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A HIERARQUIA, OS ANJOS SOLARES E A HUMANIDADE


Capítulo IV

INGRESSO NO ASHRAM E SUA COMPOSIÇÃO

Uns meses antes de ser admitido no Ashram a que tenho a honra de pertencer, tive uma experiência espiritual que marcou para sempre o meu coração e deixou em meu cérebro físico uma lembrança indelével. Foi o prólogo ou iniciação de uma série de situações de caráter transcendente que culminaram no contato consciente com o Mestre e em meu ingresso em Seu Ashram. Vou lhes relatar essa experiência.

De repente, vi-me fora do corpo. De modo suave e quase sem me dar conta, encontrei-me viajando velozmente pelo espaço. Estava plenamente consciente e percebia não apenas que me dirigia a um determinado lugar, como também que estava acompanhado por alguém a quem não via, mas cuja companhia me infundia uma grande segurança.

Surgiram ao longe umas montanhas muito elevadas com picos nevados. Seriam os Montes Himalaia? Lembro perfeitamente que tive momentos de dúvida e de vacilação.

Com efeito, na noite anterior, estivera lendo o livro de Mr. Leadbeater, Os Mestres e as Sendas, precisamente a passagem que trata sobre as Iniciações e onde o autor fala profusamente das cerimônias que acontecem em certos lugares dessas montanhas sagradas. Dizia para mim mesmo: "Isto é consequência da tua leitura dessa noite." Mas meu guia, meu acompanhante desconhecido, que havia captado perfeitamente meu pensamento, transmitiu, também em forma de pensamento, suas palavras: "Não, não se trata de um sonho ou de uma alucinação. Pelo contrário, é uma realidade que deves tratar de viver tão intensamente quanto possas, pois marcará para sempre a tua memória. Fica atento e segue tudo que vires e ouvires com profundo interesse..."

Tínhamos chegado defronte a um profundo sulco em um imenso rochedo. Lembro que a entrada era bastante estreita e que, em sua frente, haviam árvores frondosas e arbustos espessos que a ocultavam completamente. Assim, não era visível a não ser que se estivesse diante dela. O caso, porém, é que estávamos lá e eu via perfeitamente os arbustos e árvores da própria entrada dessa estranha gruta, fato de que não me havia dado conta antes e que demonstrava claramente que havia chegado lá descendo por cima e, naturalmente, em corpo astral.

Penetramos no interior da gruta. À medida que avançávamos, as paredes laterais iam se alargando e assim chegamos a um recinto amplo, de uns quinze metros de comprimento por uns dez metros de largura. Seguindo a ordem da galeria, em frente a nós, havia uma espécie de altar em forma circular e, à direita e à esquerda de onde tínhamos entrado, haviam várias portas. Apesar de tudo estar absolutamente escuro, pude contá-las mediante percepção astral: eras, sete, e falei para mim mesmo que esse número talvez não fosse alheio à classe de cerimônia que devia ser celebrada ali. Meu acompanhante havia concordado com essa formulação mental e pareceu-me, inclusive, que sorrira ao fazê-lo. Por sua vez, ele me disse: "Não é por acaso que te encontras aqui. A direção de tuas atividades futuras depende em grande parte da atenção com que seguires esta experiência e de tua capacidade de perpetuá-la interiormente."

Não sei exatamente quanto tempo ficamos ali, na obscuridade e em silêncio. Só sei que me achava profundamente expectante. De repente, todo o recinto ficou iluminado e dei-me conta de que estava cheio de pessoas, todas, como nós, em recolhimento silencioso, ocupando em grupos a parte situada em frente a cada uma das sete portas a que me referi anteriormente. Também percebi que tanto eu quanto meu acompanhante fazíamos parte de um desses grupos. Foi então que pude reconhecer meu acompanhante. Tratava-se de meu grande amigo R..., de nacionalidade hindu. Vive em Bombaim e ocupa um cargo administrativo no governo da Sra. Indira Gandhi. Sei que é um Iniciado e discípulo de um Mestre da Hierarquia.

Enquanto isso, por uma porta atrás do altar ou talvez por materialização astral, três personagens tinham aparecido. Devido à luz que parecia emanar de seus rostos, eu não distinguia claramente suas feições, mas intuí imediatamente que se tratava de Altos Iniciados da Hierarquia Branca do Planeta. Não poderia dizer como essas ideias vieram a mim, mas estava plenamente seguro delas. Naturalmente, essas coisas não têm uma explicação racional. Sabe-se e tem-se uma coisa: a absoluta certeza daquilo, mas não se sabe exatamente por quê. Simplesmente se sabe, com uma segurança que está além de argumentos positivos. A única coisa que posso precisar é que a aura que envolvia Seus corpos era brilhantíssima, ampliando-se em ondas irisadas para muito além de onde nos encontrávamos. Contudo, posso afirmar, já que tenho as fotografias em minha casa, que não se tratava de nenhum dos Mestres Morya, Kut Humi, Conde de Saint Germain ou do Senhor Maitreya. Só posso dizer que eram Adeptos da Hierarquia Planetária ou pelo menos o era aquele que ocupava o centro do altar e que parecia ser o centro daquela estranha reunião.

Eu fazia essas reflexões quando meu amigo R..., tocando-me ligeiramente, disse-me: "Esta cerimônia a que assistimos é de preparação iniciática de grupos. Seguindo as novas orientações hierárquicas que determinam o destino dos tempos, pequenos grupos de pessoas convenientemente preparadas vêm aqui periodicamente, seguindo ritmos cíclicos, para receber instrução espiritual especial. O Mestre X (cujo nome não posso revelar), que está no centro e que vai nos falar em seguida, é um dos Instrutores específicos para o ciclo imediato. Suas orientações precisas sobre a ordem da Nova Era e Seu profundo conhecimento das leis que regulam o destino universal refletem-se em Seus ensinamentos simples, claros e contundentes. Eles têm como objetivo estabelecer na consciência de cada um dos assistentes desta reunião a tônica exata da Era de Aquário, que já desponta ao longe e cuja aurora começa a irromper no destino da Humanidade, produzindo crises e tensões na ordem estabelecida mundial. Todos os que assistem a esta congregação estão de um modo ou de outro vinculados à obra a ser realizada pela Hierarquia na Terra para um futuro próximo. Os componentes destes diversos grupos, pertencentes aos sete tipos de Raio que evoluem neste Universo, não se conhecem fisicamente. Em contrapartida, reconhecem-se subjetivamente pela obra que realizam no mundo e por seus sinceros esforços em favor da paz, compreensão e concórdia humana. Todos são seres de reconhecida boa vontade que amam seus irmãos, são conscientes das necessidades que os afligem e cuidam sinceramente de remediá-las. Naturalmente terás compreendido que trata-se de elementos ativos no Novo Grupo de Servidores Mundiais, com o qual te achas intimamente relacionado e que atualmente assume a função vinculativa entre os filhos dos homens capazes de pensar de forma ordenada e os componentes da misteriosa Grande Fraternidade Branca do planeta."

