Abrindo a Porta para a Cidade Sagrada
Christine Morgan

Que o grupo siga adiante - para fora do fogo, para dentro do frio e em direção a uma nova tensão. Todos os anos temos esta maravilhosa oportunidade para refletir juntos sobre uma nota-chave escolhida em linguagem esotérica. Então, bem-vindos à conferência de Genebra. As regras para a iniciação grupal não são dadas em nenhuma ordem sequencial, mas sempre fornecem uma visão de uma entrada progressiva mais profunda na vida grupal. Esta nota-chave é tirada da regra Um e leva-nos a um ponto onde a porta simbólica está atrás de nós, e um novo campo de tensão à frente.

A porta é um símbolo muito usado nos ensinamentos espirituais e, sem dúvidas, na vida cotidiana quando falamos de fechar a porta a traumas passados ou abrindo uma nova porta de oportunidade. Ela simboliza uma nova perspectiva à medida que avançamos para frente em um novo ambiente psicológico. Os documentários nos mostram como as portas da história têm sido abertas e fechadas em momentos-chave na evolução social e política, na medida em que novas épocas começam e as velhas são deixadas para trás. O aniversário da Primeira Guerra Mundial, por exemplo, trouxe de volta velhas memórias, mas também abriu a porta para melhores interações e relacionamentos, enquanto nos lembra de fechar a porta aos horrores do passado.

Mais difíceis de discernir, mas não menos evidentes para o observador imparcial, são as características de mudança de períodos menores de tempo. Cada ano tem sua própria qualidade reconhecível, cada dia, hora e minutos - na verdade cada momento é qualificado exclusivamente por nosso estado sempre flutuante de consciência. O nosso conceito de tempo é determinado por nossa passagem através de uma sequência interminável de eventos que nos influenciam de alguma forma, à medida que evoluem através de um quadro de consciência a outro. Poderíamos pensar nisso em termos de fotografia de lapso de tempo, onde milhares de instantâneos são tomados periodicamente durante um certo número de semanas, cada foto com aparência muito parecida com a anterior. Mas, quando encadeadas juntas como uma sequência cinematográfica, pode ser visto, por exemplo, o crescimento e a abertura de uma flor. O desenvolvimento da consciência através do curso da evolução poderia ser pensado desta forma - cada momento que passa é um instantâneo da consciência enquadrado no tempo e espaço. Nós avançamos de quadro a quadro, abrindo uma porta e fechando outra. É um movimento constante para frente, progredindo de um estado mental para o próximo estado mais expansivo de consciência.

A finalidade principal de uma porta é a de uma barreira para manter algumas pessoas fora e deixar que outras entrem. Isso é especialmente assim neste mundo de alta tecnologia de comunicações e questões de segurança. Entretanto, hoje o uso de grande parte de dinheiro retirado dos bancos pode ser retirado por via eletrônica utilizando cartões magnéticos e sem nenhum contato. Então, estamos mais de perto e nos aproximando da forma em que atravessamos as portas da iniciação, pois o conceito de portas como barreiras é tão verdadeiro na lei espiritual como na vida cotidiana. Na vida espiritual não é tanto um ato de exclusão, é muito mais um meio de proteção, pois cada porta que estamos atravessando leva a estados de energia mais altos que nos prejudicariam se não estivéssemos devidamente preparados para eles. O Anjo com a Espada Flamejante fica de guarda na porta da iniciação e repele qualquer tentativa prematura para passar por ela. Somente uma sincronização magnética entre o nosso estado de energia e a entrada da porta nos permite passar.

É essa ressonância entre o eu pessoal e a alma grupal que abre a porta e estabelece contato consciente entre o discípulo e o ashram. A vibração dissonante é a barreira que provoca a separação a ser sentida. A porta, então, é ao mesmo tempo uma barreira para algo desconhecido ou, no momento, inatingível, bem como um limite ao que está à frente. Pode ser o meio de entrada para uma nova morada, um novo estado de consciência ou identidade. A porta é um ponto magnético que atrai o olhar interior em direção a uma visão apresentada - evocando o nosso desejo de saber mais e cooperar com as leis que tornarão possível o acesso. Paradoxalmente, é muitas vezes no calor do serviço e seus momentos de companheirismo e de autoesquecimento que a porta se abre de forma inesperada por um curto período de tempo. Através dela podemos vislumbrar uma nova realidade surpreendente, um testemunho de uma verdade percebida, uma inundação de amor incondicional ou um reconhecimento do companheirismo interior que, muitas vezes, sentimos, mas não podemos confirmar. A experiência excita a nossa vontade espiritual, deixando-nos com o conhecimento de que toda essa glória que nos espera é uma parte inerente de nosso próprio ser.

Pense em uma porta giratória. Depois de uma noite particularmente agradável na cidade, um famoso escritor lembrou-se de sua batalha com a porta giratória de seu hotel, quando solitariamente encontrou-se, sem a menor cerimônia, rodando em círculo completo e indo de volta para a rua. Esta ideia de uma porta giratória, que permite o acesso a uma visão interior, mas que, em seguida, lança-nos para as ruas da vida diária e de serviço é familiar para a maioria de nós. Uma vez de volta ao mundo muitos desejos são deixados para trás e começa o trabalho criativo de construir de acordo com o propósito do Plano e da alma, ao invés de começar novamente nossos próprios ideais. É este sentido convincente do Plano e propósito que é clarificado à luz da razão e que liga os mundos interno e externo em vibração harmoniosa. O discípulo aprende a ficar no ponto médio entre os dois mundos e percebe que a sincronização é a chave para a porta da iniciação. “Quando a energia elétrica da qual o portal é constituído e a energia da qual um homem é construído... se sincronizam e vibram em uníssono, é que o aspirante pode atravessar para uma luz maior.”

