O Esoterismo

Valores e Princípios
Treinamento e Definições
Ciência da Redenção

Seja sob formas exotéricas que surgem e alcançam o desenvolvimento, ou que mesmo desaparecem, seja sob os impulsos espirituais que produzem o tangível, encontra-se aquilo que está oculto ou é esotérico, a vida, a causa da existência. Portanto, os movimentos denominados esotéricos são os que se ocupam do subjetivo, da alma que mora nas formas, do aspecto vida como distinto do material e objetivo.

O verdadeiro esoterismo chega mesmo até às raízes ocultas do ser humano; concerne àquilo que denominamos o imortal e o eterno da humanidade. Ocupa-se do que causa o pensamento, a sensibilidade e a ação. Trata de expressar e colocar em primeiro plano da consciência esses constantes impulsos divinos que encontram a sua expressão na atividade e nas intensas mudanças que são características da natureza, incluindo o homem. É aquilo que se encontra por trás de todas as fórmulas religiosas, de toda investigação científica, de toda pressão econômica e de toda orientação fundamental que possa seguir o organismo social. Em termos do ser humano, o ocultismo ou esoterismo, concerne à alma, na medida em que ela se expressa por meio do mecanismo cerebral, emocional e físico. Trata desse aspecto do homem do qual ele sabe poucas coisas, mas que faz dele o que ele é. O verdadeiro esoterismo não é, como frequentemente se supõe, um profundo ensinamento com rituais cerimoniosos que se praticam sob o juramento de guardar segredo, mas que é um despertar espiritual interno que reconhece um despertar similar, ou espiritualidade potencial, nos demais seres humanos e na latente vida em todas as formas.

A Sabedoria Antiga é essa ciência que subjaz em todas as formas religiosas de apresentar a verdade. É o fundamento de todos os credos religiosos: chamem-se cristianismo, budismo ou maometismo, etc. É o ensinamento que subjaz nos distintos grupos existentes em todo o mundo.

Em toda religião e organização, não importa como são chamadas, os buscadores da verdade abrem caminho para o centro, por via mais apropriada ao seu tipo e temperamento. Na medida em que vão avançando, eliminam-se cada vez mais os detalhes e as coisas desnecessárias, nas quais se encontram todas as diferenças e gradativamente se aproximam entre si, enquanto descobrem as verdades e os princípios fundamentais. Finalmente encontram um fundo esotérico de verdades que é o mesmo em todas as religiões e credos, e chegam a compreender as palavras de São Paulo: "Há somente um Senhor, somente uma Fé, somente um Batismo, somente um Deus e Pai que está por cima de tudo, em tudo e em todos nós".

O fator essencial para a busca da verdade consiste na necessidade de possuir sentido comum. Em geral não se leva em conta a necessidade de empregar o sentido comum nos assuntos diários e na condução do lar e dos negócios, mas parece estranho utilizar essa qualidade no estudo dos ensinamentos ocultistas, entretanto é essencial, e onde nosso sentido comum é contrariado, devemos estar em guarda. Temos que compreender que a aspiração, as boas intenções e a devoção não são proteções suficientes. O motivo e o coração puros poderão nos proteger de muitos perigos, mas não poderão se opor aos resultados surgidos das ações irrefletidas ou de práticas perigosas. A pureza, a devoção, a aspiração e as boas intenções devem ser acompanhadas de um ponto de vista sensato, um bom sentido comum e da compreensão.

Queremos saber; estamos empenhados em encontrar a Cidade de Deus. Investigamos e buscamos por toda parte e não descansaremos até encontrar a resposta. Esse anelo ou impulso subjetivo afeta as pessoas de todas as classes e condições, e a resposta a este impulso é talvez tão grande como qualquer outra experimentada até agora na história do mundo.

Portanto, qual é a resposta do ocultismo e qual é o seu propósito? As definições foram dadas geralmente sobre coisas de importância secundária e frequentemente não essenciais, enquanto que o público, em geral, ficou com dúvidas a respeito do verdadeiro significado dos termos ocultismo, psiquismo e magia. Usualmente são associados a um simulacro de astrologia, de boa-venturança, de exercícios respiratórios e com toda classe de ideias particulares, em geral indesejáveis, que tanto prevalecem hoje entre nós e que são um perigo para o incauto e o ignorante.

O ocultismo, sem embargo, não é nem mais nem menos que a ciência daquilo que está oculto e velado, e a consideração e estudo do subjetivo. Concerne ao método de desenvolver a alma. Esoterismo é a forma ou técnica mediante a qual o homem chega a conhecer-se a si mesmo, como alma pensante e consciente e a compreender o mundo das forças onde tem que atuar e desenvolver-se. Num sentido mais amplo é considerar a alma do Próprio Deus, à medida que Ele cria e utiliza as formas dos reinos da natureza através dos quais essa alma há de se revelar. A chave do mistério da vida de Deus encontra-se no homem, estando presente em todo coração humano. Quando um homem conhece a sua alma, deu o primeiro passo para o conhecimento de Deus e abriu uma porta através da qual pode entrar em relação com a alma que todas as formas sub-humanas, humanas e super-humanas velam ou ocultam. Então chega a ser um ocultista.

Em cada um de nós existe um mecanismo que, quando se aperfeiçoa e utiliza este aperfeiçoamento, nos proporciona o instrumento necessário para investigar inteligentemente e levar a cabo sabiamente a busca da verdade que estamos considerando. Esse mecanismo existe, acha-se regido por certas leis e deve ser utilizado corretamente. Quando isto se realiza, o homem pode chegar à percepção direta da verdade e à infalível compreensão das coisas ocultas e esotéricas. Isto é parte da grande ciência da alma.