Compreendo perfeitamente a identidade espiritual do Novo Grupo de Servidores Mundiais e a qualidade do trabalho que seus membros realizam no seio da Humanidade pela atuação que me coube por muitos anos na Escola Arcana, cujas sedes estão em Nova Iorque, Londres e Genebra.

Nisso, o Mestre X fez um sinal de bênção e dirigiu-se a nós. Havia se produzido um grande silêncio, um silêncio indescritível cheio de serena expectativa em que se percebia o alento unificado de um só pensamento e a batida de um só coração. Na realidade, não existem palavras para descrever esse estado de expectativa espiritual, realizado fora do corpo físico e elevado a um tal extremo de tensão criadora. Estas foram as palavras do Mestre, ou pelo menos este foi seu Sentido, e que hoje percebo em minha mente com estranhos fulgores de realidade e de atualidade: "Amigos, a Paz esteja convosco. Tereis vindo a este lugar de todas as partes da Terra. Alguns assistem a esta reunião pela primeira vez; outros já vieram várias vezes. Alguns de vós recordareis perfeitamente esta experiência espiritual; outros não poderão recordá-la por ainda não dispor do desenvolvimento cerebral adequado, porém todos, indistintamente, sentirão a Força que será liberada aqui dentro de alguns instantes e poderão aproveitá-la para o exercício de vossas atividades distintas em favor do Plano Criador.

"Mas, independente desses detalhes que em nada afetam a efetividade do Trabalho Uno a que todos estamos consagrados, tereis vindo aqui impelidos por um único desígnio: o Serviço aos nossos irmãos.

"Portanto, é desse Serviço que vou falar-vos. Desde tempos imemoriais, a Cadeia Iniciática dos Agentes transmissores de Luz foi ligada por elos infinitos de serviço criador para a Raça. Somente uma regra tem imperado: o Amor aos demais e o desejo ardente de ajudá-los em suas necessidades. A cadeia cíclica dos tempos, em espirais cada vez mais amplas e elevadas, tem penetrado na consciência dos homens, dando-lhes uma visão cada vez mais profunda de seu destino. Mas ainda nem todos compreenderam que a consumação desse destino é Amor e que é o Amor compartilhado que deve salvar o homem.

"Quando as espirais dessa cadeia cíclica penetram não apenas nas mentes, mas também nos corações dos homens, vem à existência um novo tipo humano, um tipo representativo no espaço e no tempo da Vontade Divina, que determina uma nova expansão de energia criadora na humanidade. Esse novo tipo de ser humano, verdadeiro fermento redentor dentro da evolução natural das Raças, faz ressoar uma elevada Nota dentro da Sinfonia do tempo e novas necessidades e oportunidades nascem e se expandem na consciência humana como um todo.

"Essa Nota é uma Nota Iniciática, dificilmente audível para o ouvido humano. É a Nota da Vontade Divina que cria o poderoso determinismo e a indomável resistência perante todos os obstáculos originados pelo impulso natural da Busca e é, de fato, “o Braço Direito da Lei”. Os que fazem ressoar essa Nota em suas vidas entram, por direito natural, nesta Grande Corrente de Amizade Cósmica que chamamos `Caminho Iniciático' ou de `Retorno'.

"Haveis sido convocados pelo impulso básico deste Raio de Amizade, que é uma projeção eterna do Raio de Amor do Senhor do Universo, para permitir que façais vibrar as oitavas superiores da Nota de Boa Vontade que habitualmente pulsais no mundo. Portanto, o que realmente é esperado de vós? Por que vos encontrais aqui?

"Todos, sem distinção, na beleza ilustre dos diferentes matizes de atividade, haveis sido capazes de reproduzir a Nota em vossos corações e mentes, e vossa presença aqui não é, de modo algum, fortuita; não deveis tampouco considerá-la como recompensa para determinadas atitudes espiritualmente positivas que tenhais tomado no mundo, mas sim como um testemunho vivo do Juízo Inapelável da Lei. Consciente ou inconscientemente vos unistes à eterna Sinfonia e cada um trata de ajustar a sua pequena nota à grande Nota pressentida.

"Todos vós pertenceis a um diferente Raio de Poder específico e a um também específico departamento do nosso trabalho no mundo, que é a Atividade Criadora do Plano, conforme essa se desenvolve no seio da humanidade e em toda a Natureza. Cada qual tem seus próprios métodos e sistemas de atividade e a visão de cada um ajusta-se a uma orientação exatamente definida desse trabalho criador ao qual dedica a maior parcela de seus esforços.

"Não viestes aqui, portanto, para adquirir novas orientações no vosso trabalho, mas para aperfeiçoar a técnica necessária para o mesmo e, particularmente. para adquirir Força renovada para o cumprimento do vosso dever no mundo.

"Alguns de vós sabem claramente sobre as nossas existências e nossa Obra, outros nem sequer ouviram falar de nós na vida do mundo profano, mas isso não tem importância capital. Sabeis que Nós medimos a Intenção, não o Conhecimento. A Intenção é interna e galvaniza o vosso propósito espiritual; o Conhecimento é externo, provém do mundo em que viveis e deveis utilizá-lo unicamente para aperfeiçoar a vossa técnica de trabalho. Porém, em essência, todos que estão aqui fazem parte, em diferentes níveis, da Grande Corporação de Servidores que, desde os primeiros tempos, ajuda a Humanidade em seus esforços de união e de perfeição. Vossa presença aqui não é outra coisa que não o exercício de um direito que nada nem ninguém pode negar-vos.

"A orientação correta de vossas energias realiza-se sem esforço aparente de vossa parte, dado que a Nota pressentida é a Nota característica de vosso Raio e é através dela que um dia entrastes no grande fluxo universal de Vida. A técnica certa e mais conveniente para a consumação deste grande ciclo de crises e oportunidades que o mundo está vivendo é a da amizade perfeita. O serviço criador surge espontaneamente quando criais as grandes avenidas para essa amizade impessoal, livre de sentimentalismos vãos, que vos dá um grato sabor para a vida.

"Essa técnica que começa a criar em vós condições propícias para influenciar positivamente o ambiente que vos rodeia e que, por analogia vibratória, vai gerando impactos diretos no coração da Humanidade, deve, no entanto, vir avalizada pela Força, pois é pela Força e pelo Poder que ela determina que os gloriosos destinos de cada Raio se realizem e se consumam. O Poder dá a chave de resolução que finalmente conduz à Liberação, à penetração consciente dos desígnios da Grande Fraternidade Branca. Todo Membro dessa Fraternidade é um verdadeiro servidor da Raça.

