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Alice Bailey - Diálogos com Estudantes da Escola Arcana


Sexta-feira, 29 de outubro de 1943

[Esta palestra continua com o comentário do Tibetano sobre uma frase da Regra Um: “A clara e fria luz resplandece e, sendo fria, no entanto o calor - evocado pelo amor grupal - permite uma cálida exteriorização energética ”, e em seguida passa para seu comentário sobre as duas frases seguintes.]

AAB: Esta tarde temos um ensinamento extremamente prático e, no entanto, é tão elevado que é difícil refletir sobre ele:

Antes de prosseguirmos com o estudo da última frase da Regra Um, gostaria de chamar a atenção de vocês sobre o fato de que o iniciado enfrentou duas provas principais, descritas simbolicamente como "o solo ardente" e a "luz clara e fria". Somente depois de ter saído vitorioso dessas provas, pode ele — ou o grupo, quando se trata de iniciação grupal - ir adiante e externamente para realizações mais amplas da consciência divina. Estas provas são aplicadas quando a alma toma o domínio sobre a personalidade e o fogo do amor divino destrói os amores e desejos da personalidade integrada. Os Raios e as Iniciações, pág. 38-39


AAB: E esse pensamento que subjaz por trás daquilo de que falam os místicos, que o Cristo expressou na noite escura da Alma quando disse: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” - somente um sentido de vazio, que é o resultado de passar pelo solo ardente e pela luz clara e fria: [continua lendo pág. 39]:

Dois fatores tendem a produzir isso: o lento progresso da consciência inata para obter maior controle e o firme desenvolvimento da "ardente aspiração", à qual se refere Patanjali. Esses dois fatores, quando postos em viva atividade, levam o discípulo ao centro do solo ardente que separa o Anjo da Presença do Morador no Umbral. O solo ardente se encontra no umbral de todo novo progresso até a conquista da terceira iniciação.


AAB: Isto é significativo porque não está de todo fora da nossa experiência. Estamos refletindo sobre algo de que todos nós sabemos alguma coisa, porque a nossa Alma se fixou na nossa personalidade e não temos os mesmos desejos que tínhamos antes. O que creio que verão emergir esta tarde é uma coisa para a qual temos que nos preparar. Trata-se da solidão do discípulo, porque quando avançam para o solo ardente deixam muito de vocês para trás, e à medida que avançam para a luz clara e fria, não veem, muito embora sejam vistos. Aqui estamos atuando como um grupo, ou nos esforçando para isso. Creio que temos que considerar este parágrafo não somente a partir da nossa própria experiência individual, mas também do ponto de vista da experiência grupal. Individualmente sabemos alguma coisa sobre o solo ardente e o isolamento temporal que ele traz, e algo sobre a luz clara e fria quando tivermos passado através do solo ardente e tivermos nos liberado do que ofuscava a visão. Mas o que significa quando, como grupo, entramos no solo ardente, na luz clara e fria e atravessamos o portal da iniciação? O Morador do Umbral é o discípulo no umbral da iniciação, e o Anjo da Presença é a total revelação da natureza da Alma.

E quanto ao grupo, o Morador do Umbral grupal e o Anjo da Presença grupal? O Morador grupal é o somatório de todas as falhas e fracassos dos membros do grupo. Temos que passar pelo solo ardente ou já passamos por ele? E tendo atravessado o solo ardente, estamos na luz clara e fria na qual vemos a visão, ou isso está mais à frente? Estou tremendamente impressionada com a oportunidade espiritual que este grupo tem pela frente, desde que possamos fazer o que for preciso e aguentemos o que tivermos que aguentar e permaneçamos inalteravelmente unidos - como Almas e como personalidades. Fico espantada com aqueles que abandonam simplesmente por feita de persistência.


RK: Não podemos estar unificados como grupo com êxito a menos que estejamos todos enfocados na mesma visão. 


