O Frágil Equilíbrio do Sexo - Suas Relações em um Mundo
em Transformação
Boa Vontade Mundial
“A relação entre os corpos físicos masculino e feminino,
que o Homem denomina relação sexual, é considerada de suma importância
nesta época. No vale da ilusão, o símbolo absorve frequentemente a atenção
e se esquece o que este representa. Com a solução desta relação sobrevirá
a iniciação racial, e disto a raça ocupa-se agora.” Alice Bailey
“Quem quer que tenha grande amor, tem grande sofrimento. Quem não tem
amor, não tem sofrimento.” Pali Canon
O propósito destes comentários, oferecidos por Boa Vontade Mundial, é ajudar a lançar alguma luz sobre os vários problemas que afligem a humanidade neste período em transição. Cremos que o pensamento deliberado de um grupo de indivíduos que se focaliza sobre um problema em particular, pode criar uma condição na consciência que contribua para a precipitação da mudança exterior e para o melhoramento das condições. À medida que dirigimos nosso pensamento para a consideração da sexualidade humana e para alguns dos tantos tópicos que gravitam em torno deste complexo tema (com frequência tratado emocionalmente), de imediato reconheceremos que é um problema que reside no centro mesmo da preocupação mundial de hoje, e para o qual nem sequer os mais avançados pensadores do nosso tempo têm soluções ou respostas efetivas.
Nos ensinamentos da Sabedoria Eterna descreve-se o sexo como “um pequeno vocábulo usado para expressar a relação existente (durante a manifestação) entre espírito e matéria, e entre vida e forma. É, em última instância, uma expressão da Lei de Atração”. Sexo é basicamente um símbolo – um símbolo da união entre a alma e a matéria. Embora nos é dito que no plano da alma não existe o sexo tal como o entendemos, já que ali não há separação, o sexo é exclusivamente uma função da vida na forma. Da mesma maneira, as diferenças entre masculino e feminino, tão frequentemente fonte de confusão hoje em dia, não se encontram como tais no plano da alma. Sabemos que a experiência reiterada do renascimento nos conduziu através de incontáveis encarnações, tanto em formas masculinas como femininas. Todos somos parte do problema e cada um de nós pode, portanto, contribuir para gerar a forma mental para a solução desta complexa situação.
O sexo é essencialmente uma expressão da dualidade da existência, sendo deste ponto de vista uma manifestação exterior da ilusão da separatividade, como também da luta pela união. A busca da união, na relação, jaz no núcleo do problema sexual e tem suas raízes no medo básico da separação e da solidão. Isto colore de tal maneira a consciência humana que tem servido para manter a contínua progressão da espécie em marcha. A sexualidade compenetra toda a vida, a qual consiste – em todo plano e nível de manifestação – na relação e entrelaçamento de todas as formas viventes, desde os mais elevados veículos de expressão divina até as primárias formas de vida nos níveis celulares. Como dizem os ensinamentos da Sabedoria Eterna, “o tema da vivente consciência do Logos Planetário é eterno e constitui invariavelmente a Grande Hierarquia do Ser, cadeia de vida onde o menor dos elos tem importância e o maior está relacionado com o menor pela interação elétrica da energia espiritual. Nada há – deste importante ângulo da vida – senão a Hierarquia, que vincula um sol com outro, uma estrela com outra, um sistema solar com outro, planeta com planeta e todas as vidas planetárias entre si. A principal nota-chave de cada iniciação planetária, e também para as mais elevadas, é RELAÇÃO. Se outras qualidades podem ser reveladas ao iniciado em outras sendas, nós não o sabemos, mas a meta de todo esforço sobre nosso planeta, é corretas relações entre um homem e outro e entre o homem e Deus, entre todas as expressões da vida divina, do mais diminuto átomo até o infinito..” (1)
É-nos dito que o estabelecimento de corretas relações humanas é, particularmente em nosso pequeníssimo planeta Terra, a meta para a qual nos esforçamos. Tão simples como parece esta tarefa, dentro da complexidade das idiossincrasias humanas, seu aperfeiçoamento entre famílias, amigos, sócios, cotrabalhadores, religiões e nações como um todo com frequência nos ilude e, como bem sabemos, parece estar de alguma maneira além do nosso alcance.
O problema do sexo será elucidado quando finalmente ficar estabelecida uma sólida relação entre a alma e o corpo, aspectos positivo e negativo da vida. É dito que esta solução “virá pela fusão e a síntese de ambos os hemisférios, incorporando a experiência do Oriente e do Ocidente e também a aproximação do místico e do cientista a um mistério que é físico (requerendo compreensão científica) e místico (que demanda leitura espiritual). Envolverá a ajuda e as conclusões da profissão médica, a fim de dar a inteligente e necessária instrução física e o auxílio do conhecimento cultural dos iogues da Índia, em conexão com a energia que flui através dos centros – o sacro neste caso. Finalmente, por meio da atividade dos homens inteligentes do mundo, orientados legal e juridicamente, terminará a busca de um equilibrado e desejável ponto de vista”. (2)
O problema que circunda a questão do sexo em sua totalidade está, em grande medida, baseado em preconceitos mentais e na segurança interna com que tantas pessoas sustentam seu particular ponto de vista de que ele, o seu ponto de vista, é necessariamente o correto somente pela razão de que vivem e atuam de conformidade com o mesmo. Está também baseado na natureza primitiva do sexo, dominando como o faz o lado animal e físico da natureza. Outro agravante reside na excessiva intimidade de tal tema, tendente a ser evitado por muitas pessoas no lugar de ser visto como um processo natural e instintivo – tão instintivo e necessário como comer e beber.
O aspecto instintivo da energia do sexo é algo que sempre devemos ter presente, já que como tal subjaz por baixo do nível de reconhecimento consciente. Somos incapazes, por conseguinte, de entender plenamente o funcionamento destas reações absolutamente primárias que parecem existir além dos âmbitos do pensamento e do sentimento. Quando a humanidade desenvolver em plenitude seu lado espiritual, abarcando os aspectos mais sutis da vida, seguramente chegaremos a uma compreensão mais acabada da natureza fundamental da atração e do impulso sexual. Na infância da humanidade, antes do desenvolvimento dos aspectos emocional e mental da consciência, tal impulso era puramente um instinto de natureza física ou animal e não implicava nenhuma transgressão, segundo nos dizem os antigos ensinamentos. Mas a maioria de nós deve admitir que este ato inerentemente belo foi, em demasiados casos, distorcido e degradado, através do desejo humano e da conseqüente miragem, a tal extremo que já não tem para o reino humano o significado contido na intenção original. Na mente de muitos o sexo divorciou-se do amor. Durante estes tempos de experimentação sexual e abertura surgem aqueles que creem que as relações e práticas sexuais melhoraram, embora sejam mais desenfreadas e violentas. Mas se penetrássemos mais profunda e realmente nos recônditos dos acontecimentos da nossa história planetária, descobriríamos que a origem de tais práticas é tão antiga que sua incorporação na vida contemporânea resultaria, na realidade, em sintoma de retrocesso, já que as mesmas não estão em linha com a evolução ascendente da raça.
