Tendo encontrado o tempo e o lugar, sentemo-nos confortavelmente e comecemos a meditar. Surgem então as perguntas: como nos devemos sentar? Será melhor com as pernas cruzadas, ou devemos ajoelhar-nos, ou sentarmo-nos ou ficarmos de pé? A posição mais fácil e normal é sempre a melhor.
A posição mantendo as pernas cruzadas foi, e ainda é, muito empregada no Oriente e muitos livros foram escritos sobre posturas. Algumas destas posturas também têm relação com o sistema nervoso e com a estrutura interna dos nervos mais delicados, que os hindus chamam de nadis e que estão subjacentes ao sistema nervoso tal como é reconhecido no Ocidente.
O problema com estas posturas é que conduzem a duas reações bastante indesejáveis: conduzem o homem a concentrar a mente na mecânica do processo e não sobre o seu objetivo e, em segundo lugar, conduzem frequentemente a um sentido delicioso de superioridade que repousa no fato de tentarmos empreender fazer algo que a maioria não faz e que nos coloca à parte, na qualidade de conhecedores poderosos. Ficamos absorvidos pelo lado forma da meditação e não como o Criador da forma; ocupamo-nos do Não-Eu em vez do Eu.
Escolhamos aquela posição que nos permita esquecer mais facilmente que temos um corpo físico. Para o ocidental é provavelmente a posição sentada; as exigências principais são o estar ereto, com a coluna dorsal formando uma linha reta; sentar-se relaxado (sem nos afundarmos) para evitar tensão em qualquer parte do corpo; manter o queixo ligeiramente caído, para diminuir qualquer tensão na nuca. A meditação é um ato interior que só pode ser realizado com sucesso se o corpo estiver relaxado, em correto equilíbrio e, portanto, esquecido.
A Respiração
Tendo realizado as condições de conforto físico e de relaxamento e estando abstraídos da consciência do corpo, em seguida prestaremos atenção à nossa respiração e vigiaremos para que esteja calma, regular e rítmica.
Gostaria de fazer aqui uma advertência no que diz respeito à prática de exercícios respiratórios, exceto por aqueles que durante anos se entregaram a uma meditação correta e purificaram a sua natureza corporal. Nos ensinamentos antigos do Oriente, o controle respiratório só era permitido depois que os primeiros três “meios de união”, como eram chamados, houvessem sido realizado até certo ponto na vida corrente, sob adequada instrução.
A prática de exercícios respiratórios nada tem a ver com o desenvolvimento espiritual. Tem, isso sim, muito a ver com o desenvolvimento psíquico, e sua prática pode conduzir a grandes dificuldades e perigos. Era unicamente aqui ou ali que um mestre, outrora, escolhia um homem para esta forma de instrução; a ela se juntava um treinamento que já tinha produzido, em certa medida, um contato com a alma, de modo a que esta pudesse guiar as energias evocadas pela respiração, para o progresso destes objetivos e para o serviço mundial.
Por conseguinte, cuidaremos simplesmente para que a nossa respiração seja calma e regular e desviaremos, então, o nosso pensamento, de todo o conjunto do corpo e começaremos o trabalho de concentração.
A Visualização e o Emprego Criativo da Imaginação
O passo seguinte na prática da meditação é o uso da imaginação; visualizamos para nós próprios o homem triplo inferior alinhado ou em comunicação direta com a alma. Isto pode ser feito de várias maneiras. Chamamos a isso o trabalho na visualização. Parece que a visualização, a imaginação e a vontade são três poderosos fatores em todos os processos criativos. São elas as causas subjetivas para grande número dos nossos efeitos objetivos.
No começo, a visualização é principalmente uma questão de fé experimental. Sabemos que pelo processo de raciocínio podemos chegar a uma tal compreensão que, dentro e para além de todos os objetivos manifestados, se encontram um Objetivo ou Modelo Ideal, que procura manifestar-se no plano físico. A prática da visualização, o uso da imaginação e o exercício da vontade são atividades com as quais se conta para aceitar a manifestação deste Ideal.
