Destruição Construtiva
(Do que limita a expressão da Vida Una)

Jean-Pierre Heudier

INTRODUÇÃO

A vida, como humanidade no tempo e no espaço, busca a autoexpressão. Não há autoexpressão sem veículos feitos da substância do plano no qual a Vida busca a autoexpressão. A princípio, a vida se identifica com esses veículos de expressão. Até que sejam dominados e se tornem instrumentos úteis, cada um deles tem o potencial de se tornar uma prisão para a vida interior.

Como sabemos, a evolução é planejada e guiada de cima, de trás e de dentro. Essa orientação envolve objetivos e técnicas para libertar a Vida interior dessas limitações. Várias listas de liberdades tem sido inspiradas, como as quatro liberdades que fazem parte da Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas. Como estudantes da Sabedoria Antiga, também conhecemos as três invocações.

1. Conduza-me do irreal ao real é uma invocação para a destruição construtiva do que é irreal, como a crença na separação da Fonte Única da Vida.

2. Conduza-me da obscuridade à Luz é uma invocação para a destruição da ignorância, pois a revelação da verdade nos liberta.

3. Conduza-me da morte à imortalidade é uma invocação para a libertação do medo da morte causada por falsa identificação com aquilo que está sujeito à morte.

Menos familiar para a maioria das pessoas são as liberdades listadas no Livro de Urântia, que estudei nos últimos 49 anos. Os autores desse livro se apresentam como uma "Comissão Reveladora". Eles listam sete liberdades:

1. Liberdade dos grilhões materiais.

2. Da escravidão intelectual; (a crenças, ideologias, etc.)

3. Da cegueira espiritual ao fato de sermos seres essencialmente espirituais, cegueira à Paternidade de Deus e à Irmandade do Homem

4. Da incompletude do eu.

5. Do eu, libertação das limitações da autoconsciência.

6. Dos grilhões do tempo.

7. Do finito, a unidade aperfeiçoada com a Deidade.

Essas listas nos dão uma ideia das LIMITAÇÕES que precisam ser progressivamente destruídas. Hoje, dados os grilhões do tempo cronológico, focalizarei apenas a liberdade do medo da morte e as dúvidas de uma vida após a morte. O medo da morte pode ser causado pelo apego à forma e pelo medo do desconhecido em seus aspectos mais brandos; medo de punição ou aniquilação em seus aspectos mais graves.

Por que essa escolha? Porque daqui a uma semana, após um intervalo de dez anos, estarei novamente entre meus parentes franceses. Como eu, eles foram educados por discípulos da Era da Iluminação, aquelas almas corajosas que lutaram para libertar a humanidade de centenas de superstições armadas à luz da razão e do conhecimento científico. O que libertou muitos de crenças erradas tornou-se um potencial cativeiro intelectual; faz com que muitos recusem a perspectiva espiritual de uma vida após a morte. Para eles, parece "bonito demais para ser verdade", "simplista demais".

A pergunta é: como a Hierarquia, guiada a partir do Centro, onde o propósito de Deus é conhecido, destrói construtivamente formas-pensamento obsoletas em torno do fenômeno da morte? Acredito que a Hierarquia aproveita certas janelas favoráveis do tempo para impressionar algumas verdades essenciais adaptadas a um tempo, lugar e cultura específicos. Houve muitas janelas desse tipo. Vou diminuir meu escopo para sete janelas. Estou ciente de que minha escolha de janelas reflete minha própria perspectiva.

Primeira Janela: Cristo

Minha primeira janela, o aparecimento de Cristo, teve o potencial de uma mudança radical. Ele procurou impressionar uma verdade importante sobre todos os que o ouviam: “Vocês são filhos e filhas de Deus. Deus é imortal. Se você tem fé de que vem de Deus, então percebe profundamente que também é imortal.” Ele também lhes disse que esse Deus imortal, o Pai deles, vivia dentro deles. Finalmente, um evento começaria a apagar o medo da morte: ele se mostrou e conversou com muitos de seus seguidores após sua ressurreição do túmulo da matéria.

Sim, sabemos que isso não convenceu muitos; mas devemos lembrar que comparativamente poucos o viram realmente depois de sua ressurreição. Não havia Internet ou mídia social para espalhar as boas notícias. No entanto, ajudou o crescimento de uma semente que havia sido plantada muitas gerações antes.

