Discipulado
Vida de Serviço
O ganho material no conhecimento causa, para o indivíduo, estagnação,
obstrução, indigestão e dor, se não for passado adiante com sábia
discriminação. O alimento absorvido pelo corpo humano, se não assimilado e
digerido no aparelho, causa exatamente as condições acima. A analogia é
correta. Muita instrução chega a muitos, nestes dias, mas é para uso de um
mundo necessitado e não para benefício exclusivo.
Ao interpretar o serviço, três coisas são de importância:
1 – O motivo.
2 – O método.
3 – A atitude acompanhando a ação.
Não levo em consideração os motivos e métodos errados. São todos
conhecidos. Indico o certo, e pelo ajustamento da vida de serviço às minhas
indicações, vêm a correção e a inspiração. Uma vida de muito serviço
abre-se para muitos, nestes dias; vede, todos vós, que ela comece certa. Um
indício certo tende a prosseguir em contínua exatidão, e ajuda muito no
esforço. Nos casos onde suceda o fracasso, tudo que é necessário é o
reajustamento. No fracasso onde o começo tenha sido um engano (um fracasso
inevitável), a necessidade é de renovação das fontes interiores de
ação.
1 – Os Motivos para o Serviço
Esses motivos são tríplices na ordem de sua importância:
a) Uma compreensão do plano Divino de evolução, uma percepção da tremenda
necessidade do mundo, uma apreensão do próximo ponto de conquista mundial e
um conseqüente lançamento dos próprios recursos totais na evolução daquele
fim.
b) Um objetivo pessoal definido de consecução, algum grande ideal – tal
como uma santidade de caráter – que produz o melhor esforço da alma; ou uma
compreensão da realidade dos Mestres de Sabedoria e uma firme determinação
interior de amor, de serviço, e de alcançá-los a qualquer preço. Quando
alcançardes esta compreensão intelectual do plano de Deus, aliada ao forte
desejo de servir aos Grandes Seres nas atividades do plano físico, a
realização virá.
c) Uma compreensão próxima da capacidade inata ou adquirida e uma adequação
dessa capacidade à necessidade em apreço. O serviço é de muitas espécies e
quem, sabiamente, o presta, quem procura encontrar sua posição particular e
quem, encontrando-a, dá de seu esforço alegremente em benefício do todo, é
o homem cujo desenvolvimento individual prossegue firmemente. Mas, contudo, o
objetivo de progresso pessoal permanece secundário.
2 –Os Métodos de Serviço
Esses são muitos e variados. Posso somente indicar os de importância
primordial.
Acima de tudo, como já citei muitas vezes, vem a faculdade de
discriminação. Aquele que pensa poder tentar todas as
coisas, que não se refreia diante de coisa alguma que ocorra em seu caminho,
que se precipita desordenadamente onde os mais prudentes se refreiam, que
imagina ter capacidade para o que apareça, que põe zelo, e não raciocínio,
na consideração deste problema de serviço, mas dissipa força; esse
desenvolve, amiúde, ação destrutiva, desperdiça o tempo dos mais prudentes
e maiores na correção de seus enganos bem intencionados e não serve a outro
fim que não seus próprios desejos. A recompensa da boa intenção pode ser
sua, mas é freqüentemente neutralizada pelos resultados da ação imprudente.
Serve com discriminação quem compreende sabiamente seu próprio nicho,
pequeno ou grande, no esquema geral; quem calcula sensatamente sua capacidade
mental e intelectual, seu calibre emocional e seus recursos físicos e, então,
com a soma do todo, aplica-se em preencher o nicho.
Serve com discriminação quem julga, com a ajuda do seu Eu Superior, e do
Mestre, qual a natureza e a medida do problema a ser resolvido, e não é
guiado pelas sugestões, pedidos e exigências de seus companheiros de
serviço, bem intencionados, mas freqüentemente insensatos.
Serve com discriminação quem percebe o tempo em ação e,
compreendendo que cada dia tem apenas vinte e quatro horas e que sua capacidade
permite o consumo de somente tal energia, e não mais, sabiamente ajusta sua
capacidade e o tempo disponíveis a ambos.