Quando visualizamos, empregamos a concepção mais alta que esse Ideal possa ter, revestido duma substância determinada, em geral mental, na falta de podermos conceber formas ou tipos de substância superiores com os quais revestir as nossas imagens.
Quando construímos uma imagem mental, a substância mental da nossa mente gera uma certa gama de vibrações que atraem para elas uma qualidade de substância mental, onde a mente se encontra imersa. É pela vontade que esta imagem persiste com firmeza e lhe dá vida. Este processo continua, quer sejamos ou não capazes de o ver com o nosso olho mental. Pouco importa, se conseguimos vê-lo ou não, pois o trabalho criativo realiza-se do mesmo modo. Tempo virá, talvez, em que possamos seguir o processo inteiro e executá-lo conscientemente.
Em conexão com este trabalho, no estágio de principiante, algumas pessoas podem apresentar os três corpos (os três aspectos da natureza forma) como que ligados a um corpo de luz radiante, ou visualizar três centros de energia vibratória, estimulados por um outro centro mais elevado e poderoso; podem também conceber a alma como um triângulo de força ao qual se prende o triângulo da natureza inferior – ligados pelo “cordão prateado” mencionado na Bíblia Cristã, o “sutratma” ou fio da alma das Escrituras Orientais, ou a “linha de vida” de outras escolas de pensamento. Outros ainda preferem conservar o pensamento de uma personalidade unificada, ligada à Divindade residente dentro dela, e ocultando-se nela, o “Cristo em nós, a esperança de glória”.
Seja qual for a imagem escolhida isso é relativamente secundário, desde que partamos da ideia básica do Eu à procura do contato e uso do Não-Eu, o seu instrumento nos mundos de expressão humana, e vice-versa, com o pensamento desse Não-Eu sendo incitado a voltar-se para a sua fonte de existência. Quando isto se realiza, podemos continuar com o nosso trabalho de meditação. O corpo físico e a natureza do desejo, por seu turno, descem abaixo do nível de consciência, ficamos centrados na mente e procuramos submetê-la à nossa vontade.
A Concentração
É precisamente aqui que nos confrontamos com o nosso problema. A mente recusa moldar-se aos pensamentos que escolhemos para pensar e vagabundeia pelo mundo, na sua habitual busca de substância. Penamos no que hoje vamos fazer e não no nosso “pensamento-semente”, recordamo-nos de alguém que temos de conseguir ver, ou de qualquer linha de ação que nos chama a atenção; começamos a pensar num ser a quem amamos e voltamos a mergulhar de imediato no mundo das emoções, sendo necessário recomeçar todo o trabalho.
Assim tornamos a reunir os nossos pensamentos e recomeçamos de novo com muito êxito durante meio minuto, mas, depois, lembramo-nos de um encontro combinado ou de outro negócio que alguém está fazendo para nós e eis-nos de volta ao mundo das reações mentais esquecendo a nossa linha de pensamento escolhida. Mais uma vez reagrupamos nossas ideias dispersas e recomeçamos a faina de subjugar a nossa caprichosa mente. Mas, ao longo do tempo e com a prática, adquiriremos a habilidade de manter a centralização mental com certa efetividade.
Como é possível alcançar esta condição? Seguindo uma fórmula ou plano de meditação, que fixa automaticamente a nossa mente dentro do círculo-não-se-passa e lhe diz: “Até aí podes ir e mais não”. Traçamos deliberadamente e com intenção inteligente os limites da nossa atividade mental, de tal maneira que somos forçados a reconhecer o momento em que vagueamos para além desses limites. Sabemos então que devemos retirar-nos outra vez para dentro do muro de abrigo que elevamos para a nossa proteção.
TÉCNICA DA MEDITAÇÃO
O investigador sincero encontrará a seguir uma forma de meditação que o ajudará a desenvolver a concentração:
FORMA DE MEDITAÇÃO
Estágios
1 – Obtenção de conforto e controle físicos.
2 – Estabelecimento de uma respiração regular e rítmica.
3 – Visualização do eu inferior triplo (físico, emocional e mental) como
estando:
a) em contato com a alma;
b) como um canal para a energia da alma, que vai direto ao cérebro por
intermédio da mente.
