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DIÁRIO SECRETO DE UM DISCÍPULO


Diário Secreto de um Discípulo - Vicente Beltrán Anglada

CAPÍTULO IX

UM ESTUDO SOBRE O REINO DÉVICO

Durante muitos meses e seguindo as normas do treinamento exigido, fomos reconhecendo os Devas, iniciando o caminho espiritual com o exame das pequenas criaturas do éter, ocultamente descritas como elementais construtores, tais como os gnomos, ondinas, salamandras, fadas, sílfides etc., que povoam todas as áreas do mundo, mas apesar da poesia que adorna sua presença e a infinidade de contos e relatos que expõem o segredo do seu mundo e das suas benfazejas influências, posso dizer que diferente de todas estas considerações poéticas ou narrativas, temos que aprender com eles o eterno dinamismo da Criação. Os Gnomos, por exemplo, de muitos tipos e graus de evolução, são uns infatigáveis obreiros que constroem os aspectos primários da evolução e que, em seus distintos graus ou hierarquias, são o suporte do Reino Mineral, criando um grão de areia, um veio de metal ou qualquer pedra preciosa. 

O mesmo podemos dizer sobre as fadas e as ondinas que, em conjunto, constroem o Reino Vegetal, unificando-se prazerosamente com os espíritos da Terra, uma espécie inferior de gnomos, para criar desde o musgo que recobre o solo dos bosques até a flor mais preciosa. Outro tipo de devas de hierarquia superior dentro do Reino Vegetal criam desde os humildes arbustos às árvores mais gigantescas. Os deuses da terra e da água trabalham juntos na obra mística do Grande Deva do Reino Vegetal, o mais formoso da criação divina (do Livro dos Iniciados).

Os grandes Devas da Água e do Fogo unificam suas auras magnéticas para produzir toda classe de fenômenos na atmosfera planetária: a chuva, o vento, a neve e o granizo, os raios, os trovões e as auroras boreais, assim como o frio e o calor observados no planeta de acordo com o sentido das estações.

Todos os grandes Devas são assistidos por um vasto grupo de colaboradores. Assim, um Deva superior do Reino Mineral comanda, instrui e leva a atividade do reino a uma multiplicidade infinita de devas inferiores ou de espíritos da Natureza, induzindo neles a tarefa de construção do que, em termos ashrâmicos, chamamos "a ossatura do planeta", ou seja, o aspecto denso da manifestação planetária, e é particularmente interessante observar a devoção destes humildes, embora eficientes, trabalhadores à Obra que lhes atribui seu Deva Instrutor e a infinita reverência com que acolhem Suas instruções.

A mesma ideia geral pode ser aplicada aos "Espíritos do Fogo", a particular família dévica cuja missão na vida da Natureza é vivificar todo o conteúdo planetário, extraindo seu poder ígneo de três potentíssimas fontes universais, as do Espírito (que comanda o fogo de Fohat) as da Superalma universal (que origina o fogo Solar) e a da Matéria (através do fogo de Kundalini). Os grandes Senhores do Fogo são denominados Agnis, seja qual for sua categoria na ordem hierárquica dos Devas, e cada Agni, no nível específico onde atua, comanda um numeroso grupo de pequenos Agnis, que ocultamente denominamos de salamandras. Em imensas hierarquias ígneas originam todo tipo de fogo, desde o calor do sangue até qualquer tipo de fogo, seja o que arde no mais humilde lar ou na erupção vulcânica mais espantosa. O fogo é o crisol onde se fundem todas as escórias cármicas da Vida planetária e o Mestre nos convidou sempre a reverenciar a obra ígnea dos Grandes Construtores e a colaborar na obra vivificadora dos poderosos Agnis.

O Senhor Agni, o Arcanjo ígneo do Plano Mental, comanda diretamente sete poderosos Agnis, um para cada Subplano deste Plano, e tais Agnis, através dos seus Subplanos respectivos, atuam sobre os correspondentes Subplanos de cada um dos demais Planos, produzindo diversos fenômenos na vida da Natureza, alguns dos quais nos foi possível observar durante este período de treinamento sobre a vida dos Devas. 

A formação de um raio na atmosfera planetária, segundo pudemos observar, é resultado da atividade em comum de Agnis e ondinas, com a colaboração dos devas da Terra, que pudemos perceber de certos níveis de apreciação mental. A mesma colaboração em comum observamos quando os espíritos da Terra e as fadas dos bosques, constituindo o que poderíamos denominar "grupos invocativos", suplicavam a Agnis e ondinas que vertessem água para umedecer a Terra ressecada e sedenta, já que sem esta umidade não podiam trabalhar, não podiam vivificar os vegetais e plantas que dependiam deles.