A SEXUALIDADE E AS TRADIÇÕES RELIGIOSAS
Estamos ingressando numa nova era em que poderosas energias estão solapando a ordem estabelecida e derrubando as cristalizações do passado, abrindo assim o passo para as novas energias e influências do raio entrante. Os raios são uma expressão sétupla da qualidade da divindade que condiciona e compenetra cada vida sobre a Terra. Cada era é condicionada por uma energia astrológica diferente que dura aproximadamente de 2.000 a 2.500 anos. Na atualidade ingressamos na Era de Aquário. Durante a passada Era de Peixes, a humanidade viu-se sujeita aos poderosos impulsos religiosos e energias do então regente sexto raio de idealismo e devoção, os quais condicionaram definitivamente nossas atitudes e atos com relação ao sexo. Os códigos de moralidade eram ditados pelas tradições religiosas da época. Cada religião, por sua vez, diferia em seus pronunciamentos sobre a conduta sexual, embora o sagrado deste tema e da relação matrimonial foi um fator recorrente nas tradições religiosas da época. Com frequência os ditames dos fundadores dos credos mais importantes do mundo chegavam a diferir marcadamente da influência tardia dos teólogos, que através dos tempos afanavam-se a interpretar e a inculcar os ensinamentos na vida diária.
A combinação da religião com a sexualidade foi sempre um forte componente das tradições religiosas da Índia. Dentro da esfera de alcance da tradição hindu as atitudes para o sexo flutuam desde a mais completa indulgência até a negação ascética. Na época do Mahabharata, o Senhor Krishna era conhecido como o Deus do amor. Os ideais do amor matrimonial e a fidelidade da mulher são ali amplamente discutidos – como também o são o amor, o prazer e o desejo.
O hinduísmo ensina que existem quatro estágios primários na vida do homem corrente: estudante, dono de casa, eremita e asceta. Para a segunda etapa de pais de família, o sexo, assim como a ambição pela aquisição material, não eram algo que reprimir, mas a regular e desenvolver, evitando tanto o extremo da repressão como o da liberdade. No hinduísmo o intercâmbio sexual não era entendido somente como um ato físico, mas era outorgado a ele um valor de ritual religioso. As cortesãs, de tão difundida tradição, cumpriam um rol importante na sociedade, formando com frequência a classe mais educada de mulheres treinadas na arte, na dança e em outras ocupações artísticas. (3)
No budismo surgiu uma forte tendência ascética, ilustrada pelo seguinte ensinamento do Buda a seu discípulo Ananda, que Lhe perguntou: “Como devemos nos comportar com as mulheres?” O Buda respondeu: ”Não as olheis”. Ananda objetou: “Mas se necessitamos vê-las, que devemos fazer?”. O Buda contestou: “Não lhas faleis”. Ananda insistiu: “Mas se necessitarmos falar-lhes, que fazemos então?”. O Buda advertiu: “Mantêm-te desperto e alerta, Ananda”. (4)
O contato com a mulher foi considerado perigoso porque pensava-se que a relação sexual traria um apego que desviaria o monge não só do seu voto de castidade, mas também da sua busca de libertação. Entretanto o próprio Buda aceitava as mulheres em sua ordem e acreditava serem capazes de alcançar um elevado nível de desenvolvimento espiritual. Nos setores mais amplos da sociedade era aceita a poligamia, principalmente entre os ricos e poderosos. As cortesãs sempre apareciam nos relatos budistas e ensinava-se que podiam ascender a um estágio superior na sua próxima vida pela prática da virtude na presente.
Maomé, tendo sido polígamo nos seus últimos anos, inicialmente contraiu matrimônio com uma mulher 15 anos mais velha, com quem vivia uma vida monógama até a sua decisão de mudança. Dizia-se que Maomé tinha alta estima pelo sexo oposto e com muita assiduidade cita-se o Alcorão em favor da monogamia. Nos primeiros dias do Islã as mulheres parece haver sido notavelmente mais independentes do que se tornou costume nos séculos seguintes. Eram livres para escolher seus próprios consortes e gozavam do direito de retornar à casa paterna no caso de maltrato.
Uma forte ênfase patriarcal caracterizou o judaísmo. As mulheres, que eram possuídas por seu esposo, situavam-se legalmente numa posição de inferioridade. Mas, enquanto o Talmude se referia a elas com descrédito, as reverenciava nos afazeres do lar. O Judaísmo, assim como o Islamismo, não pregou o celibato. Nos tempos bíblicos praticava-se a poligamia, como sempre, essencialmente entre governantes e sacerdotes. (5)
O Cristianismo é a única religião de peso que desde o seu começo pareceu insistir sobre a monogamia. Alguns escritores especularam que é assim devido a que Cristo estabeleceu modelos elevados e sempre apontou os mais altos ideais. Pronunciou-se contra o divórcio (prática que foi aceita com prazer dentro do judaísmo) talvez porque compreendia suas mais profundas conotações de forma mais acabada do que nós. Entretanto não houve em seus ensinamentos nem rigidez nem condenação dos inúmeros e concretos erros aos quais a humanidade está propensa, tal como foi ilustrado com agudeza no relato da mulher adúltera. Quando Jesus opina: “Quem estiver livre de pecado que atire a primeira pedra”, suas palavras projetam seu eco até os nossos dias e demonstram um perdão que poderia ser aplicado a tantos aspectos da vida.
As distorções teológicas impostas sobre os ensinamentos originais destes grandes mestres foram particularmente notórias em relação ao cristianismo e ao islamismo. Estas distorções criaram uma situação na qual a mulher foi degradada e sua verdadeira natureza mal interpretada e reprimida pelas crescentes correntes fundamentalistas. Tanto Cristo quanto Maomé – do que podemos deduzir de suas vidas e ensinamentos – aceitaram e apoiaram a mulher pelo reconhecimento das muitas e genuínas contribuições que estas são capazes quando trilham o caminho espiritual.
O pensamento de São Paulo coloriu, em grande medida, a doutrina cristã e imprimiu um rumo particular que, nos é dito, nada tinha a ver com a simples mensagem de amor do Cristo. Esta linha tendenciosa ressaltou a noção do sexo como algo pecaminoso, algo que deveria ser negado a todo custo. Referia-se, também, às mulheres como tentadoras e como a encarnação do que há de material e indigno.
Historicamente as doutrinas religiosas eram os veículos primários que modelavam e delineavam a vida das pessoas e muitos dos seus ensinamentos não eram imparciais em sua concepção da mulher e do sexo. Hoje em dia as mulheres estão reclamando sua representação nos templos e igrejas do mundo e suas contribuições, através da história, estão sendo descobertas e reconhecidas. Muitas mulheres, atualmente, recusam-se a aceitar uma condição de inferioridade sobre suas crenças espirituais e se unem às fileiras do sacerdócio, com ou sem a bênção das hierarquias eclesiásticas. E mais, devido ao caráter cada vez mais secular da vida moderna, muitas pessoas renunciaram à busca da religião como guia para sua vida pessoal e o poder do pensamento religioso está assim diminuindo. Esta situação torna-se exacerbada pelo fato de que muitos componentes das próprias hierarquias das mais importantes religiões do presente não aceitam modificar e adaptar suas doutrinas em consonância com as mudanças da vida contemporânea e as igrejas se veem cada dia mais infestadas por escândalos que, gradualmente, corroem a fé das pessoas.
