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A HIERARQUIA, OS ANJOS SOLARES E A HUMANIDADE


Capítulo VIII

O HOMEM E O KARMA

No que se refere ao nosso aspecto pessoal, falar do Karma e da Lei de Causa e Efeito (outro princípio hermético) é uma coisa; falar de um sistema de relações kármicas que vão do individual ao cósmico é outra. Entretanto, para um maior esclarecimento desse assunto, teremos que nos ater a este último, pois a raiz do Karma não está no individual, no particular que nos corresponde no atual ciclo de vida atual; temos que ir buscá-la além das bordas ou fronteiras do nosso Universo.

Existe uma relação permanente entre a pequena vida de um ser humano, condicionada pelas leis de espaço e tempo, e a Vida Esplêndida e indescritivelmente grandiosa que cria, condiciona e rege um Sistema Solar. As relações dessa Vida Solar com as Grandes Vidas de outros Sistemas Solares e Cósmicos devem ser estudadas muito atentamente, pois nos fornecerão a chave do nosso pequeno esquema pessoal, familiar e social, que é condicionado por um particular sistema de relações.

Na paz augusta do Ashram e na visão mais ampla proporcionada pelo contato com um Ser Elevado, cuja consciência gravita mais no universal do que no humano, temos tido oportunidade de comprovar algumas relações que, em forma de conjunções magnéticas, o Senhor do Mundo estabelece com os augustos Senhores de outros mundos do nosso Sistema. Essas conjunções, levadas à mais transcendental das nossas concepções mais elevadas, sempre nos deram a idéia e a convicção da existência perpétua de uma Irmandade Cósmica de que participam grupos de Logos, constituindo famílias e um campo de relações ilimitado dentro e mais além do nosso Sistema Solar.

Particularmente falando, minha mente tornou-se confusa quando, impelido pela lei de analogia universal, procurei aprofundar-me um pouco mais na Lei do Karma, tomando como ponto de partida minha relação com o Mestre e o Ashram e indo adiante, tentando estabelecer relações anteriores e futuras a partir do centro de minha vida espiritual e ampliando-a até transcender o limitado campo de percepções imposto em minha mente, coração e espírito pelo círculo-não-se-passa de minhas atuais capacidades de percepção.

E o resultado tem sido sempre o retorno a mim mesmo com uma única convicção: meu Eu Superior está karmicamente ligado ao meu eu inferior ou pessoal por certas leis definidas que utilizam o tempo como mero ponto de referência e contato, mas que se estendem em ondas espirais concêntricas até o próprio Coração de Deus. Somente quando chega a esse ponto é que cessa a angustiada inquietude do meu eu que busca e que é consciente de uma fraternidade além dos limites de mim mesmo. Então começo a compreender e a amar mais a todos que me rodeiam e a torná-los participantes do meu achado. Considerando bem, uma comprovação do eu além desse eu é uma experiência tão interessante e oferece tanta paz e segurança que vale a pena compartilhá-la com as outras pessoas.

A Singularidade do Karma

O estudo das Leis soberanas c.o Karma começou pouco depois da nossa experiência no Devachan. O Mestre nos disse que, apesar de tudo estar indissoluvelmente relacionado, homens, planetas e as estrelas mais longínquas, o fato de participar em grupo de um estudo hierárquico das Leis da Vida nos daria a oportunidade de resolver de uma vez por todas a imensa incógnita da nossa existência: quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Pois, somente quando a mente encontra dentro de seu próprio destino investigador algo tão grande que a libere de inquietudes ulteriores, é que começa a verdadeira investigação interior.

"Por isso" - continuou - "fostes testemunhas do trabalho que o Mundo Dévico realiza em relação ao Reino Humano, quando vistes e comprovastes experimentalmente a relação kármica de ambos os mundos ou correntes evolutivas que possibilitam que as energias dos mundos internos e as forças que atuam nos mundos externos encontrem um fluxo de expressão adequado na existência. O próprio fato de reconhecerdes e aplicardes a lei de analogia é um evento kármico da mais elevada transcendência. Pelo simples ato de reconhecê-la e aplicá-la, tendes direito a um lugar no Ashram e a uma constante sucessão de conhecimentos superiores em vossa consciência. Reconheceis o quanto vossa vida tem mudado e as situações que se criam em vós e ao vosso redor desde que ingressastes no Ashram. O fato de me reconhecerdes como centro do Ashram e como vosso mentor espiritual é uma prova da relação kármica formada, mantida e expressa sem desvios através aos tempos. Cada um de vós interiormente sabe quando, onde e corno começou, nos vãos infinitos do tempo e nas profundezas inescrutáveis do espaço, essa relação kármica que nos mantém juntos neste momento e lugar, participando um pouco mais conscientemente que a maioria dos seres humanos do Destino, Glória e Vida do Ser Bem-Aventurado que utiliza o planeta Terra como Corpo de Expressão."