"Sabeis, portanto, que cada uma de vossas assistências a estas reuniões é um culto celebrado em honra da Força e da Resolução. Elas esclarecem o sentido orientador de vossas técnicas de trabalho e, sem que vos deis conta, pelo simples fato de vossa serena expectativa, estais vos aprofundando nos Mistérios implícitos na Nota Iniciática. O restante vos virá por acréscimo, pois assim é a Lei. Acolhei, pois, com amor, toda a Força que sejais capazes de suportar e a transmiti ao mundo como uma oferenda sagrada de paz e de amizade para a Humanidade angustiada dos nossos dias."

O Mestre X havia terminado de falar. Seguiram-se momentos de silêncio inspirador; o olhar do Mestre pousou sobre nós e cada um sentia-se profundamente perscrutado enquanto esse olhar percorria todos e cada um dos grupos.

Depois apanhou de cima do altar uma espécie de vareta que parecia ser de ouro, com uma cintilante pedra vermelha em cada um dos extremos, e apontou-a sucessivamente em direção a nós, enquanto Ele e Seus dois Acompanhantes pronunciavam misteriosas palavras de poder. Então, uma enorme força circulou através de nossos corpos sutis e, por alguns momentos, tudo desapareceu de nossas vistas, ficando unicamente um sentimento de unidade, de vida e de propósito comum que não pode ser explicado com palavras. É a unidade de tudo no Todo, sendo seu símbolo mais aproximado a Luz branca expandindo em projeções concêntricas as sete cores básicas da Natureza.

Pouco tempo depois da experiência que acabo de relatar, ingressei conscientemente no Ashram. Esse fato transcendente, no que se refere à minha vida pessoal e espiritual, foi precedido por alguns contatos fora do corpo físico com meu amigo R... Este me preparou para a comunicação com o Mestre, fornecendo instruções valiosas acerca da vida no Ashram e certas orientações definidas sobre o meu corpo mental para que a minha mente entrasse na grande corrente telepática que une os discípulos da Hierarquia entre si e com os respectivos Mestres. Quando considerou que seu trabalho tinha tido êxito e que todas as suas informações haviam sido apropriadamente interpretadas, levou-me perante o Mestre.

Essa primeira entrevista aconteceu na própria casa do Mestre, em .... A casa era comum e normal, como tantas outras. Contudo, o Fogo de Sua Presença conferia a tudo que havia ali um particular encanto que nunca esquecerei.

O Mestre acolheu-me como um amigo de sempre e eu me senti a Seu lado como em presença de Alguém a quem sempre conhecera e cuja amizade deve perdurar para sempre. Sua voz era musical, com tons graves, porém extremamente harmoniosos. Agradavelmente surpreso, comprovei que aquela não era a primeira vez que a ouvia, ainda que não tivesse nenhuma lembrança em minha memória física. Não sei quanto tempo estive a Seu lado. Recordo-me somente de que Suas últimas palavras foram: "Lembra-te e compreenderás." De fato lembrei, depois de certo tempo. Essa recordação está implícita em cada uma das frases que compõem o texto deste livro, já que fui memorizando espontaneamente, conforme pude interpretar o conjunto de ideias e experiências que lhes estou transmitindo.

Depois de minha primeira entrevista com o Mestre, meu ingresso no Ashram deu-se através de uma pequena cerimônia em que Ele, após apresentar-me aos meus companheiros de grupo, instruiu-me direta e particularmente sobre minha missão e funções no Ashram, ministrando-me em seguida certas instruções de caráter muito íntimo que me permitiriam, a partir de então, responder "telepaticamente e de imediato" a qualquer requisição Sua, de acordo com a vida do Ashram. Falou-me também das difíceis condições da minha vida pessoal, no sentido de que foram precisamente elas que foram me preparando e sutilizando para a experiência transcendental que estava vivendo. Finalmente, falou-me do valor e da resolução do discipulado consciente e, reverentemente, falou-me de Cristo e de Sua Obra em relação à Nova Era, ou Era de Aquário, para a qual todos os Ashrams indistintamente estão trabalhando, e a parte específica que eu podia realizar se me ajustasse completamente à mecânica da Obra conjunta.

Compreendi, no mais profundo de mim mesmo, o valor inefável das palavras do Mestre e desde então trato de cumpri-las o melhor que posso em minha mente e meu coração. Por fim, o Mestre, diante de mim e rodeado pelos demais membros do Ashram, perguntou-me solenemente, e Sua pergunta tinha a conotação de um juramento inviolável, se eu prometia acatar a lei do grupo até suas últimas consequências e se decidia viver, a partir de então, a vida do discípulo, de disciplina natural, de ordem espiritual e de firme resolução frente a todas as pessoas, fatos e experiências da vida. Sem vacilar, respondi afirmativamente e, então, o Mestre, após abençoar-me especialmente, admitiu-me em Seu Ashram. As experiências subsequentes a esse ingresso estarão refletidas em todas e cada uma das páginas deste livro. Através delas, mais do que minhas próprias afirmações acerca do discipulado, ficarão conscientes da verdade dos fatos e das ideias transmitidas.

Uma Iniciação

Ainda que me encontrasse aparentemente sozinho naquele "lugar" onde iria dar-se a Iniciação do nosso irmão de grupo, sabia, com profunda certeza, que eram muitos os Iniciados e discípulos dos diversos Ashrams que "lá" estavam e que, como eu, assistiam àquela Cerimônia Iniciática, contribuindo mais ou menos diretamente para o desenvolvimento dela. Naquela primeira fase de contato, não me era possível ver nada, exceto uma grande quantidade de pontos luminosos de diferentes cores, distribuídos simetricamente, tecendo e destecendo figuras geométricas entre os lampejos de luz que, como ondas de vida universal, iam preenchendo a imensidão daquele "recinto sagrado".

Mas, ao dirigir a atenção ao lugar que sabia intuitivamente que o Hierofante (1) deveria ocupar, pude ver claramente que se tratava de Cristo. Por algum tempo, durante o período preliminar à cerimônia, pude contemplar Sua silhueta radiante destacando-se nitidamente num fundo de luz irisada. Mais tarde, tudo desapareceu de minha vista, tudo pareceu enevoar-se para a minha visão, talvez devido ao fato de que minha percepção interna ainda não me permitia "penetrar" certos aspectos daquele ritual sagrado.