Vem em seguida um sábio controle do veículo físico. Um bom
servidor não causa ao Mestre ansiedades de causas físicas, e confia-se em que
vigiará e poupará sua força física, e que estará sempre disponível para
atender às solicitações do Mestre. Não fracassará por incapacidade
física. Providencia para que seu veículo inferior tenha descanso suficiente e
sono adequado. Levanta-se cedo e deita-se à hora conveniente. Ele se relaxa
sempre que possível; come alimentos integrais e adequados e se abstém de
alimentação pesada. Pouco alimento, bem escolhido e bem mastigado, é muito
melhor do que uma refeição pesada. O ser humano, nestes dias, via de regra,
come quatro vezes mais do que o necessário. Ele pára de trabalhar quando (por
acidente ou a repetição de incapacidade física herdada) seu corpo reage
contra a ação e exige atenção. Ele procura, então, descanso, sono,
cuidados dietéticos e a necessária atenção médica. Obedece a toda
prescrição sensata, dando tempo para seu restabelecimento.
O passo seguinte é ter firme cuidado e controle do corpo
emocional. Este é o mais difícil dos veículos para vigiar, como é
bem sabido. Nenhuma emoção excessiva é consentida, apesar de ser permitida a
passagem de fortes correntes de amor por tudo o que respira. Por ser o amor a
lei do sistema, é construtivo e estabilizante, e leva todos adiante, em
alinhamento com a lei. Nenhum temor, preocupação, ou cuidado, abala o corpo
emocional do aspirante servidor de todos. Ele cultiva serenidade, estabilidade
e um sentido de segura dependência da lei de Deus. Uma confiança alegre
caracteriza sua atitude habitual. Não abriga ciúmes, nenhuma nuvem cinzenta
de depressão e nenhuma cobiça ou autopiedade, mas – compreendendo que todos
os homens são irmãos e que tudo que existe é para todos – prossegue
calmamente em seu caminho.
Sobrevém, então, o desenvolvimento do seu veículo mental.
No controle do corpo emocional, o servidor assume a atitude de eliminação.
Seu objetivo é de tal modo treinar o corpo emocional que ele se torne
desprovido de cor, tenha uma vibração tranqüila e fique claro e branco,
límpido como um lago num dia calmo de verão. Ao adequar o corpo mental para o
serviço, o trabalhador empenha-se no oposto à eliminação; procura armazenar
informação, supri-lo de conhecimento e de fatos, treiná-lo intelectual e
cientificamente, de maneira que, conforme o tempo passe, demonstre ser um firme
alicerce para a sabedoria divina. A sabedoria suplanta o conhecimento; no
entanto, exige conhecimento como um passo preliminar. Deveis lembrar-vos que o
servidor transpõe a Câmara do Conhecimento antes de entrar na Câmara da
Sabedoria. Ao treinar o corpo da mente, ele busca, portanto, a aquisição
metódica de conhecimento, um suprimento do que esteja em falta, uma
compreensão seqüencial da faculdade mental inata acumulada em existências
anteriores e, por último, uma estabilização da mente inferior para que a
superior possa dominar, e a faculdade crística do pensamento possa ser
projetada através do silêncio. Do Silêncio do Absoluto, foi projetado o
universo. Da escuridão, nasceu a luz, do subjetivo, emanou o objetivo. A
tranqüilidade negativa do corpo emocional torna-o receptivo à impressão do
alto. A quietude positiva do corpo mental conduz à inspiração superior.
Tendo procurado controlar e sabiamente usar sua personalidade em seus três
departamentos, o amante da humanidade procura perfeição na
ação. Nenhum sonho magnificente de martírio e de gloriosa mas
efêmera quimera de serviço espetacular absorve sua atenção, mas a
aplicação instantânea de todos os seus poderes à obrigação imediata é a
linha de seu esforço. Ele sabe que a perfeição no primeiro plano de sua vida
e nos pormenores do seu trabalho no ambiente causará precisão também no
último, e resultará numa figura completa de rara beleza. A vida progride por
pequenos passos e cada momento sabiamente ocupado leva a cobrir longa
distância e uma vida bem vivida. Aqueles Que guiam a família humana põem à
prova todos os pretendentes ao serviço nas minúcias da vida cotidiana, e
aquele que mostrar um testemunho de ação fiel ao aparentemente não-essencial
será transferido para uma esfera de importância maior. Como poderão Eles,
numa crise ou numa emergência, depender de alguém que, nos assuntos diários,
executa trabalho descuidado e insensato?
