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CONVERSAÇÕES ESOTÉRICAS


Capítulo VIII

OS RAIOS E O AUTOCONHECIMENTO

Inicio minha dissertação de hoje insistindo na necessidade que temos, como seres humanos imersos nas grandes necessidades da vida social, de estabelecer relações cada vez mais estreitas e conscientes com o nosso Eu transcendente, aquele que, segundo os ensinamentos das grandes religiões, filosofias e crenças espirituais de todos os tempos, é o nosso verdadeiro Ser, nosso Eu imortal, o centro de união com a Divindade, a Vida infinita que preenche, com Seu Amor indescritível, o coração sensível de todo o criado.

Evidentemente, de nada nos serviria um estudo mais ou menos profundo sobre os Raios, se nos limitássemos a uma mera informação intelectual dentro do Campo infinitamente vasto do conhecimento esotérico. Nessas conversações periódicas que temos mantido, interessa-nos descobrir, tão profundamente quanto nos seja possível, o Mistério de nossa vida espiritual e psicológica; conhecer, o mais amplamente que possamos, qual o nosso destino como seres humanos aqui na Terra e procurar resolver favoravelmente a interrogação tripla imanente à nossa vida espiritual: "Quem sou? De onde venho? Para onde vou?" São as três incógnitas terríveis que motivaram a famosa sentença dos grandes filósofos do passado: "Homem, conhece-te a ti mesmo”. De acordo com essa sentença, as perguntas que talvez surgirão em suas mentes serão estas: Como nos libertarmos dos impedimentos psicológicos que condicionam a nossa conduta? Como descobrir o grande segredo espiritual da nossa existência? A resposta a todas essas perguntas só pode ser uma: investigando! Pois, sem uma profunda e constante investigação, jamais chegaremos a descobrir a verdade transcendental que é a nossa vida espiritual.

Também poderíamos perguntar o que é investigar. Eu diria que é a grande capacidade de estarmos profundamente atentos, plenamente cônscios de tudo o que ocorre em nós mesmos e à nossa volta, usando, para isso, a desejável e incomum elasticidade ou flexibilidade mental que permita nos apercebermos de todas e cada uma das reações psicológicas do nosso ser ao condicionamento ambiental e, assim, avaliar corretamente nossas faculdades e possibilidades de ação para determinar, finalmente, o caminho mais conveniente a seguir. Depois dessa afirmação, pergunto-me se admitiriam como correta a ideia de que "esse caminho mais conveniente a seguir", oriundo da nossa profunda capacidade de investigação, é exatamente o Caminho indicado pelo nosso Raio espiritual, aquele que condiciona as nossas aspirações mais elevadas e tinge a nossa vida de elevados anseios de liberdade.

Certamente, sua objeção será a de que existe uma liberdade de escolha infinita de "caminhos a seguir" e que, devido a essa grande liberdade, totalmente incondicionável em si mesma, nos será extremamente fácil estabelecer caminhos e criar metas e destinos, mesmo que estes não estejam de acordo com o nosso Raio espiritual. Isso é uma verdade lógica e inquestionável e é devido precisamente à maneira rápida e não premeditada de estabelecermos caminhos internos que nos afastamos do nosso verdadeiro Raio espiritual e enchemos nossas vidas de tensões, conflitos e temores. É por esse motivo, para evitar esses inconvenientes, que se impõe como lógica a ideia dos Raios, já que seu conhecimento e estudo trará para as nossas vidas realidades psicológicas profundas e não vãos estímulos de ordem intelectual.