Contudo, sentia-me profundamente embebido do augusto segredo que estava se revelando naqueles momentos e podia ver claramente meu irmão de grupo candidato à Iniciação e, na medida das minhas forças, cuidava de compartilhar da responsabilidade infinita daqueles momentos inesquecíveis. De vez em quando, um clarão de percepção me permitia alcançar o conjunto formado pelo Cristo, os dois Mestres que apadrinhavam o candidato e este no centro do Triângulo formado pelos Três. Um dos Mestres, o que se achava à minha direita segundo o ângulo das minhas percepções, era o meu Mestre, o Mestre do nosso Ashram. O outro, cujo nome não posso revelar, ocupava o lado esquerdo, sempre de acordo com a posição em que eu estava "naquele lugar no tempo".

Eu o conhecia muito bem por ter tido a grande honra e a infinita oportunidade de ter estabelecido contato com Ele em meu próprio Ashram. Seu porte. mais simples que majestoso, possuía, no entanto, uma dignidade indescritível. Devido à tensão ou expectativa extraordinária do Mistério Universal que seria revelado, naqueles momentos, a aura de ambos os Mestres brilhava intensamente. No entanto, conforme a cerimônia avançava, houve um momento que tudo desapareceu de minha vista. O campo de minhas percepções havia ficado sem perspectiva definida. A Luz havia tomado conta de todo o "lugar" ou "recinto", mas, do fundo intensamente iluminado, continuava destacando-se a Luz de Cristo, que resplandecia de tal modo que a própria Luz do lugar ficava obscurecida. Em certos momentos, pude ver, recortando-se de todo aquele mar de Luz de modo muito definido, não Sua Face resplandecente, mas a imaculada Estrela de Cinco Pontas, o símbolo sagrado de Cristo, que representa a perfeição do Homem, a união dos aspectos divinos da Vontade e da Inteligência em um Centro de Amor infinito, a fusão dos dois Mantras sagrados, o duplo OM e o triplo AUM, dentro do eterno quadro da evolução planetária. E senti meu coração profundamente surpreso pela imensidão daquele indescritível Mistério de União.

A Estrela de Cristo irradiava uma Luz que deixava obscurecida, embora magnificente, a própria Luz daquele lugar onde estava se realizando essa cerimônia transcendente. Pude então compreender diretamente, sem intermediários, o exato significado das frases até então perdidas no labirinto das equações mentais: "Verás a Luz dentro da Luz" e "Cristo, a Luz do Mundo". E meu coração resplandeceu de alegria.

Durante o desenvolvimento dessa experiência iniciática, houve um momento culminante em que a própria Luz de Cristo empalideceu quando uma Luz ainda mais intensa "invadiu" ou apossou-se do lugar, enchendo de um dinamismo indescritível cada uma das partículas de luz que eram liberadas através do ritual mágico. Essa invasão da potência ígneo-elétrica de Shamballa aconteceu tão logo o coração da Estrela de Cristo elevou para o Altíssimo a substância do Verbo Solar naquelas palavras sacramentais: "Pai, faço isto em Teu Nome?" A resposta imediata foi a aparição de um Círculo mais luminoso que toda a Luz possível, já que irradiava do próprio Sanat Kumara, O Senhor do Mundo.

Através de minha percepção limitada, ainda contaminada por muitos lampejos de humanidade, o quadro aparecia perante a minha vista assim: a Estrela de Cristo, naqueles momentos de um brilho intensamente azulado, resplandecia indescritivelmente dentro de um círculo de luz dourada cuja intensidade, beleza e dinamismo estão além de qualquer definição. Houve outro momento, quando a cerimônia chegava à sua culminação, em que o círculo dourado desapareceu de minha vista para assumir a forma de uma estrela de nove pontas que irradiava a potência extraordinária do Fogo de Shamballa sobre a Estrela de Cristo. Então compreendi o alcance universal daquela afirmação esotérica presente no ânimo de todo verdadeiro discípulo e que é motivo de tantas e tão profundas reflexões: "...Aos Pés do Iniciador Único e vendo brilhar Sua Estrela." A Estrela de Sanat Kumara, símbolo de Suas Nove Perfeições — como é mencionado misticamente —, derramando sobre a Estrela de Cristo o enorme Poder do Fogo Elétrico, era a prova infalível e irrefutável de que o candidato à Iniciação, nosso irmão de grupo, havia sido admitido dentro dos Mistérios Sagrados da Grande Loja Branca do Planeta.

O que aconteceu depois foge totalmente da minha percepção interna, já que dizia respeito unicamente à incumbência ou "interior sagrado" do próprio Iniciado que, convenientemente assistido pelos dois Mestres que o apadrinhavam, estava recebendo através do Cristo o poder infinito das energias implacavelmente dinâmicas do Senhor do Mundo.

Logicamente, essa transmissão de Força realizava-se através dos Cetros de Poder, um prolongamento do "Dedo do Senhor" - tal como podemos ler nos livros sagrados do Antigo Comentário - e que em si levavam para o Iniciado o Poder da Resolução Eterna. Como no caso da corrente elétrica, os Mestres padrinhos do nosso irmão constituíam os dois polos, o negativo e o positivo, no meio dos quais era possível ao recém Iniciado manter seus veículos sutis em equilíbrio estável e receber sem perigo a força liberadora, embora extremamente perigosa, do Fogo Elétrico da Divindade Planetária. Enquanto isso, um grupo de Devas protegia o corpo físico do nosso irmão de grupo, imerso em profundo sonho "no lugar previamente escolhido pelo Mestre".

Composição do Ashram

Os Ashrams poderiam ser descritos como "lugares no tempo". Existem pela própria força da evolução. Essa descrição dos Ashrams assim tão vaga, como "lugares no tempo", quer dizer que não são lugares físicos. Porém, o fato de as experiências nos mesmos poderem ser lembradas, o que implica percepção, demonstra que, mesmo nos confins do que chamamos mundos subjetivos, existe o tempo, ainda que em uma dimensão desconhecida para a maior parte da Humanidade.

Usualmente um Ashram é composto por um Mestre da Hierarquia, algum Discípulo Iniciado e um grupo de discípulos menores em graus diversos que recebem treinamento espiritual e são preparados para a Iniciação. O Mestre ocupa o centro dessa congregação subjetiva e, durante o período de ensinamento, há uma misteriosa relação telepática entre todos e cada um dos componentes do Ashram. As mensagens são transmitidas de mente para mente, se bem que haja o que podemos chamar de "a Voz do Mestre" e o ouvido atento dos discípulos. Isso parece um contrassenso, mas não é, se considerarmos que as "coisas" dos planos subjetivos são "objetivas" quando se tem o domínio desses planos.

Tampouco posso dizer-lhes exatamente qual é a localização do Ashram. Quando se sente o chamado, vai-se "lá". Esse "lá" é um termo muito nebuloso para a mente normal, mas não pode ser dada uma explicação racional sobre um lugar que não é um local concreto e definido. Não se pode dizer que a chegada até lá realiza-se instantaneamente.