Um método adicional de serviço mostra-se na adaptabilidade.
Isso envolve uma pronta retirada quando outras ou mais importantes pessoas são
enviadas a preencher o nicho que ele possa estar ocupando, ou (inversamente)
uma habilidade em retirar-se para trabalho mais importante, quando algum
trabalhador menos competente puder fazer seu trabalho com igual facilidade e
bom julgamento. É parte da sabedoria, em todos os que servem, não se
superestimarem nem se subestimarem. O mau trabalho acontece quando o não
eficiente preenche um posto, mas é igualmente uma perda de tempo e poder
quando trabalhadores capazes mantém posições onde sua habilidade não tem
campo de ação, e onde homens e mulheres menos habilitados funcionariam
igualmente bem. Estai prontos, por isso, todos vós que servis, para
permanecerdes numa vida em atividade não-espetacular e aparentemente sem
importância, pois tal poderá ser vosso destino e o lugar onde melhor podereis
servir; mas estai igualmente prontos para assumirdes trabalho de valor mais
aparente, quando a palavra do Mestre for dada e quando as circunstâncias – e
não os planos do servidor – indicarem que o tempo chegou. Ponderai sobre
esta última frase.
3 – A Atitude Seguindo a Ação
Qual deveria ser essa atitude? Extremo desapaixonamento, completo
auto-esquecimento e total dedicação ao próximo passo a ser dado. O servidor
perfeito é aquele que faz, com o melhor de sua habilidade, aquilo que acredita
ser a vontade do Mestre e o trabalho a ser feito por ele em cooperação com o
plano de Deus. Depois, havendo feito sua parte, ele prossegue na continuação
de seu trabalho, sem se preocupar com o resultado de sua ação. Ele sabe que
olhos mais sábios do que os seus vêem do começo ao fim; que uma percepção
mais profunda e mais amorosa que a sua está pesando o fruto de seu serviço; e
que um julgamento mais profundo que o seu está testando a força e a extensão
da vibração iniciada e harmonizando aquela força, relacionando-a ao motivo.
Ele não sofre de orgulho pelo que tenha feito, nem indevida depressão por
falta de realização. A cada instante, ele faz o melhor, e não perde tempo na
contemplação retrospectiva, mas atira-se firmemente para frente, à
consecução da tarefa seguinte. É próprio da natureza da involução,
meditar sobre feitos passados e levar a mente de volta a realizações passadas
e o servidor procura trabalhar com a lei da evolução. Isto é algo importante
para se observar. Depois da ação, o servidor sábio não dá atenção ao que
seus companheiros dizem, contanto que seus superiores (sejam homens ou mulheres
encarnados, ou os Próprios Grandes Seres) mostrem-se contentes ou silenciosos;
não se preocupa se o resultado não é o que havia antecipado, desde que tenha
feito, fielmente, o melhor possível; não se inquieta se a censura ou a
repreensão o assaltam, contanto que seu eu interior permaneça calmo e sem
acusá-lo; não se importa de perder amigos, parentes, filhos, a popularidade
antes gozada e a aprovação de seus vizinhos, desde que seu sentido interior
de contato com Aqueles Que guiam, e lideram, permaneça intacta; não se
impressiona se parecer estar trabalhando nas trevas e se estiver consciente do
pouco resultado de seu labor, desde que a luz interior aumente e sua
consciência nada tenha a dizer.
Para resumir tudo:
O motivo pode ser sintetizado nestas poucas palavras: – O sacrifício do eu
pessoal pelo bem do Eu uno.
O método pode ser também abreviadamente colocado: – O sábio controle da
personalidade e discriminação no trabalho e no tempo.
A atitude resultante será: – Desapaixonamento total e um amor crescente pelo
invisível e pelo real.
Tudo isso será completado através do firme emprego da Meditação ocultista.