AAB: O Tibetano diz, em algum lugar, que vamos da unidade para a desunidade e outra vez para a unidade. A pessoa pouco desenvolvida está unificada; a pessoa que fez contato com a Alma está unificada. E isto continua assim até se tomar uma condição definida e permanente. No entremeio há uma mudança de enfoque e desunidade. Em um grupo como este, se estivéssemos mais evoluídos do que estamos, poderíamos ter uma bela ocasião de trabalharmos juntos. Em um grupo comum haveria uma pessoa que liderasse o grupo, o qual estaria unificado por essa pessoa. Mas em um grupo como este, no qual todos estamos fazendo a nossa própria reflexão, a unidade estabelecida é um propósito definido. Estamos no ponto em que poderíamos avançar pelo solo ardente, para a luz clara e fria e para o portal da iniciação, ou estamos no ponto em que, dadas certas circunstâncias, poderíamos entrar em uma fase de desunidade. Ela não estaria baseada em alguma pessoa, mas no fato de cada um estar preocupado com seu solo ardente particular. Estaríamos preocupados com o que, como personalidades, vamos fazer ou não com o propósito grupal. No entanto, peço-lhes que saibam que não estou dizendo isto porque há sintomas disso.


RK: É surpreendente o que está acontecendo no mundo no sentido da unidade.


AAB: É precedida por um período de tremenda desunidade. As pessoas me perguntam como escapamos da desunidade, da qual muitas organizações sofreram. Estive relendo o trabalho dos estudantes do Quarto Grau - alguns ingressaram em 1923, 1926 - e ainda estão aqui tão doces e leais, enfocados em levar o propósito adiante. Talvez não haja risco de desunidade. Não sei. Não estou soando um alarme, mas é o que este parágrafo estabelece. Vi tantas coisas acontecerem nos grupos. Quanto mais nos aproximamos da nossa meta, maior é a força que temos que manejar, e o que é que ela vai fazer conosco? Vi tantas pessoas abandonarem porque não foram capazes de manejar a força que chega.


RK: Eu me lembro de algumas das cartas que li com você em relação ao novo livro [O Discipulado na Nova Era, Vol. 1] - pessoas encantadoras, mas que não puderam suportar a força.


AAB: Não há um só caso em que não pudessem se entender bem com as pessoas do grupo, exceto no caso de um homem, uma pessoa muito poderosa, que foi conduzido ao plano astral pela força com que entrou em contato, e ficou absorvido em fenômenos astrais. Embora o Tibetano o tenha advertido durante anos de que estava sendo ofuscado pelo espelhismo do plano astral, ele continuou. Houve também o caso de um homem em que a força o tornou vítima da inércia, e ele ficou tão travado que não conseguia fazer nada.


W: Não é necessariamente culpa própria se não se pode manejá-la, não é?


AAB: Eu acho que a palavra “culpa” não está correta. Significa uma debilidade da pessoa, ignorância. Vocês têm que lembrar que as pessoas no nosso ponto de desenvolvimento sabem muito e, se queremos, podemos usar o conhecimento que temos para superar o que a clara e fria luz nos revela de nós mesmos. A pessoa passa pelo solo ardente e ele queima algumas coisas nela que são indesejáveis, mas o que se queima é preciso ser substituído ou a pessoa estará em apuros. Não podemos alegar ignorância, pois seria contrafazer as nossas personalidades.


M. O que nos leva a fazer isso?


AAB: Antigos hábitos, velhos ritmos que ainda não superamos.


M: É isso que o Tibetano quer dizer com fogos da mente - é a nossa capacidade intelectual?


RK: Ele a contrapõe com o amor ardente.


AAB: Não creio que os fogos da mente tenham alguma coisa a ver com o solo ardente.


M: Os fogos da mente têm que ser aplacados antes que o fogo da vontade possa afluir.


FB: É o mesmo que matar o desejo. É preciso alcançar o controle da mente para que ela não nos governe. 


AAB: Não, não creio que seja a mesma coisa, porque quem passa do solo ardente para a clara e fria luz e pelo portal da iniciação é o Filho da Mente, o produto das duas mentes, abstrata e concreta.


M: O que é que deve ser aplacado?


AAB: Sei bastante bem o que é - estou aplacando o tempo todo - a mente concreta inferior que diz para fazer algo quando a Alma sabe que não deveria fazer aquilo. Creio que é kama-manas. O fogo se produz pelo que deve ser queimado e pelo que queima.


RK: Mente abstrata, mente concreta, a Alma, o Filho da Mente.


AAB: Está nos textos sobre o Antahkarana. [R&I, pág. 441-530]


P: A mim parece que é o fogo do intelecto que implica em orgulho. Todos esses diferentes fogos têm que ser mesclados no brilho constante da mente abstrata, que tem a qualidade de sabedoria e é isenta de orgulho. A pessoa pode estar ofuscada pelo espelhismo da curiosidade intelectual e não chegar a lugar nenhum. Creio que é esse aspecto da mente que tem que ser controlado.