Também não é um lugar misterioso, se entendermos por isso algo inconcebível pelo entendimento no que se refere às coisas que acontecem nesse lugar. Existe um certo véu quanto às verdades que lá são comunicadas. A mente do discípulo recebe tudo que pode receber e, ainda que a Voz do Mestre fale para todos, cada um recebe a sua própria mensagem. Isso livra do perigo da indiscrição, pois "quem mais recebe mais sente o poder da responsabilidade aumentar dentro de si". Portanto, compreendam que só se pode dizer aquilo que é permitido que seja dito, o que é suficiente para o estímulo espiritual dos aspirantes no Caminho capazes de receber um treinamento semelhante.

Dentro do Ashram, há uma camaradagem nobre e leal que em muito transcende o limite da maior das amizades na vida pessoal. Um interesse comum reúne esse grupo de servidores e uma grande analogia de sentimentos vincula seus corações.

O Mestre sempre instrui sobre um tema específico, sempre em conexão com o Plano Hierárquico e com o modo específico de executá-lo no humilde lugar que a vida tenha situado o discípulo.

Uma das condições básicas do ensinamento é a intensa "expectativa" que é produzida toda vez que o Mestre fala. Sem que nos demos conta, todas as faculdades e capacidades de atenção se abrem ao influxo de Suas palavras. Raramente surgem perguntas porque é a mente superior que entra em ação nesse sistema de ensinamento esotérico e de treinamento espiritual. Quando essas perguntas são formuladas, são sempre de interesse geral e é o próprio Mestre quem nos induz a fazê-las.

A entrada e admissão num Ashram e a participação nos mistérios de luz que constituem sua vida não são uma prerrogativa de certos seres privilegiados, especialmente dotados para essa classe de atividades. Pode-se assegurar que todos os seres humanos têm o mesmo direito perante a Lei que rege o Ashram. Dos candidatos, só uma coisa é exigida: dever de se esquecerem de si mesmos em favor dos demais.

Esse dever tem muitos níveis de responsabilidade, mas a direção mais segura no caminho do cumprimento dele é o exercício constante da boa vontade. O desenvolvimento dessa boa vontade na ação deve preencher a medida da pequena personalidade e predispor o ânimo para as coisas grandes e elevadas da vida. Este é, na realidade, o Caminho que os sábios de todos os tempos percorreram.

Asseguro que, para pertencer a um Ashram, não são necessários dotes especiais ou qualidades específicas extraordinárias superiores às dos seres comuns, assim como poderes psíquicos, grandes capacidades intelectuais ou a ocupação de um posto relevante na sociedade. Pode acontecer que alguns desses fatores sejam inerentes a um membro do Ashram, porém, sinceramente, não são essenciais.

A Lei imperante num Ashram é de caráter universal e é regida por princípios claramente definidos de vinculação espiritual. Isso pressupõe um interesse profundamente aceso pelos grandes problemas mundiais e um empenho sincero e genuíno para resolvê-los adequadamente de acordo com as normas ditadas pela Vontade Superior e segundo as oportunidades cíclicas, assim como pelo desenvolvimento crescente de certas faculdades na vida pessoal. Como o Mestre disse em certa ocasião: "A Hierarquia não mede o grau de conhecimento dos candidatos, mas sim a pureza e firmeza de intenção espiritual. Mesmo que admitindo que o conhecimento é precioso e necessário, uma vez que é através dele que as verdades captadas do mundo espiritual podem ser transmitidas oralmente, sempre se considera preferencialmente a intenção ou propósito superior, já que é isso que indica o grau de adaptação à vida interior e sua efetividade possível nas obras de serviço da existência objetiva."

O Perigo do Conhecimento

Um conhecimento do esoterismo meramente intelectual, sem uma sólida base moral ou espiritual, pode ser extraordinariamente prejudicial e destrutivo, pois o conhecimento implica poder e responsabilidade e somente a intenção correta pode tornar esse conhecimento construtivo. Será benéfico trazer ao conhecimento dos leitores a existência, aqui em nosso planeta nos tempos atuais, de certos seres humanos profundamente conhecedores das leis e princípios esotéricos, assim como houve no passado e provavelmente haverá no futuro, enquanto a humanidade gravitar nas tendências egoístas da personalidade, mas que conscientemente empregam esses conhecimentos para fins puramente materiais, pessoais e egoístas. São homens que não têm "princípios ou intenções de ordem espiritual", razão pela qual suas atividades no mundo são particularmente destrutivas e constituem uma preocupação constante da Hierarquia Branca do planeta, que tem em mãos o poder da Intenção Espiritual que emana de locais sagrados além da razão humana.

Quando o Mestre fala de "intenção", dando-lhe um valor qualitativo superior ao conhecimento, refere-se exatamente a essa verdade essencial; refere-se também claramente à existência em nosso planeta de uma Loja organizada do Mal, contrária ao Plano de Deus e cujos membros, a maioria das vezes mais inteligentes que muitos dos aspirantes espirituais, fomentam na sociedade organizada em que vivemos os germes do ódio e da destruição. Deve-se levar esse fator em conta quando se analisa a vida de um discípulo da Hierarquia e se fala das "dificuldades kármicas de sua existência". É preciso que se refira especialmente ao processo de "suas lutas e tentações", cuja causa, às vezes, tem origem nesse Centro gerador de Mal, naquele lado sombrio da vida ocupado por aqueles que "sabem", mas que, por falta de Intenção, "não compreenderam", que lutam contra a sociedade e contra todos os seus membros nos flancos de um desejo louco e de um conhecimento esotérico profundo da vida, porém frio, calculista e completamente desprovido de amor fraternal.

Essas declarações são feitas para que não se estranhe ver na composição do Ashram pessoas que, por seu nascimento, herança e condição social, não têm aqueles conhecimentos intelectuais que a sociedade humana tanto valoriza. A intenção que dirige cada um dos componentes do Ashram é profundamente dinâmica e espiritual e é através dela que um dia foi possível atrair a atenção da Hierarquia até o ponto em que ela permitisse o acesso a um de seus Ashrams e que se deparasse com a oportunidade de receber treinamento espiritual avançado, onde a mente intelectual e meramente informativa, por si só, jamais poderia entrar.