ATITUDES CONTEMPORÂNEAS
São muitos os habitantes do globo que hoje escolhem pensar por si mesmos e tomar suas próprias decisões, independentemente do dogma religioso. Esta mudança supõe um ponto de partida real para a humanidade, mas também cria problemas. Cria problemas precisamente porque ninguém tem realmente as respostas às complexas perguntas que confrontam o público de hoje. Em muitos aspectos a humanidade sofre uma extrema necessidade de guia espiritual. A repressão do passado desembocou na explosão sexual que teve lugar na segunda metade do século vinte. Mas, detectam-se, agora, sinais esperançosos de movimentos que conduzem ao equilíbrio entre os dois extremos de liberdade e de repressão. Isto indica um notável passo adiante para o reino humano, passo que levará, eventualmente, a uma maior centralização e alinhamento espirituais.
Em vista de todos estes assuntos e da complexidade que envolve o tema do sexo, seria reconfortante desejar o retorno daquelas épocas mais simples, quando o guia espiritual se revestia de autoridade externa, na igreja e nos mais velhos. O retorno daqueles tempos em que os seres humanos obedeciam condescendentemente os ditames da lei da Igreja sem questionamentos. Mas, sob uma consideração mais séria e realista, a situação aparece irreversível, já que um novo padrão de valores deverá surgir do crisol que constitui o mundo de hoje.
Muita gente jovem tem sido testemunha de tanta turbulência e instabilidade dentro de suas próprias famílias e do mundo em geral, durante o curso de suas breves vidas, que apresentam sérias dúvidas sobre todo tipo de ditames emanados de qualquer autoridade sobre o sexo. Com a maior naturalidade buscam nos seus pares e nos meios de massa a formulação dos seus pontos de vista. E aqui jaz o verdadeiro perigo e dificuldades dos nossos dias, já que os meios hoje, pelo menos nas nações do Ocidente, apresentam com frequência uma perspectiva distorcida das relações e da sexualidade. Os pais, educadores e a própria juventude são conscientes destas distorções, mas se veem impotentes quando são confrontados pelo poder do dinheiro que sustentam tais meios. A publicidade, a televisão e a indústria cinematográfica são impulsionadas, em grande parte, pelo poder do sexo como recurso de venda. E funciona. Se um anúncio para um filme contém material de sexo explícito, o pensamento difundido é que terá mais atrativo comercial do que um produto similar que carece do mesmo. Assim o dinheiro e o sexo se enlaçam intrincadamente através da poderosa força da publicidade.
Na presente época, que coincide com a chegada da era condicionada pela constelação de Aquário, o sétimo raio, que governa a fusão do espírito e a matéria, ganha influência rapidamente. Este raio mantém alinhamento com o plano físico e os órgãos reprodutores. O fluxo desta energia tem causado um tremendo estímulo na sexualidade humana e isto é um dos fatores que contribuem para a quase obsessão e fascinação que exerce esta função sobre a sociedade global. As desordens resultantes nas relações matrimoniais (e nas relações em geral), de que somos testemunhas, guardam um paralelo com a afluência destas energias. Não obstante, também nos é anunciado, e isto é muito alentador, que devido à estimulação do intelecto humano, que está acontecendo em nosso tempo, surgirá, finalmente, um descobrimento que conduzirá à solução deste enigma.
A energia de Aquário, a constelação que lentamente está tomando controle da nossa vida planetária, estimula o espírito de universalidade e de tendência à fusão. Quando uma energia de raio entra na consciência humana, há naturalmente um período inicial de rompimento e desordem, mas com segurança o entendimento da humanidade sobre o sexo será aprofundado e reorientado para a luz, na medida que o sétimo raio assumir o controle mais completamente. Não há dúvida que no final da era, quando tudo estiver revelado, este problema será trazido à luz. É chegado o momento da resolução desta crise, e, talvez, além do presente caos, possamos manter a esperança de que o sexo comece a ocupar o lugar que lhe corresponde dentro da sociedade humana: nem dominante nem reprimido, mas reconhecido como uma importante função outorgada por Deus.
O ROL CAMBIANTE DO MATRIMÔNIO
“Não há melhor escola de treinamento para um discípulo ou um iniciado do que a vida familiar, com suas relações obrigatórias, a facilidade que outorga para ajustar-se e adaptar-se, o serviço e os sacrifícios que demanda e as oportunidades que oferece para que se expressem plenamente todas as facetas da natureza do homem. O maior serviço que se pode prestar à raça é proporcionar corpos às almas que encarnam, atendê-las e educá-las dentro dos limites do lar.” Alice Bailey – Psicologia Esotérica, I
“O que se roga é um maior cuidado na seleção e no uso de todos os meios naturais pelos quais tal seleção pode ser feita inteligentemente. As errôneas condições planetárias e o desejo sexual anormal, que equivale à enfermidade, na presente idade...” Helena Roerich – Cartas, I
Poucas pessoas negariam o fato de que a instituição do matrimônio está hoje em estado de crise. Mas as crises sempre proveem oportunidades de crescimento, e seguramente um renovado entendimento e apreciação da beleza e santidade da união matrimonial emergirão, finalmente, deste doloroso período do presente. A relação matrimonial, através da história, foi periodicamente arruinada em princípio pelos efeitos da guerra e pela necessidade dos homens de abandonarem a segurança e o conforto de seus lares e familiares para entrar em combate em lugares distantes. Como resultado, estabeleceram-se com frequência novas relações que afetaram a sociedade na sua globalidade. Além de se considerar um mundo eivado de numerosos conflitos, há a relação matrimonial que é vista condicionada por uma avalanche de fatores adicionais que contribuíram para o seu atual estado crítico – fatores tais como o ingresso em massa da mulher nos postos de trabalho, a mudança e inversão de regras tanto do homem como da mulher no seio da sociedade, a maior acessibilidade e crescente aceitação do divórcio e de pais solteiros, a crise econômica, tudo isto conduzindo à resultante incerteza.
Alice Bailey nos diz sobre a poligamia que: “A difundida promiscuidade dos sexos, e a regra em muitos países que permite a um homem possuir muitas esposas (o que é um insulto à mulher), cessarão inevitavelmente. É, em última análise, uma forma legalizada de prostituição, e o fato de ter o endosso da tradição e séculos de uso não suaviza a posição que adoto. Através desta falta de regulação e de ritmo essencial, as consequências naturais ocorreram e milhões de almas foram trazidas à encarnação, que não deveriam tê-lo feito nesta época, nem alcançar manifestação exotérica. Este fato é grandemente responsável por muito da miséria econômica atual e pelo dilema planetário moderno” (6)
O sétimo raio tem sido chamado “as bodas rituais do Filho”, já que sob sua influência encontram-se e unem-se o espírito e a matéria. Devido a este fato, nos é dito, durante os próximos cem anos veremos significativas mudanças nas leis que regem o matrimônio. As atuais dificuldades inevitavelmente ativarão uma reação, e as leis se tornarão mais rigorosas, salvaguardando a raça durante um período de transição. Estas leis, somos informados, não terão o objetivo de dificultar a fuga do matrimônio, mas resguardar a apropriada educação e cuidado dos menores, e que o enlace apressado não será admitido.