JL: O Tibetano diz na página 261 de Fogo Cósmico que o princípio da mente é a única coisa que pode unir os quatro inferiores com os três superiores.


AAB: O princípio da mente é o Filho da Mente, a Alma. A Alma é o princípio da mente que fusionará os três superiores com os quatro inferiores. É o princípio do meio, inclusive no plano mental. Temos mente abstrata, mente inferior e Alma. Podemos deslocar a analogia de cima abaixo e fazer da mente o fator de conexão entre a Alma e o corpo.


RK: Eu achava que você estava se referindo a isso. O Tibetano fala de “conhecimento-sabedoria” como sinônimo de “força-energia”. A Ponte tem que ser construída pelo aspirante que está enfocado no plano mental porque ela é construída de substância mental, e é preciso usar os três graus da substância mental. Os três aspectos da mente - átomo mental permanente, o Filho da Mente ou Alma, e a unidade mental - todos estão envolvidos. Suponho que estamos trabalhando para a percepção da Alma em que a Alma esteja consciente em seu próprio plano, e que possamos fazer o trabalho em formação grupal. Quer me parecer que só posso estar consciente disso se eu reconhecer que é o ser maior no qual vivemos, nos movemos e temos o nosso ser. Implica em reconhecimento do grupo, e é esta entidade maior que nos fusiona.


AAB: Uma das nossas estudantes da Escola veio me ver ontem. É uma das quatro pessoas que formam o Comitê Federal de Pessoal em cada departamento do governo em todo o país. Abaixo deles há 55 pessoas situadas nas 18 maiores cidades que são responsáveis pelo trabalho. Atuam sobre três milhões de pessoas. Diz que ela e dois dos três homens que trabalham com ela anseiam por começar um grupo de meditação para dar sustentação ao trabalho. As 55 pessoas se reúnem uma vez por semana e, mediante a troca de ideias entre as pessoas que meditaram, esperam alcançar consciência da Alma, porque é essencial que cheguem a uma compreensão da Alma das pessoas, [continua lendo a página 39]

A "luz clara e fria" é a luz da razão pura, da infalível e intuitiva percepção, e devido à sua incessante, intensa e reveladora luz, constitui, por seus efeitos, uma prova maior. O iniciado descobre as profundezas do mal e, ao mesmo tempo, é instigado para a frente, pelos pináculos de um crescente sentido da divindade.


AAB: E preciso coragem para descobrir as profundezas do mal. Acho que as pessoas não vão enfrentar as profundezas do mal no mundo que as rodeia. Elas fogem dele. Mas é algo grandioso ter um crescente sentido da divindade. É frio demais viver sempre no topo da montanha; é preciso baixar para o vale. Creio que é o que a clara e fria luz obriga a fazer. [continua lendo, pág. 39-40]

A luz clara e fria revela duas coisas:

A onipresença de Deus em toda a natureza e, portanto, em toda a vida da personalidade do iniciado ou do grupo iniciado. Cai a venda dos olhos, produzindo - paradoxalmente - a "noite escura da alma" e um senso de solidão e desamparo. Isto levou (no caso do Cristo, por exemplo) ao terrível momento no Horto de Getsêmani e que culminou na Cruz, quando a vontade da alma-personalidade se chocou com a divina vontade da Mônada. A revelação que teve o iniciado de todos os tempos de ter sido separado da Realidade Central, e todas as implicações derivadas, se reproduz em quem procura permanecer como "unidade isolada", como Pantanjali denomina esta experiência.

A onipresença da divindade em todas as formas é vertida sobre a consciência do iniciado e o mistério de tempo, espaço e eletricidade, é revelado. O principal efeito desta revelação (antes da terceira iniciação) é levar o discípulo a compreender a "grande heresia da separatividade", quando se centraliza nele mesmo, ou seja, o indivíduo isolado e plenamente consciente - consciente de seu passado, e agora de seu raio e poder condicionante, enfocado em sua própria aspiração, embora ainda parte de toda a natureza.

Se este grupo realmente atuar da maneira correta, vamos descobrir que a nossa sabedoria unida, a nossa razão unida, é infinitamente maior do que a de um indivíduo. É por isso que o Mestre tem um Ashram, porque a ação combinada e unida de muitas mentes produz algo que o indivíduo não produziria. Este grupo, quando estiver realmente integrado e aceitar os problemas e os considerar a fundo na clara e fria luz, produzirá algo que nunca poderíamos ter produzido ou concebido sozinhos.