Sem dúvida, outra pergunta que assaltará suas mentes é qual seria, então, a orientação correta que deve canalizar todos os nossos esforços. Dir-lhes-ia que, em primeiro lugar, não se trata de fazer grandes esforços nem de submeter-se a disciplinas exaustivas como acontece quando se pratica determinados exercícios de Ioga ou alguma linha meditativa especial. Toda atividade individual deverá se circunscrever à faculdade da atenção, mantida com perseverança em todos os acontecimentos temporais produzidos constantemente e também naquelas fúlgidas faíscas espirituais que surgem da Vida interior. Talvez os senhores chamem essa atitude de "uma nova disciplina", mas eu prefiro chamá-la "a regra natural da vida", uma norma serena que está de acordo com a lei natural, já que a Vida, em sua infinita profundidade, é um resultado da Atenção suprema do Criador e de Sua inquebrantável Vontade de Ser e de Realizar. Sendo assim, a resposta psicológica do homem aos impactos tremendos e contínuos da Vida sobre o seu ser é viver atentamente, serenamente consciente de cada uma das oportunidades que esta Vida transcendente lhe apresenta em cada momento da existência quotidiana, de acordo com as impressões espirituais da nossa vida de Raio.

Temos conversado muito sobre os Raios e nos introduzimos, inclusive, no Mistério infinito de suas elevadas genealogias cósmicas. Agora, devemos ampliar esse conhecimento, procurando compreender o sentido psicológico que mais agudamente marca nossa existência e cuidar de dar uma direção nova e mais adequada às nossas energias, tanto no que se refere às nossas atitudes quotidianas quanto às nossas atividades psicológicas mais profundas. Esotericamente, uma das formulações mágicas mais úteis, apesar de sua aparente simplicidade e muito fácil de se por em prática, é esta que tenho o prazer de lhes transcrever: "Não Eu, Pai, mas Tu em Mim”. Se analisarem essa frase, verão que é composta por sete palavras, cada uma com seu próprio significado de Raio. Não é ao acaso que foram feitas ou reunidas pelos grandes Rishis do passado e reverentemente seguidas pelos verdadeiros conhecedores místicos de todas as religiões, mesmo que mudando a ordem das palavras segundo as necessidades da língua. Na realidade, essas palavras mágicas são a réplica humana do grande Mantra divino "Faça-se a Luz!", correspondente ao A.U.M., o som místico das grandes tradições orientais, como vimos na nossa conversação sobre o sentido universal da Magia, e de acordo com o significado esotérico de "Faça-se, Senhor, a Tua Vontade!", que é a resposta da Natureza à Vontade do Logos Criador.

A afirmação absoluta da fé na Divindade transcendente vinda do íntimo do eu psicológico e os esforços realizados a partir do centro desse eu, buscando as Fontes originais de sua procedência cósmica, é o que tecnicamente chamamos evolução. E daí, desse ponto, surgirá novamente uma dolorosa pergunta... O que se deve fazer, então, para encontrar o caminho dos impulsos transcendentais que nos liberarão das tendências, inquietudes e problemas a que o nosso eu imanente está sujeito? Como traçar o caminho da Luz, a luminosa "ponte do arco-íris", o Antakarana que há de unir as duas grandes margens que separam a existência material da vida espiritual transcendente?

A Senda de Raio

Só há uma nobre e determinada Senda Espiritual no suceder do nosso destino cármico, de acordo com nossas possibilidades humanas e com a hora cósmica que estamos vivendo. Como sempre e como síntese de uma cadeia infinita de muitos esforços exaustivos que balizaram a vida dos grandes discípulos de todos os tempos, encontra-se na extraordinária afirmação de Buda para todos os seres humanos ansiosos de redenção e liberação: "O homem perfeito vence sem lutar”. Então, por que lutar, se realmente queremos ser perfeitos, se aspiramos a liberação e queremos fundir nossa vida com a Vida do nosso Senhor de Raio?