O crescente número de conselheiros matrimoniais, livros de autoajuda e seminários que proporcionam um mais completo entendimento mútuo, estão cumprindo um propósito real através da clarificação e aprofundamento da compreensão entre os sexos. O forte deste trabalho orienta-se em ajudar a manter unidos e consolidados os matrimônios já existentes, e pouco esforço é aplicado ao fator igualmente importante da correta escolha e as considerações prévias ao matrimônio – considerações que serviriam para aliviar tanto sofrimento humano. Em culturas de maior tradição, os casamenteiros e os membros da família tinham um papel importante na ajuda para a escolha do companheiro, e em muitos países ainda persiste este costume. Os casais são organizados pelos pais, parentes, astrólogos e serviços de entrevistas. Dada a alta taxa de divórcio do presente, poderia não resultar ruim a busca do conselho e opiniões adicionais ao tomar esta importante decisão, bem como estudar a compatibilidade dos casais em potencial no que se refere às energias de raio presentes em sua constituição, as suas influências astrológicas, como as mais óbvias condições de educação, cultura religiosa e temperamento. Tais medidas poderiam ajudar a aliviar alguns dos problemas que facilmente aparecem em consequência de uma entrada precipitada no contrato matrimonial.
O ABUSO DA MULHER
Para a mulher a atitude está, como havia de se esperar, intimamente ligada às atitudes básicas para o sexo. Alcançamos um ponto crítico neste jogo de relações, e se bem que as crises são sempre difíceis, porque impelem à mudança, ao longo do tempo proporcionam a oportunidade para uma expansão da visão e melhoramento das condições. E a mudança é almejada se quisermos algum dia alcançar um ponto em que às mulheres sejam concedidos aqueles direitos humanos básicos que são fundamento de toda sociedade justa. Na medida em que estivermos de acordo com tais direitos essenciais, as ancestrais desigualdades que as mulheres carregaram por séculos serão gradualmente retificadas e elas ocuparão o seu legítimo lugar no mundo e no lar. Entretanto, quem tem as rendas da circulação do dinheiro e das estruturas do poder no mundo não consentirá em ceder facilmente a estas justas exigências.
A violência contra a mulher sempre existiu em todas as partes do mundo e sob diferentes formas, mas nos últimos anos este tema assumiu um lugar destacado na consciência pública. Este crescente impacto foi impulsionado pelo interesse dos meios de comunicação na difusão de alguns dos mais sensacionais e mais bem publicados casos de abuso levados a julgamento. O maltrato é a imposição do controle e o terror numa relação por meio da violência e uma série de comportamentos que incluem a intimidação, a ameaça, o abuso psicológico e o isolamento utilizados para exercer controle e coerção sobre outra pessoa. Os atos de violência podem não acontecer com frequência, mas permanecem como um fator oculto (e constante) de inibição e terror. Mulheres de todas as culturas, raças, ocupações, ganhos salariais e idades são açoitadas por seus maridos, noivos, amantes e parceiros. O abuso é percebido em todos os níveis sociais: os culpados incluem-se entre os profissionais, médicos, psicólogos, advogados, ministros e executivos. (7)
Outro tema de crescente preocupação hoje é o problema da escravidão sexual. Muitas meninas, mulheres e jovens são seduzidas com a promessa de uma passagem grátis e emprego rendoso nas zonas mais industrializadas do mundo. Assim emigram das populações rurais só para verem-se obrigadas a anos de prostituição para saldar enormes dívidas. São forçadas a prostituírem-se para cobrir sua passagem e alojamento; muitas morrem de AIDS ou outras enfermidades. Não é fácil neutralizar tais operações, comentam policiais, devido à sua clandestinidade ou ao interesse pelos ganhos que as motivam. Quando detectados, os casos são difíceis de serem processados, já que as prostitutas temem a vingança e a deportação. As operações na sua totalidade são, em tal caso, mudadas facilmente de um lugar para outro. (8)
A desigualdade sexual também se manifesta através de atos tais como mutilação genital, carência de adequada formação para as meninas, somada à distribuição desordenada das responsabilidades domésticas e também através da extensa difusão da pornografia, que atenta de forma esmagadora contra a mulher. Somente a educação – no lar, na escola, e através dos meios de comunicação – melhorará as condições e conduzirá a uma promissora mudança de atitudes e atos. As mulheres e as meninas devem receber a educação que lhes corresponde por direito inalienável e a proteção social necessária. Deve-se ensinar aos homens que as situações abusivas são inaceitáveis e apresentar vias alternativas de solução. Mas as sementes do ímpeto da violência são semeadas na infância e por isso, muito tempo será necessário para que sejam percebidas mudanças fundamentais dentro da sociedade. Todos esses problemas em curso só contribuem para manter a mulher subordinada a uma posição de segunda classe na sociedade.
Entretanto, a marcha ascendente da evolução não pode ser detida, como ficou claramente verificado em agosto de 1995 na Conferência Mundial sobre a Mulher em Beijing, na China. Estes encontros têm sido um marco de apoio ao movimento internacional feminino, um movimento que não se cansa em demonstrar que os direitos da mulher são direitos humanos como princípio fundamental. Esta conferência sobressaltou as muitas e graves injustiças que envergonham a nossa vida no planeta, injustiças que variam desde o fato da circuncisão feminina e a imposição do véu no Oriente Médio, até o abuso doméstico, assédio sexual e crimes violentos perpetrados contra a mulher com alarmante frequência, tanto no Leste como no Ocidente. Um tópico central do debate foi o crescimento do fundamentalismo em muitas partes do globo e a maneira em que este fomentou a violência em questão. Outro tema crucial foi a globalização do capitalismo, potencialmente danoso para a mulher e para a criança, que sempre ficaram relegadas aos estratos inferiores de todo sistema econômico. Entretanto, a mulher está assumindo um maior controle da sua própria vida, devido ao acesso menos restrito à educação, às transações comerciais, ao controle do nascimento, ao cuidado de crianças e atividades em grupo de conscientização, áreas nas quais, em não poucos casos, alcançam grandes conquistas. Os homens e mulheres do mundo inteiro estão exigindo de seus governos que tomem medidas contra a violação e a mutilação genital, as agressões com fogo, a violência no lar, o submetimento dos menores e os abortos forçados. As mulheres clamam hoje por igualdade de direitos como cidadãs e junto aos tribunais, em questões de propriedade, educação, saúde e carreira política.
A exposição final de tal encontro – “Plataformas para Ação” – resultou numa declaração de amplo alcance que exortou os governos do mundo para que melhorem as circunstâncias econômicas da mulher, que as resguardem das crescentes ondas de violência e que eleve o “status” social dos menores de idade por todo o globo. Embora o documento não compromete a ação, provê sugestões e enfoques que ampliarão a visibilidade dos governantes e agências internacionais, proporcionando um modelo a ser seguido pela política e legislação nacionais.