Eu pessoalmente recordo de fragmentos dessa história do passado, que a "memória" de Deus traz à nossa lembrança através da luz astral que se filtra do Arquivo Akáshico da Natureza, de como e quando tive contato com meu Mestre pela primeira vez. Os leitores ficariam assombrados se lhes dissesse dos imensos ciclos de tempo transcorridos desde então. No entanto, atendo-me às minhas próprias percepções atuais, ainda que atuando no âmago do passado, poderia Lhes falar de Raças extintas e de civilizações perdidas ou sepultadas sob o pó dos séculos anteriores ainda à Lemúria e Atlântida até levá-los a determinado ponto cíclico, ainda que sempre presente para mim, em que estabeleci contato com meu Mestre pela primeira vez.

Nas primeiras etapas da humanidade, "os que seriam homens posteriormente e os devas" viviam em harmonia fraternal. Foi precisamente nesse ponto e em qualquer lugar remoto do planeta que, através dos Registros Akáshicos e da fusão da minha consciência com a do meu Mestre, conscientizei-me de minha relação kármica com Ele. O dia em que tive essa experiência de contato com os acontecimentos desse passado que transcende os limites impostos pelo espaço e pelo tempo à consciência, dei-me conta do valor do termo "Karma". O Karma transcende o tempo de nossa consciência, apesar de condicioná-lo em suas inteligentes leis de relação. Porém, utilizando um tipo especial de percepção de sutileza indescritível, o passado mais remoto adquire conotações de atualidade. Nesse tipo de percepção, recordar é viver novamente um acontecimento com toda a intensidade em que foi vivido no próprio momento em que se deu. Por isso, posso falar-lhes do passado com tanta segurança como quando lhes falo do presente. Essa é uma das particularidades do Karma.

Karma e Perfeição

Por tratar-se de uma experiência muito particular que se refere principalmente às relações kármicas do meu eu pessoal com meu Anjo Solar e, em última instância, com meu Mestre no Ashram, o que venho dizendo não teria nenhum valor. No entanto, terá se, analisando essa experiência como dado de referência, derem-se conta de que o Karma é uma expressão da necessidade do próprio Deus de manifestar a intensidade infinita de Sua Vida Espiritual através de nosso Universo e, através deste, em outros Universos e Sistemas Solares. Pois Karma é, antes de tudo, relação. Inicia-se no próprio momento em que há a necessidade de expressão. Um Universo sempre é filho da Necessidade. A expressão dessa Necessidade é, sob outro ponto de vista, o autorreconhecimento e ponto de partida da Grande Meditação Cósmica que cria estrelas, galáxias, sistemas solares, planetas, homens e átomos. Pois o Universo como o entendemos, ou seja, como um conjunto formado por um Sol central e um grupo de planetas oscilantes, fala-nos da constante fricção entre uma vida central e um corpo de relações dentro e fora de todo o Sistema de Expressão. Essa fricção gera uma espécie particular de energia cósmica - da qual a eletricidade, tal como a conhecemos, é uma débil expressão - que permite a estabilidade e permanência de qualquer corpo universal de expressão, com todo seu conteúdo, dentro de um impulso infinito, de perfeição constante e permanente de todas as coisas criadas. E nessa estabilidade e permanência de um Universo e no Impulso de Perfeição Eterna que subjaz a raiz ou fonte do Karma.

Depois vêm os Senhores do Karma, que registram e contêm o indescritível Arquivo dos Acontecimentos produzidos dentro e fora do âmbito planetário que regulam, dirigem e levam a seu cumprimento total todas as ações e reações, todos os impulsos elétricos e todas as fricções que se produzem e se realizam no interior da vasta esfera do Universo com os seus Planos de Evolução, as infinitas Vidas condicionadas e diversas evoluções, Reinos, Raças e Humanidades... conduzindo a um implacável destino de perfeição. A perfeição de tudo que existe "dentro e fora do Universo" é o destino final do Karma. O bem e o mal produzidos como causa e como efeito de fricções assumem para o esotérico um termo chave: "energia", a potencialidade de um propósito espiritual divino vencendo a resistência da substância material que lhe serve como veículo, progressivamente levando-a a um estado de pureza virginal. Pois, como nos é dito nos textos sagrados dos livros de consulta dos Iniciados da Hierarquia, "...o Universo vem matizado pelo Karma, desde um processo anterior em que a Entidade que lhe deu vida realizou uma de Suas vastíssimas experiências de contato".