Ajuda Hierárquica

Sempre sob o ângulo da atenção espiritual, a ajuda Hierárquica aos membros de um Ashram assume inúmeros aspectos ao chegar a cada uma de suas existências pessoais, de acordo com a posição que ocupam no seio da sociedade e com o tipo de serviço que cada um pode desenvolver para o bem da comunidade ou mundo que o cerca. Contudo, o que mais caracteriza a vida de um discípulo afiliado a um Ashram é o forte magnetismo de sua aura "espiritual-etérica", constantemente alimentada, a partir da vida pura do Ashram, por radiações misteriosas de amizade fraternal, dedicação e simpatia. Essas três palavras são indício das qualidades características de um discípulo da Nova Era e inexoravelmente levam ao serviço criador. Consequentemente, se uma pessoa, seja qual for sua condição social e cultural humana, sente bater dentro de si o poder da Intenção Espiritual e é capaz de expressá-la nessas três qualidades descritas, já está criando de fato em si e em seu ambiente imediato um ponto iluminado de apoio para as energias da Hierarquia.

O Mestre e a Universalidade da Sua Obra

É preciso concentrar a atenção no Mestre, que é o centro, Guia e Mentor do Ashram. Devido a certas regras de caráter hermético, não é possível divulgar a identidade do Mestre do Ashram nem Suas ocupações habituais no mundo. No entanto, tendo o Seu consentimento, posso dizer que possui um corpo físico europeu e que viaja muito para o velho continente. Também não posso revelar Suas funções específicas na Loja. Pertencem a estados de consciência e a dimensões inacessíveis à percepção normal atual.

Se houver capacidade de se libertar do matiz de mistério a que os tratados esotéricos de estilo antigo nos habituaram, o Mestre assume o caráter acessível de um Amigo em quem se pode confiar realmente. Desce até nós, sabe de todas e cada uma das reações do nosso ânimo e nos conhece melhor do que podemos conhecer a nós mesmos. Isso equivale dizer que Ele é plenamente consciente do nosso entendimento e de nossas possibilidades. Sabe, portanto, qual é o ensinamento mais idôneo e necessário para os nossos estados de consciência particulares e para a nossa missão no mundo. Existe também uma maravilhosa relação kármica da qual vamos ficando cada vez mais conscientes, não apenas um karma de relação de vidas passadas como também um karma universal de Raio e de serviço que envolve a atividade no Ashram de certas Vidas cuja transcendência não pode ser dimensionada em palavras humanas.

Atendo-nos ao mais concreto e acessível, ainda que sempre de acordo com o princípio esotérico, devo assinalar que emana da vida de um discípulo em encarnação física um rastro de luz etérica tingida pelas qualidades de intenção e serviço corretos que é "imediatamente visível" para Aquele que deve prepará-lo para o Caminho Iniciático. Aqui podem ser aplicadas as palavras de Luz no Caminho: "Quando o discípulo está preparado, o Mestre aparece."

Aprofundando um pouco esse princípio de relação espiritual kármica pelo qual o Mestre reconhece o discípulo e paulatinamente o aproxima de Sua Vida e Sua Escola de Sabedoria do Ashram, pode-se acrescentar que, do fundo invocativo de um discípulo, um dia surge um grito de redenção desesperado e que esse grito, que é a Nota típica de seu Raio egoico pressentido e almejado pela personalidade, converte-se precisamente naquela luz cujo rastro pode ser seguido através de vidas e mortes por Aquele que, para o discípulo, é a "verdadeira Luz e esperança de Glória".

Lembro-me perfeitamente do meu primeiro contato com o Mestre. Essa recordação viverá eternamente dentro do meu coração. Suas palavras foram gravadas com fogo e, desde então, sei exatamente qual é a minha missão na vida e a minha profunda responsabilidade para com Ele, para com a Lei do Ashram e para com meus companheiros de grupo.

Meu Irmão R... e os Companheiros de Grupo

Meu primeiro contato com o Mestre foi precedido por outros muitos contatos, cada vez mais conscientes e fora do corpo físico, com meu irmão R..., o Iniciado hindu a quem tenho me referido em outras ocasiões. Poderia dizer muito a respeito de R..., mas tenho que ser muito sucinto nas declarações já que qualquer indiscrição o tornaria facilmente reconhecível e grande parte do trabalho que realiza em seu país poderia ser alterado e talvez fadado ao fracasso. Contudo, posso indicar que, depois do Mestre, R... ocupa o posto de maior responsabilidade no Ashram. Quando o Mestre, por circunstâncias diversas, não pode assistir às reuniões, é R... quem ocupa o Seu posto. Seu discurso é simples, porém indescritivelmente profundo.

O irmão R... preparou minha mente e meu coração para o contato inesquecível com o Mestre. Essa preparação durou muitos anos e, durante esse período, tive que lutar com circunstâncias dificílimas de ordem kármica. As mais poderosas foram finalmente vencidas e minha mente superior pôde romper, então, muitos dos véus que encobriam minha visão espiritual. Também foi R... quem apressou, com sua intercessão inestimável, o desenvolvimento de certas faculdades espirituais latentes que foram extraordinariamente úteis para descobrir o caráter particular de minha missão, a qualidade específica dos Raios em que deveria trabalhar no futuro e as pessoas com quem deveria me associar para o cumprimento do meu campo de serviço particular.

Depois vêm os discípulos que, assim corno eu, seguem treinamento espiritual no Ashram. O afeto que nos une a todos não pode ser dimensionado com os termos comuns ao nosso alcance, já que ultrapassa a medida do entendimento normal. Entre nós, não há nenhuma diferença no que se refere à intenção básica e fundamental; existem somente qualidades específicas de ordem pessoal que, no Ashram, começam a florescer, "para maior Glória de Deus".

Essas qualidades ou atributos de Raio não comportam reações em sua inter-relação, tal como ocorre nas tumultuadas relações das qualidades humanas ainda regidas pela "grande heresia da separação", mas sim um equilíbrio harmonioso. As diversas qualidades são o colorido distintivo do Ashram em relação aos demais da Hierarquia. O Ashram, visto com olhos espirituais, além e acima da percepção humana corrente, aparece como uma flor de doze pétalas com um botão de luz radiante intensamente azulada em seu centro e que projeta essa cor sobre cada uma das pétalas, dando ao conjunto um colorido de uma beleza singular e indescritível. Trata-se de uma típica expressão de Raios e de suas qualidades específicas, sendo a Vida central pura e radiante a do Mestre, as doze pétalas de cor distinta simbolizando a qualidade de vibração das vidas pessoais dos membros do Ashram. Aqui pode ser aplicada a lei hermética da analogia em toda a sua profundidade.

Composição Esquemática do Ashram

Passando para o terreno do prático e concreto, esquematizarei a composição atual do Ashram. Para a definição dos seus componentes, não usarei o sistema hierárquico espiritual, mas a simples ordem alfabética das iniciais dos nomes com que se identificam no Ashram. Devo dizer que, já há muito tempo, em uma de suas reuniões periódicas, obtive permissão tanto do Mestre quanto de meus condiscípulos para citá-los por escrito.