A Conferência de Beijing, prolongamento dos encontros iniciados na Cidade do México em 1975, viu-se infundida por um sentido de urgência em razão da súbita alta do número de mulheres em situação de pobreza e outras condições deploráveis. Entretanto, apesar de tantas e formosas palavras ditas no conclave, muitas mulheres constataram, no seu retorno de Beijing, que na realidade há pouco dinheiro à disposição dos governos e organizações não governamentais para implementação do acordo. De fato, muitas organizações e programas orientados para assistirem o desenvolvimento da mulher enfrentaram sérios cortes nos últimos anos. Não obstante, as conquistas não foram poucas; alguns governos já sancionaram leis destinadas a refrear a violência, criar tribunais de família e exigir um percentual de candidatas do sexo feminino nas eleições. Deu-se o passo inicial, mas fica pela frente um difícil trabalho.
PROSTITUIÇÃO INFANTIL: UMA TRAGÉDIA MUNDIAL.
“As crianças tornam-se as vítimas da marcha para uma sociedade mais global... Sob a pressão comercial, elas estão sendo convertidas em objeto... o que deve ser revertido. As crianças não podem ser adquiridas como artigo de loja. Não são mercadoria de contrabando para saciar demandas de sexo infantil por parte de estrangeiros... A comunidade mundial deve assegurar-se de que as crianças gozem de seus direitos fundamentais e permaneçam seguras e livres de toda forma de exploração sexual ou comercial.” Ron O’Grady, Coordenador Internacional da ECPAT
A generalizada incidência da prostituição infantil é uma das mais graves injustiças que há hoje em nosso planeta. Por todo o mundo, inumeráveis meninas (e em menor grau, meninos) são despojadas do aconchego e segurança familiar, do único lugar que jamais conheceram, para serem vendidas pela melhor proposta. A prostituição de crianças tem ferido a sociedade humana durante séculos, não obstante os recentes acontecimentos terem colocado este problema num novo foco de atenção.
Estima-se que no mundo, de 10 a 12 milhões de homens visitam a cada semana as prostitutas jovens. Muitas crianças são vendidas à prostituição por suas famílias com a inequívoca crença de que isto será somente por um período limitado de tempo. As meninas aceitam, com frequência, passivamente o seu destino, considerando-o como sua responsabilidade e sacrifício – um sacrifício que creem elevará o nível de vida familiar. Mas na maioria dos casos, não se consegue escapar facilmente da prostituição, e em geral isto ocorre depois de longos anos e grande estrago na saúde.
A prostituição adulta não pode ser apagada mediante legislação punitiva, mas entre os membros da comunidade mundial cresce o consenso de que é nossa responsabilidade tentar conter esta maré crescente. Sem dúvida os direitos infantis precisam da salvaguarda de recursos legais que preponderem sobre os direitos dos pais e traficantes que escolhem entregar as crianças à prostituição. Este tema é muito complexo. É enormemente estimulado pelo desequilíbrio econômico mundial e só uma mudança de consciência poderá prover soluções ao longo do tempo através da educação e de melhores alternativas econômicas para a mulher, o que implicará tempo, dinheiro e esforço concentrado e sustentado por parte da comunidade mundial. Entretanto, a imposição de estritas medidas legais poderia ser nossa oportunidade de resposta imediata a esta tragédia coletiva. A venda do corpo não deveria ser o meio mais rápido e fácil de se ganhar a vida, especialmente na idade precoce.
Em escala mundial, mais de um milhão de meninas são forçadas a cada ano a exercer a prostituição e serem usadas na elaboração de pornografia, e isto não é um problema só dos países em desenvolvimento. No Ocidente, muitos dos jovens exilados do lar por motivos de violência doméstica, abuso de drogas e do álcool, ou crise da adolescência, frequentemente acabam nas ruas de nossas grandes cidades, fazendo da prostituição o seu meio de subsistência. Não se trata aqui tanto de um problema de ignorância de adultos e extrema pobreza, mas muito mais da negligência, violência e inabilidade das famílias, do sistema educativo e da sociedade em geral para lidar com os traumas da adolescência.
Grande parte da pressão exercida em oposição ao turismo sexual nasce na ECPAT (Fim da Prostituição e Pornografia Infantil e do Tráfico com Propósitos Sexuais), uma organização fundada em 1991 por Grupos do Bem Estar Infantil das Filipinas, Formosa, Tailândia e Ceilão (Sri Lanka). Com agências por todo o globo, a ECPAT pregoa a imposição do cumprimento das leis para a prostituição e abuso infantil, e tem sido um agente impulsionador da legislação contra o turismo sexual.
A pornografia infantil engloba um amplo espectro que inclui fotografias, filmes, diapositivos, ilustrações, revistas, baralhos, vídeos e imagens digitalizadas. Estes mesmos materiais são usados como chamariz atrativo para introduzir as crianças neste círculo, minorando suas inibições e instruindo-os nas práticas sexuais. Os pedófilos surgem de todas as zonas de atividade da vida: são eminentes médicos, advogados, assistentes sociais, docentes, policiais e clérigos. Os amigos, parentes e os próprios pais estão, em geral, envolvidos no negócio e recebem dinheiro e outras formas de recompensa pelo uso de seus filhos.
A falta de coerência das leis existentes relativas à exploração sexual e abuso de menores obstaculiza a já difícil tarefa de combater estas tendências na Internet. Os pedófilos da Rede parecem demonstrar um insaciável apetite de pornografia e são capazes de escapar sob mantos eletrônicos de difícil detecção. O vasto raio de alcance dos problemas legais e técnicos que envolvem este tipo de pornografia na Internet é uma área cheia de perigos e enigmas.
Muitas destas questões concernentes à exploração de menores vieram à luz em agosto de 1996, quando os representantes de 119 países reuniram-se em Estocolmo (Suécia) numa conferência internacional sem precedentes, com o intuito de combater o problema crescente da prostituição, do tráfico e pornografia infantis. Uma declaração consensual de abertura da conferência formulou o compromisso por parte dos governos para uma “cooperação mundial contra a exploração sexual de crianças”. Estabelece claramente que este tipo de exploração é uma violação fundamental dos direitos infantis e assevera que os Estados devem também promover a cura e a reintegração à sociedade das crianças que sobrevivem a esta situação. A pobreza, afirma, não pode ser usada como justificativa para este problema. (9)
Talvez os horrores da prostituição e da pornografia infantis, que finalmente surgem à evidência em escala mundial, poderão servir de catalisadores para o melhoramento das condições mundiais referentes aos menores e seus direitos. Os ensinamentos de Alice Bailey nos dizem que este período na história planetária está condicionado pela energia de Libra, que rege a estrutura legal-jurídica. E afirma que as condições desta época se combinarão para “criar uma situação propícia à reorientação da estrutura legal-jurídica; suas funções e deveres serão centralizados com propósito de utilidade mundial, e no seio deste processo a legislação para a criança assumirá grande importância como poder motivador. Este avanço legal será primeiramente defendido pela Rússia e apoiado pelos Estados Unidos da América.” (10) Esta profecia encerra uma grande esperança.