Qual deveria ser o nosso acesso pessoal ao centro de luz e conhecimento e à essa realidade subjetiva que desejamos aceitar como hipótese ativa, mas da qual ainda não temos um conhecimento direto? Primeiro, devemos aprender a discriminar entre princípios e personalidades; cultivar a capacidade de dirigir o curso da nossa vida, guiando-nos por essas linhas Mestras de vida, crença e conduta que são universais, inclusivas e fundamentais. Devemos ver todas as personalidades como simples instrumentos transitórios da Grande Lei, e considerar todo guia e instrutor servindo para cristalizar e expressar alguns aspectos da verdade, incorporando algum tipo de força para nos energizar, a fim de pensarmos com maior clareza e progredir. Recordemos que toda verdade que se infiltra dos planos de inspiração ao cérebro físico e deste à manifestação, é necessariamente limitada e está desfigurada devido a tal processo. Inevitavelmente adquire o colorido da personalidade de quem a expõe. Por conseguinte, tomemos de cada instrutor ou guia a luz que ele nos possa dar, seu estímulo e interpretação, e tratemos de assimilá-lo e utilizá-lo convertendo-nos, nós também, em instrutores para aqueles que esperam nossa ajuda. Mas não coloquemos nenhum instrutor no lugar de Deus, não obedeçamos a nenhum guia exceto a voz guiadora de nosso Deus interno; não nos apoiemos sobre nenhum homem, nem sequer a nada cegamente.

A primeira condição necessária é a inquebrantável crença em nossos próprios poderes e na Divindade dentro de nós mesmos. Possuímos essa crença? Sustentamos em nós o fato fundamental da nossa divindade essencial? Reconhecemo-nos a nós mesmos como filhos de Deus e estamos de acordo com o Cristo quando diz: "eis que está escrito: sois Deuses"? Estamos convencidos de que somos tão divinos como o Grande Mestre da Galileia, e de que podemos ser "uno com o Pai" como Ele foi e de como Ele orava para que assim fosse?

Antes de entrarmos no estudo da Sabedoria Antiga e antes de considerarmos a ciência do desenvolvimento da alma, é necessário que entendamos a realidade de nossa divindade. Não importa quão grande possa ser nossa adoração pelos grandes luminares ou instrutores da humanidade, devemos obedecer ao mandado do Cristo: "Sede perfeitos como vosso Pai que está nos céus é perfeito". Também nos disse que devemos nos separar de toda classe de superstição exotérica e convertermos em homens cultos e livres de todo risco de sermos escravizados por um homem ou uma ideia.

O que é superstição? Literalmente significa ser estático, permanecer quieto. Portanto, se nos achamos ligados a qualquer forma de pensamento, estamos encadeados e somos inflexíveis devido a uma apresentação doutrinária da verdade e, se aceitamos cegamente os ditames de qualquer mestre, somos, simplesmente, supersticiosos. Se queremos obter a verdade, devemos romper totalmente o controle de outras mentes, seja de um sacerdote, de um instrutor ou de um guia.

Aprendamos a ampliar nosso ponto de vista e a compreender que Deus tem Seus Agentes espalhados pelo mundo e que em todo grupo se encontram almas livres que estabeleceram contato com a sua divindade interna e vivem por essa luz. Da crença em nossa própria divindade surgirá a capacidade de nos mantermos como almas livres, emancipadas do controle de outras mentes. Assim chegaremos a formular nossas próprias conclusões e viveremos nossa vida desembaraçados dos ditames de outros seres humanos. Isso não trará como resultado a libertinagem, mas o controle exercido por Deus. Não nos converteremos em seres humanos peculiares mas nos faremos divinamente humanos e isto deverá a que teremos compreendido que "aquele que deseja adquirir o Sagrado Conhecimento deverá avivar a lâmpada de sua compreensão interna, e, então, com a ajuda dessa boa luz, empregará as suas ações como espanador e sacudirá toda impureza da superfície do fiel reflexo do seu Eu". Poderão observar que aqui temos a correta ação como resultado do correto controle mental e esse controle é o resultado da autodisciplina, a eliminação das impurezas do fiel reflexo do Eu Divino na vida diária.

A primeira coisa que o estudante dedicado deve aprender é que o treinamento esotérico tem de ser autoiniciado e autoaplicado. Nada pode nos dar esse treinamento porque consiste, essencialmente, em treinar-se para viver espiritualmente no mundo da matéria. Torna-se difícil nos treinar. É desnecessário dizer que existem certas regras básicas muito conhecidas que passaram pela prova dos séculos, mas devemos aplicá-las e obter as atitudes necessárias sós e sem ajuda. O treinamento esotérico consta de duas partes:

1 - A etapa em que a personalidade trata conscientemente de conhecer-se como alma e se converter gradativamente numa personalidade fundida com a alma. Por disciplina, meditação e serviço, põe a sua tríplice personalidade - ou veículos físico, emocional e mental - sob o controle da alma. A maioria dos estudantes se encontra nesta etapa. Gradativamente o foco de consciência se transfere da natureza emocional à mente. Então o estudante se transforma numa personalidade integrada, preparada para iniciar o processo de trasladar a sua consciência para um aspecto de si mesmo mais elevado, enfocando-se na alma.

2 - A etapa em que começa a viver a vida de compreensão amorosa e inclusiva. Conquistado isso em certa medida, o aspirante se faz consciente de uma meta ainda mais elevada e sua personalidade fundida com a alma procura alcançar a manifestação espiritual do seu aspecto divino mais elevado, a Mônada, o Espírito ou a Vida.

Esta manifestação denomina-se Tríada espiritual, cujos três aspectos são para a Mônada o que os três aspectos da personalidade são para a alma. Então começa a aprender qual é a natureza da vontade, a dominar o manejo das energias superiores. Na medida em que transcorre o tempo e durante a primeira etapa, tem de aprender a abandonar a atitude do aspirante comum e a anelante aspiração e aprender definitivamente a identificar-se com a alma, não aspiracionalmente, mas efetivamente, atuando nas primeiras etapas "como se" fosse essa alma.

Gradativamente esse foco de identificação chega a ser o da alma e isto é realizado pelo correto uso da mente. Mais tarde mudará o seu enfoque para o aspecto vida ou espírito.

"É difícil, para os estudantes esotéricos, se darem conta de que a ênfase das vindouras Escolas de Iluminação venha a ser sobre o aspecto vida, e não sobre o contato com a alma. A meta será a transferência e não a união. Os aspirantes e discípulos são em grande parte o resultado da velha ordem de ensino e são a floração dos processos aos quais a humanidade tem estado sujeita. Este é um vital período de transição... O problema do contato com a alma é algo que vocês podem alcançar - e alcançam, de fato, pelo menos teoricamente. O problema da transferência de vida do ponto mais alto da presente consecução para algum vago e místico foco espiritual não é tão fácil de compreender."