Segunda Janela: A Igreja SUD

Minha segunda janela se abre durante o que foi chamado de Segundo Grande Despertar, que varreu a Europa e os EUA no início do século XIX. Esse grande reavivamento religioso deu à luz, entre outras coisas, uma Igreja com a qual eu estou muito familiarizada: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como Igreja Mórmon. Nas últimas cinco ou seis décadas, tem sido uma das igrejas cristãs que mais cresce na América do Norte e do Sul. Estou bem ciente de suas fraquezas, mas também estou ciente do fato de que milhões de seus membros ganharam garantia de existência eterna, pela crença de que a alma tem uma pré-existência no mundo espiritual e pela crença de que a alma herdará um dos três graus de glória: terrestre, (o mais baixo) telestial, (o meio) ou celeste (o mais alto). Durante os doze anos que vivi entre eles, percebi que eles não eram imunes à tristeza ou à depressão, mas raramente essas emoções eram causadas pelo medo da morte.

Terceira Janela: Reencarnação

Minha terceira janela se abre no início do século XX. Observamos uma grande onda de professores orientais, gurus, que chegam ao Ocidente espalhando seus iogas, meditações e sistemas filosóficos. O conceito de reencarnação ou renascimento tem um grande impacto na mente ocidental. Testemunhamos uma onda de milhares que se lembram de uma ou mais vidas passadas. Esta é uma poderosa destruição construtiva do medo da morte; proclama que há um aspecto do homem que não morre, capaz de continuar ao longo dos séculos e milênios. Simultaneamente, vemos o surgimento da Sociedade Teosófica e da Escola Arcana. Não é necessário que eu elabore sua contribuição trazida a nós pela clareza do conhecimento esotérico.

Quarta Janela: O Movimento Espiritualista

Depois vêm as duas Guerras Mundiais, durante as quais milhões de pessoas morrem dentro de alguns anos. Isso abre uma quarta janela. O movimento espiritualista entra em cena no Ocidente. Aqueles que “morreram” estão ansiosos por compartilhar as boas novas: estão muito vivos, em um lugar melhor e dotados de um corpo imortal. A contribuição mais poderosa não vem tanto daqueles que apenas querem tranquilizar seus entes queridos que eles não estão mortos. Vem daqueles que estão motivados a compartilhar a realidade de sua nova vida e as lições que aprenderam.

Comunicações vindas de quem usa telepatia, como Testemunho de Luz, de Helen Greaves, ou The Grand Tour of the Afterlife, de Harriet H. Carter, geralmente têm melhor qualidade. O Tibetano menciona que a qualidade dos médiuns pode ir de boa a medíocre, dependendo se o aspecto superior ou inferior da energia psíquica foi usado no processo. Na minha perspectiva, esse movimento, apesar de algumas de suas fraquezas reconhecidas, tem sido uma grande fonte de segurança sobre a realidade da vida após a morte para milhões de pessoas que leem ou ouvem essas comunicações.

Quinta Janela: O Livro de Urântia

Minha quinta janela se abre no livro do qual citei as sete liberdades em minha introdução, O Livro de Urântia, publicado em 1955. Os teosofistas haviam falado sobre o Devachan; os espiritualistas haviam sugerido diferentes planos de evolução na vida após a morte. Os autores do Livro de Urântia vão um passo além: descrevem as características de cada um dos sete mundos das mansões. Esse termo é emprestado do ditado de Cristo: “Na casa de meu pai há muitas mansões.” Eles também descrevem o que o peregrino do tempo deve alcançar antes de ir para o próximo mundo das mansões. Em cada mundo são encontradas escolas de pensamento, sentimento e ação. Os professores estão prontos para ajudar os peregrinos do tempo em sua progressão em direção à futura fusão com o habitante divino.