A EDUCAÇÃO SEXUAL
“O educador, para quem o desenvolvimento integral do ser humano é de primeira importância, deve compreender as implicações do impulso sexual - que tem uma parte tão importante em nossa vida - e ser capaz de satisfazer a curiosidade natural das crianças desde o princípio, sem despertar interesses mórbidos. Ensinar só informação biológica ao adolescente pode conduzir a uma concupiscência experimental quando a qualidade do amor não é percebida. O Amor limpa a mente do mal. Sem amor e compreensão por parte do educado, o separar meramente os meninos das meninas, por qualquer meio, somente aumenta a sua curiosidade e estimula aquela paixão destinada a degenerar em mera satisfação. É importante, então, que ambos os sexos sejam educados juntos.
A qualidade do amor deve expressar-se também no trabalho manual, tal como jardinagem, carpintaria, pintura, artesanato e através dos sentidos, observando as árvores, as montanhas, a riqueza da terra, a pobreza que os homens criaram para si mesmos, e na música, no canto, no canto das aves, no murmulho das águas que correm.” J. Krishnamurti – Liberdade Total
A juventude precisa que a educação a capacite para enfrentar as responsabilidades que implica o compromisso das relações e da vida familiar, e parte deste treinamento deve incluir informação sobre o sexo. O centro de atenção se enfoca para a capacitação para o mundo do trabalho, e pouca ou nenhuma importância à preparação dos jovens para uma plena e rica vida emocional. Os melhores modelos para a formação de relações humanas sãs, teoricamente deveriam emergir dos pais e do lar, mas desafortunadamente muitos já não contam hoje com tais modelos no âmbito familiar. Para onde podem dirigir a sua busca de formas mais saudáveis de se relacionarem?
A maioria das pessoas hoje (com exceção dos adeptos do fundamentalismo religioso) concordaria que há real necessidade de uma apropriada educação sexual obrigatória para cada idade nos programas escolares. Entretanto, o problema está na dificuldade de chegar a um consenso sobre o que é apropriado e não ofensivo de acordo com os muitos e variados sistemas de crenças a que os pais aderem. Parece que algumas das mais práticas abordagens do problema resultam os mais efetivos, devido a que exercem um impacto mais duradouro sobre a consciência. Tais programas incluiriam o convite a jovens mães solteiras e pacientes portadores de HIV para irem aos centros de ensino para dar palestras informativas aos estudantes sobre as dificuldades inerentes à criação dos filhos.
É também importante considerar a necessidade de uma discussão e educação abertas sobre os riscos do álcool e das drogas e sua íntima relação com o sexo e com a gravidez precoce. Muitos querem promover a não tão nova ideia da abstinência sexual, enquanto que outros a consideram uma opção tanto ingênua. Entretanto, Lance Morrow, em “Time Magazine” (out.1995), defende esta postura: “A mentalidade de abstinência exige uma certa metafísica moral primordial. É preciso ensinar que: quanto maior a tolerância, boa ou má, mas essencialmente má – droga, sexo acidental, violência, música idiotizante, excesso de velocidade, maus tratos, ira – maior dano. Quanto maior a abstinência, maior o proveito. Não se trata aqui de um jogo paradoxal de palavras, mas de uma verdade que a geração passada deu por descartada. Para o adolescente, abstinência implica segurança e, por conseguinte, liberdade, nascida de ser dono de si próprio. A abstinência chega a ser um meio de claridade, a janela através da qual torna-se mais fácil reconhecer, entre muitas outras, a complexidade das coisas e a sua operacionalidade”.
POPULAÇÃO – CONTROLE DA NATALIDADE
Em qualquer debate sobre os direitos de reprodução gostaríamos desde o princípio de enfatizar o fato de que uma vida sexual responsável é sempre a meta – responsabilidade na regulação e, quando for possível, no redirecionamento de energias espirituais. O advento do controle da natalidade significou uma mudança de atitudes para com o sexo, e contribuiu como um dos fatores primários à assim chamada “revolução sexual”. O controle do nascimento libertou a mulher do temor da gravidez não desejada. Entretanto, embora contando com o acesso aos meios anticoncepcionais, não bem tomamos consciência da crescente população mundial, nos damos conta de que, todavia, não se tem insistido o suficiente em colocar estes meios universalmente ao alcance daqueles que os solicitam.
Nos últimos poucos anos, em quatro grandes conferências internacionais (Cairo, Copenhague, Beijing e Istambul), o tema da “saúde reprodutiva” estabeleceu as suas dificuldades. Quando a questão surgiu nos encontros preliminares da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (ICPD), desencadeou-se não menos que uma tormenta de controvérsias. Uma coalizão de profissionais de saúde e grupos femininos empreendeu concentrados esforços para promover um programa de ampla base que transcendesse o planejamento familiar e se dedicasse a outros assuntos, tais como as enfermidades de transmissão sexual, incluindo a AIDS, infecções do aparelho reprodutor e muitos outros aspectos da saúde feminina. Este empreendimento enfrentou a oposição de certos países, assim como de grupos conservadores e associados ao clero. No término de longas e tortuosas negociações, foi adotada, por consenso, a definição de “saúde reprodutiva”. As palavras finais na conferência do Cairo fazem alusão às preocupações acima citadas, e estabelecem que “a ativa desaprovação de práticas nocivas, tais como a mutilação genital feminina, deveria ser um componente integral do cuidado primário da saúde, incluindo programas de atenção com a saúde na reprodução”. Também afirma que “sob nenhuma circunstância será promovido o aborto como método de planejamento familiar”, e sua incidência deveria ser reduzida por meio de aumento e melhoria do sistema de informação e serviços sobre planejamento familiar.
O aborto é hoje legal sob circunstâncias específicas em quase todos os países desenvolvidos do mundo, e também num alto percentual de países em vias de desenvolvimento. É de se notar que várias das religiões mais difundidas do globo, incluindo o Budismo, o Hinduísmo, e o Judaísmo, não se veem tocadas pelo mesmo dilema moral sobre o aborto que enfrenta o Catolicismo. Também existem algumas interpretações da Lei do Islã que parecem permiti-lo sob circunstâncias específicas. É pouco provável, entretanto, que este debate sobre o aborto encontre uma solução no futuro próximo, já que muitos dos indivíduos que não apoiam o conceito de “saúde reprodutiva”, permanecem contrários a esta prática, sobre bases morais e ou religiosas.
A AIDS E OUTRAS ENFERMIDADES DE TRANSMISSÃO SEXUAL
Na medida em que avançamos da Era de Peixes para a de Aquário, o desejo material e sensorial da humanidade, herdado do passado, sofre uma extraordinária pressão. Tanto o pior quanto o melhor da humanidade emerge à superfície da vida, provocando um enfrentamento entre o passado e o que temos sido, e entre o futuro e o que deveremos ser. O desejo sexual está sendo poderosamente estimulado, e ainda assim parece não haver dúvida de que o ser humano é chamado a alcançar uma demonstração superior deste aspecto fundamental da nossa natureza. Durante os últimos anos ouviu-se uma inconfundível advertência, recordando-nos as consequências de ignorar a lei espiritual em prol da busca da gratificação do desejo. Esta poderia ser uma verdadeira lição da epidemia de enfermidades transmitidas sexualmente, ainda que este enfoque não tenha sido levado em conta. Embora, definitivamente, nem todas as vítimas destes males os tenha contraído como resultado de práticas sexuais imprudentes ou de promiscuidade desenfreada, há um claro reconhecimento de que estes fatores contribuíram de forma decisiva para a sua dispersão. Alguns não admitem esta postura, colocando a culpa, injustificadamente, em fatores onde não é devida, mas aqueles que se esforçam em penetrar no significado interno que subjaz em todos os eventos externos, chegarão ao reconhecimento não necessariamente velado das lições que o emergir deste vírus parece querer imprimir na consciência humana.