À medida que consideramos o treinamento esotérico, há de se compreender:

Primeiro, que somos filhos de Deus, cuja natureza é amor, sendo, portanto Almas, Filhos da Mente, unidades do segundo aspecto divino, que se encontram no Caminho de Retorno ao Pai, ou aspecto superior.

Segundo, que oportunamente devemos saber que somos divinos e temos que expressar o aspecto Espírito ou plena expressão da consciência de Deus.

Terceiro, que somos Criadores divinos, expressando a vontade de Deus, animados pelo amor e atuando como expressões, no plano físico, dos três aspectos divinos.

Quando iniciamos o treinamento esotérico progressivamente, devemos, por conseguinte, compreender que "o homem, na sua essência fundamental, é a tríada superior manifestando-se por intermédio de uma forma que evolui gradativamente, o corpo egoico ou causal, e utiliza a tríplice personalidade inferior como meio de contato com os três planos inferiores. Tudo isto tem por finalidade o desenvolvimento da autoconsciência perfeita. Acima da tríada está a Mônada ou o Pai no Céu".

É conveniente, no princípio do treinamento esotérico, tratar de entender estes pontos progressivos de enfoque e levar a nossa consciência a aspectos espirituais cada vez mais elevados. Devemos ver com clareza a natureza progressiva do Caminho de Acesso que conduz à expressão da divindade.

Aqui a alma treina a personalidade. A primeira etapa consiste em conseguir a impessoalidade no que concerne a nós.

"O treinamento esotérico é um assunto impessoal. Relaciona-se com o desenvolvimento da consciência da alma e a expansão desta consciência até incluir todas as formas de vida nas quais palpitam a vida e o amor de Deus".

Portanto, quando nos ocupamos de nós mesmos, de outras pessoas e do nosso ambiente e circunstâncias da vida, é essencial que nos treinemos para trabalhar sempre do ângulo da alma. Conseguiremos? Este é o PRIMEIRO PASSO NO TREINAMENTO ESOTÉRICO.

Ademais há de se recordar que "um iniciado não é o resultado do processo evolutivo, mas a causa do mesmo, por intermédio do qual aperfeiçoa o veículo de expressão (a tríplice personalidade), até haver-se iniciado nos três mundos da consciência (os três planos inferiores) e nos três mundos de identificação (os três níveis ou esferas de atividade da Tríade espiritual)".

Devemos todos estar estreitamente identificados com nossos três corpos inferiores a fim de que o treinamento esotérico envolva, necessariamente, uma constante mudança no ponto focal consciente ou de identificação. Deveríamos nos perguntar, onde atuamos geralmente? No nível emocional da consciência? Na mente? Temos consciência de que somos almas e que empregamos a personalidade como nosso agente? Devemos adquirir esses valiosos conhecimentos. A capacidade de responder corretamente é o SEGUNDO PASSO NO TREINAMENTO ESOTÉRICO.

O segundo fator que devemos ter presente é que o treinamento esotérico "ensina que a meditação sobre o bom, o belo e o verdadeiro, transmuta os instintos em qualidades divinas superiores".

Isto constitui um enunciado tão comum e familiar que parece insignificante. Entretanto é um aspecto vitalmente importante do treinamento, resumido no enunciado profundamente esotérico:

"Como um homem pensa em seu coração, assim ele é".

Um conceito valioso que devemos ter presente é: controlar o pensamento e dirigir cuidadosamente nossas atividades vitais, primeiro pela mente e depois pela alma, embora seja difícil. Nas primeiras etapas não é interessante nem inspirador e sim muito cansativo.

Certas linhas habituais de pensamento deverão ser eliminadas e outras cuidadosamente cultivadas. Por intermédio desse modo de pensar controlado e dirigido, clarificamos a nossa aura mental e a fazemos fiel receptora das realidades e dos valores espirituais. Este é o TERCEIRO PASSO NO TREINAMENTO ESOTÉRICO.

Referente a isto temos que: "o Mestre trata de descobrir até que ponto os grupos e indivíduos são sensíveis às instruções subjetivas". E que "somente os vínculos e o trabalho subjetivos determinam o êxito e devem basear-se nas relações egoicas e não nos apegos e predileções pessoais". A tarefa que o estudante esotérico tem pela frente consiste em viver sempre subjetivamente, mas atuar objetivamente como alma. Não é uma tarefa fácil.

Temos que pôr ênfase sobre a natureza redentora do trabalho da alma. Nossa tarefa é purificar, controlar e energizar nossos três corpos inferiores (mental, emocional e físico) de tal modo que cheguemos a redimi-los, de acordo com o Plano planetário de Deus. Este é o QUARTO PASSO NO TRENAMENTO ESOTÉRICO.

O tema da redenção caracteriza todo o trabalho esotérico. A redenção não é geralmente considerada uma ciência definida, mas, desenvolvida pelo experimento e a dedução, e está sujeita às leis da alma. Entretanto, estamos dedicados a realizar tal experimento científico, acumulando dados a respeito da natureza dos cânones internos que condicionam as aparências externas. Como esotéricos muito depende da nossa capacidade para construir tais cânones arquetípicos internos, por meio dos quais as energias de vida fazem impacto sobre a substância. Na realidade, redenção significa elevação da vibração ou qualidade da substância da qual estão feitas nossas formas.

No trabalho esotérico é a alma da entidade (individual ou grupal) que evoca a resposta da alma desse particular não-eu com o qual trabalham. Não manipulamos uma estrutura externa, mas lançamos luz - do nosso desejo consciente de compreender - sobre a estrutura daquilo com que estabelecemos uma relação. Desta maneira a sua qualidade é revelada e trazida à superfície.

Atualmente os grupos redentores do mundo estão tratando de dirigir muitos aspectos e qualidades para uma meta comum, de acordo com o propósito aceito. Aqueles que compõem estes grupos querem salvar e redimir a substância da qual estão feitas as suas próprias formas. É-nos dito que o objetivo da Hierarquia é "a redenção da substância sem princípio, sua restauração criadora e a sua integração espiritual".