Hoje, os grupos, em vez de indivíduos, têm a oportunidade de atingir a iluminação em conjunto, de reagir compartilhadamente, a fim de pôr em prática a maravilha do amor e do serviço grupal. Todo o esforço para estimular a intensidade de nossas vidas interiores contribui para a dinâmica deste esforço conjunto e ajuda o grupo a progredir. Como a regra Um da nossa nota chave indica, a porta foi deixada para trás e uma nova se abre para nos permitir "avançar na vida" para mais perto do centro.

É maravilhoso pensar que todos os lugares misteriosos sobre os quais ouvimos falar, como a Sagrada Cidade de Shamballa, podem ser acessados através de portas que se encontram em nós mesmos. O centro Bramarandhra, por exemplo, é o centro de Shamballa no homem que, quando ativo, revela uma exibição vibrante interior de belas pétalas brancas e douradas - uma flor de lótus de irradiantes forças que dirigem a energia da Vontade. Este centro da cabeça se destaca de todos os outros porque é o centro de síntese e o único que, quando totalmente aberto, mantém a sua posição de um lótus invertido, estando seu talo enraizado em Shamballa. Os outros centros no corpo humano estão invertidos durante grande parte da nossa estadia nos três mundos, mas suas pétalas se desdobram lentamente para cima para estar de frente desta fonte de vida divina. A Vontade Divina derrama-se de Shamballa sobre aqueles que estão trabalhando através do centro da cabeça nos três mundos. Eles são realizações literais do propósito divino. É por isso que a vida do iniciado é uma vida de simplicidade - tudo o que é feito é impulsionado por um propósito maior de realizar o plano.

Tão pouco compreendida pela humanidade, esta simplicidade de propósito traz a energia repulsiva do primeiro raio de Vontade e Poder – “o caminho da divina recusa” que, atuando sob o impulso do amor, dispersa e rejeita todos os aspectos da vida da forma que impedem as linhas de comunicação da e para a Cidade Sagrada. Tudo o que é trivial, doutrinal e materialista é rejeitado de modo que a consciência pode ressoar ao longo do fio de energia que liga o centro da cabeça com um propósito maior. Assim, vemos de fato que essas "pequenas mortes" ou renúncias são um meio de manter este fio musical tenso para que o espírito possa soar a sua nota criativa em qualquer ponto ao longo dele. Por esses meios, a energia de Shamballa pode ecoar nos reinos inferiores - um som que reverbera através do mundo da forma, tanto energizando a vida dentro dela como destruindo as formas que estão cristalizadas bloqueando a expressão divina.

Paradoxalmente, a energia de Shamballa é às vezes chamada de "o poder que nega a morte", mas isso é porque a morte simplesmente faculta a destruição dessas limitações que estão atrapalhando a expressão espiritual. A pergunta é: o que podemos fazer para cooperar mais plenamente com esta energia benéfica? O que podemos renunciar em nossas vidas para continuar o processo das "pequenas mortes" - o que é que está em nosso caminho e nos impedindo de abrir a porta seguinte na consciência e passar por ela? O que é que está nos segurando em nosso impasse atual? Um dos maiores obstáculos para "avançar na vida" é a incapacidade de abandonar o passado e isso é belamente tratado na instrução do esboço de meditação que usamos às quintas-feiras - a Preparação para o Reaparecimento do Cristo. Nela dizemos com intenção firme: “Esquecendo-me das coisas do passado, me esforçarei até as minhas possibilidades espirituais mais elevadas. Dedicar-me-ei de novo ao serviço Daquele que Vem e farei tudo que puder para preparar as mentes e os corações dos homens para tal acontecimento. Não tenho outra intenção em minha vida”.

Estas palavras são estimulantes. Elas nos dão a oportunidade de nos renovarmos imediatamente e de abandonar toda a bagagem psicológica que está nos freando. Elas oferecem uma oportunidade para perdoar e esquecer o passado e seguir em frente. Esquecer precisamente das formas erradas de pensar e das mágoas e injustiças que foram cometidas por nós mesmos e por outros, é uma etapa crucial no caminho espiritual. Cada um de nós pode ajudar o esforço grupal estando unido na tensão espiritual, "esquecendo as coisas do passado" e se dedicando a um ato de vontade sacrifical para preparar o caminho para o reaparecimento do Cristo. Para ousadamente afirmar "não tenho outra intenção em minha vida" é preciso coragem e vontade de dizer com convicção; pois sabemos, tudo o que dizemos em meditação sob o olhar atento da nossa alma, será tomado como um juramento, e as energias jorrarão da alma para ajudar a tornar esse juramento uma realidade em nossas vidas diárias. Portanto, o que quer que aconteça em nosso caminho, seja alegria e boa sorte, dor ou tristeza, não importa mais. Tudo o que nos interessa é que, como grupo, estamos nos dirigindo para fora do fogo, em direção à clara luz fria da razão para abrir a porta para a Cidade Sagrada e entrar na glória da vida do Cristo.

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Discurso de abertura proferido na Conferência 2015 da Escola Arcana em Genebra

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