Existe uma forma de relação entre os apetites aparentemente fora de controle da humanidade e o aparecimento de enfermidades relacionadas com o sexo? Há uma Lei de Causa e Efeito (alguns a chamariam “carma”) que não pode ser ignorada já que o seu funcionamento emerge claramente à aparência em todas as áreas da vida. Por escolha, por negligência, ou por ignorância, atuamos de determinadas maneiras sob qualquer circunstância dada, estabelecendo uma sucessão de causas em movimento cujos efeitos resultantes são inevitáveis, ainda que o cumprimento deste processo abarque tempo suficientemente extenso como que para obscurecer ou diluir a relação entre ambos. A AIDS é uma enfermidade do sangue que envolve a própria vida de todo o ser humano. Entendido esotericamente, o sangue é vida e, ironicamente, no caso desta infecção, o sangue é o portador da morte. Isto poderia muito bem ter relação com a influência decrescente do sexto raio e o seu impacto sobre a natureza dos desejos da raça humana.
O herpes e muitas outras enfermidades venéreas estão se propagando com rapidez, através de todo o planeta, pelas comunidades heterossexuais pelas mesmas razões que as da AIDS. Nos ensinamentos da Sabedoria Eterna é dito que a sífilis, com segura conexão esotérica, assim como fisicamente com o HIV, constitui um dos três maiores grupos de doenças que afligem a humanidade nestes tempos. É dito que tem origem antiga, sendo remanescente de excessos e licenciosidades de civilizações arcaicas. Ensina-nos também que o próprio solo do planeta está impregnado com os germens destas enfermidades, devido às emanações dos corpos que por séculos foram sepultados na terra. Naqueles dias passados, a ênfase da força da vida estava sobre o corpo físico, sobre o seu desenvolvimento, uso e controle, e também sobre a sua perpetuação e reprodução. Foi então quando teve início os problemas concernentes ao mau uso da vida sexual.
Em “Cura Esotérica” lemos: “Evidentemente, as enfermidades sifilíticas serão as últimas a desaparecer, assim como foram as primeiras a devastar a raça.” (11) Também nos esclarece que a cremação é a solução para a contaminação do solo. “Portanto é altamente recomendável que se faça a maior propaganda possível para empregar o método de dispor dos veículos físicos descartados pelas almas que desencarnam. À medida que a terra estiver menos contaminada e se estabelecer contato com a alma, teremos a esperança de ver decrescer o número dos que sucumbem às taras herdadas”. (12)
Com o fim de entender de forma cabal as implicações desta epidemia de enfermidades sexualmente transmitidas, teremos que chegar mais além das medidas preventivas de sexo seguro, já que as mesmas somente se ocupam dos efeitos e não chegam a tocar a profundidade das causas que se encontram no problema sexual, do qual estas condições são parte. A real necessidade está em educar os seres humanos desde a tenra idade, observar e entender as causas destas doenças sociais. Isto significa, com efeito, inaugurar uma nova área, anteriormente não frequentada pelo estudo e pelo conhecimento humano. Qual é o SIGNIFICADO da função sexual para uma humanidade de crescente inteligência, enfocada mentalmente, e espiritualmente sensível? Já que certamente mantém um lugar de privilégio dentro do esquema divino, O QUE É? Como podem ser mudadas as atitudes tais como: “tenho o direito de fazer o que bem me aprouver, sem me importar com as consequências”, ou como podem ser aprendidas as lições de controle e autodisciplina necessários para se viver uma vida de mérito e benefício para si e para os demais? Logo, então, a polarização da atenção se deslocará da autocentrada atitude de “primeiro eu” para uma posição de maior focalização grupal que leve em conta as implicações dos próprios atos para com o todo maior. Esta mudança de atitudes é o meio fundamental para a solução deste dilema.
Todos nós podemos buscar em nossa consciência o que realmente significa para o nosso planeta a pandemia da AIDS. Com casos acima de 25 milhões em todo o mundo, criou-se um sentido de urgência entre os seres humanos em demanda da busca de um novo e mais elevado caminho com relação à expressão sexual, de maneira tal que a nossa civilização não se veja dizimada por esta enfermidade, como foi o caso da antiga Lemúria. Não obstante, como foi mencionado anteriormente, ao mesmo tempo que esta horrenda epidemia faz estragos na raça humana, os meios de comunicação persistem em carregar a atmosfera com poderosas mensagens impregnadas de sexualidade. É assim que a humanidade se encontra numa séria encruzilhada, uma encruzilhada que clama por uma resposta prudente e mentalmente focalizada.
A HOMOSSEXUALIDADE
A discussão dos muitos e complexos temas que envolvem a homossexualidade não está compreendida dentro do alcance deste comentário. Esta é uma situação que evoca fortes opiniões, tanto a favor como contra. Como estilo de vida, a homossexualidade tem existido sobre o nosso planeta por incontáveis eons de tempo, e muitos homossexuais enriqueceram grandemente a vida cultural da humanidade. Atualmente há um processo de fusão e de mudança de direção que está se produzindo entre os sexos, com o consequente aumento da atividade homossexual. Aqueles que estudam os ensinamentos de Alice Bailey provavelmente já leram algumas passagens sobre este tema nos seus livros. Como em tantas outras questões, a Sabedoria das Idades assume com frequência o que se poderia presumir uma postura demasiado severa contra esta prática. Algumas pessoas naturalmente reagem diante deste ponto de vista, julgando-o tendencioso, arbitrário e pouco compassivo. Na realidade os investigadores têm, às vezes, a tendência a rechaçar rotundamente qualquer exposição de ensinamento que se oponha às suas tão arraigadas crenças. Todo homem ou mulher de boa vontade, com certeza, se dará conta da verdade que encerra a atitude espiritual de não condenar ou impor o próprio ponto de vista sobre os demais, deixando em liberdade cada indivíduo seguir a direção da sua consciência individual. Mas aqueles que buscam e se questionam, inseguros do caminho a tomar, poderiam encontrar enorme sabedoria nas palavras de quem é capaz de projetar a sua visão para mais além do horizonte visível. Os pensamentos do Tibetano não admitem desculpas: pode sim, equivocar-se ou estar certo. Não nos pede que o elevemos à estatura de autoridade, mas que aceitemos seu ensinamento somente se este ressoa com nossas mentes e corações. Em “Cura Esotérica” lemos: “Um dos maiores problemas para os psicólogos atualmente, e em menor grau para os médicos, é o aumento da homossexualidade, tanto masculina como feminina. Grandes argumentos são apresentados a fim de provar que este desenvolvimento anormal (e o consequente interesse por esta mórbida tendência) deve-se a que a raça está se convertendo lentamente em andrógina e que vai aparecendo, gradualmente, o futuro homem ou mulher hermafroditas. Isto não é verdade. A homossexualidade é o que poderia ser chamado de “resíduo” dos excessos sexuais da época lemuriana...” (13)
Em outros escritos o Tibetano elucida com mais detalhes a complexidade destes problemas. Estabelece, por exemplo, que na atualidade existem uns poucos raros casos de hermafroditismo. Estas pessoas enfrentam um problema muito real, que é aumentado pela ignorância humana, pela recusa a encarar os fatos, o treinamento e ensinamento prematuros e equivocados, e uma difundida má compreensão. Estes casos são detectados por toda parte e enfrentam uma difícil situação.
