CIÊNCIA DA REDENÇÃO

"Quando lhe perguntarem como reter o ensinamento, responda-lhes: aplicando-o na vida" (Agni Ioga)

Esoterismo é a ciência da redenção. Através desta ciência e sua aplicação prática, aprendemos as regras e leis que regem os três mundos. O dicionário nos diz que a palavra "redenção" significa ação ou efeito de redimir, ou de resgatar. Todas as escrituras do mundo contêm a lenda dos "anjos caídos", e durante a Idade Média esta lenda foi impregnada com a ideia de "queda em desgraça", queda nas profundezas, queda em um estado de maldade, mas o verdadeiro significado esotérico é que os Filhos de Deus desceram na matéria e na forma com o fim de redimir a substância ou matéria e elevar todo o mundo criado para mais perto da divindade. Em A Doutrina Secreta esses "anjos caídos" são chamados Senhores do Sacrifício e do Amor, Senhores do Conhecimento e da Sabedoria, e diz que seu trabalho era redimir a forma, e através da influência do reino humano elevá-la aos céus.

Se estudarmos cuidadosamente as palavras "esoterismo é a ciência da redenção", encontraremos inúmeros exemplos de que a prática do esoterismo é realmente um processo de redenção consciente, e descobriremos o que deve ser redimido e quem é o redentor.

Do ponto de vista planetário, a humanidade - o quarto reino da natureza - é o salvador planetário dos três reinos subumanos; a função final do reino humano é implementar a Vontade de Deus a estes reinos a fim de realizar o Plano Divino, e elevar, liberar ou redimir as "vidas" que evoluem através das formas destes reinos. Este é um assunto vasto, cuja aplicação e profundidade estão muito além do nosso alcance. Ainda não estamos preparados para entendê-lo completamente, mas algo já se fez, por exemplo, a domesticação dos animais e o maravilhoso sistema de cultivo que hoje se aplica ao reino vegetal.

Depois, há a aplicação prática - muito bem apreendida e compreendida hoje - na vida redentora de todos os aspirantes, e, claro, de todos os discípulos. Nesta etapa do indivíduo comum - que leva uma vida decente, constantemente tentando redimir o que é de natureza nociva e egoísta, vivendo uma vida ideal honesta em constante conflito com a atração que exerce o mal ou a parte egoísta de sua natureza - o redentor que há nele não é reconhecido pelo que realmente é, podendo ser interpretado como padrões corretos estabelecidos por sua classe a respeito do que constitui uma vida decente.

O aspirante sincero é cada vez mais consciente do verdadeiro Redentor interior, o Eu Superior ou Alma, o Divino Homem interior, e começa a realizar o processo de redenção com inteligência e perseverança. Nas etapas iniciais predomina a ideia de fugir do eu inferior ao invés de redimi-lo a fim de desenvolver uma personalidade capaz de abranger o significado da divindade. Adquire gradualmente certo grau de contato e consciência da alma e deixa de oscilar entre a auto identificação com o "redentor" e o que deve ser redimido. Por experiência, adquire o conhecimento do efeito redentor que produz a energia aplicada da alma, e sua capacidade de mudar e transmutar o conteúdo da personalidade tríplice, tornando-se "um instrumento adequado para uso do Mestre", como afirma o Novo Testamento. As "vidas menores" que constituem as entidades da personalidade são assim redimidas, ficando liberadas para entrar em uma nova e radiante atividade, enquanto se submetem ao "Salvador ou Redentor" e se fundem com Ele - o Divino Indivíduo espiritual, o Anjo Solar, o Cristo em todas as formas.

Estes conceitos dão a todo ser vivo um verdadeiro significado e um senso de atividade útil. Somos todos parte de uma grande atividade redentora, que inclui não só a nossa própria redenção individual, mas também é parte construtiva de um grande esquema de redenção. Talvez isso possa ser resumido nas palavras expressas pelo Tibetano no livro Discipulado na Nova Era, T.I.

“O vórtice de força em que o discípulo está mergulhado (por direito de seu próprio esforço e da decisão de seu Mestre) dá-lhe o treinamento necessário no manejo das energias que são a substância de toda a criação, capacitando-o assim a contribuir para a criação do novo mundo. Há sempre um novo mundo em processo de formação; a tônica do trabalho de cada discípulo pode ser resumida nas palavras familiares: ‘Eis que faço novas todas as coisas.’”

Como pode ser notado, este é o trabalho redentor, e é preciso meditar ou refletir cuidadosamente sobre estas palavras. Este trabalho redentor não é um belo conceito idealista, mas envolve um trabalho árduo - o processo criativo que institui o novo mundo e a civilização espiritual que todos os homens anseiam fervorosamente.