Não obstante, deixar de lutar constitui a maior dificuldade humana que, desde o início dos tempos, viveu, cresceu e desenvolveu-se psicologicamente através de períodos incríveis de lutas e dificuldades. E é devido a essa infinita consequência de esforços, de lutas e de sacrifícios cristalizados em sua mente e em seu coração que se impõe uma nova era de distensão, de harmonia e de equilíbrio. O conhecimento dos Raios indubitavelmente nos dará um estímulo poderoso em nossas aspirações espirituais de liberação, mas essa liberação, que se realizará em cada ser humano por fusão de sua vida individual inerente à Vida imaculada de um Esplêndido e Transcendente Senhor de Raio, somente poderá se produzir quando deixarmos tudo que somos e todas as nossas conquistas humanas nos níveis físico, emocional e mental nas Mãos do Senhor de Raio que rege cada uma das nossas características psicológicas, ou melhor dizendo, quando vivermos extremamente atentos e expectantes ao vir-a-ser da nossa vida e deixar progressivamente que Ele nos tome em Suas Mãos e vá nos aproximando de Seu Coração por motivos místicos de semelhança... Como dissemos anteriormente, o Mantra é "Não Eu, Pai, mas Tu em Mim”. Pelo simples fato de vivermos profundamente atentos ao suceder dos acontecimentos e circunstâncias que configuram nosso destino, iremos nos tornando cada vez mais conscientes de que nossa vida, em sua totalidade, é um campo de expressão dos Raios e que nossa submissão serena, que não incorpora debilidade, mas o mais potente dinamismo, é a verdadeira Senda de Resolução e Cumprimento, assim como um fértil campo de serviço através das distintas qualidades ou matizes dos Raios.

Consubstancialmente com essa necessidade de Autoconhecimento e do desenvolvimento progressivo das grandes qualidades que adornam a vida humana por efeito de seus Raios condicionantes, veremos surgir, da profundeza de cada ser, uma ou outra das grandes linhas de aproximação espiritual, a ocultista e a mística, ou seja, a de tipo mental e a de características emocionais. A predominância particular de uma ou outra dessas duas tendências de Raio constitui o tipo psicológico do ser humano e, quando, em processos superiores de vida, ambas as linhas se harmonizam, equilibram e finalmente unificam, aparece uma nova individualidade humana na vida da sociedade, a do ser andrógino, que terá alcançado a síntese de seu poder criador porque sua mente e seu coração, plenamente integrados e harmonizados, alcançaram a inteligência perfeita, não contaminada por qualquer sintoma de separatividade humano.

Sendo assim, como acabamos de dizer, cada um de nós atua preferencialmente em algum de ambos os aspectos espirituais de Raio, o ocultista, ou mental, e o místico, ou emocional. Sem que nos esforcemos em evidenciá-las, essas tendências nos marcam e definem. Poderíamos dizer que "seu perfume nos delata como se delata a flor". Portanto, não se deve criar uma nova série de esforços que nos qualifique e distinga, já que essa contingência está previamente programada dentro do nosso ser e é o selo que marca ou distingue nossa personalidade psicológica e cada uma das nossas reações ao desafio dos acontecimentos. Então, o que pretendemos com o nosso estudo sobre os Raios? Simplesmente investigar, estar atentos, fazer o que faz a nossa Alma espiritual que, sabendo que essencialmente é eternidade, não desperdiça um só segundo de Sua vida. Esse constante e permanente investigar irá nos aproximando paulatinamente do Criador, através da linha luminosa indicada por nosso Senhor de Raio. Vale a pena vivermos atentos, plenamente conscientes das metas infinitas da Divindade com relação a nós.

Dos Sete Raios, cujas características ou qualidades estudamos na nossa última conversação, quatro pertencem à grande linha de aproximação mental: o Primeiro Raio da Vontade Dinâmica, o Terceiro Raio da Atividade Inteligente, o Quinto Raio da Ciência ou da Investigação Concreta e o Sétimo Raio da Realização, Cumprimento e Magia Organizada. Os outros três Raios correspondem à linha de aproximação emocional: o Segundo Raio do Amor Inclusivo, o Quarto Raio da Arte, Harmonia e Beleza e o Sexto Raio da Devoção Infinita a um Ideal.

Não obstante, considerados em seu conjunto, cada um dos Sete Raios é imprescindível e essencial para o pleno desenvolvimento da Vida no Universo. Cada um de nós, seja qual for o tipo particular de Raio, deve contribuir, portanto, com a adição particular e consciente de sua vida, para a evolução e perfeição desse Corpo Sétuplo de manifestação que é o nosso planeta Terra e, em uma esfera mais elevada, para a do Universo "onde nosso mundo vive, se move e tem seu ser".