Para propósitos práticos na vida do indivíduo, a aceitação da substância que compõe os seus veículos, restaura o aspecto qualidade a seu estado puro e permite a sua circulação dentro do "círculo não se passa" da entidade. A integração espiritual envolve o uso desta força circulante, de forma harmoniosa, a fim de canalizar a energia da vida para o plano físico.

A aceitação e o uso dependem da crescente resposta - resposta à qualidade e não à forma ou aparência. Depende da capacidade do redentor para "absorver" em sua consciência a dualidade essencial que atua em todas as partes. Pelo processo de absorção produz sucessivas fusões que conduzem à síntese final. O instrumento de redenção constitui a capacidade do homem para sentir, sintetizar e responder. O redentor é a entidade central vivente.

Há outro ponto que o estudante espiritual, dedicado à vida esotérica, deve entender. Um aspecto predominante do treinamento esotérico é o estabelecimento de retas relações humanas e, com o tempo, corretas relações com aquilo que existe eternamente.

Ao estudante não somente lhe concerne estabelecer retas relações com pessoas ou grupos, mas que sua tarefa é estabelecer, fundamentalmente, corretas relações com o mundo dos significados e o mundo de atividade externa. O estudante deve empreender inteligentemente este aspecto do importante trabalho redentor. Devemos fazer um maior esforço e pôr mais fogo espiritual no trabalho redentor, a fim de estabelecer a "irradiação da alma" para a humanidade.

Isto constitui um dos principais problemas que a Hierarquia enfrenta quando os Mestres tratam de treinar os homens para que se dediquem a servir. Este estabelecimento de retas relações humanas é treinamento esotérico, embora não seja lembrado. Resulta intensamente prático, mas muito difícil de realizar e é o QUINTO PASSO NO TREINAMENTO ESOTÉRICO.

A solução do problema das relações humanas está no esforço do indivíduo e do grupo, para adquirir, por meio da luz, o dom da compreensão. A astronomia nos mostra sempre novas técnicas, que indicam nossa crescente capacidade para desenvolver o grande dom da compreensão, pois os radiotelescópios, os satélites astronômicos, etc, poderiam ser denominados os símbolos terrenos do Olho de Deus. Se nossas mentes finitas pudessem entender parte do verdadeiro significado desse "olho da visão", desapareceria da nossa consciência os muros limitadores e aprisionadores erigidos pelo homem, como também os credos e ideologias impostos por ele. Os radiotelescópios e os satélites astronômicos estão pondo uma nova ênfase sobre a grande REALIDADE da Lei Universal. A astronomia nos mostra este quadro inspirador, a respeito do propósito e progresso individuais, para a aplicação da luz - luz enfocada, luz refletida, luz revelada. Assim os esotéricos aprendem que o amplo problema das relações humanas está vinculado à capacidade, de um grupo ou de um indivíduo, para obter um ponto focal dentro da luz da alma.

Todo treinamento esotérico não somente transmuta as faculdades inferiores em suas analogias superiores, mas conduz à aquisição de uma consciência mais ampla e definida das percepções superiores, seu registro e suas interpretações corretas. Em última análise, converte-se na capacidade de sentir (por meio da intuição e de uma sensibilidade espiritual desenvolvida) e de compreender algum aspecto do Plano Divino, a fim de chegar a ser um participante ativo nos assuntos mundiais. É-nos dito que:

"A Hierarquia está tratando de desenvolver no homem a qualidade da visão interna".

Esta não é a visão do místico, com a qual estamos tão familiarizados, mas a capacidade de compreender suficientemente o Plano Divino imediato para a humanidade, o qual capacitará o aspirante para prestar uma ajuda inteligente.

Temos que desenvolver duas faculdades na medida em que lutamos, pois não estão fora do alcance da atividade inteligente de qualquer discípulo verdadeiro. Uma é a crescente tendência para o pensamento ou impressão telepática, que em primeiro lugar será especialmente receptiva e logo se converterá em comunicativa.

"É essencial uma inter-relação de natureza telepática no plano mental. Isto foi sempre um fato ou condição estabelecida, seja no caso de um Mestre e Seu discípulo, entre os discípulos avançados e um Templo, ou em qualquer grupo de discípulos aceitos. Chegou o momento em que a qualidade grupal deve ser - a bem de um mundo necessitado - desenvolvida pelos discípulos menos avançados do grupo. Este desenvolvimento telepático não nos fará mais sensíveis que outras pessoas. Este é o segredo do trabalho de um Mestre e o fator que o permite trabalhar por intermédio de Seus discípulos, empregando-os como postos avançados da Sua Consciência. Para fazer isto com exatidão deve ser capaz de conhecer suas condições (mental, psíquica e física) quando quer sabê-lo. Desta maneira pode descobrir se estão dispostos ou não a realizar qualquer propósito específico, se podem ser empregados sem perigo e se sua sensibilidade é tal e sua interpretação do que pressentem é suficientemente exata para compreender inteligentemente a necessidade".

Logo deverá desenvolver-se o reconhecimento intuitivo da verdade e sua consequente formulação em conceitos mentais. Esta é uma das partes mais difíceis do treinamento que o estudante deve impor-se. Envolve a angústia que produz a crescente sensibilidade para com os demais, o reconhecimento e a compreensão dos problemas humanos e, portanto, uma sacrificada vida redentora. Este é o SEXTO PASSO NO TREINAMENTO ESOTÉRICO.

Enumeramos seis fases essenciais do treinamento esotérico, fundamentais em sua natureza, as quais devem ser forjadas no crisol do viver diário, que são:

1 - Treinarmos para viver e trabalhar como almas nos três mundos da evolução humana.

2 - Saber qual é o ponto exato de enfoque ou de identificação e aprender a transladá-los gradualmente para cima, na medida que a vida transcorre.

3 - Clarificar nossa aura mental pelo pensamento dirigido corretamente.

4 - Redimir o material, relacionado com a natureza da forma.

5 - Estabelecer corretas relações humanas.

6 - Desenvolver a sensibilidade telepática e a percepção intuitiva do aspecto interno da vida.

Trataremos de explicar duas coisas a respeito do esoterismo: definir, se pudermos, o que é esoterismo e dar uma ideia da vida que o aspirante esoterista deve intentar viver.