Seria importante lembrar que "iniciação é, na realidade, um grande experimento com energia", que diz respeito às energias que compõem a personalidade, o equipamento da alma, assim como as energias que compõem o ambiente individual e grupal e o grande conjunto que constitui o processo criativo. Em um de seus escritos o Tibetano diz:

"A vida do estudante ocultista é vivida conscientemente no mundo das energias. Essas energias têm estado sempre presentes, pois o todo da existência em todos os reinos da natureza é energia manifestada, porém, os homens não têm consciência disso. Eles não têm consciência, por exemplo, de que quando sucumbem à irritação e se encontram dando vazão a ela aos berros ou em zangados pensamentos, eles estão tomando energia astral e usando-a. O uso desta energia leva-os facilmente a um nível de vida astral que não é adequada para eles; o uso continuado desta energia provoca aquilo que Mestre Morya chamou "hábitos de residência que põem em perigo o residente". É quando o aspirante reconhece que ele próprio é composto de unidades de energia - mantidas em coerente expressão por uma energia ainda mais forte, a da integração - que ele começa conscientemente a trabalhar num mundo de forças similarmente composto; ele, então, começa a usar energia de certa espécie, e seletivamente, dá os passos iniciais para tornar-se um verdadeiro ocultista. Este mundo de energia no qual ele vive, move-se e tem a sua existência, é o vivo e organizado veículo de manifestação do Logos planetário... A Hierarquia Espiritual do nosso planeta é um desses vórtices; a própria Humanidade é outro...”

Estas energias são principalmente de natureza criativa e de caráter redentor. Nosso trabalho, na verdade, é colaborar com o trabalho redentor da criação.

Por trás de tudo que vemos no mundo fenomênico das aparências e no mundo qualificador dos significados e atributos, encontra-se um propósito divino lentamente chegando à existência, através do processo evolutivo. Em Um Tratado sobre os Sete Raios T.I o Tibetano diz que "o trabalho esotérico consiste em extrair as latentes qualidades divinas ocultas; em converter o potencial em realidade e em expressar o que se encontra latente." Isto é simplesmente outra definição do trabalho redentor que o estudante esotérico deve praticar em si e em colaboração com os outros, no mundo dos seres humanos. No Volume II ele diz:

"As ideias de modelo e do condicionamento encerram definidas implicações ocultistas. O modelo é apenas tipo de energia que luta para emergir à expressão material, sendo literalmente a ideia divina, enquanto do ângulo do pensamento esotérico, o condicionamento refere-se à resposta inata e inerente da matéria, ou substância, ao modelo."

Modelo refere-se ao mundo das significações, enquanto condicionamento refere-se ao mundo dos significados, e neste sentido chegamos a dominar a Ciência da Redenção.

Há que se considerar três coisas: Em primeiro lugar, que todo o processo concerne às energias, seu manuseio e utilização. Segundo, estas energias são de natureza redentora, uma vez que tenhamos entendido o modelo divino e submetido as energias inferiores ao processo condicionante das energias superiores, redimindo assim as inferiores por meio das superiores. Em terceiro lugar, que este modelo, visto macro ou microcosmicamente, é um vasto sistema de relações. À medida que trabalhamos redentoramente, vamos de um relacionamento a outro, produzindo uma consciência ou percepção que se amplia constantemente até que "o todo redentor e criador" desperta em nós como a glória de Deus.

No transcurso do tempo, o processo redentor vai se tornando um hábito; nossa consciência alcança zonas mais vastas de redenção grupal e se torna parte desse grupo constantemente aumentando e que lhe foi confiada a tarefa e função de Salvador Grupal. O conceito de redentor e redimido se estende do indivíduo ao grupo. Este grupo visa libertar a humanidade da separatividade e substituir o egoísmo e a agressividade dos seres humanos, como indivíduos e nações, por aquilo que responde ao modelo ou ideia divina. Por fim, a impressão deste modelo divino sobre as energias com as quais trabalhamos produzirá a criação que todos os homens esperam.

Ao considerar os problemas que a humanidade enfrenta hoje, emerge imediatamente que o mal subjacente a todos eles é que os princípios divinos, que todos os homens admitem basicamente, não são relacionados na vida diária da raça humana. Reconhecemos a necessidade de estabelecer corretas relações humanas simplesmente porque somos afligidos pelas relações erradas que prevalecem em todos os setores da vida humana.