Imagino que o verdadeiro horror da noite escura da Alma seja o total senso de inutilidade. A pessoa está se confrontando diretamente com a grande revelação da divindade e então tem uma revelação de si mesma e de todos os males do mundo. Aqui está a divindade, aqui está o mal, e aqui estamos nós. Temos que enfrentar o mal. O que vamos fazer?


RJK. O Cristo disse, “E se eu for elevado, atrairei todos para mim”. Teve que se ancorar na totalidade.


AAB: [continua lendo a página 40]

A partir desse momento sabe que a divindade é tudo que há, o que aprende pela revelação da separatividade inerente à vida da forma, pelos processos da "noite escura da alma" e sua lição culminante sobre a significação do isolamento e do processo liberador que produz a fusão na unidade mediante a emissão do som, do clamor, da invocação, tal como foi simbolizado pelo clamor do Cristo na Cruz. Suas palavras exatas não nos foram transmitidas. Variam para cada raio, mas todas levam ao reconhecimento desta divina fusão, em que os véus separadores são "rasgados de cima abaixo" (como expressa O Novo Testamento).


AAB: Observemos que a rasgadura se produz de cima para baixo. A personalidade se rasga de baixo.


RK: É assim que a escuridão da Terra desaparece quando o sol nasce - de cima para baixo.


H: Em uma das Bíblias do mundo há dez imagens das escrituras do Budismo Zen sobre um pastor conduzindo um boi. Cada imagem é mais luminosa começando pela cabeça e terminando no rabo.


AAB: [continua lendo a página 40]

A onisciência do Todo divino chega também ao conhecimento do iniciado por intermédio de luz clara e fria, encerrando para sempre as fases da "experiência isolada", como às vezes é denominada ocultamente. Gostaria que compreendessem o que possivelmente poderia significar isto para as suas consciências atuais. Até hoje, o discípulo-iniciado atuou como uma dualidade e como fusão da energia da alma e da força da personalidade. Agora estas formas de vida lhe são reveladas, tal como essencialmente são, e ele sabe que - como agentes diretores e deuses transitórios - não mais o dominam. Ele está sendo gradualmente trasladado para outro aspecto divino, levando consigo tudo o que adquiriu ao longo das eras de estreita relação e identificação com o terceiro aspecto, a forma, e o segundo aspecto, a consciência.


AAB: Essa é a verdadeira crucificação.


M: É essa a destruição do corpo causal?


AAB: É mais profundo que isso. Mas ainda assim a destruição do corpo causal é efeito disso.


RK: O Filho de Deus se toma um adulto e toma seu lugar na companhia de deuses e abstrai tudo o que é pessoal.


AAB: Toma seu lugar à direita de Deus.


RK: Tornou-se um dos Filhos de Deus.


M: O Cristo queria dizer isso quando alguém falou com Ele, “Eis aí a sua mãe” e Ele respondeu, “Quem é minha mãe?”


RK: Há duas palavras que sugerem o que Ele quis dizer - que nos livramos das relações e obtemos identidade.


AAB: Relações e consciência são a mesma coisa. Suponho que foi isso que o Tibetano quis expor quando disse que depois da terceira iniciação o que nos distingue não é a consciência em absoluto; é algo diferente, e para isso não temos palavras.


M: Então realmente não existe consciência Monádica?


AAB: Usamos esta palavra porque não temos outra.


M: Quando o corpo causal é destruído então nos tomamos...


AAB: Não se fica parado; o processo continua.


JL: Por que o Tibetano se refere à força da personalidade e à energia da Alma?


AAB: Vocês estão falando em termos de forma. Aqui ele está tratando com consciência iniciática. Forma é força.


P: Quando a energia chega à matéria se converte em força.


RK: Entramos no átrio interno, a Tríade Superior.