A partir daqui pode ser controlado o mecanismo físico.
4 – Estabelecimento de um ato definido de concentração, apelando para a vontade. Isto envolve um esforço para conservar a mente imóvel sobre certos tipos de palavras, de maneira que seu significado fique claro em nossa consciência, e não as palavras em si, ou o fato de que estamos tentando meditar.
5 – Dizer, em seguida, com a atenção focalizada:
“Mais radiante que o sol, mais puro que a neve, mais sutil que o éter, é o Eu, o Espírito que dentro de mim está. Eu sou o Eu. Esse Eu, Eu sou.”
6 – Concentrar-se depois nas palavras: “Oh Deus, Tu me vês.” A mente não deve vacilar ao concentrar-se no seu significado, intenção e implicação.
7 – Então, com determinação, concluir o trabalho de concentração e dizer – outra vez com a mente focada nas ideias subjacentes – a seguinte afirmação conclusiva:
“Existe uma paz que ultrapassa toda a compreensão; ela habita nos corações daqueles que vivem no Eterno. Existe um poder que renova todas as coisas; ele vive e move-se naqueles que conhecem o Eu como uno.”
Esta é, em definitivo, uma meditação para principiantes. Comporta vários pontos focais, onde são empregados um processo de rememoração e um método de refocalização.
Em geral, o emprego deste plano de meditação é necessário durante vários anos, a menos que tenhamos tido um treino anterior; e até mesmo aqueles que já atingiram a etapa de contemplação, põem-se frequentemente à prova, servindo-se de uma forma de modo a assegurar que não estão caindo de volta num estado passivo, emocional e negativo.
Existem muitos outros esquemas de meditação que podem conduzir aos mesmos resultados e outros mais para praticantes mais avançados. Há planos de meditação que são traçados para produzir certos resultados específicos em certos indivíduos, mas é evidente que não podem ser incluídos numa apresentação como esta. Só uma forma de meditação geral e sem perigo pode ser comunicada.
Em todos os casos, entretanto, a primeira coisa a reter é que a mente deve estar ativamente ocupada com ideias e não com o esforço para ficar concentrada. Por detrás de cada palavra pronunciada e de cada fase seguida deve haver a vontade de compreender, acompanhada de uma atividade mental uni-direcionada.
No sexto estágio, onde é realizado um esforço para meditar definidamente sobre um conjunto de palavras que velam uma verdade, nada de automático deve haver no processo. É muito fácil induzirmo-nos a um estado hipnótico pela repetição rítmica de certas palavras. Conta-se que Tennyson se induzia a um estado de consciência elevada pela repetição do seu próprio nome. Não é este o nosso objetivo. O transe, ou condição automática, é perigoso.
A maneira segura é a de uma atividade mental intensa, confinada nos limites das ideias, aberta por qualquer particular “pensamento-semente” ou objeto de meditação. Esta atividade exclui todos os pensamentos estranhos, à exceção dos nascidos das palavras consideradas.
Para o principiante confuso, desalentado, desencorajado pela sua inaptidão em pensar deste modo, Alice A. Bailey faz a seguinte sugestão:
“Imaginai que tende de proferir uma conferência sobre as palavras da vossa meditação. Visualizai-vos a formular as notas segundo as quais ireis falar mais tarde. Conduzi a vossa mente de etapa em etapa e descobrireis que se passaram cinco minutos sem que vossa atenção tenha vagueado, tal foi o vosso interesse”.
O método sequencial sugerido acima é um caminho seguro para o iniciante. Existem outros que se oferecerão à mente do aluno inteligente. Mundos inteiros de pensamento abrem-se, os quais a mente pode percorrer à vontade (notem estas palavras) contanto que tenham uma relação com o pensamento-semente e estejam em relação direta com a ideia escolhida, sobre a qual procuramos concentrar-nos. É evidente que cada pessoa seguirá a tendência da sua própria mente – artística, científica ou filosófica – que constituirá para ela a linha de menor resistência.