Assim sendo, os senhores estarão conscientes de que as encarnações ou ciclos de vida dos seres humanos em busca de perfeição têm sua analogia superior na Vida dos Grandes Seres Solares e Cósmicos que enchem os espaços siderais de mundos, na qual, em grandeza impossível de ser descrita, mas seguindo igual Impulso de Perfeição, ou seja, o de levar a matéria a um estado virginal que não se distinga da Pureza do Espírito que a engendrou, acha-se implícito o mistério do Karma e de todas as relações que essa Lei produz e origina em todos os seres e lugares.

Portanto, permitam-me repetir que Karma é relação ou vinculação de Vida e Forma, de Espírito e Matéria, de Energia e Força, de Alma e Personalidade... A dor que a fricção ou relação produz é compensada em cada ciclo de vida ou em cada nova encarnação pelo prazer infinito e a alegria suprema da vinculação. Por isso que a vida de todo ser é de alegria ou de tristeza, de placidez ou de inquietude, de prazer e de dor, esses estados dependendo das etapas específicas em que predomine a relação em forma de dor, de fricção ou do gozo produzido por vinculação e identificação do aspecto material cada vez mais sensível com o aspecto espiritual cada vez mais inclusivo.

A partir disso, talvez tenham uma ideia mais clara do que representa implicitamente o Karma como Lei em sua vertente dupla de dor e alegria, esses dois estados simbolizados num ciclo de existência ou encarnação e noutro de descanso no Devachan, no qual se realizam os grandes sonhos da personalidade humana que simbolizam, em tal estado, o desejo ou sonho permanente da matéria de identificar-se com o Espírito que a gerou.

Talvez tenham que analisar várias vezes este trabalho antes de extraírem seus profundos significados universais e adquirirem aquela visão que deve levar as mentes e corações a considerarem o Karma como uma oportunidade cíclica de vida, condutora à suprema alegria e não como um castigo de determinadas atitudes adotadas durante o processo da existência.

É preciso considerarmos que "...Karma não é prêmio nem castigo, mas uma oportunidade renovada de vida".

Outras Considerações Esotéricas quanto ao Karma

Se seguiram atentamente o fio de minhas ideias, estão conscientes de que o enigma do Universo está implícito na atividade daquelas misteriosas Entidades Cósmicas que chamamos "Senhores do Karma". A liberação do Karma humano realiza-se no momento em que o homem penetra conscientemente no Plano Búdico, depois da desintegração de seu Corpo Causal. Mas esta intensidade de vida que chamamos liberação e que consideramos sob um aspecto meramente analítico e, para a maioria, muito hipotético, leva a um estado de consciência em que o homem percebe sua vinculação à fonte kármica da Vida e que, a partir desse momento, sua missão terá uma expressão particularmente ideal: a de colaborar conscientemente com o destino kármico da humanidade por identificação com o processo liberador do princípio mental emanado dos Senhores do Karma.

O Karma é, antes de mais nada, "necessidade de manifestação", ou seja, "necessidade de um processo ativo de purificação através dos diversos tecidos da matéria". Essa necessidade de "manifestação" abrange todo o sistema do Cosmos e ainda mais além, sempre tendo presente que, onde houver "objetividade" ou manifestação, a Lei do Karma estará atuando. Isso poderá parecer como uma limitação das augustas faculdades das Grandes Entidades do nosso Sistema Solar e de além que preenchem, com Sua Vida Esplêndida e Misteriosa, os majestosos vazios do espaço eterno e infinito. Por outro lado, não devemos esquecer que o Universo tem a finalidade de refletir a Glória Pura de Deus, uma necessidade de autoexpressão ou autorreconhecimento em um aspecto inferior, como ocorre quando nos contemplamos num espelho. O que há na imagem do espelho é irreal, um reflexo, sob o ponto de vista puramente analítico, uma distorção da realidade, mas, se levarmos em conta que somente o reflexo de nossa imagem pode tornar-nos conscientes daquilo que ainda permanece maculado, perceberemos a necessidade objetiva do reflexo, da consequente atividade do desejo de liberação de toda entidade consciente e da atividade que nasce desse reconhecimento interior que chamamos "ação do Karma".