O estudo do esoterismo está baseado no descobrimento da índole e do propósito da tríplice natureza inferior, do divino homem interno, do mundo material e da divindade imanente em todas as formas. O caminho que o estudante esotérico tem de percorrer não é fácil. Exige coragem e perseverança que, talvez, ainda não possua. Por exemplo, necessita-se coragem para ser verdadeiramente impessoal e confiar na impessoalidade dos outros. Necessita-se coragem para progredir lentamente e vermos, a nós mesmos, e o nosso meio ambiente e circunstâncias tal como são.

Muitos de nós vemos demasiado longe e nos é difícil estar à altura da nossa visão, por isso tendemos a nos desanimar e nos tornarmos desinteressados. Mas a verdade é que simplesmente não vemos nem registramos as coisas tal como são na realidade. Às vezes nossa visão é maior que toda possível realização; exigimos de nós mesmos o impossível e o improvável.

Não é fácil contrapor ao costume de reagir emocional ou mentalmente, e é conveniente começar nossa viagem esotérica de investigação a partir de um verdadeiro ponto de vista, em vez de fazê-la a partir de um sonho idealista.

Antes de tudo devemos entender o fato de que o estudante esotérico atua simultaneamente em três grandes zonas da consciência e tem de saber diferenciar, paulatinamente, entre estes três mundos, tratando de viver nos três ao mesmo tempo, para que oportunamente desenvolva dentro de si mesmo os mecanismos necessários de contato. Estes três mundos são:

1 - O mundo material de existência mental, emocional e físico, o mundo dos símbolos. Todos conhecemos algo deste mundo, para o qual já desenvolvemos, até certo grau, o mecanismo necessário de contato. O mundo material ou das aparências é o resultado ou efeito de condições autoiniciadas e autoprovocadas.

2 - O mundo dos significados ou das causas, que sempre nos enfrenta, embora não o reconhecemos pelo que ele é. Temos que aprender a reconhecer o significado que está por trás dos acontecimentos e circunstâncias de nossa vida.

3 - O mundo das significações, esse mundo altamente intangível do qual o mundo dos significados indica a qualidade e o mundo das aparências, a materialização.

Ao considerar o significado de um termo tão importante como esoterismo, é boa prática consultar o melhor dicionário disponível para conhecer a sua etimologia. "Esoterismo" deriva do grego "esotericos", interior; de "eso", dentro. O culto, reservado. O contrário de exotérico. Diz-se da doutrina que os filósofos da antiguidade não comunicavam senão a certo número de seus discípulos.

Quando falamos do significado interno disto ou daquilo, tratamos realmente de determinar a natureza essencial ou a causa da aparência. Aquilo que designamos comumente como esotérico representa o mundo dos significados, posto que nos indica a natureza, qualidade e função, ou os atributos da aparência. Não é a forma, mas aquilo que a forma encobre e oculta.

Mas, o que há por trás disto? O fator significativo, o fator interno, o fator oculto, velado pela qualidade e pela aparência. Este é o fator originador, o princípio primordial, o que origina um organismo e se oculta dentro dele.

Deve ser recordado que a ciência esotérica concerne ao descobrimento daquilo que a aparência oculta, e inclui todas as formas de vida, desde o menor átomo da substância, até essa forma gigantesca que chamamos planeta ou sistema solar. Portanto, a fim de captar a verdade, com exatidão, a nota chave desta ciência abstrusa começa com o ditame de que todo verdadeiro ensinamento esotérico vai do universal para o particular.

Por que é assim? A primeira lição que todo estudante esotérico tem de aprender é que ele constitui uma parte, e somente uma ínfima parte, de um imenso Todo oniabarcante. Também tem de saber que as energias que o movem, ele e todos os fenômenos planetários, são energias naturais da VIDA UNA, em que vivemos nos movemos e temos o nosso ser. Aprende que uma atitude separatista é simplesmente uma ilusão.

Ao considerar o homem individual, é vital e útil estudar as energias que o condicionam e fazem dele o que ele é. O mesmo pode ser dito de um planeta, porque se supusermos corretamente que energias básicas condicionam igualmente nossa vida planetária, estamos na situação de poder brindar uma colaboração inteligente.

A esse respeito podemos considerar que a maioria dos estudantes esotéricos pode dizer que, na verdade, trata sinceramente de estabelecer uma relação com o impulso interno oculto, e provavelmente ignorado, de origem profundamente espiritual. Queremos que mantenha na sua consciência o conceito do que é fundamental, significativo e que dará uma finalidade à seus estudos.

Um organismo pode ser um átomo físico ou um átomo conhecido como um ser humano consciente. Também pode ser o de um sistema de um conceito religioso ou simplesmente de uma forma mental, ou pode ser o de um sistema de governo ou de uma campanha publicitária. Em todos os casos o fator esotérico é esse princípio significativo, ao redor do qual o organismo é erigido e do qual deriva a sua razão de ser. O estudo do esoterismo é, por conseguinte, a busca de significados e envolve a compreensão da constituição ou aparência externa e a dos atributos e qualidades que lhe dão significado.

O ensinamento fala detalhadamente de Vida-Qualidade-Aparência, empregando como sinônimos os termos Espírito-Alma-Corpo. Podemos também aplicar os termos Significação-Atributo, Significado-Aparência ou Forma-Natureza. Outros sinônimos são Propósito-Função-Atividade. Para ilustrar esta série de tríplices termos análogos, comparemos brevemente a psicologia ortodoxa com a psicologia esotérica. Na primeira, o psicólogo busca o significado de certo comportamento neurótico, limpando o conteúdo psíquico da pessoa. Procede assim porque os fatores que se encontram ali repercutem no seu comportamento. Investiga, no conteúdo psíquico, as circunstâncias que iniciaram esses fatores. Logo, trata de reeducar a pessoa, orientando-a para a realidade presente das circunstâncias.

O psicólogo esotérico, ao contrário, trata de descobrir a energia ou as qualidades, que são inerentes á pessoa e que tratam de expressar-se através dos veículos mental, emocional e físico. A análise das crises na vida de um paciente é uma técnica valiosa nas mãos de um psicólogo esotérico. As reações do comportamento da pessoa para cada crise indica-lhe rapidamente a qualidade ou tipo de energia que se manifesta através dos seus veículos.