AAB: É por isso que parece esvaziar, [continua lendo, pág. 40-41]

Embarga-lhe uma sensação de desamparo, abandono e solidão, à medida que se dá conta de que o controle que a forma e a alma exercem também deve desaparecer. Nisto reside a agonia produzida pelo isolamento e a insuportável sensação de solidão. No entanto, as verdades reveladas pela luz clara e fria não lhe dão outra alternativa. Deve abandonar tudo que o separa da Realidade Central; deve adquirir vida, "vida mais abundante". É esta a prova suprema durante o ciclo de vida da Mônada encarnada; "quando o próprio coração desta experiência penetra no coração do iniciado, então, através desse coração, se exterioriza em uma plena expressão de vida". O Antigo Comentário assim o expressa, e não posso lhes explicar esta ideia de outra maneira. A experiência sofrida não tem relação com a forma nem está vinculada com a consciência, nem tampouco com a sensibilidade psíquica superior. Consiste na identificação pura com o propósito divino, o que é factível, porque a vontade própria da personalidade e a vontade iluminada da alma foram abandonadas.


RK: Aqui há uma analogia muito simples. Quando você se formou na universidade estava cheio do que aprendeu ali. Depois sai e trabalha e lhe parece que não sabe nada. Tudo o que sabia parece ter se desvanecido e você tem que fazer seu próprio caminho em um mundo novo, e durante um tempo você se sente inútil e ineficiente.


AAB: Eu também acho que é assim, [continua lendo, pág. 41-43]

Por trás do grupo fica o Portal. Ante ele se abre o Caminho.

Observemos que este parágrafo inverte a ordem corrente. Até agora os livros ocultistas explicaram que o Portal da Iniciação se apresenta sempre à frente do iniciado. Ele passa de um portal para outro, para uma maior experiência e expansão de consciência. Mas, para a consciência iniciática, depois das duas primeiras iniciações, não é esta a realização. Trata-se da postura de uma antiga forma de simbolismo, com as implícitas limitações da verdade. Lembraria que a Hierarquia considera que a terceira iniciação é a primeira e principal e que as iniciações primeira e segunda são as iniciações no umbral. Para a maioria da humanidade, as duas primeiras iniciações serão, durante muito tempo, as principais experiências iniciáticas, o que não são na vida e na realização da alma iniciada. Depois das duas iniciações do umbral, a atitude do iniciado muda e ele vê possibilidades, fatores e revelações que até então eram totalmente inimagináveis e desconhecidos, até mesmo nos momentos mais elevados de consciência.

O portal da iniciação parece enorme ante a consciência do neófito. O Caminho superior é o fator determinante na vida do iniciado de terceiro grau. É a Transfiguração; uma nova glória é vertida através do iniciado transfigurado, que foi liberado de todo tipo de domínio, seja da personalidade ou da alma. Pela primeira vez, a meta do Caminho superior e a conquista do Nirvana (segundo a denominação dos orientais) surgem diante dele, e sabe que nenhuma forma nem complexo espiritual, como nenhuma atração da alma ou da forma, ou de ambas unidas, poderão impedir que chegue ao seu destino final.

Gostaria de me referir por um momento ao simbolismo do portal, quando o iniciado começa a captar o significado interno destas simples palavras. Durante muito tempo tomamos conhecimento dos ensinamentos transmitidos na luz clara e fria a respeito do portal e na ênfase de que ele se apresentava diante do aspirante, mas isso trabalhava com os aspectos inferiores do simbolismo, mesmo que os aspirantes não tenham se dado conta; a eles foi ensinada a realidade da luz na cabeça, que é a analogia na personalidade da luz clara e fria à qual me refiro. No próprio centro desta luz, como muitos aspirantes bem sabem, na teoria e efetivamente, por experiência intermitente, existe um centro ou ponto de cor azul índigo escuro - o azul da meia-noite. Observem o significado disto em vista do que disse sobre a "noite escura", a hora da meia-noite, a hora zero na vida da alma. Esse centro, na realidade, é uma abertura, uma porta que leva a algum lugar, uma rota de fuga, um local através do qual a alma aprisionada no corpo pode se evadir e passar para estados de consciência mais elevados, sem ser impedida pelas limitações da forma; também foi denominada "conduto ou canal para o som"; recebeu o nome de "trombeta através da qual pode passar o A.U.M. que escapa". A capacidade de usar esta porta ou canal é viabilizada pela prática do alinhamento; é esta a razão da ênfase sobre esse exercício no treinamento de aspirantes e discípulos.

Uma vez obtido o alinhamento, será compreendido (lembrando o simbolismo da cabeça, da luz e da abertura central) que durante a meditação acontece, em muitas ocasiões, o exposto:

"atrás do grupo fica o portal, e ante ele se abre o Caminho". É a correspondência inferior da experiência iniciática superior de que a nossa regra está tratando.