"É terrível e dolorosa a vivência destas nobres criaturas que precisam da água para realizar seu trabalho - nos disse o Mestre - mas a causa das secas, como dos furacões, inundações, erupções vulcânicas e toda classe de espantosas derivações do poder dos elementos não dependem diretamente destas forças dévicas da Natureza, mas do carma dos seres humanos, que sendo centros da evolução planetária com frequência não se comportam de acordo com a Lei".

Do homem dependem os Reinos subumanos na escala de valores da Natureza e, se o homem não cumpre seu dever para com a mesma de maneira adequada, aqueles Reinos não evoluirão corretamente, em que pese a boa intenção que os anima, não poderão fazer outra coisa senão secundar com secas ou inundações, com terremotos e erupções vulcânicas o pecado humano do egoísmo, do ódio e da inveja que corroem os ambientes sociais do mundo. Os grandes cataclismos, que periodicamente se abatem sobre a humanidade, são a resposta dos devas e dos elementais construtores ao mau comportamento humano. O Mestre nos disse em certa ocasião que "a Natureza só cumprirá corretamente o seu dever quando a humanidade cumprir corretamente o seu. Não espereis milagres. O melhor dos milagres é o comportamento sadio e a correta ação social. A Natureza, os Reinos que a integram e os obreiros dévicos, que constroem as moradas dos Reinos e de todas as coisas, possuem um PODER extraordinário que o homem ainda não conseguiu aproveitar. Por exemplo, a humanidade em seu conjunto depende do petróleo como substância básica para o desenvolvimento do comércio, da indústria e das comunicações. No entanto, há no éter mais próximo à Terra uma substância infinitamente mais leve que o petróleo, que extraída mediante uns sistemas muito menos complicados e onerosos que a extração do petróleo das profundidades da Terra, facilitariam muito a evolução de todo o sistema industrial. Trata-se de uma substância um tanto mais densa que o hidrogênio, a qual, devidamente manipulada, resolveria de imediato o problema da poluição e baratearia o custo do combustível em níveis inimagináveis. Também encerraria "a luta pela conquista do ouro negro” e, portanto, desapareceriam as grandes tensões bélicas observadas no Oriente Médio. Mas... - concluiu o Mestre - tudo depende da humanidade. Tudo que os Devas responsáveis pelos segredos que serão comunicados aos homens podem fazer é manter a "serena expectativa, harmoniosamente integrados em seus mundos”, à espera do que a humanidade decidirá”.


CAPÍTULO X

UMA AULA DE INSTRUÇÃO HUMANO-DÉVICA
Poucos anos depois de ter sido admitido na Aula do Conhecimento do Ashram e de ter concluído com êxito certos estudos, um dia o Mestre nos comunicou que nos preparássemos, pois na próxima reunião alguns de nós - sete no total - em vez de ficarmos, como costumávamos fazer, na ampla sala onde nos transmitia ensinamento esotérico e treinamento espiritual, iríamos visitar uma Aula de Ensinamento na qual pela primeira vez poderíamos "alternar" diretamente com Anjos de evolução similar e superior à nossa. "Esta Escola - disse o Mestre - localiza-se no Plano Astral, em um nível superior ao vosso habitual. Por este motivo Eu irei convosco e, mesmo sem intervir diretamente no sistema de ensinamento que ali se transmite, já que desta vez ireis somente em Plano de observadores, peço-vos que permaneçais muito atentos. Não é necessário dizer- vos que seria preferível que vos mantivésseis em jejum durante todo o dia até o momento do descanso físico, para facilitar o vosso deslocamento astral".

No dia escolhido pelo Mestre nos reunimos na grande sala, os sete Irmãos que o Mestre havia convocado especialmente para aquela ocasião. Os demais membros prosseguiriam seu ritmo de ensinamento habitual a cargo do Irmão R., de iniciação superior e "lugar-tenente" do Mestre.