MÉTODO RAJA IOGA DE MEDITAÇÃO
(Sugestões preliminares para aqueles que desejam ir além do estágio de iniciante)
Patânjali foi um compilador de ensinamentos que, até o seu aparecimento, haviam sido transmitidos oralmente durante muitos séculos. Ele foi o primeiro a fornecer por escrito os ensinamentos para a utilização dos estudantes e, por isto, é considerado como o fundador da Escola da Raja Ioga.
A data do nascimento de Patânjali é desconhecida e há muita controvérsia sobre este assunto. A maioria das autoridades ocidentais dá esta data como situada entre os anos 820 e 300 AC, embora um ou dois a localizam depois de Cristo. Contudo, as próprias autoridades hindus que se supõe tenham algum conhecimento sobre o assunto, a situam em época muito anterior, até mesmo 10.000 anos AC.
Os Aforismos da Ioga são o ensinamento básico da Escola Transhimalaia, à qual pertencem muitos dos Mestres de Sabedoria, e muitos estudiosos afirmam que os essênios e outras escolas de treinamento e pensamento místicos, intimamente ligadas ao fundador do Cristianismo e aos primeiros cristãos, estão baseados neste mesmo sistema e que seus instrutores foram preparados na grande Escola Transhimalaia.
O primeiro passo para obter este desenvolvimento é a concentração, ou a habilidade de manter a mente firme e sem se desviar, sobre o que o aspirante escolher. Este primeiro passo é um dos mais difíceis estágios no processo da meditação e envolve a habilidade contínua e ininterrupta em trazer a mente de volta para o “objeto” sobre o qual o aspirante decidiu concentrar-se. Os estágios da concentração são, por sua vez, bem definidos, e podem ser enunciados como se segue:
1 – Escolha de algum “objeto” sobre o qual concentrar-se.
2 – A retirada da consciência da mente da periferia do corpo, de modo que as
vias de percepção e de contato (os cinco sentidos) sejam aquietadas e a
consciência não mais se dirija para fora.
3 – O centrar da consciência, mantendo-a firme, no interior da cabeça, num
ponto a meia distância entre as sobrancelhas.
4 – A aplicação da mente, ou a manutenção de uma atenção firme, sobre o
objeto escolhido para a concentração.
5 – A visualização, a percepção imaginativa e um raciocínio lógico a
respeito do objeto.
6 – A extensão dos conceitos mentais que foram formulados, do particular e
específico para o geral e o universal ou cósmico.
7 – Uma tentativa para chegar ao que está por trás da forma considerada, ou
para alcançar a ideia que é responsável pela forma.
Este processo aumenta gradualmente a consciência e permite que o aspirante chegue ao aspecto vida da manifestação em vez de chegar ao aspecto forma. Ele começa, no entanto, com a forma ou “objeto”. Os objetos sobre os quais se deve concentrar são de quatro espécies:
1 – Objetos externos, tais como imagens de divindades, retratos
ou formas da natureza.
2 – Objetos internos, tais como centros do corpo etérico.
3 – Qualidades, tais como as diversas virtudes, com o propósito de despertar
o desejo para a obtenção destas virtudes, incorporando-as assim, à vida
pessoal.
4 – Conceitos mentais ou as ideias que encarnam os ideais que estão por
trás de todas as formas animadas. Estes podem tomar a forma de símbolos ou de
palavras.
Foi a conscientização da necessidade de “objetos” na concentração que deu origem à exigência de imagens, esculturas sacras e pinturas. Todos estes objetos acarretam o emprego da mente concreta inferior e este é o necessário estágio preliminar. Sua utilização leva a mente a uma condição controlada, de modo a que o aspirante possa levá-la a fazer exatamente o que desejar.
Os quatro tipos de objetos mencionados acima levam o aspirante gradualmente para o interior e o capacitam a transferir sua consciência do plano físico para o reino etérico, e daí para o mundo de desejos ou das emoções e assim até o mundo das ideias e conceitos mentais.
Este processo, que se realiza no cérebro, leva o homem inferior todo a um estado de atenção coerente dirigida, estando todas as partes de sua natureza dirigidas para a obtenção de uma atenção fixa ou uma concentração de todas as faculdades mentais. A mente, então, não mais vagueia sem firmeza e para o exterior, mas sim, está inteiramente “com a atenção presa”. Esta clara, dirigida e calma percepção de um objeto sem que nenhum outro objeto ou pensamento penetre na consciência da pessoa, é uma realização muito difícil, e quando pode ser feita durante doze segundos, obtém-se a verdadeira concentração.