É importante, pois, que nos demos conta, através das nossas reações psicológicas ante os constantes desafios da vida, se somos mentais ou emocionais para nos situarmos em consciência na Luz do nosso Raio espiritual. Devemos nos aprofundar também nos aspectos subsidiários desse Raio, que vêm administrados pelas tendências da nossa personalidade ou pelas capacidades ou predisposições demonstradas ativamente na vida de relações, que definitivamente é o que nos permite reconhecer as energias com que realizamos nossas evoluções particulares. Não esqueçamos o que temos aprendido em nossos estudos esotéricos, no sentido de que os Raios chamados subsidiários são, na realidade, Sub-raios do Raio espiritual ou Monádico que está diretamente ligado com um determinado Logos Planetário.

Estes são os Raios que influem na nossa vida, interna e externa:

a. um Raio Monádico, ou Divino, com que ainda não podemos estabelecer contato devido à nossa pequena e limitada evolução interna;
b. um Raio qualificador das tendências nobres da nossa vida espiritual, ou da Alma, que é o nosso verdadeiro ser, nosso verdadeiro Eu;
c. um Raio qualificador das nossas características mentais;
d. um Raio qualificador das nossas características emocionais;
e. um Raio determinante da expressão do nosso corpo físico;
f. um Raio coordenador, que trata de integrar os três Raios, da mente, do corpo emocional e do corpo físico, constituintes da nossa personalidade psicológica conhecida.

Os Raios e a Magia Libertadora

Trata-se, como verão, de um conjunto de Seis Raios que condicionam nossa vida como seres humanos dentro dos amplos confins do Quarto Reino da Natureza. Em gloriosas épocas futuras, quando uma série impressionante de Manvantaras tiverem cumprido sua obra no tempo e tivermos nos convertido em Deuses imortais, utilizaremos todos os Raios, já que seremos conscientes do Raio Divino que se manifesta através do Senhor do Universo no Plano Ádico.

Acabamos de entrar em um aspecto dos nossos estudos diretamente relacionado com a nossa vida psicológica e também com nossas possibilidades futuras de ação universal, quando a vida de Deus, ultrapassando os estreitos limites dos nossos pequenos sulcos humanos, nos permitir entrever as gloriosas etapas correspondentes à Vida dos Logos Planetários que, do ângulo da analogia, podem ser considerados como Entidades Psicológicas, assim como nós, ainda que em proporções e medidas que escapam completamente às mais elevadas concepções mentais. Também nos introduzimos no significado das qualidades dos Raios, considerando-os como fatores essenciais da nossa experiência pessoal, psicológica e espiritual, ou seja, os promotores do campo de evolução, e tendo presente, como nos foi ensinado em nossos estudos esotéricos, que a qualidade de um Raio mostra ao aspirante espiritual o caminho que deve seguir. Desse modo, o princípio e o fim, a Senda e a Meta, o Alfa e o Ômega de todas as coisas devem ser da mesma natureza e de idêntica substância e o que quer que façamos em nossa vida que tenha um caráter correto estará estreitamente vinculado às nossas verdadeiras tendências de Raio. Já não se trata, portanto, de averiguar de forma intelectual, detalhada e concreta a Fonte Cósmica da nossa linha de Raio, mas, sim, de nos deixar guiar serenamente por seus impulsos intuitivos, mediante uma grande elasticidade mental e equilíbrio emocional, desenvolvendo uma sensibilidade cada vez mais apurada. Assim compreenderemos definitivamente, já que começamos a nos mover em zonas cada vez mais profundas da realidade espiritual, que nos deixar moldar por nossa particularidade de Raio íntima é muito melhor que cuidar de objetivá-lo mentalmente com uma disciplina da nossa conduta. É a diferença que há entre o ser e o existir, entre o saber e o conhecer, entre a eterna sabedoria da Vida e os meros conhecimentos intelectuais.