A ideia pareceu boa quanto ao aspecto de que termos como "Hierarquia", "Mestre", "Iniciado" e "discípulo" deveriam ser esclarecidos e apresentados com um caráter de atualidade e naturalidade, como também de proximidade e acessibilidade. Em outra reunião mais recente, li os trabalhos e, com breves observações por parte do Mestre, foi concedida a permissão para publicá-los. O esquema do Ashram é assim:

O Mestre

1-B. Relativamente jovem; Norte americano é um excelente escritor.

2- C. Missionário católico, Sul-americano mencionado na revista "Conocimiento" de março de 1970. Por ter falecido, após o Festival de Wesak de 1971, seu lugar no Ashram foi ocupado automaticamente por Di..., uma discípula sul-americana que já há muitos anos estava sob supervisão direta do Mestre. Conheço-a fisicamente.

3-D. Pastor protestante. Inglês
Fisicamente falando, é o de mais idade dentro do Ashram. Conheço-o fisicamente.

4-E. Administrador bancário. Suíço Já não exerce a profissão. Conheço-o fisicamente.

5-F. Antigo agricultor. Rodesiano
Grande orador e muito influente na luta contra o apartheid. Raça negra. Não vive na Rodésia há anos.

6- L. Jovem quaker. Norte americano
Trabalha em um departamento das Nações Unidas. Conheço-o fisicamente.

7-P. Profissão manual. Italiano
Intuição muito desenvolvida.

8-R. Administrador governamental. Hindu

9- Rd. Húngaro
Foi professor em um Centro de Educação Superior. Não possui corpo físico.

10-T. Cientista muito conhecido. Não posso revelar sua identidade.

11-V. Agente comercial. Espanhol
Colabora em algumas organizações de caráter esotérico.

12-Z. Jovem não vidente. Francês
Dotado de grandes poderes psíquicos.

Por essa composição, que reflete o que ocorre nos outros Ashrams, perceberão como todos os setores da vida humana, na época atual, estão implicados nesta orientação espiritual definida de unidade. O propósito de redenção planetária, para o qual o Novo Grupo de Servidores Mundiais trabalha ativamente, está representado em todos os Ashrams da Hierarquia por aspectos humanos claramente definidos, porém o que interessa mais é a eficiência do trabalho conjunto, a unidade de intenção ou propósito que triunfa sobre a diversidade de características pessoais de seus membros. Em todo caso, pode-se dizer que essa unidade de propósito é regida pelo Raio da Alma, ou do Eu Superior, dos componentes do Ashram, enquanto as características humanas ou pessoais são condicionadas pelo Raio da personalidade, ou seja, da integração dos raios da mente concreta, do corpo emocional e do corpo físico.

Apesar de simples, essa declaração comporta dois fatos profundamente esotéricos: que o Ashram é de Segundo Raio, porque a Alma dos seus componentes pertence a esse Raio e é através da mente superior ou egoica que os ensinamentos e sistemas de treinamento correspondentes são transmitidos; que o Mestre que nos prepara para a Iniciação é um Adepto cuja Mônada também pertence ao Segundo Raio.

A vida do discípulo e a efetividade do seu trabalho no mundo fundamentam-se na transmissão de todas as impressões superiores do ensinamento recebido no Ashram pela mente abstrata para o cérebro físico mediante a atividade da mente intelectual ou concreta. É interessante conhecer essa relação para que percebamos as diversas qualidades e atributos dos discípulos no mundo que, como todos os seres humanos, atuam na órbita obrigatória da vida comum, com todas as suas lutas e aflições.

Os discípulos não trazem "uma estrela luminosa na frente" para serem reconhecidos, apesar de, esotericamente falando, essa antiga frase mística ter muito a ver com "a luz na cabeça" dos sábios e com "a auréola luminosa" dos místicos. Os discípulos são reconhecidos apenas por "seus frutos" e, às vezes, no entanto, a aparente simplicidade deles priva a mente demasiadamente intelectualizada desse reconhecimento natural.

Qualidades Distintivas dos Irmãos do Grupo

Vamos analisar agora, sob o ponto de vista "serão reconhecidos por seus frutos", a vida pessoal dos condiscípulos no Ashram. Temos o nosso amigo P..., de nacionalidade italiana e mecânico por profissão.

Trata-se de um homem singularmente humilde em todos os seus aspectos, ainda que aqueles que têm a oportunidade de tratar com ele possam constatar, conscientemente ou não, a radiação extraordinária de sua aura espiritual. Possui dotes excepcionais de percepção psicológica e seguramente suas impressões exatas sobre as pessoas constituiriam valiosos dados de interesse científico. No Ashram, ninguém como ele, salvo o Mestre, naturalmente, pode descobrir os profundos segredos da Alma humana pela simples percepção. Por esse motivo, é um valioso elemento de auxílio para a Obra da Hierarquia no setor específico em que vive. Além disso, possui dotes inestimáveis de captação. Falando em termos espirituais, seu poder de sedução é enorme e são muitos os que, através dele, conseguiram entrar firmemente no Caminho. Suas palavras simples e sem vãs formulações vêm poderosamente inspiradas pela força do Verbo. Como diz o Mestre, o segredo de seu poder está na simplicidade e humildade excepcionais e em seu trato afetuoso com os demais. Sempre falando em termos ocultos, é um verdadeiro privilégio poder estabelecer contato com o irmão P... no Plano Físico, pois sempre tem a palavra justa e o conselho certo para qualquer problema pessoal da vida cotidiana.

O caso do irmão T... é de caráter muito especial, visto que atualmente trabalha com meios poderosos ao seu alcance em pesquisas científicas de um país cujo nome não posso revelar.

Trata-se de uma mentalidade concreta prodigiosamente organizada para o cálculo matemático apesar do fato de estar situado em um Ashram do Segundo Raio, de Amor e Sabedoria. Para os realmente interessados nos estudos dos Raios, deve ser esclarecido que a mente concreta do irmão T... pertence ao Quinto Raio de expressão científica. Isso explica em parte a sua constituição prodigiosa. Mas o fato de que seu Eu Superior seja de Segundo Raio e de que receba treinamento espiritual em um Ashram regido pelo Amor Universal constituem a garantia absoluta de que seus esforços científicos e toda a sua colaboração pessoal nesse campo sempre serão para o bem da paz e da concórdia dos seres humanos.

Nossa irmã Di... Trata-se de uma senhora cujo incentivo na vida foi constantemente a indagação e o estudo das leis esotéricas em relação aos ciclos do tempo e à astrologia moderna. Fortemente polarizada na constelação de Aquário por vínculos espirituais anteriores, sua colaboração é de grande ajuda no Ashram. Como foi dito anteriormente, "estava sujeita à supervisão há muito tempo". Por haver ultrapassado inteligentemente as provas a que foi submetida e ter podido concordar com as crises consequentes, foi aceita como membro ativo no Ashram desde a data em que C..., por ter deixado o corpo físico e ter que atuar temporariamente na consciência devachânica, deixou seu lugar vago. Apesar de seu ingresso ser recente, possui as qualidades comuns às Almas antigas: boa vontade, serviço e sacrifício.