AAB: Parece-me interessante que com muita frequência, anos depois de ter instituído um ensinamento, seu significado é posteriormente revelado nas instruções do Tibetano. Na Escola instituímos um ensinamento sobre o alinhamento e agora vem o Tibetano e nos mostra que fizemos melhor do que pensávamos. É muito interessante porque o fizemos às cegas. Tive uma ideia de que um processo de alinhamento podia vincular a mente e as emoções e o corpo físico, e depois podia vinculá-los com a Alma, mas eu não podia nunca imaginar o que o Tibetano está dizendo aqui. [continua lendo na página 43-44]

Da mesma maneira, mas desta vez em relação à alma, torna-se a descobrir o Portal, seu uso e aparecimento, afinal, por trás do iniciado. Desta vez o portal deve ser encontrado no plano mental e não, como antes, no nível etérico. É viabilizado com a ajuda da alma e da mente inferior e pelo poder revelador da luz clara e fria da razão. Descoberto o Portal, diante do iniciado está "a revelação de uma terrível, mas bela, experiência". Ele descobre que desta vez não precisa estabelecer o alinhamento, mas que deve empreender um definido trabalho criador - a construção de uma ponte entre o portal que fica atrás e o portal que fica à frente. Implica na construção do que é tecnicamente denominado de antahkarana, a ponte de arco-íris. É construído pelo discípulo em treinamento com base na experiência passada; é ancorado no passado e firmemente assentado no aspecto mais elevado e corretamente orientado da personalidade. A medida que o discípulo trabalha de forma criadora, percebe uma ação recíproca por parte da Presença, a Mônada - unidade que permanece por trás do Portal. Descobre também que um vão da ponte (se posso usar esse termo) está sendo construído, ou vem avançando pelo outro lado do abismo que o separa da experiência na vida da Tríade Espiritual. A Tríade Espiritual é, essencialmente, para o iniciado, o que a tríplice personalidade é para o homem físico encarnado.

Pergunto-me se consegui lhes transmitir pelo menos uma ideia geral das possibilidades que o discípulo tem pela frente e se os encorajei a responder de maneira definida e consciente a essas possibilidades. Só posso lhes falar em termos de consciência, embora a vida da Tríade - que por sua vez leva à identificação com a Mônada, assim como a vida da personalidade leva oportunamente ao controle e expressão da alma - nada tenha a ver com consciência ou sensibilidade, tal como estas palavras são entendidas de maneira geral. Lembrem-se, porém, que em todos os meus ensinamentos sobre o desenvolvimento ocultista utilizei a palavra IDENTIFICAÇÃO, o único termo que pode transmitir de certo modo a total unidade alcançada por aqueles que desenvolveram o sentido de unidade e se negam a aceitar o isolamento; a separatividade desaparece inteiramente. A unidade isolada alcançada é a unidade com o Todo, com o Ser em sua totalidade (o que ainda não tem muito sentido para vocês).


M: Os textos sobre a construção do Antahkarana são muito parecidos com este.


AAB: Porque foram escritos pelo Tibetano.


RK: Tudo isso é válido com relação ao indivíduo. Mas aqui somos um grupo.


AAB: Em um grupo como este estamos construindo um Antahkarana que é um Antahkarana grupal; isso é uma coisa nova. O fato de fazer isso nos descentraliza.


RK: Não podemos nos descentralizar a menos que reconheçamos que é no grande ser que temos que estar integrados. Ele ou isso ou aquele está fazendo isso.


JL: Ele diz de um portal a outro portal?


AAB: Vocês continuam levando isto para um nível material. Vocês acham que os tecnicismos importam?

É apenas simbolismo; não há portal. Não há portal na minha cabeça, mas há um caminho.


M: “A clara e fria luz” me parece ser uma expressão maravilhosa.


AAB; O Tibetano chama de morte a entrada na clara e fria luz, porque pela morte desaparece o inferior e entramos na clara e fria luz. Está explicado como no momento da morte, quando a mente encarnada é liberada das muitas modificações do princípio pensante inferior, se converte em uma totalidade em si mesma sem quaisquer modificações. A pessoa está na clara e fria luz e é a clara e fria luz, e se os discípulos puderem se manter na consciência não modificada, eles se liberam do controle da forma. Se não puderem, eles voltam para a forma e começam novamente a construção do poder que os liberará. Tomemos o número oito. Eles começam no ponto mais elevado em que duas esferas se encontram e eles lidam com essa esfera até que volte novamente. O que o Tibetano está nos dando tem lugar na esfera superior. Oportunamente as duas esferas se fusionam e há somente uma - a clara e fria luz até o final.