Os Raios e a Senda Iniciática

Nosso estudo dos Raios poderá ter uma grande importância, não pelo prazer efêmero do conhecimento intelectual, mas pelo espírito de vivência ou de Síntese que seu estímulo desenvolverá em nós, já que nos permitirá criar consciente e deliberadamente a linha luminosa do Antakarana que deve nos levar progressivamente à Iniciação. Esotericamente, sabemos que o Antakarana que se estende da mente inferior ou concreta do investigador espiritual à sua mente superior tecnicamente é a "linha de Raio" que deve consumar a sua vida no oceano infinito da Liberação. Ocultamente, sabemos também que a Liberação é a consumação da nossa vida na Vida do nosso Senhor de Raio, ou seja, do Logos Planetário que, na evolução do Universo, é a expressão ou personificação daquele Raio.

Os senhores me perguntarão por que me refiro aqui à Iniciação. Estou simplesmente cuidando de seguir o traçado esotérico que a analogia nos indica e, de acordo com tudo que temos discutido ao longo das nossas conversações anteriores, sempre buscando seus paralelos lógicos. Procuro, como sempre, relacionar o princípio e o fim, a Senda e a Meta de acordo com o nosso estudo dos raios e também com tudo que tenha relação com o ser humano e com as aspirações internas que o qualificam e o colocam em um determinado degrau da incomensurável "Escada de Jacó", por onde as almas dos homens sobem e descem, buscando umas a experiência nos três mundos do esforço humano e outras, a perfeição ou Liberação do Ser. O realmente intolerável na vida psicológica da alma é "permanecer estacionária", comodamente dobrada nas sinuosidades da vida fácil e do prazer efêmero, pois isso a aparta inevitavelmente da linha segura do Raio imortal de nossa vida. Em nossa investigação esotérica da verdade, nossa mente e coração devem estar em um constante "movimento de translação", seguindo e perseguindo incansavelmente as atitudes mentais e os aspectos emocionais, para evitar o fenômeno da cristalização que paralisaria o fluir das nossas mais nobres determinações. Um dia, esse movimento deverá chegar a ser tão extraordinariamente rápido que causará a nossa impressão de um repouso total, de uma quietude perfeita. Essa é a atitude de "repouso sereno" ou "impassibilidade total" a que se refere precisamente o Senhor Buda, quando nos aconselha a "deixar de lutar", deixar de nos apegarmos ao fruto das nossas ações. Essa é evidentemente a Senda que todos devemos percorrer antes de sermos completamente "absorvidos" pelas poderosíssimas qualidades magnéticas do nosso Senhor de Raio. Poderíamos relacionar essas últimas palavras com o que dissemos em conversações anteriores acerca da Magia Criadora da Divindade através da existência psicológica do ser humano, devendo nos recordar, como bons investigadores esotéricos, que a verdadeira Magia só pode ser efetuada dentro da linha mística dos Raios que nos qualificam e dignificam e que a atitude inteligente, dentro de uma linha natural de Raio, mostra sempre uma orientação clara e definida para determinado campo de serviço criador. Pois podemos, por acaso, separar o descobrimento do Raio espiritual de nossa vida da visão do inevitável campo de serviço? Evidentemente não e, agora, vamos verificá-lo, considerando a tripla analogia Raio, Magia e Serviço que, em seu conjunto e plenamente identificados, constituem o grande Triângulo de Liberação.

RAIO MAGIA SERVIÇO
Vontade O Governo. A Política mundial. A Diplomacia.
Amor A Religião. A Educação Espiritual. O Sentimento de Altruísmo.
Inteligência A Filosofia. A Educação Mental. A Atividade Criadora em todos os campos sociais do mundo.
Beleza e
Harmonia
A Arte Criadora em todas as suas manifestações. O Sentido de Ética.
Ciência A Investigação Concreta O Sistema Científico aplicado em toda atividade mental.
Devoção O Cultivo dos Grandes Ideais e a Aspiração Superior.
Cumprimento A Realização de todas as ideias consideradas como corretas. A Aplicação da Magia da Ação para criar uma Nova Ordem Social. A Organização Perfeita das Formas.