Quanto ao serviço realizado por nosso irmão francês não vidente, Z..., é realmente digno de ser apreciado.

Apesar de sua "cegueira física", Z... tem sua visão espiritual plenamente desenvolvida, assim como dotes curativos especiais que constituem um verdadeiro caso de estudo para a ciência médica. Nosso irmão Z... não mora na França. No entanto, não posso revelar o local de sua residência atual, ainda que talvez os dados descritos possam ser um indício para os que sintam em si realmente o desejo de estabelecer contato com ele por via interior.

A respeito de R como já disse anteriormente, possui os poderes de um verdadeiro Iniciado e, depois do Mestre, ninguém é consciente como ele do poder secreto dos mantras de invocação dévica e das criaturas que vivem nos elementos da Natureza.

O irmão L... é um jovem Iniciado, o mais jovem, fisicamente falando, dos membros do Ashram. De nacionalidade norte americana, trabalha em um departamento externo das Nações Unidas em Nova Iorque. É um verdadeiro "ponto de luz e de amor" naquele centro de atividade mundial e constantemente recebe do Mestre as energias hierárquicas inspiradoras para o seu trabalho específico.

O irmão E..., de nacionalidade suíça, é um caso muito interessante, se considerarmos que, socialmente falando, ocupa um posto muito importante no lugar onde vive atualmente.

É um homem "materialmente rico", mas seus bens não constituem um impedimento para pertencer a um Ashram da Hierarquia e receber treinamento iniciático. Para ele, não vigora aquele axioma cristão de que "é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus". Tampouco podemos considerar se Cristo referia-se, nesse axioma, unicamente a riquezas materiais, já que o caráter específico de Sua Missão Universal dotava Suas Palavras de um significado absoluto e, portanto, toda riqueza material, toda posse emocional e todo bem mental estão inteiramente aludidos nas Palavras de Cristo. Podemos dizer a respeito de E... que se trata de um homem muito simples, justo e honrado e que seus bens materiais são como uma corrente viva de intenção superior e passam por suas mãos como um rio de energia espiritual que beneficia, socialmente falando, um grande número de pessoas.

O caso que talvez seja o mais interessante no que se refere às idéias que estamos expondo é o do irmão Rd.

É o único no Ashram que não possui corpo físico. Já há muitos anos, abandonou o que possuía karmicamente, em um local da Hungria. Era professor em um instituto de ensino superior, mas sua missão particular de serviço não estava circunscrita apenas à área da educação, ainda que seu trabalho nesse campo sempre tivesse sido muito meritório e todos que estiveram em contato com ele guardam e guardarão sempre uma recordação inestimável da especial simpatia de seu procedimento. Era uma união da Hierarquia — apesar de, naqueles tempos, ainda não estar plenamente consciente de sua missão — com certos movimentos de caráter social. A qualidade e efetividade do seu trabalho — que serão apreciadas em um futuro não muito longínquo — foram realmente inspiradoras e plenamente eficazes sob o ponto de vista interno e hierárquico do Plano.

Não posso dar pormenores quanto à qualidade dessa missão; posso somente dizer que o irmão Rd... agora está se preparando ativamente, sob a orientação direta do Mestre, para uma empresa similar, porém muito mais importante e de maior transcendência mundial do que a realizada anteriormente.

O irmão F... possui um corpo físico de raça negra. Antigo agricultor e excelente orador, lutou e ainda luta contra a segregação racial no mundo. É um homem de grande cultura, totalmente universalista e está filiado a certas organizações de caráter pacifista, algumas diretamente relacionadas à missão particular do Mestre no mundo. É plenamente consciente de sua vinculação ao Ashram e conhece exatamente o valor daquela expressão espiritual "que convence sem cingir e que atrai mesmo sem convencer". Deve-se salientar o fato de que tanto a obra de F... quanto a de qualquer dos outros membros é inspirada principalmente pelo Raio de Amor do Senhor do Universo e através de Cristo, o Avatar do Amor em nosso planeta.

O irmão D... é de origem inglesa e atua como pastor protestante em um lugar da Inglaterra.

Simbolicamente falando, é um verdadeiro "pastor de almas" e o campo de serviço previamente escolhido por ele, de acordo com a pressão de certas tendências kármicas, oferece um ambiente especial para sua dedicação particular. Fisicamente falando, é o de mais idade dentro do Ashram.

O irmão B..., de nacionalidade norte americana, pediu encarecidamente que não fosse mencionado nos escritos já que é muito conhecido socialmente e não queria que algum indício o identificasse.

Quanto a mim, naturalmente nada direi acerca da existência pessoal. Meu único desejo é de apresentar um quadro das leis fraternais da vida do modo mais simples e verdadeiro possível. Não pretendo atrair a atenção de forma alguma.

Cumprido em grande parte o desejo de exteriorização da vida interna de um Ashram e de dar algumas referências sobre as qualidades pessoais dos membros que o integram, só resta dizer que, de acordo com a grande lei universal de analogia e com o testemunho vivo das palavras ocultas dos sábios e conhecedores espirituais de todos os tempos, um Ashram é um núcleo consciente do poder vivo e fraternal da Hierarquia, e uma das grandes preocupações dos Mestres de Sabedoria e dos Iniciados em Seus diferentes níveis é a de exteriorizar a verdade dos grupos fraternais da Nova Era, criar as largas avenidas para a expressão do Amor Universal que deve substituir esta idade de ferro que ainda estamos fatalmente vivendo aqui na Terra sob o império do ódio, do medo e da ambição, pela idade de ouro das relações humanas corretas nascidas da boa vontade dos homens e das intenções puras de suas Almas.

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(1) Aquele que, no momento da Iniciação, empunha o Cetro de Poder que contém o Fogo Elétrico. Aquele que, através do ritual mágico, prepara os veículos sutis do candidato para essa experiência. E Quem recebe do Iniciado o juramento inviolável de fidelidade à Loja, Quem lhe transmite os segredos correspondentes ao tipo específico de iniciação conferida com certas Palavras de Poder, ou sons criadores, que abrem para o Iniciado as Portas de um estado de consciência novo e superior, de um novo Plano ou Subplano de Evolução, com o domínio consciente de determinado grupo de Devas neles atuantes, com a visão clara de uma parte específica do Propósito Criador do Logos e com o conhecimento da parte de cuja realização ele, como Iniciado, pode participar conscientemente em sua vida pessoal.

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