A meditação nada mais é que a extensão da concentração e cresce da facilidade que o homem conquista em “fixar sua mente” segundo sua vontade, sobre qualquer objeto. Enquadra-se nas mesmas regras e condições que a concentração e a única distinção entre as duas é o elemento tempo.
A NECESSIDADE DE CUIDADO NA MEDITAÇÃO
A Energia Segue o Pensamento
A lei fundamental que governa todo o trabalho de meditação é antiga, formulada pelos videntes da Índia séculos atrás, que “a energia segue o pensamento”. Do nível das ideias (ou do conhecimento da alma) a energia derrama-se pouco a pouco nas mentes densas dos homens, e todos os atuais movimentos progressistas, de bem estar público e de melhoria grupal, podem ser atribuídos a ela, bem assim os conceitos religiosos e os conhecimentos exteriores das Causas que produzem objetividade.
Qualquer forma, seja a de uma máquina de costura, seja a de uma ordem social ou de um sistema solar, pode ser enunciada como a materialização do pensamento de algum pensador ou grupo de pensadores. É uma forma de trabalho criativo, tendo sido todo o trabalho concentrado com energia de uma espécie ou outra. O estudante de meditação deve, portanto, lembrar-se que ele está sempre trabalhando com energias e que estas energias variam e terão um efeito preciso sobre a natureza da forma.
Torna-se evidente, portanto, que o homem que está aprendendo a meditar deve esforçar-se por fazer duas coisas:
Primeiro: Aprender a guardar na mente para depois interpretar corretamente o que foi visto e contatado, e então transmiti-lo correta e precisamente ao cérebro atento e impressionável.
Segundo: Deve aprender a natureza das energias contatadas e treinar-se para utilizá-las corretamente. Pode-se dar aqui uma ilustração prática universalmente reconhecida. Quando somos varridos pelo ódio ou irritação, instintivamente começamos a gritar, a berrar. Por quê? Porque a natureza emocional tem-nos nas suas garras. Aprendendo a controlar a energia da palavra falada, começamos a dominar este tipo particular de energia emocional.
A história completa do trabalho de meditação está condensada nestas duas ideias de interpretação e transmissão exatas da energia e do uso certo da energia. Torna-se também evidente qual o problema com que se confronta o estudante, e por que todos os professores prudentes da técnica da meditação insistem com seus discípulos sobre a necessidade de proceder lenta e cuidadosamente.
A Necessidade de Discriminação
Os estudantes devem aprender a discriminar entre os campos de percepção que se lhes podem abrir, na medida que se tornam mais sensíveis à impressão. Consideremos, brevemente, alguns fenômenos da mente inferior, que os estudantes constantemente interpretam erradamente.
Registram, por exemplo, um encontro enlevante com o Cristo ou com alguma Grande Alma, que lhes apareceu quando meditavam, sorrindo-lhes e dizendo: “sede de ânimo elevado. Estais fazendo grandes progressos. Sois um trabalhador escolhido e a verdade revelar-se-vos-á”, ou algo semelhante. Que aconteceu, realmente? Terá o estudante realmente visto o Cristo?
Lembremo-nos aqui do truísmo que “os pensamentos são coisas” e que todos os pensamentos tomam forma. O poder da imaginação criativa está apenas começando a ser pressentido, e é possível ver-se justamente o que se quer ver, mesmo que nada haja lá. O desejo do aspirante de progredir e o seu denodado esforço forçaram-no a despertar ou tornar-se consciente no plano psíquico, o plano das imaginações vãs, do desejo e das suas realizações ilusórias.
O mundo da ilusão está cheio destes pensamentos-forma, construídos pelos pensamentos amorosos dos seres através das épocas, e aquele que medita, trabalhando através de sua natureza psíquica (a linha de menor resistência para a maioria) entra em contato com tal pensamento-forma, toma-o como real e o imagina dizendo tudo o que quer ouvir. Todos nós estamos em perigo de ser iludidos da mesma maneira, quando começamos a meditar, se a nossa mente discriminadora não estiver alerta ou se tivermos uma aspiração secreta de proeminência espiritual, ou sofremos de algum complexo de inferioridade que deve ser neutralizado.