Karma, portanto, é uma necessidade que abrange todos os Planos do Sistema e que começa a ser objetiva em forma de propósito no Plano Mental, onde se forja todo sistema de relação kármica e onde se inicia a misteriosa atividade dos fatores dévicos em suas infinitas hierarquias e gradações.

Os Senhores do Karma e os quatro Grandes Senhores da Chama ou Grandes Kumaras, que canalizam o Karma Cósmico, trabalham com os filhos dos homens nos três mundos por meio do princípio mental e através da evolução dévica. Assim vai se produzindo o reajuste necessário que deve converter o ser humano em um fator realmente consciente no grande drama da evolução planetária, para que possa contribuir com seu esforço inteligente para a atividade liberadora que, através da Lei do Karma, vai se realizando no Universo.

Quando falo dos fatores dévicos que estão implícitos, por exemplo, no grande mistério da eletricidade, minha intenção não é outra senão tratar de esclarecer a mente no sentido das grandes verdades que poderiam ser reveladas através do estudo do mundo dos devas e da participação deles, em suas diversas hierarquias, no desenvolvimento do grande Karma de resolução da Vida dos Grandes Seres que vitalizam os planetas do Sistema Solar onde vivemos, movemo-nos e temos o nosso ser, do próprio Sol Central e de todos aqueles Sistemas relacionados com o nosso, dentro do grande Mistério da Fraternidade Cósmica.

Essa descrição pode parecer estranha ou muito nebulosa, porém os senhores devem ter em mente uma coisa muito importante quando estudam esotericamente tudo o que ocorre no Universo e à sua volta e especialmente quando estudam as Leis do Karma e a atuação dos Senhores do Karma no que diz respeito à nossa vida particular: é que, pela analogia hermética - chave de todo conhecimento possível e união entre o conhecido e o desconhecido -, deve-se considerar que um Universo é de fato uma família, com um pai central, o Sol, e uma mãe, os éteres de substância elétrica, pai e mãe que, em sua estreita ligação de amor ou de conjunção magnética, dão vida a filhos, os planetas, constituindo, assim, a representação universal de tudo quanto se reflita depois no mundo manifestado dos homens, o Reino Humano. Quando falamos de Karma e daquelas Entidades Gloriosas que o dirigem sabiamente, devemos considerar os seguintes fatores quanto às relações e vinculações:

1. a relação da Alma humana ou Anjo Solar com um Logos Planetário;

2. a relação da personalidade humana com aquela Grande Personalidade que chamamos Sanat Kumara;

3. a relação do corpo humano com seus diversos sistemas condicionantes, o nervoso, o circulatório e o vegetativo, e a de seus centros etéricos e glândulas endócrinas com os distintos centros planetários através dos quais Sanat Kumara distribui e organiza o infinito Plano do Logos Planetário e voluntariamente Se submete à Lei do Karma.

Portanto, Karma representa a possibilidade infinita de redenção da Vida através da Substância, ou seja, da Vida através da Forma e, se quisermos nos aprofundar mais um pouco no Mistério do Karma e da atividade dos Grandes Senhores que o dirigem, temos apenas que elevar o raciocínio do particular para o universal, que é a regra a que o esotérico e o verdadeiro discípulo se ajustam, e ver o Universo onde se realiza a evolução total da Entidade Solar a partir do ponto de vista do que é realmente particular, ou melhor, a partir de si mesmo, e ampliar sua pequena vida até a área do Cósmico.

Assim veremos inúmeros fatores que nos ilustrarão sobre a Ordem Cósmica em que tudo que existe se desenvolve, do Sol físico ao próprio coração, da Vontade de Deus à nossa pequena vontade e do infinito sistema de circulação de energia universal à sua assimilação microcósmica por esses fluxos de vida dentro dos humildes, porém perfeitos, sistemas humanos de circulação sanguínea, de respiração, de energias emocionais e mentais.

Assim, aplicar a lei de analogia é começar a compreender Deus. Quando o grande Hermes Trismegistus dizia que "assim como é em cima, é embaixo", dava-nos para sempre a chave da ordenação esotérica da vida, ou seja, permitia-nos estabelecer um vínculo direto entre a verdade e o que a busca, entre o realizador e a obra, entre o construtor c, o Universo, entre Deus e o homem.