H: A clara e fria luz é mencionada na Yoga Tibetana e em A Doutrina Secreta. É chamada de Doutrina da Clara Luz.


AAB: Sabem o que acho que realmente estamos fazendo neste grupo de trabalho, se o fazemos da maneira correta? O Tibetano fez uma ou duas coisas novas - por exemplo, dar o ensinamento sobre o Novo Grupo de Servidores do Mundo, o grupo intermediário entre a Hierarquia e a humanidade. O que ele está procurando fazer por meio deste grupo é ancorar na Terra o ensinamento um tanto novo sobre a Tríade Espiritual, na medida em que se expressa por meio da mente superior. Isso nunca foi feito antes no sentido em o que o Tibetano está procurando fazer, e se pudermos manter todo nosso pensamento em um nível mais elevado (uma forma intermediária de pensar pode interferir no resultado e romper o ritmo de pensamento que está descendo) conseguiremos alguma coisa. Quando se rompe a corrente no plano mental, isso estraga as coisas. Quero nos ver mantendo vivas as ideias abstratas e sem que a mente analítica interfira. Acredito que podemos ser capazes de fazer algo definido, aquilo que temos que fazer em formação grupal, ou do contrário não se poderá realizar em absoluto.


C: O maravilhosamente reconfortante é que, se avançarmos, do outro lado há uma atividade recíproca que une o canal.


AAB: É preciso lembrar que somos nós que estamos fazendo isso. Só pode ser feito se reagirmos ao real, que somos nós mesmos.


B: Poderia desenvolver a ideia de isolamento em relação ao grupo? A medida que avançamos, temos que considerar a ideia de estarmos isolados e separados.


AAB: É uma experiência inevitável até superarmos. Tal como eu a vejo atuar, vem em duas ou três formas diferentes. A pessoa se isola a si mesma. Eu posso me isolar de vocês por falta de algo, ou há o isolamento produzido por uma experiência mais completa que a dos grupos do seu meio ambiente. Neste livro que o Tibetano está preparando para nós, o anonimato das pessoas mencionadas é preservado por duas razões. Algumas estão tão à frente do estudante comum que por isso não deveriam ser divulgadas. Há também o isolamento que vem porque a pessoa está tão identificada com o todo que seu isolamento é um isolamento em tempo e espaço. Não é um isolamento real do ponto de vista da Mônada, mas sim é “a unidade isolada” de Patanjali que é alcançada pela mente depois de que a mente tiver sido deixada para trás.


N: Não se supõe que sejamos exclusivos. Podemos infundir inspiração em outros grupos e as sementes, em seu devido tempo, produzirão resultados. Estaremos isolados da atividade de tais grupos e, no entanto, o que verteremos nesses grupos frutificará.


RK: Sua expressão da semana passada me ajudou: Um automóvel está para o motorista como a personalidade integrada está para a Alma. É apenas um veículo.


AAB: Alguns dos indivíduos mais malignos do mundo são personalidades integradas.


P: O átomo é parte do todo; ao mesmo tempo, deve ser uma “unidade isolada” para o todo.


AAB: É uma diferença no nível de consciência. Não é a consciência do átomo, mas do todo.


P; Como o somatório de consciência das células do corpo.


AAB: Isso é material. As analogias podem chegar muito longe.


N: Li em algum lugar que os ditadores são discípulos rejeitados.


AAB: Um discípulo rejeitado teria que ser muito mau. Há uma lenda sobre o Demônio. Um grande Filho de Deus caminhava sobre a Terra, e quando Deus quis ajudar a humanidade Ele reuniu os Filhos de Deus e lhes pediu que ajudassem os seres humanos. O Demônio se adiantou e disse que ele amava tanto a Deus que estaria disposto a ser enviado à mais remota escuridão e que batalharia o seu caminho de volta se, fazendo isso, pudesse ajudar a humanidade. Então Deus o enviou para fazer mais luz. Hitler é de nível de discipulado. Hitler provavelmente perdeu a oportunidade de ser discípulo por todo o atual Manvantara. Em algum período distante poderá ter outra vez sua oportunidade e começar em um nível superior do que estamos atualmente. Não sei.

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