O ponto que cada estudante de meditação deve sempre conservar na mente, é que todo conhecimento e instruções são enviados para a mente e para o cérebro pela sua própria alma; é a alma que ilumina o seu caminho. Os Instrutores e os Mestres da raça trabalham através das almas. Portanto, o primeiro dever de cada aspirante deve ser a realização perfeita da meditação, serviço e disciplina, e não contatar alguma Alma elevada. É menos interessante, mas preserva-o da ilusão. Se ele fizer isto, os resultados mais elevados se manifestarão por si mesmos.
Portanto, caso lhe surja uma aparição ou uma entidade lhe faça comentários triviais, ele fará uso do mesmo julgamento que faria nos negócios ou na vida cotidiana caso alguém lhe viesse dizer: “Um grande trabalho está nas suas mãos, você o está fazendo bem. Nós vemos e sabemos, etc, etc...” Provavelmente rir-se-ia e continuaria com a atividade ou o dever do momento.
O primeiro mundo que o aspirante contata é usualmente o psíquico, e este é o mundo da ilusão. Este mundo tem os seus usos e entrar nele é uma experiência muito valiosa desde que se mantenham as regras do amor e da impessoalidade, e se todos os contatos forem feitos com a mente discriminadora e o senso comum. É útil tomar nota do que viu e ouviu e depois esquecer, até à altura em que começamos a atuar no reino da alma; então, não estaremos mais interessados na sua recordação.
Escritos Inspirados
Outro efeito da meditação, muito prevalecente nesta época, é a inundação dos escritos pseudoinspirados que têm surgido com grandes pretensões por toda a parte. Emanam de diferentes fontes interiores. São curiosamente semelhantes; indicam um espírito amoroso de aspiração; não dizem nada de novo, e repetem o que já se disse tantas vezes antes; estão cheios de afirmações e frases que os ligam com os escritos dos místicos ou com o ensinamento cristão; podem conter profecias quanto a acontecimentos futuros (geralmente sombrios e terríveis, e raras vezes, se é que alguma vez, de natureza feliz).
Como distinguir, perguntar-se-á muito oportunamente, os escritos verdadeiramente inspirados do conhecedor verdadeiro, dessa massa literária que inunda as mentes do público atualmente?
O escrito verdadeiramente inspirado será inteiramente sem autorreferências; ressoará uma nota de amor e será livre de ódios e barreiras raciais, transmitirá um conhecimento real e trará consigo uma nota de autoridade pelo seu apelo à intuição; responderá à lei das correspondências e estará em harmonia com a visão do mundo; acima de tudo, trará a marca da Sabedoria Divina e conduzirá a raça um pouco mais para frente.
Os verdadeiros servidores da raça e os que contatarem o mundo da alma através da meditação não têm tempo para superficialidades, não estão interessados na boa opinião de qualquer pessoa encarnada ou desencarnada, e preocupam-se apenas com a aprovação da própria alma e estão vitalmente interessados no trabalho de vanguarda do mundo. Nada farão que alimente o ódio e separatividade ou que fomente o medo. Atiçarão a chama do amor onde quer que vão. Ensinarão a fraternidade na sua verdadeira inclusividade, e não um sistema que ensine a fraternidade a uns poucos e deixe os restantes de fora.
Reconhecerão todos os homens como filhos de Deus; não considerarão uma raça como melhor que qualquer outra, embora reconheçam o plano divino e o trabalho que cada raça tem que fazer. Em suma, ocupar-se-ão em educar o caráter dos homens e não desperdiçarão o seu tempo destruindo personalidades e tratando de efeitos e resultados. Trabalham no mundo das causas e enunciam princípios.