Portanto, ao falarmos do nosso Karma pessoal com seu complexo sistema de relações sociais, devemos considerar também a vinculação logoica, o grupo de famílias logoicas, as relações de simpatia infinita entre distintos grupos de Logos, para assim chegarmos a ser mais conscientes da lei do Karma que vem sendo mostrada até agora apenas em sua dimensão humana.

As vinculações do nosso planeta com os demais planetas do Sistema Solar e as do nosso Logos Solar com as Constelações da Ursa Maior e das Plêiades, assim como a misteriosa relação com Sirius e outras Constelações mais poderosas e ainda mais longínquas às quais se referem os tratados esotéricos, também nos dizem sobre uma Lei de Atração "familiar" que agrupa Constelações Cósmicas e Sistemas Solares assim como nós vivemos agrupados em famílias e relações particulares, sob o aspecto social.

Tudo é igual. A ordem em que tudo está estruturado e as necessidades essenciais dentro dessa ordem são idênticas, variando somente o grau de expressão, sendo sua magnificência infinita quando nos referimos às Entidades Cósmicas. No vácuo infinito de um espaço virgem ou de éter radiante, pode ser somente estimada a amplitude do "círculo-não-se-passa" que tudo condiciona, desde a humilde radiação de um átomo de matéria física densa até o Sol mais resplandecente...

Uma Experiência Ashrâmica no Processo Kármico da Vida

Após essas amplas visões de conjunto que, para muitos, podem ser cansativas, principalmente se possuem uma mente muito concreta e intelectual, penso ser necessário trazer o raciocínio para expressões mais tangíveis. Mesmo que, ao traçar o rumo de meus escritos, eu sempre pense que é preciso abarcar o grande para compreender melhor o pequeno e que o estudo profundo do pequeno pode levar à consideração clara e concreta do grande, nunca deixo um termo impreciso com o qual a mente possa sentir-se um pouco deslocada em relação ao estudo. Como puderam comprovar, sempre utilizo algumas pequenas anedotas ou experiências que, colocadas no centro de raciocínios longos e curtos, permitem obter uma maior visão ou perspectiva do que foi dito ou estudado. Tenho seguido esse processo falando do meu Ashram, do mundo dévico, do Devachan etc. Por suas características, esse estudo oferece muitas dificuldades no sentido anedótico, considerando-se a imensa quantidade de fatores que intervêm na ordenação kármica da vida de um ser humano.

Quando antes lhes falava da vinculação kármica com meu Mestre a quem agora é meu Mestre e que, através de vidas e de mortes, "o destino de perfeição cruzou muitas vezes o meu caminho", estava lhes oferecendo o indício mais claro da ação do Karma ao longo do tempo e da sucessão das Eras.

Recordo muito vividamente a Atlântida, Grécia e Egito. Na Índia vivi pouco, karmicamente falando, mas sei, com toda certeza, que a Índia me espera para que nela culmine uma fase gloriosa do meu destino kármico. Não sei quando será e nem me importa, mas estou seguro disso. O que farei e como desenvolverei nesse país a atividade hierárquica de que começo a ocupar-me agora tampouco me importa, pois sou testemunha da atuação de uma Hierarquia Planetária e de que penso, vivo e trabalho para Ela...

Cada um dos senhores "recordará, em seu devido tempo, a origem kármica de muitas vinculações" que agora lhe parecem estranhas e até mesmo contraditórias, devido à tremenda confusão do mundo astral que nos envolve. Mas chegará um momento culminante na vida de cada um, quando ficará consciente do valor dos acontecimentos kármicos que se produzem e de que o próprio fato de ter estabelecido contato com o Mestre e com os companheiros de grupo no Ashram nos fala de uma Lei que se cumpre no tempo, mesmo apesar do tempo. Podem variar os padrões, as épocas e as situações, mas chegará uma vida em que Ele aparecerá claro e radiante perante a nossa vista e, a partir de então, começará a surgir para cada um de nós "o destino de uma vida superior" em que o Karma e suas Leis assumirão um significado muito mais profundo e espiritual, ou impessoal, do que temos considerado até o momento.