Sexta Janela: Experiências de Quase Morte

Minha sexta janela se abre no último quartel do século XX. Entre os muitos livros sobre a morte e o morrer daquele período, Life after Life, publicado em 1975 por Raymond Moody, é aquele que se tornou rapidamente um best-seller internacional. Muitas pessoas, que também tinham experiências de quase morte, agora se atreviam a prestar testemunho da verdade de tal experiência e do que isso lhes revelava. Mais psicólogos começaram a estudar e comparar centenas de casos. O que foi descoberto foi um padrão universal colorido pelos elementos culturais da época e do lugar. Nas últimas décadas, milhões de casos foram compartilhados com um público ávido. Entre as descobertas relevantes para esta apresentação:

1. A consciência pode funcionar sem um cérebro físico e um corpo físico.

2. As pessoas, sem usar seus sentidos biológicos, podem ouvir conversas e ver eventos que não estão nas proximidades do corpo na mesa de operações, às vezes a milhares de quilômetros de distância.

3. Algumas pessoas têm uma revisão de vida na qual podem ver simultaneamente todos os eventos de sua vida e, algumas vezes, além desta vida.

4. Pessoas cegas podem ver coisas e pessoas durante a EQM, revelando outro tipo de visão, chamada visão mental por alguns pesquisadores.

Milhões de experiências de quase morte agora são registradas em muitos países. Tal preponderância de evidência tem o potencial de quebrar formas-pensamento obsoletas e expandir a consciência de todos. No entanto, alguns cientistas e profissionais médicos podem ser tão cegamente apegados às suas doutrinas quanto alguns religiosos e filósofos. Para o cientista que duvida, o fenômeno não passa de alucinações causadas pela falta de oxigênio no cérebro ou por excesso de anestésico, algo de natureza química ou física.

Alguém disse que razão, observação e experiência são a Santíssima Trindade da ciência. É por isso que mesmo aqueles que admitem que o paciente pode ter tido essa experiência deixam isso de lado como sendo totalmente subjetivo; estava tudo na mente do paciente. Não havia testemunha para relatar a morte real do outro lado, do que quer que sobreviva à morte física.

Pergunta: Como você destrói construtivamente esse argumento? Como os guias por trás da evolução podem fornecer uma testemunha objetiva para apoiar uma experiência subjetiva? O que vou descrever para você pode fazer parte da resposta.

Sétima Janela: Experiência compartilhada de morte

Em 2010, Raymond Moody publicou outro livro, Vislumbres da Eternidade, que, segundo a maioria das pessoas racionais, destrói construtivamente a falta de objetividade à continuidade da consciência. É uma descrição de um fenômeno que Moody chama de experiência empática ou compartilhada de morte. Trata de morte real, não com a experiência de quase morte. Amigos ou parentes de uma pessoa que está morrendo compartilham a passagem do outro lado do véu. Vou descrever dois casos.

Caso nº 1

Isso aconteceu com a Dra. Jamieson, membro respeitada da faculdade, quando sua mãe teve uma parada cardíaca. Após 30 minutos de RCP (reanimação cardiopulmonar – NT), ela percebeu que qualquer esforço adicional era inútil. De repente, a Dra. Jamieson sentiu-se levantar do seu corpo. Ela percebeu que estava acima de seu próprio corpo e do corpo agora falecido de sua mãe. . .. Ela disse: “Quando eu estava tentando me orientar, de repente percebi que minha mãe agora estava pairando comigo em forma de espírito. Ela estava bem perto de mim!” Ela se despediu calmamente de sua mãe, que agora estava muito feliz. Ela observou a mãe se afastando para a luz que aparecera na sala.

A experiência empática ou compartilhada da morte pode acontecer com duas ou mais testemunhas. Quando acontecem com um grupo, as experiências que descrevem são notavelmente semelhantes.

Caso nº 2

Duas irmãs na casa dos quarenta compartilharam juntos a morte de sua mãe. À medida que sua respiração ficou mais difícil, a sala começou a "se iluminar", disse uma das irmãs. Ambas contaram como a sala começou a girar, rapidamente a princípio, antes de diminuir a velocidade. Então as duas mulheres se viram em pé com a mãe, que parecia décadas mais jovem. Juntas, elas foram imersas na revisão de vida de sua mãe, que estava cheia de muitas cenas que haviam vivido e outras que não. Elas viram o primeiro namorado de sua mãe e experimentaram seu coração partido quando terminaram. Elas viram pequenas coisas que tinham significado muito para a mãe, como as vezes em que ela ajudara crianças pobres na escola sem contar a ninguém. "O que vimos foi tão real que pensamos que também tínhamos morrido", disse uma das irmãs.