Aqui podemos indicar que a maioria dos estudantes esotéricos está aprendendo a natureza do mundo das aparências e começam, em geral de forma muito lenta, a penetrar no mundo dos significados, do qual o mundo das aparências é a prova. Alguns, muito poucos, não vivem unicamente no mundo das aparências, mas também no mundo dos significados, enquanto que somente aqueles que são discípulos experimentados conseguiram a visão e percebem internamente o mundo da significação.

Queremos ressaltar isto e pedir-lhe que considere a sua posição neste mundo tríplice, porque todo o estudo esotérico futuro dependerá de que pensemos claramente sobre este ponto.

Queremos que compreenda, inicialmente, que existem três mundos nos quais devemos aprender a trabalhar e que, sob o correto treinamento e disciplina, um mundo constitui a porta aberta para o seguinte. A compreensão do mundo das aparências nos outorga o direito de entrar no mundo dos significados e este, quando é verdadeiramente compreendido e interpretado, nos revela o mundo das ideias. Esta é a primeira definição da natureza do esoterismo que você deverá captar.

Outra expressão do esoterismo que apresentamos à sua consideração é a seguinte:

"As descrições habituais da vida amorosa e do autossacrifício instintivo diário são esquecidas porque são muito familiares (não lhes damos importância) e, entretanto, constituem o a.b.c do esoterismo".

Isto parece muito trivial e comum e relativamente fácil de compreender. Mas, praticamos honesta, verdadeira e continuamente o "viver amorosamente"? Perguntamos de forma tão direta porque, na maioria dos casos, a gente crê simplesmente que faz todo o possível por ser amorosa e, logicamente, espera reciprocidade.

Isto não significa, de maneira alguma, "vida amorosa". Na realidade significa que por meio da correta orientação e um crescente sentido de responsabilidade somos canais para o amor de Deus. Conhece você o significado do autossacrifício instintivo? Se assim for, significa que o considera um processo natural, podendo-se confiar em que atuará corretamente do ângulo da Hierarquia. Estamos propensos a passar por alto o "a.b.c." essencial.

Se assim for compreendido, significa que foi compreendido de forma automática e altruísta, porque é um instinto natural.

Pode formular-se a pergunta: a "vida amorosa" é um fator da minha vida diária? Se você acha que este fator condiciona essencialmente a sua vida, alegre-se e agradeça-o. Se não for, pede-se que o considere cuidadosamente, procure compreender (algo que poucas pessoas fazem) que a vida altruísta e amorosa é um modo científico de alcançar a sua meta. O esforço para conseguir esta forma espiritual de viver faz com que a personalidade seja receptora das interpretações elevadas da Verdade, sendo estas as significações esotéricas da realidade expressada. Em geral isto é esquecido. Muitos estudantes depreciam a ênfase posta sobre como se há de viver uma vida esotérica simples, preferindo os tecnicismos ocultistas e as deslumbrantes informações sobre os princípios do homem, as rondas e as raças, os sete raios e toda classe de pequenos detalhes referentes aos Templos dos Mestres. Tais detalhes e informações não fazem o esotérico. Queremos que gravem isto em suas mentes.

Chegamos agora a outra definição:

"Devemos construir as bases para uma exumação esotérica, ou a revelação daquilo que se acha oculto".

Devemos encarar o fato de que existem em nós fatores ocultos, dos quais nada sabemos. Existem dentro de cada um de nós "o mal e o bem ocultos", ambos terão de surgir na superfície e devemos nos ocupar disto.

O esotérico deve fazê-lo consigo mesmo, e o faz principalmente porque parte do seu trabalho consiste em ocupar-se do que se acha oculto na humanidade como um todo e, mais tarde, do que está oculto no planeta.

O esotérico descobre dentro de si mesmo o que é indesejável para o seu progresso e ao mesmo tempo pode descobrir seu abundante acervo espiritual, mas, esquecemos e não utilizamos este acervo espiritual com o qual podemos contribuir para ajudar a humanidade. Estamos acostumados com doutrina cristã do pecado original ou da pecaminosidade inerente. Essa doutrina despreza, sistematicamente, a bondade originária, nossa divindade inata. Nem sempre estamos equivocados, nem sempre as nossas tendências são más. Por certo as tendências da maioria são predominantemente boas. Deveríamos nos basear nesse reconhecimento e tendermos para uma compreensão prática do que inatamente somos. Essa é uma frase importante do esoterismo prático.

Há um perigo fundamental nos discípulos ao não expressar no plano físico o que internamente já está desenvolvido. Em consequência produz-se um estancamento das fontes de inspiração. Quando tem lugar a exteriorização, o discípulo é fundamentalmente consciente do problema do bem e do mal e começa a analisar se está inspirado ou iludido. É-nos dito (e isto tem uma definida relação com a afirmação anterior) que "o reconhecimento dos fatos, espirituais e subjetivos, é parte do treinamento necessário de todos os discípulos".

Daremos outra definição da vida esotérica:

Esoterismo é a ciência da redenção. Por intermédio desta ciência e sua aplicação prática, aprendemos as regras e leis que regem os três mundos.

O dicionário nos diz que a palavra "redenção" é "ação ou efeito de redimir".

Todas as escrituras do mundo contém a legenda dos "anjos caídos". Durante a Idade Média esta legenda foi impregnada com a ideia de haver caído em desgraça, "a queda nas profundezas", a descida a um estado de maldade, mas o verdadeiro significado esotérico é que os Filhos de Deus desceram à matéria e à forma com o fim de redimir a substância ou matéria e elevar todo o mundo criado a um ponto mais próximo da divindade.

Em "A Doutrina Secreta" estes "anjos caídos" são chamados Senhores do Sacrifício e do Amor e Senhores do Conhecimento e da Sabedoria, e se diz que seu trabalho consiste em redimir a forma e, mediante a influência do reino humano, elevá-la aos céus.

Se estudarmos detidamente as palavras "esoterismo é a ciência da redenção", descobriremos incontáveis exemplos de que a prática do esoterismo é, com efeito, um processo de consciente redenção. Descobriremos o que deve ser redimido e o que é que efetua a redenção.