Problemas da Superestimulação
Os estudantes queixam-se frequentemente de superestimulações e de um tal aumento de energia que ficam incapazes de a controlar. Dizem-nos que quando tentam meditar, têm uma inclinação para chorar, ou para ficarem impropriamente inquietos; têm períodos de intensa atividade em que se surpreendem andando de um lado para outro, a servir, falar, escrever, e trabalhar. Outros queixam-se de dores de cabeça, de enxaquecas por vezes imediatamente em seguida à meditação ou de vibrações desconfortáveis na fronte ou na garganta e tornam-se incapazes de dormir.
De fato, estão superestimulados. Estes problemas são as perturbações do principiante na ciência da meditação e devem ser tratados com cuidado. Manejados corretamente, desaparecerão rapidamente, mas se forem ignorados poderão ocasionar problemas sérios. O aspirante esforçado e interessado, a esta altura, está de tal modo ansioso por controlar a técnica da meditação que ignora as regras dadas, apesar de tudo o que o instrutor lhe diga, ou dos avisos que receba.
Em vez de aderir à fórmula de quinze minutos, tenta forçar o passo e ir para os trinta minutos. Em vez de seguir este esquema que está de tal maneira organizado, que leva cerca de quinze minutos para ser realizado, tenta manter a concentração tanto tempo quanto possível, esquecendo-se que, neste estágio do seu treino, está aprendendo a concentrar-se e não a meditar. Assim, sofre e tem um esgotamento nervoso, ou um ataque de insônia e o seu instrutor e que recebe a culpa e a ciência é considerada perigosa. Contudo, o culpado é ele próprio. Quando ocorrem algumas destas complicações primárias, o trabalho de meditação deve ser temporariamente interrompido ou reduzido.
Nos tipos mentais, ou no caso dos que já têm uma certa facilidade em “centrar a consciência” na cabeça, são as células cerebrais as superestimuladas, o que provoca dores de cabeça, falta de sono, uma sensação de estar cheio, ou uma vibração perturbadora entre os olhos, ou no alto da cabeça. Por vezes registra-se uma luz que cega como um relâmpago repentino de luz ou de eletricidade, observado com os olhos fechados num quarto às escuras, ou às claras.
Quando for este o caso, o período de meditação deve ser reduzido de quinze para cinco minutos, ou praticar-se a meditação em dias alternados, até que as células do cérebro se ajustem ao ritmo novo e à crescente estimulação. Não é preciso ficar ansioso se for usado um julgamento sábio.
Nos tipos emocionais, sente-se primeiramente o problema na região do plexo solar. O estudante sente-se inclinado à irritação ou à preocupação; particularmente no caso das mulheres, pode-se encontrar a disposição para chorarem facilmente. Por vezes, há uma tendência para a náusea, pois há uma estreita relação entre a natureza emocional e o estômago, evidenciada na frequência de vômitos em momentos de choque, medo ou emoção intensa. As mesmas regras se aplicam como na primeira série de casos citados: bom senso e um uso lento e cuidadoso do processo da meditação.
Excesso de Sensibilidade
Mencionaremos outro resultado da superestimulação: as pessoas sentem que estão se tornando demasiadamente sensíveis. Os sentidos trabalham demasiado e todas as suas reações são mais apuradas. “Absorvem” as condições físicas e psíquicas daqueles com quem vivem; encontram-se “escancarados” aos pensamentos e ondas de outras pessoas.
A cura para isto não é diminuir os períodos de meditação – que devem ser mantidos conforme programa – mas se tornarem mais mentalmente interessados na vida, no mundo do pensamento, em qualquer assunto que tenda a desenvolver a capacidade mental. A cura efetuar-se-á por uma atenção focada na vida e em seus problemas e por alguma ocupação mental potente. É sempre necessário um desenvolvimento completo e o crescimento na vida espiritual deve ser acompanhado por uma mente treinada.
Estimulação Sexual
Muitas pessoas, particularmente homens, descobrem, quando começam a meditar, que a natureza animal requer atenção. Descobrem internamente desejos incontrolados, mais os efeitos fisiológicos que lhes causam problemas e desencorajamentos agudos. Uma pessoa pode ter uma alta aspiração e um impulso forte para a vida espiritual e, contudo, ter aspectos da sua natureza ainda incontrolados.