A Escola - que com justiça posso denominar humano-dévica, pois a ela assistem entidades pertencentes a ambos os Reinos - localiza-se em certo elevado nível do Plano Astral. Não ocupa um determinado lugar no tempo, porque o tempo é conceitual e, uma vez ultrapassado o limite das três dimensões físicas, o tempo tem uma medida muito distinta da conhecida ou habitual. Mas é realmente "um lugar" e ocupa determinada zona do Plano Astral. Chegar ali implica, porém, em certa técnica de deslocamento consciente na quarta dimensão e grandes conhecimentos esotéricos com respeito à quinta, pois o que realmente satisfaz a plenitude da alma é esta consciência pura de serena expectativa ou atenção profunda a tudo quanto sucede ou ocorre nestas dimensões do espaço; apesar dos grandes avanços técnicos e descobertas científicas, continuam sendo incógnitas ou segredos que a humanidade inteligente ainda está por descobrir.

Fomos "ali" acompanhados pelo Mestre. Nossa visita era esperada, pois uma Entidade angélica de gracioso porte e luminosa aura azul celeste veio nos receber e, inclinando-se reverentemente ante nosso Mestre, nos indicou um ponto daquele lugar ocupado pela Escola onde devíamos nos colocar. Procurando estar profundamente atentos, tal como o Mestre nos havia indicado, começamos a distinguir grande quantidade de figuras luminosas e, à medida que nos tornamos mais conscientes de nossas percepções, nos demos conta de que eram homens e anjos: os primeiros, logicamente, iniciados dos Ashrams da Grande Fraternidade; os Anjos, entidades celestes que, de acordo com sua hierarquia espiritual, vinham a esta Escola para consumar um determinado ciclo de ensinamento.

Estavam juntos formando círculos, matizados todos eles de fulgores de luz e brilhantes resplendores que indicavam os sentimentos de afeto, compreensão e harmonia.

Quando o Bodhisattva apareceu no centro do lugar, todos os grupos se dispersaram e automaticamente, sem prévia indicação, os Anjos e os Iniciados formaram dois círculos ao seu redor, o primeiro formado pelos Devas, o segundo pelos Iniciados dos Ashrams. Ao lado do Bodhisattva estavam os Mestres K.H. e D.K., que o assistiam nestas aulas especiais de treinamento esotérico. Assim como nosso Mestre, havia outros Mestres da Grande Fraternidade que acompanhavam grupos de discípulos para que assistissem àquele ato de supremo ensinamento, que vinha a ser tanto para os Devas como para os Iniciados o prelúdio ou a preparação para o acesso à Aula de Sabedoria de Shamballa. Devo fazer estas referências obrigatórias, pois as Escolas de Unificação Humano- Dévicas são realmente as portas que franqueiam a passagem para aquelas supremas Aulas de Ensinamento.

O Bodhisattva estava ali. Podíamos percebê-lo perfeitamente envolto em Sua aura de Luz e brilhando sobre Sua dourada cabeleira a estrela de cinco pontas que qualifica o Homem perfeito. O Mestre dos Mestres, dos Anjos e dos Homens oferecia uma perspectiva de Amor, de Paz e de Serenidade impossível de ser descrita. Falava a todos com Sua voz delicadamente musical, ainda que em um idioma totalmente desconhecido para mim. O Mestre nos disse mais tarde que utilizava a língua pali, porque era a língua com a qual foram escritos os primeiros livros sagrados, antes do sânscrito e do senzar, e tinha certos matizes fonéticos que se enquadravam perfeitamente no desenvolvimento daquele supremo ensinamento humano-dévico.

À medida que o Grande Senhor transmitia o ensinamento, tornava-se cada vez mais brilhante e luminosa a aura de ambos os grupos, e mais potente e dinâmico o impulso vital que nos invadia a todos. Em um dado momento, transcendente e atemporal, o Grande Senhor deixou de falar. Ficou certo tempo em silêncio. O clima do lugar era de uma tremenda expectação. Os éteres "retumbavam de tanto silêncio". Então ergueu a cabeça, inclinou-a para cima e pronunciou um potentíssimo e incompreensível Mantra. Ao concluir, os dois círculos formados pelos Devas e os Homens se confundiram em um só, em uma centelha de Paz, Amor e Harmonia realmente indescritível. Fundiram-se as auras dos Anjos e dos Homens. E, segundo nos disse o Mestre ao terminar aquele supremo Ato de Reconciliação humano-dévico, naqueles momentos a aura de ambos os Reinos se confundiam em uma só e os homens participavam da vida dos Anjos, tanto como os Anjos participavam da vida dos homens. Tal era a finalidade do ensinamento naquela Escola a que havíamos sido convidados, tão somente como observadores, à espera "serenamente expectante” do momento em que deveríamos assisti-la como membros ativos, conscientes e supremamente preparados.

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