O problema que os grupos enfrentam é melhorar essas relações, não apenas substituir a antiga abordagem da vida, confusa e desastrosa, por pensamentos indefinidos e novas ideias visionárias e impraticáveis. Estamos interessados não só em nossa própria redenção, mas queremos contribuir no processo de melhoria que ocorre no mundo. Como pode ser melhorado esotericamente o relacionamento mundial, nacional, grupal ou individual? Se os pensamentos errôneos, as relações e as atividades egoístas e emocionais têm produzido estas condições (e sabemos, infelizmente, que assim é), então é lógico acreditar que, por meio de bons pensamentos, da sabedoria amorosa e da vontade para o bem, se estabelecerão corretas relações humanas.

Mas, confrontamos que isto não pode ser feito simultaneamente. A humanidade vai a passos lentos em seus processos evolutivos e, gradualmente, aprende a se ajustar ao pensamento do Novo Grupo de Servidores do Mundo. Precisamos encontrar maneiras simples para alcançar a redenção necessária, que deve ser de tal natureza que o homem comum possa entendê-la e compartilhá-la. É necessário ter uma visão clara, ouvir atentamente, estabelecer contato com intenção pura, dizer somente a verdade, gostar apenas do puro e manter a visão nítida em nossa consciência. Devemos distinguir entre o essencial e o supérfluo. Esta afirmação encerra um profundo significado oculto que contém a chave da vida espiritual e dos mistérios ocultos, e devemos utilizá-la como pedra de toque para solucionar qualquer problema e situação de natureza sensível e emocional (que constituem a maioria dos problemas agora de frente para a humanidade) e também toda reação ilusória da personalidade, e, em seguida, observar a luz que irá fluir de todos os lados. A eliminação do supérfluo melhorará as relações no mundo de hoje. Se continuarmos com perseverança na tarefa de discernir entre o essencial e o supérfluo, descobriremos que o nosso senso de proporção está sendo ajustado, não haverá tantos pensamentos errôneos para redimir e, gradualmente, os princípios divinos internos se transformarão em atividades externas. Esforcemo-nos por intensificar a nossa vida interior, trazendo alegria, poder e luz redentora, patrimônio do discípulo no caminho.

O que é considerado o mais importante é a busca redentora consciente, fator redentor ou salvador e por sua vez, usá-lo conscientemente. Este fator varia de acordo com cada indivíduo que percorre o caminho, mas como grupo significa que deve ser reconhecida a alma grupal, identificando-se com ela para espargir a sua energia viva e luminosa sobre o mundo em um grande ato de serviço redentor. A ideia de ser o salvador da humanidade (conforme os agentes hierárquicos de cada país e igreja) constitui o idealismo impulsionador do Novo Grupo de Servidores do Mundo. O trabalho redentor que realizamos em nós mesmos e no mundo, nos une a ele e pode extrair forças da fonte que este grupo personifica. O que redime, que logicamente há de ser magnético e radiante, atrai e eleva aquilo que será redimido, transmutando-o por meio da radiação. Deve ser lembrado que não só é necessária a energia redentora do amor, relativamente ao relacionamento com o grupo e este com a humanidade, mas também como indivíduos temos de gerir a nossa personalidade. A ideia de nos tornar os salvadores da nossa própria personalidade, ao invés de seus conquistadores, desperta em nós uma atitude totalmente diferente. Tendemos a acreditar que a alma e a personalidade são antagônicas; isso mudará quando, como alma, elevarmos e salvarmos a personalidade.

Lembremos que o nosso trabalho é duplo: a redenção do nosso próprio mecanismo, a personalidade tríplice, e, ao mesmo tempo a aplicação de todo o poder redentor que somos capazes, na tarefa de redimir o mundo. Portanto, esoterismo significa viver uma vida conforme as realidades subjetivas internas, o que só é possível quando o indivíduo está inteligentemente orientado para a realidade e mentalmente focado, sendo então de utilidade quando atuar nas realidades internas com capacidade e compreensão. Vimos que o esoterismo envolve a compreensão da relação entre forças e energias e o poder de utilizá-las para o uso criativo dessas forças com as quais fazemos contato. Somos os construtores da Nova Era, e a nova técnica é a redenção.

Como vimos, o campo do nosso esforço constitui o mundo das aparências, o mundo dos significados e o mundo das significações. O mundo das significações está além da maioria dos aspirantes, porque só é revelado quando é contatado a Tríade Espiritual. O Tibetano nos diz em "Um Tratado sobre os Sete Raios" T.I., que "o mundo dos significados é o que a humanidade tem o privilégio de revelar, e todos os verdadeiros estudantes esotéricos devem ser pioneiros neste campo."

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texto adaptado - JCB

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