O exame atento dessa relação tripla de Raio, Magia e Serviço dentro da expressão setenária da nossa vida poderá nos ajudar a compreender a natureza do Raio que, preferencialmente, controla as atividades superiores da nossa existência no destino cármico particular de serviço. Agora, a partir dessa tabulação, devemos observar muito profunda e desapaixonadamente nossas tendências psicológicas particulares e, conscientemente, determinar qual é o Raio que condiciona a nossa vida de maneira preponderante, para iniciar, assim, o ciclo fecundo de uma nova orientação individual e social.

Pergunta: Apenas como um simples dado de orientação nesse imenso tema dos Raios... O senhor conseguiu determinar em si a atividade de algum desses Raios que estamos considerando?

Resposta: Trata-se de uma pergunta muito pessoal que, talvez, pudesse responder afirmativamente, mas minhas afirmações jamais poderiam ser comprovadas pelo senhor, o que faz com que minhas respostas a respeito disso careçam de verdadeira importância. A mim, parece que o realmente interessante, de acordo com a ideia contida na pergunta, seria que cada qual investigasse individualmente os motivos essenciais que dirigem a sua vida, ou seja, a orientação de seus propósitos, de seus sonhos ou ideais, assim como o centro de confluência de todas as suas atitudes psicológicas e atividades práticas, para ir determinando progressivamente a singularidade dos Raios que mais intervêm nessas aplicações de suas dinâmicas particulares. Desse modo, assistiríamos à estruturação de uma nova série de motivações pessoais e ao nascimento de outro tipo de resoluções ao longo da existência que, atualmente, apesar dos nossos propósitos sinceros, somos incapazes de precisar ou detalhar. A linha efetiva de um Raio, a criação da verdadeira Senda de vida, só surge como resultado de uma série ininterrupta de observações atentas e profundas de tudo quanto nos rodeia, de todo acontecimento que se produza dentro e fora de nós mesmos e de nossas reações psicológicas a esse acúmulo incessante de circunstâncias. Como podem observar, tudo isso se movimenta dentro do quadro tradicional do que chamamos "contatos sociais", sendo a vida espiritual o estabelecimento consciente nesse mundo de relações de uma ancoragem perfeita das atividades superiores da alma ou Eu Superior, ou melhor, do que descrevemos anteriormente como "Senda Mística do Antakarana". A atenção com que essas conversações sobre os Raios vão sendo seguidas, o interesse crescente por seu estudo e a observação incansável dos fatos internos e externos que vão sendo contatados possibilitarão para cada um a criação da própria linha de Raio, a segurança da Meta e o Caminho que conduz a ela.

Pergunta: Segundo o senhor, Caminho e Cumprimento, Senda e Meta são consubstanciais e constituem o que chama "Linha de Raio". Assim sendo, de acordo com o que se deduz dos seus comentários, essa identidade de princípios e de fins em função da busca da liberação ou realização espiritual está diretamente relacionada com o que Krishnamurti define como "Realização da Vida" no indivíduo. O senhor acha que existe uma certa relação entre a Mensagem de Krishnamurti e o estudo dos Raios?