Do ponto de vista planetário, a humanidade, o quarto reino da natureza, constitui o salvador planetário dos três reinos sub-humano inferiores. A função fundamental do reino humano consiste em aplicar a VONTADE de Deus a tais reinos para levar a cabo o plano divino, e em elevar, liberar ou redimir as "vidas" que evoluem através das formas destes reinos.

Este é um tema muito vasto cujos detalhes e aplicação estão além do nosso alcance. Embora não estejamos preparados para compreendê-lo, entretanto há de fato um começo com a domesticação dos animais e com o maravilhoso trabalho de cultivo, aplicado hoje ao reino vegetal.

Temos também a aplicação prática - bem compreendida atualmente - da vida redentora de todos os aspirantes e, logicamente, de todos os discípulos.

O indivíduo comum que vive decentemente trata, constantemente, de redimir o que é prejudicial e egoísta na sua natureza, de viver uma vida ideal e honesta, lutando contra a atração que exerce o mal ou o aspecto egoísta da sua natureza. O redentor nele não é reconhecido nesta etapa pelo que ele é na realidade, mas que pode ser interpretado como as normas de vida aceitas pelos que o rodeiam, com respeito ao que constitui uma vida decente.

O aspirante sincero é cada vez mais consciente do verdadeiro Redentor interior, o Eu Superior ou Alma, o Divino Homem interior, e começa a realizar o processo de redenção com inteligência e perseverança. Nas etapas iniciais predomina a ideia de fugir do eu inferior ao invés de redimi-lo a fim de desenvolver uma personalidade capaz de abranger o significado da divindade. Adquire gradualmente certo grau de contato e consciência da alma e deixa de oscilar entre a autoidentificação com o "redentor" e o que deve ser redimido. Por experiência, adquire o conhecimento do efeito redentor que produz a energia aplicada da alma, e sua capacidade de mudar e transmutar o conteúdo da personalidade tríplice, tornando-se "um instrumento adequado para uso do Mestre", como afirma o Novo Testamento. As "vidas menores" que constituem as entidades da personalidade são assim redimidas, ficando liberadas para entrar em uma nova e radiante atividade, na medida em que se submetem ao "Salvador ou Redentor" e se fundem com Ele - o Divino Indivíduo espiritual, o Anjo Solar, o Cristo em todas as formas.

Estes conceitos dão a todo ser vivo um verdadeiro significado e um senso de atividade útil. Somos todos parte de uma grande atividade redentora, que inclui não só a nossa própria redenção individual, mas também é parte construtiva de um grande esquema de redenção. Talvez isso possa ser resumido nas palavras expressas pelo Tibetano no livro Discipulado na Nova Era, T.I.

“O vórtice de força em que o discípulo está mergulhado (por direito de seu próprio esforço e da decisão de seu Mestre) dá-lhe o treinamento necessário no manejo das energias que são a substância de toda a criação, capacitando-o assim a contribuir para a criação do novo mundo. Há sempre um novo mundo em processo de formação; a tônica do trabalho de cada discípulo pode ser resumida nas palavras familiares: ‘Eis que faço novas todas as coisas.’”

Como pode ser notado este é o trabalho redentor, e é preciso meditar ou refletir cuidadosamente sobre estas palavras. Este trabalho redentor não é um belo conceito idealista, mas envolve um trabalho árduo - o processo criativo que institui o novo mundo e a civilização espiritual que todos os homens anseiam fervorosamente.

Seria importante lembrar que "iniciação é, na realidade, um grande experimento com energia", que diz respeito às energias que compõem a personalidade, o equipamento da alma, assim como as energias que compõem o ambiente individual e grupal e o grande conjunto que constitui o processo criativo. Em um de seus escritos o Tibetano diz:

"A vida do estudante ocultista é vivida conscientemente no mundo das energias. Essas energias têm estado sempre presentes, pois o todo da existência em todos os reinos da natureza é energia manifestada, porém, os homens não têm consciência disso. Eles não têm consciência, por exemplo, de que quando sucumbem à irritação e se encontram dando vazão a ela aos berros ou em zangados pensamentos, eles estão tomando energia astral e usando-a. O uso desta energia leva-os facilmente a um nível de vida astral que não é adequada para eles; o uso continuado desta energia provoca aquilo que Mestre Morya chamou "hábitos de residência que põem em perigo o residente". É quando o aspirante reconhece que ele próprio é composto de unidades de energia - mantidas em coerente expressão por uma energia ainda mais forte, a da integração - que ele começa conscientemente a trabalhar num mundo de forças similarmente composto; ele, então, começa a usar energia de certa espécie, e seletivamente, dá os passos iniciais para tornar-se um verdadeiro ocultista. Este mundo de energia no qual ele vive, move-se e tem a sua existência, é o vivo e organizado veículo de manifestação do Logos planetário... A Hierarquia Espiritual do nosso planeta é um desses vórtices; a própria Humanidade é outro...”

Estas energias são principalmente de natureza criativa e de caráter redentor. Nosso trabalho, na verdade, é colaborar com o trabalho redentor da criação.

Por trás de tudo que vemos no mundo fenomênico das aparências e no mundo qualificador dos significados e atributos, encontra-se um propósito divino que está lentamente chegando à existência, através do processo evolutivo. Em Um Tratado sobre os Sete Raios T.I o Tibetano diz que "o trabalho esotérico consiste em extrair as latentes qualidades divinas ocultas; em converter o potencial em realidade e em expressar o que se encontra latente." Isto é simplesmente outra definição do trabalho redentor que o estudante esotérico deve praticar em si mesmo e em colaboração com os outros, no mundo dos seres humanos. No Volume II ele diz:

"As ideias de modelo e do condicionamento encerram definidas implicações ocultistas. O modelo é apenas tipo de energia que luta para emergir à expressão material, sendo literalmente a ideia divina, enquanto que do ângulo do pensamento esotérico, o condicionamento refere-se à resposta inata e inerente da matéria, ou substância, ao modelo."

Modelo refere-se ao mundo das significações, enquanto condicionamento refere-se ao mundo dos significados, e neste sentido chegamos a dominar a Ciência da Redenção.