Lembro distintamente que o Karma que me une ao meu Mestre e a R., meu grande amigo hindu, nasceu precisamente antes de que a Lemúria viesse a existir. Portanto, estou lhes falando não de milhares, mas de milhões de anos. No entanto, também lhes digo que o tempo não tem a menor importância quando se analisa a ação dos diversos acontecimentos com uma visão orientada para a "Grande Memória Cósmica" ou Arquivos Akáshicos a que os tratados esotéricos conhecidos por muitos dos senhores se referem.

Utilizando o Antahkarana, esse sutilíssimo fio de luz criado entre a consciência inferior e a superior ou causal, os acontecimentos passados e futuros adquirem uma projeção mágica ou simultânea nesta síntese do tempo que chamamos "agora" e que realmente é de ordem eterna.

Cada vez que escrevo perseguindo uma meta definida, como hoje tenho como objetivo falar sobre o Karma, adoto conscientemente este gênero ou tipo de percepção. Desse modo, tanto o passado quanto o futuro ficam claros para mim e posso extrair dessa "memória viva da Natureza" tudo que preciso para o esclarecimento de minhas ideias. Mas não me entretenho com "o recreio das recordações", que tem sido o pecado e o castigo de muitos investigadores impacientes, porém, uma vez concluído o registro dos fatos, termino voluntariamente minha percepção akáshica.

Por isso, insisto em que uma vida esotérica é de natureza tão pura e impessoal, ainda que nos movamos nas limitações e estreitezas da vida organizada de nossa personalidade nos três mundos, com seus caprichos e veleidades, esperanças e temores, e que é muito fácil maculá-la, mesmo quando nos acreditemos homens espirituais e falemos constantemente dos Mestres e da Hierarquia.

Analisando a vida desse ponto central de observação do "eterno agora", que é uma síntese de observação, em determinada fase do nosso ensinamento ashrâmico, pudemos seguir o destino kármico de duas vidas humanas, uma delas atualmente no Devachan e a outra em encarnação física. Pudemos seguir seus rastros desde seus primórdios em uma fase de vida lunar e utilizando corpos animais.

Surpreendeu-me muito que o Karma pudesse iniciar-se em vidas aparentemente sem consciência, como no caso de dois animais, muito parecidos com nossos cães, ainda que diferentes em outros aspectos. O fato de sua forma não tem muita importância na evolução dos acontecimento que pretendo narrar, mas inicialmente me pareceu insólito unificar Karma com inconsciência. Porém, o Mestre esclareceu-me sobre esse ponto dizendo que inconsciência é apenas uma fase de consciência e que o Karma de Deus, como Centro e Vida do Universo, preside e ordena tudo.

Por uma estranha circunstância, aqueles dois animais tinham determinados gostos e propensões dentro do círculo-não-se-passa de sua alma grupal que pudemos observar em proporções muito amplas. Segundo disse o Mestre, a afinidade devia-se a certas condições cujas origens eram circunscritas à própria alma grupal, do mesmo modo que certas afinidades químicas produzem relações de simpatia ou de antipatia entre células de um mesmo corpo. Mas o mais importante no caso era sua expressão exterior, seus impulsos de se reunirem, de estarem juntos, pastarem um em companhia do outro e se ajudarem mutuamente ante qualquer tipo de agressão externa provocada por outros animais da mesma espécie ou de espécies diferentes. O que nos interessava era esse vínculo de simpatia existente que parecia emanar de uma fonte original comum.

Não pretendo nem posso dar-me o luxo de explicar-lhes detalhadamente todas as incidências kármicas dessas duas existências afins que pudemos observar como um iluminado ponto de referência de nossas investigações. Compreendam também que a investigação era conduzida pelo próprio Mestre e que nossa atenção devia estar concentrada nos acontecimentos importantes no transcurso daquelas vidas, pois não nos interessava de modo algum o processo particular, mas sim o estudo do processo kármico em si, pois, como dizia o Mestre, compreender o processo que constitui o Karma é compreender o processo da Vida do próprio Deus que está latente em tudo.