A energia que se derrama durante a meditação espalha-se pelo organismo e estimula o aparelho sexual. O ponto fraco é sempre descoberto e estimulado. A cura para esta situação pode resumir-se nas palavras: controle da vida dos pensamentos e transmutação.
O ensino oriental diz-nos que a energia, normalmente dirigida para o funcionamento da vida sexual, tem de ser elevada e transportada para a cabeça e a garganta, particularmente esta última, uma vez que ela é, como se diz, o centro do trabalho criativo. Para pô-lo em termos ocidentais, isto significa que aprendemos a transmutar a energia utilizada no processo procriativo ou em pensamentos sexuais, e a usá-la no trabalho da escrita criativa, numa obra artística, ou em alguma expressão da atividade grupal.
A transmutação não é certamente a morte de uma atividade ou a cessação do funcionamento de qualquer nível de consciência para a salvação de um superior. É a utilização correta dos vários aspectos da energia onde quer que o Eu sinta que eles devam ser usados para fazer progredirem os fins da evolução e para ajuda ao Plano.
O aspirante à vida do espírito conforma-se não só às leis do reino espiritual, mas também aos costumes legais da sua era e época. Portanto, regulariza a sua vida cotidiana de tal modo que o homem da rua reconheça a moralidade, a correção e a retidão da sua apresentação no mundo. É uma das ajudas mais importantes que podem ser dadas ao mundo neste momento é um lar baseado numa relação verdadeira e feliz entre um homem e uma mulher, assente em confiança mútua, na cooperação e na compreensão; e em que os princípios da vivência espiritual são realçados.
Meditação Sobre os Centros
Talvez seja bom também referir aos perigos a que muitos se expõem ao responderem ao apelo de instrutores que dizem aos alunos que “desenvolvam sua mediunidade”. São então ensinados a meditar sobre algum centro de energia, geralmente o plexo solar, outras vezes o coração e, curiosamente, nunca a cabeça. Meditar num centro baseia-se na lei que a energia segue o pensamento e conduz a uma estimulação direta das características particulares pelas quais estes pontos focais – espalhados através do corpo humano – são responsáveis. Como a maioria das pessoas funciona principalmente através das energias acumuladas encontradas abaixo do diafragma (as energias sexuais e as emocionais) a sua estimulação é muito perigosa.
Por que não aprender a funcionar como o homem espiritual, do ponto tantas vezes descrito pelos escritores orientais como “o trono entre as sobrancelhas” e, deste alto lugar, controlar todos os aspectos da natureza inferior e guiar a vida diária nos caminhos de Deus?
A Necessidade do Sentido Comum
Os perigos da meditação são, largamente, os perigos de nossas virtudes, e nisso jaz muito da dificuldade. Eles são, em grande parte, os perigos de um conceito mental refinado que fica à frente da capacidade dos veículos inferiores, especialmente do físico denso. Há uma absoluta necessidade de o estudante ocultista ter como uma de suas qualidades básicas um agudo bom senso, unido a um feliz senso de proporção, que leve a uma adequada precaução e a uma aproximação do método necessário à necessidade imediata. Ao homem que, então, se dedique, de todo coração, ao processo da meditação ocultista, eu diria, com toda concisão:
A – Conhece-te a ti mesmo.
B – Prossegue lenta e cautelosamente.
C – Estuda os efeitos.
D – Cultiva a noção de que a eternidade é longa e o que é construído
vagarosamente dura para sempre.
E – Visa a regularidade.
F – Conscientiza-te sempre de que os verdadeiros efeitos espirituais devem
ser vistos na vida exotérica do serviço.
G – Lembra-te, também, de que os fenômenos psíquicos não são indicação
de uma meditação bem sucedida.
O mundo verá os efeitos e será um melhor juiz do que o próprio estudante.
Acima de tudo, o Mestre saberá, pois os resultados nos níveis causais serão
percebidos por Ele muito antes do próprio homem estar consciente de seu
progresso.
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O treinamento para o discipulado na Nova Era é proporcionado pela Escola Arcana. Os princípios da Sabedoria Eterna são apresentados através da meditação esotérica, do estudo e do serviço como um modo de viver.