Naturalmente, o fenômeno da alucinação não pode ser reivindicado para todas as testemunhas que foram reconhecidas como sãs no corpo e na mente enquanto compartilharam a experiência.

Como podemos ver, muito foi feito por aqueles que orientaram e orientam a humanidade, a fim de destruir construtivamente as formas-pensamento obsoletas associadas ao fenômeno da morte. É vista, agora, por muitos com uma atitude positivamente diferente do que a linguagem para descrevê-la que também está mudando positivamente. As pessoas dirão algo como:

"Meu pai passou para o outro lado"
"Meu irmão voltou para seus pais"
"Minha mãe se formou nesta escola."

Vislumbres do futuro

Até este ponto, eu lhe dei um vislumbre do passado e como uma série de destruições construtivas levou ao progresso gradual e a uma mudança de atitude. Gostaria agora de acrescentar um vislumbre do futuro. Minha intenção é sugerir algumas das possíveis destruições construtivas que ainda estão por vir.

Os autores dos Documentos de Urântia descrevem um tempo em que o planeta alcançará o que eles chamam de era da Luz e da Vida, quando uma evolução superior ocorrerá aqui. Prefiro citar a dar meu próprio resumo ou interpretação. Isto vem do Documento 55, intitulado As Esferas da Luz e da Vida.

55:2.1 (623.1) “A morte natural, física, não é uma inevitabilidade para os mortais. A maioria dos seres evolucionários avançados, cidadãos dos mundos que já se encontram na era final de luz e vida, não morre; eles são transladados diretamente da vida na carne para a existência moroncial.” [Moroncial é um termo técnico dado a uma energia que é uma mistura de energias espirituais e materiais.]

55:2.2 (623.2) “Essa experiência de translado da vida material ao estado moroncial - a fusão da alma imortal com o Ajustador residente -, cresce em uma frequência proporcional ao progresso evolucionário do planeta. Inicialmente, apenas uns poucos mortais em cada idade alcançam os níveis de progresso espiritual necessário a esse translado mas, com o início das idades sucessivas dos Filhos Instrutores, ocorrem mais e mais fusões.”

O translado ocorre no que eles chamam de templo moroncial. Além de outras funções, também serve como:

... “local de reunião para todos presenciarem o translado de mortais vivos à existência moroncial. E, pelo fato de o templo de translado ser composto de material moroncial, é que não se faz destruído pela glória flamejante do fogo consumidor que remove completamente os corpos físicos desses mortais que ali experimentam a fusão final com os seus Ajustadores divinos.”

É realmente uma graduação e, portanto, uma ocasião alegre. Eu cito:

55:2.5 (623.5) “Vários candidatos à fusão podem ser reunidos ao mesmo tempo no templo espaçoso. E, que bela ocasião, quando os mortais reúnem-se assim para testemunhar a ascensão dos seus entes queridos em meio às chamas espirituais. Que contraste com aquelas idades anteriores, nas quais os mortais haveriam de submeter os seus mortos ao abraço dos elementos terrestres! As cenas, de lágrimas e lamentos característicos de épocas anteriores, na evolução humana, são agora substituídas pela alegria jubilosa e o entusiasmo os mais sublimes, no momento em que, sabedores de Deus, esses mortais dão aos seus entes amados um adeus transitório, antes de serem extraídos das suas ligações materiais pelo fogo espiritual, em grandeza consumidora, da glória da ascensão. Nos mundos estabelecidos em luz e vida, tais “funerais” são ocasiões de alegria suprema, de profunda satisfação e esperança inexprimível.”

Observe que a expressão “fusão final com o habitante divino” implica vários graus ou estágios de fusão. É análogo ao conceito de progressão através de várias iniciações. E a era da luz e da vida corresponde ao tempo em que a vida externa refletirá fielmente a vida interior do espírito.

CONCLUSÃO

Conforme sugerido pelas listas que mencionei na introdução, existem outras prisões que são tão poderosas quanto o medo da morte. Cada uma oferece um grande desafio ao espírito criativo daqueles que buscam, lenta mas seguramente, orientar nossa humanidade. Certamente continuarei a procurar vislumbres da visão que eles têm para a evolução presente e futura dos cidadãos deste pequeno ponto azul em nosso universo.

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