De uma vida instintiva animal, sob os auspícios de uma alma-grupo animal habitante da Lua quando esta era uma terra vivente como a nossa, até a encarnação de muitas unidades dessa alma-grupo como homens na Terra. depois de um doloroso processo de assimilação de experiências kármicas, passaram-se intervalos de tempo consideráveis. As duas unidades de consciência a que estamos nos referindo passaram por imensas vicissitudes, como todos nós as teremos passado por nossa vinculação humana ao antigo planeta que, hoje convertido em uma esfera morta e em permanente desintegração, chamamos "Lua". Transcorreram muitas era: e épocas evolutivas até que, traçados seus destinos de maneira mais clara, tivemos oportunidade de ver algumas de suas encarnações humanas. A princípio, pudemos vê-los reunidos quase que constantemente. Nas primeiras encarnações, anteriores à Lemúria e utilizando corpos toscos e disformes, gigantescos e pesados, sempre estiveram juntos. Desse modo, nós os vimos na Pré-História, com um corpo definidamente humano, às vezes como homem e mulher, outras, do mesmo sexo, mas sempre participando de um destino kármico muito parecido. Então perdemos seu rastro, pois o que o Mestre pretendia era fazer-nos penetrar no Mistério oculto do Karma e da origem secreta de todas as relações kármicas da vida, até uma época, no início da era atlante, em que viveram juntos como marido e mulher nas planícies de Yucatan. Mais tarde, nós os vimos no Egito como irmãos, filhos de uma família de destaque, mas aparentemente em uma época ainda muito distante dos faraós das primeiras dinastias.

Lembro que, em uma de suas encarnações, vimo-los novamente como marido e mulher, porém com o sexo trocado em relação à encarnação anterior, em um lugar que, segundo o mapa mundial que o Mestre fazia desfilar na nossa imaginação para situar nossa consciência na exatidão dos acontecimentos, correspondia à Rússia, ainda que nada externo, ou seja, o que conhecemos desse país, tivesse relação aparente com o que estávamos presenciando. A Rússia, um país frio, sobretudo na região do mapa mental do Mestre correspondente à Sibéria, no Registro Akáshico, aparecia como um país tropical, com palmeiras gigantescas, vegetação luxuriante e espécies animais muito parecidas com as que atualmente vivem nos países muito quentes do planeta...

A última encarnação desses dois seres a que, por vontade do Mestre, tivemos acesso, foi muito próxima da nossa época atual em uma região da França no período de Carlos Magno, ou seja, de acordo com o calendário cristão, por volta de 750 D.C. Como marido e mulher outra vez, vimo-los estreitamente unidos e compenetrados como sempre, levando juntamente com seus filhos uma vida muito humilde e de pouca relevância sob o ponto de vista da escala social.

Depois perdemos seu rastro até chegar ao tempo atual. Um desses dois seres encontra-se encarnado na América do Norte, ocupando uma posição social relevante no mundo das letras. O outro ainda está descansando no Devachan e, pelos sintomas observados em volta da esfera devachânica envolvente, seu processo de reencarnação não está muito distante...

Como terão observado, o processo evolutivo dessas duas Almas foi seguido sem que nos prendêssemos a um esquema cronológico ou regular do tempo devido ao fato de que seria impossível, mesmo que fosse somente com uma mera indicação ou um simples indício, seguir a totalidade desse processo, que preencheria páginas e mais páginas em razão de seu trajeto kármico tão extenso.

O que se procurou fazer foi somente marcar certas pautas em relação à ideia básica do Karma. Muitos dos lapsos observados ou da aparente falta de continuidade dessa idéia em certos aspectos deverão ser preenchidos logicamente pela observação atenta e estudo dos senhores mesmos. Para tanto, terão que recorrer à intuição e ao emprego da lei da analogia, a fim de esclarecer convenientemente suas ideias em torno do que foi exposto até aqui.

Conclusão

Considerado o processo dessas duas vidas, unidas karmicamente desde etapas tão distantes, as seguintes perguntas podem ser formuladas:

o todo processo kármico é igual, ou seja, o enlace de egos ou de grupos de egos desde o primórdio dos tempos?

por que foram escolhidas essas duas Almas para dar uma ideia do que significa o Karma na vida humana? Há alguma razão especial para isso?

o que foi dito até aqui responde à angustiante pergunta de quem sou, de onde venho e para onde vou? A resolução desse terrível mistério tem algum significado para nós?

Essas e outras tantas perguntas poderiam ser feitas, já que a capacidade do homem de avançar para diante e para cima está radicada no estímulo criador de toda pergunta possível, pois, como Cristo dizia, "batei e abrir-se-vos-á, pedi e ser-vos-á dado". A própria base da evolução está implícita, em toda sua majestade e todo seu poder, na augusta capacidade de bater à porta (dos mistérios) e de pedir alimento (espiritual), isto é, perguntar constantemente sobre a origem das coisas e de si mesmo.