Resposta: Diria que toda mensagem espiritual deve estar forçosamente relacionada com a atividade dos Raios e não com o mero estudo dos mesmos, já que existe somente uma Verdade e uma só Vida no Universo. Na Natureza, tudo é um Canto do Criador e a resposta à vida dentro do coração individual determina o que poderíamos definir como "sutilidade de um canto". No meu entender, o Canto de Krishnamurti é extremamente sutil e escapa à penetração mental da maioria das pessoas que leem e estudam a Sua Mensagem. A maioria dos seus seguidores, surdos à sutilidade do Canto, tampam os ouvidos ao que constitui o Centro da Mensagem de Krishnamurti, ou seja, a profunda observação dos acontecimentos, o exame atento e incessante do que ocorre dentro e fora de si para, progressivamente, ir chegando ao que Ele define como "plenitude da experiência". As reações psicológicas aos acontecimentos são o material a ser utilizado para determinar o nosso grau de adaptação à vida, ou seja, o grau de experiência que podemos extrair dos acontecimentos. Sem que o diga e sequer o insinue, Krishnamurti está nos indicando o caminho que leva à compreensão do Raio espiritual da nossa vida. Senão, a que se refere quando fala do "cultivo da própria singularidade"? E o que é essa "própria singularidade" senão a descoberta da própria linha de Raio? Deveremos nos aprofundar muito ainda na Mensagem de Krishnamurti e compreender que é um enorme desafio à mente intelectualizada do nosso mundo, especialmente a nossa, dos ocidentais, que tratamos de descobrir tudo fundamentados em conhecimentos e informações objetivas, mas ausentes, na maioria das vezes, do interesse pelas coisas verdadeiramente espirituais. O estudo dos Raios deve ser seguido com interesse atento e constante, com mente aberta e coração livre. Só assim, e como frequentemente nos disse Krishnamurti, será possível descobrir a Verdade, a Verdade em si e a Verdade na Natureza, ou seja, a própria singularidade dentro de uma linha definida de Raio e a compreensão dos múltiplos Raios que, em seu conjunto, constituem a Humanidade, essa organização social de que o homem é uma humilde, ainda que muito importante, peça.

Pergunta: Sou um cético quanto a muitos aspectos da vida espiritual. Estou mais interessado no desenvolvimento da vida social. Num mundo como o atual, açoitado por tantos problemas e dificuldades humanas, deve-se pensar fundamentalmente em termos de sociedade humana, em vista do incrível desequilíbrio existente entre os vários níveis expressivos dessa sociedade. Por isso, pergunto-lhe se crê sinceramente que a redenção social pode ser alcançada através do estudo dos Raios.

Resposta: Até aqui, falei só e exclusivamente em termos de redenção individual por entender que, a menos que o indivíduo se libere de seus próprios condicionamentos, é utópico falar de redenção social. A humanidade é um conjunto de indivíduos cuidando, cada um a seu modo, de redimir seu conteúdo individual, afetado pelo processo qualificativo da história. Pelo passado, com suas tradições, herança cultural, código genético etc., pelo presente, com o eterno conflito entre o justo e o injusto, entre o que o senhor define como "desequilíbrio social" e os anseios supremos de liberdade, equidade e justiça e pelo temor ao futuro, cujas perspectivas não podem ser muito promissoras, vendo as dificuldades do presente. Evidentemente, urge a busca de uma solução e esta, como é natural, não pode vir condicionada pelo peso da tradição, pelo matiz específico de uma herança cultural insuficiente em todos os aspectos e por um enfoque social baseado unicamente no espírito de competência e nos anseios irresistíveis de poder individual. Essa solução deve fundamentar-se logicamente na compreensão de como viver como seres humanos psicologicamente organizados, de modo realmente social numa comunidade livre de tensões, de lutas e de antagonismos.

Necessariamente, impõe-se o descobrimento da própria singularidade individual, considerando-se que todo ser humano tende, por impulso próprio e natural e dentro de certas linhas de aproximação e de contato, à vida realmente social. Impõe-se, repito, o autoconhecimento como solução única ao enorme problema da vida humana, pois toda individualidade que não possua uma percepção clara de seus valores psicológicos e de suas capacidades de ação social será sempre um peso morto no processo altamente social da existência. Na verdade, pouco importa que a realidade dos Raios seja ou não aceita como um vínculo individual dentro da complexa ordem social da humanidade, o que interessa fundamentalmente é que todos os Indivíduos sintam-se interessados pela vida social ou pela comunidade de que fazem parte. E não se pode alcançar essa consciência social se não existe uma grande compreensão individual. Se houver esse profundo interesse, o autoconhecimento, o descobrimento da identidade espiritual própria e o cultivo da singularidade íntima, será definido um novo caminho, mais rápido e mais seguro, para o estabelecimento de um novo sistema social. Talvez não se fale, então, de Raios, de Planos, de Arcanjos nem de Adeptos, mas a atenção mantida no processo social em marcha e o profundo interesse em descobrir as causas verdadeiras do conflito social terão definido claramente na mente e no coração das pessoas aquela verdade, aquele caminho e aquela vida que é essencialmente a própria linha de Raio.