Há que se considerar três coisas: Em primeiro lugar, que todo o processo concerne às energias, seu manuseio e utilização. Segundo, todas estas energias são de natureza redentora, uma vez que tenhamos entendido o modelo divino e submetido as energias inferiores ao processo condicionante das energias superiores, redimindo assim as inferiores por meio das superiores. Em terceiro lugar, que este modelo visto macro ou micro cosmicamente, é um vasto sistema de relações. À medida que trabalhamos de forma redentora, vamos de um relacionamento a outro, produzindo uma consciência ou percepção que se amplia constantemente até que "o todo redentor e criador" desperta em nós como a glória de Deus.

No transcurso do tempo, o processo redentor vai se tornando um hábito; nossa consciência alcança zonas mais vastas de redenção grupal e se torna parte desse grupo que está constantemente aumentando e que lhe foi confiada a tarefa e função de Salvador Grupal. O conceito de redentor e redimido se estende do indivíduo ao grupo. Este grupo tem como objetivo libertar a humanidade da separatividade e substituir o egoísmo e a agressividade dos seres humanos, como indivíduos e nações, por aquilo que responde ao modelo ou ideia divina. Por fim, a impressão deste modelo divino sobre as energias com as quais trabalhamos produzirá a nova criação que todos os homens esperam.

Ao considerar os problemas que a humanidade enfrenta hoje, emerge imediatamente que o mal subjacente a todos eles é o fato de que os princípios divinos, que todos os homens admitem basicamente, não têm sido relacionados na vida diária da raça humana. Reconhecemos a necessidade de estabelecer corretas relações humanas simplesmente porque somos afligidos pelas relações erradas que prevalecem em todos os setores da vida humana.

O problema que os grupos enfrentam é melhorar essas relações, não apenas substituir a antiga abordagem da vida, confusa e desastrosa por pensamentos indefinidos e novas ideias visionárias e impraticáveis. Estamos interessados não só em nossa própria redenção, mas queremos contribuir no processo de melhoria que ocorre no mundo. Como pode ser melhorado esotericamente o relacionamento mundial, nacional, grupal ou individual? Se os pensamentos errôneos, as relações e as atividades egoístas e emocionais têm produzido estas condições (e sabemos, infelizmente, que assim é), então é lógico acreditar que, por meio de bons pensamentos, da sabedoria amorosa e da vontade para o bem, se estabelecerão corretas relações humanas.

Mas, confrontamos o fato de que isto não pode ser feito simultaneamente. A humanidade vai a passos lentos em seus processos evolutivos e, gradualmente, aprende a se ajustar ao pensamento do Novo Grupo de Servidores do Mundo. Precisamos encontrar maneiras simples para alcançar a redenção necessária e que deve ser de tal natureza que o homem comum possa entendê-la e compartilhá-la. É necessário ter uma visão clara, ouvir atentamente, estabelecer contato com intenção pura, dizer somente a verdade, gostar apenas do puro e manter a visão nítida em nossa consciência. Devemos distinguir entre o essencial e o supérfluo. Esta afirmação encerra um profundo significado oculto que contém a chave da vida espiritual e dos mistérios ocultos, e devemos utilizá-la como pedra de toque para solucionar qualquer problema e situação de natureza sensível e emocional (que constituem a maioria dos problemas agora de frente para a humanidade) e também toda reação ilusória da personalidade, e, em seguida, observar a luz que irá fluir de todos os lados. A eliminação do supérfluo melhorará as relações no mundo de hoje. Se continuarmos com perseverança na tarefa de discernir entre o essencial e o supérfluo, descobriremos que o nosso senso de proporção está sendo ajustado, não haverá tantos pensamentos errôneos para redimir e, gradualmente, os princípios divinos internos se transformarão em atividades externas. Esforcemo-nos por intensificar a nossa vida interior, trazendo alegria, poder e luz redentora, patrimônio do discípulo que se encontra no caminho.

O que é considerado o mais importante é a busca redentora consciente, fator redentor ou salvador e por sua vez, usá-lo conscientemente. Este fator varia de acordo com cada indivíduo que percorre o caminho, mas como grupo significa que deve ser reconhecida a alma grupal, identificando-se com ela para espargir a sua energia viva e luminosa sobre o mundo em um grande ato de serviço redentor. A ideia de ser o salvador da humanidade (de acordo com os agentes hierárquicos de cada país e igreja) constitui o idealismo impulsionador do Novo Grupo de Servidores do Mundo. O trabalho redentor que realizamos em nós mesmos e no mundo, nos une a ele e pode extrair forças da fonte que este grupo personifica. O que redime, que logicamente há de ser magnético e radiante, atrai e eleva aquilo que será redimido, transmutando-o por meio da radiação. Deve ser lembrado que não só é necessária a energia redentora do amor, relativamente ao relacionamento com o grupo e este com a humanidade, mas também como indivíduos temos de gerir a nossa personalidade. A ideia de nos tornar os salvadores da nossa própria personalidade, ao invés de seus conquistadores, desperta em nós uma atitude totalmente diferente. Tendemos a acreditar que a alma e a personalidade são antagônicas; isso vai mudar quando, como alma, elevarmos e salvarmos a personalidade.

Lembremos que o nosso trabalho é duplo: a redenção do nosso próprio mecanismo, a personalidade tríplice, e ao mesmo tempo a aplicação de todo o poder redentor que somos capazes, na tarefa de redimir o mundo. Portanto, esoterismo significa viver uma vida de acordo com as realidades subjetivas internas, o que só é possível quando o indivíduo está inteligentemente orientado para a realidade e mentalmente focado, sendo então de utilidade quando puder atuar nas realidades internas com capacidade e compreensão. Vimos que o esoterismo envolve a compreensão da relação entre forças e energias e o poder de utilizá-las para o uso criativo dessas forças com as quais fazemos contato. Somos os construtores da Nova Era, e a nova técnica é a redenção.

Como vimos, o campo do nosso esforço constitui o mundo das aparências, o mundo dos significados e o mundo das significações. O mundo das significações está além da maioria dos aspirantes, porque só é revelado quando é feito contato com a Tríade Espiritual. O Tibetano nos diz em "Um Tratado sobre os Sete Raios" T.I., que "o mundo dos significados é o que a humanidade tem o privilégio de revelar, e todos os verdadeiros estudantes esotéricos devem ser pioneiros neste campo."

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