Não, não há uma razão especial para essas duas Almas terem sido escolhidas para corroborar graficamente o especial alcance da ideia. Observando analiticamente do Plano Causal o processo kármico de qualquer ser humano, comumentemente este é visto, desde o princípio, unido a outra Alma por lei de misteriosa afinidade, cuja fonte é eterna e somente na Vida resplandecente da Mônada, ou Espírito Puro, pode ser plenamente compreendida, mas utilizando, como sempre, a analogia e observando os organismos unicelulares dos fluxos de vida primitivos e sua gradual excisão ou divisão em duas partes iguais, poderiam encontrar um ponto de referência central. Como indiquei anteriormente, mais para a frente, a afinidade química nos dá outra chave desse processo. Porém, atendo-nos à pergunta principal, eu diria que algo parecido com a separação do um em dois e, posteriormente, do dois em três, que originam o próprio Princípio da Evolução desde suas fontes cósmicas para prosseguir com o sete, o dez e o doze, acontece nas fontes originais da vida humana. Pois uma unidade de vida, dividida em dois, levará sempre presa em cada uma de suas partículas a marca de identidade interna daquela unidade primária que ambas constituíam. O próprio Princípio do Karma como Lei e como Princípio de Evolução inicia-se, portanto, no um, que se esconde em dois, cada uma das partes divididas representando a marca ou reprodução do Espírito ou da Matéria. Por isso, a função do Karma através do tempo é a de unificar Espírito e Matéria, o dois se resolverá em um, uma fase evolutiva do Universo terá terminado e se iniciará outra fase de Pralaya, de descanso cósmico, deixando o Karma em suspenso e o éter tingido com a sua própria cor à espera de um novo período de atividade. Isso pode parecer muito impenetrável e complicado, mas não o será se exercitarem a analogia em seus discernimentos.

O fato de ambas as partes surgidas de um universo microcelular atuando em um e, por analogia do processo macrocósmico, posteriormente resultando em dois, não seguirem trajetória idêntica no amplo esquema evolutivo deve-se ao próprio fato de tendências primárias e à diversificação de experiências, como no caso descrito de duas Almas em evolução distinta, porém unidas em um laço mais forte do que os tramados pelos fios do tempo. Embora não tendo sido escolhidas ao acaso, pois o acaso não existe para o esotérico, as duas Almas citadas representam parte de um processo, ou ao menos o simbolizam, que não é totalmente igual para todas as Almas, apesar de ser, em linhas gerais, muito semelhante.

Por outro lado, temos que a tendência dos seres humanos para seu Arquétipo Superior, o Anjo Solar, ou seja, este infinito anseio de reconstruir a unidade essencial dc que faziam parte, é uma expressão da própria Lei da Evolução. O processo da Iniciação, que conduz a essa unidade através das diversas purificações, vem marcado por períodos muito definidos em que os princípios masculino e feminino consubstanciais a todo ser humano um dia chegam a unificar-se em um ser andrógino capaz de criar, no âmago de si mesmo, tudo quanto o Poder Criador da Mente Divina possa inspirá-lo. Seguindo o processo até suas últimas consequências no que se refere à nossa compreensão humana, em uma perspectiva mais ampla, vemos o Trabalho Criador que está no final de todo processo evolutivo: a reprodução de novos Universos, pois, se realmente somos conscientes, verificamos que o Espírito Criador e a Matéria Virgem do Espaço, mais a experiência resultante do processo evolutivo em um Universo anterior, na realidade são uma Unidade indescritível que perpetuamente se dividirá em dois para preencher o insondável limite do espaço absoluto de Universos novos, mais variados e perfeitos.

Compreendam também que passar desse ponto seria querer remexer nas nebulosidades indescritíveis do Mistério. Contudo, fica esclarecida a tríplice pergunta que todo verdadeiro investigador das Leis da Vida faz a si mesmo: “Quem sou, de onde venho e para onde vou?” A analogia deve fazer o resto. Não se devem esperar conclusões concretas em torno de algo tão sutil como o princípio ou raiz de nós mesmos e a Lei de Karma que ajusta constantemente todas as situações possíveis através do Princípio de Causa e Efeito. Mas, se perseverarmos no propósito, não nos deixando impressionar pela grandiosidade de certas revelações, e seguirmos adiante com a mente e o coração audazes em direção à meta prevista, adquiriremos uma medida desconhecida de alegria que nos compensará com acréscimo da inquietude e do tormento de toda busca sincera e determinada.

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