Pergunta: O senhor esclareceu muito a minha visão sobre os Sete Raios, cujo estudo considerava apenas como patrimônio exclusivo de certas almas selecionadas. Agora vejo que se trata de um estudo de elevado cumprimento espiritual e creio que seria muito interessante que o mesmo fosse ensinado nas escolas, constituindo uma das principais disciplinas para o desenvolvimento psicológico dos estudantes. Qual a sua opinião?

Resposta: Seguindo a pressão incontida dos tempos, irresistivelmente impelidos para adiante pelo enorme impulso gerado por essa Era cíclica que estamos vivendo, temas de elevado estudo espiritual, como a constituição setenária do Universo, a Hierarquia Espiritual Planetária ou os Sete Raios, deverão constituir logicamente disciplinas correntes em escolas superiores e universidades, usadas como temas necessários à formação psicológica dos estudantes. Ideias que, no passado, eram pouco menos que "segredos iniciáticos" irão se introduzindo lenta mas inexoravelmente na consciência do mais humilde aluno. Do mesmo modo, conhecimentos esotéricos do mais elevado acervo, como a Alquimia, a Astrologia, a Ioga e a Meditação Oculta entrarão na área definida da Educação moderna, marcando uma nova etapa e uma nova orientação para as mentes e os corações dos homens.

Pergunta: Qualquer pessoa, um ateu por exemplo, pode seguir o estudo dos Raios e chegar, através dele, à convicção de que existe uma realidade maior ou um Deus Criador da Natureza?

Resposta: A mera crença nessa realidade maior, nesse Deus Criador da Natureza, não nos fará melhores do que somos atualmente, sejamos crentes ou ateus. Veja a história religiosa da humanidade, com sua interminável sequela de ódios, perseguições e crueldades espantosas... E tudo isso em nome de um Deus que cada religião apresenta de uma maneira, ou seja, "à sua própria imagem e semelhança", ainda que sempre ausente de caridade, de amor e de compaixão. Nosso estudo dos Raios tende principalmente ao autoconhecimento, à compreensão clara e definitiva das características individuais íntimas e à orientação do nosso campo de serviço particular. Portanto, trata-se de um tratado de reorientação psicológica. De modo que, se um homem ama intensamente seus irmãos, é porque descobriu dentro de si as Fontes de Verdade que surgem do próprio Ser Espiritual, de seu Deus interno ou, se o senhor prefere, de seu íntimo e indescritível Senhor de Raio. Quando falamos de Deus, do Criador, da Vontade Divina etc., estamos dando nomes a algo que, evidentemente, desconhecemos, já que nossa maneira de ser e de nos comportarmos socialmente demonstra apenas egoísmos, esperanças e temores, ou seja, uma completa falta de confiança na Vida, na Verdade ou nesse Ser que invocamos tão constantemente sob o nome de Deus. Sendo assim, de que servem as crenças na Divindade se ainda existe tanto ódio no coração e tanto separatismo humano? Deve-se considerar o homem em si, sem particularidades estranhas, completamente à parte de suas crenças e motivações. Para esse homem genuinamente livre ou para esse outro que o senhor chama ateu, o estudo dos Raios poderia talvez lhes mostrar a maçaneta mágica da verdadeira fé, aquela fé que transporta montanhas e que tão distante se encontra das representações religiosas do mundo e de tantas e tantas contradições existentes... amparadas sob o nome de Deus.

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