Devido ao aumento da publicidade através de livros, discussões e artigos sobre a homossexualidade, assim como a atenção que lhe tem dispensado a profissão médica, tem sido criado uma forma mental muito extensa desta tendência. Muitos indivíduos que não são inerentemente homossexuais, fisiologicamente, são precipitados a este estilo de vida pela própria força deste pensamento-forma.
Outras causas da orientação homossexual têm suas raízes em temas associados à Lei do Renascimento. Parece ocorrer com frequência que uma alma que tenha transitado por uma longa sucessão de existências em corpos masculinos seja transferido para um veículo feminino (ou vice-versa), com a resultante confusão na sua orientação sexual. Em tais casos, a atração para o mesmo sexo permanece como consequência de um longo condicionamento passado. Há aqui uma boa razão do porque a doutrina da reencarnação necessita ser reconhecida, compreendida e estudada cientificamente.
Naturalmente há muita ignorância no público em geral sobre as causas subjacentes, e portanto não é possível esperar um verdadeiro entendimento desta problemática no futuro próximo. Esta compreensão é necessária se esperamos que em algum dia todos os membros da sociedade sejam tratados imparcial e equitativamente perante a lei, já que a discriminação baseada em preferências sexuais é muito real e a sua superação reclama algo mais que legislação apropriada.
O PROBLEMA DA INTIMIDADE
“Íntimo” se define como “intrínseco, recôndito, profundo, muito pessoal, privado... caracterizado por, ou proveniente de uma estreita união, contato, associação, familiaridade e busca juntos”. Tal como foi assinalado, devido ao incremento da mecanização em nossas vidas, muita gente é separada do contato humano, perdendo assim a habilidade de relacionar-se com os demais de maneira genuína. Este problema é tão insidioso que os afligidos por ele nem sempre o reconhecem ou parecem perturbados por ele. E a falta de contato íntimo não é um problema que concerne somente a indivíduos solteiros ou solitários; é mais uma das condições que pode conduzir à deterioração de muitos casamentos e outras relações. Qual é a causa de tal situação e em que podemos contribuir para aliviá-la?
O abuso na infância, seja física, emocional, sexual ou através da negligência, com frequência resulta, quando chegar à idade adulta, em incapacidade de estabelecer relações pessoais íntimas de caráter saudável. O adulto, não tendo experimentado genuína atenção humana quando criança, encontra dificuldades para confiar e estender para além dos confins do seu círculo pessoal o efeito de sentir e dar amor a outrem. A vida tem sido enriquecida por uma multidão de maneiras como resultado de uma maior disponibilidade de equipamentos domésticos como vídeos e televisores, bem como da expansão da informática e da Internet. Não obstante, em contrapartida, estas atividades têm também contribuído para a nossa solidão coletiva, já que são, em primeira instância, individuais e não fomentam nenhum contato genuíno com os demais, além da segurança da distância. Em gerações anteriores, reunia-se como resposta espontânea aos costumes estabelecidos da época, tais como bailes, cerimônias religiosas, execuções musicais, salões de conversações, incluindo o bar da localidade que servia assiduamente de lugar de encontro para todas as gerações. Hoje em dia, com o desgaste ou desaparecimento destas atividades, a muitos falta a experiência e oportunidade da comunicação em níveis íntimos. E por estranho que possa parecer, muitas pessoas para quem a intimidade é um problema, não apresentam dificuldades em relacionar-se sexualmente com outras pessoas. Parece que há momentos em que só por via sexual é que é possível qualquer tipo de contato humano.
O AMOR ROMÂNTICO
“A menos que tratemos o amor como a nossa sombra, a nossa experiência do mesmo será incompleta. Uma filosofia sentimental do amor, que abarque somente o romântico e o positivo, fracassará perante o primeiro sinal de obscuridade – pensamentos de separação, a perda da fé e da esperança na relação, ou mudanças inesperadas nos valores do casal. Uma visão tão parcial também apresenta expectativas e ideais impossíveis. E se o amor não puder prover-se destes ideais, é destruído por ser inadequado. Alegra-me ter em conta que o amor, em nossa herança literária e artística, é retratado como uma criança, frequentemente com seus olhos vendados, ou como um adolescente indócil. Por sua própria natureza, o amor produz a sensação de insuficiência e de incapacidade, que, sem embargo, completa e dá forma ao seu amplo espectro de emoções. O amor centraliza sua essência em seus sentimentos de impossibilidade, de imperfeição e de falta de plenitude.” Thomas Moore – O Cuidado da Alma na Vida Diária.
Robert Johnson, na sua “Psicologia do Amor Romântico”, reconstrói o fenômeno da nossa preocupação ocidental pelo namoro desde os séculos doze e treze, em pleno auge do amor galante. “O amor romântico”, diz, “é o único sistema grandioso de energia na psique do ocidental. A nossa cultura suplantou a religião como o âmbito em que os homens e mulheres buscam significado, transcendência, sentido de totalidade e êxtase... Já que o amor romântico não se restringe ao significado de ‘amar alguém’, mas implica ‘estar enamorado’. Trata-se de um fenômeno psicológico muito específico. Quando estamos ‘enamorados’ cremos ter encontrado o ultérrimo significado da vida, revelado em outro ser humano... A vida de pronto parece adquirir uma plenitude, uma intensidade supra-humana que nos eleva por cima do plano ordinário da existência”. (14)
Em nossa moderna sociedade do Ocidente, o amor romântico converteu-se num fenômeno de massa, alimentado pelos meios de comunicação. Entretanto, apesar do sentimento inicial de exaltação experimentado ao “enamorar-se”, não bem a euforia se extingue, tomamos consciência dos nossos sonhos não realizados, e com frequência nos abandonamos numa profunda solidão, alienação e frustração. Geralmente culpamos o outro por falharmos; não nos ocorrendo que talvez sejamos nós que necessitamos uma mudança das atitudes e expectativas e das demandas que impusemos sobre nossas relações com os demais. Com o tempo o amor romântico torna-se uma pesada carga, já que a crença no romantismo funciona muitas vezes em contradição com a realidade funcional de qualquer relação duradoura. Ao se pensar que a euforia inicial pode ser mantida, mas com o passar do tempo as usuais tensões e fadigas desgastarem as fibras da relação, uma ou ambas as partes tendem a buscar algo mais novo e excitante. Estes reclamos inconscientes e o consequente sentimento de alienação, crê o Dr. Johnson, são as grandes feridas causadoras de indescritível dor e sofrimento na psique ocidental. Carl Jung asseverava que quando uma ferida psíquica é identificada, o próprio caminho para a cura consciente fica a descoberto. E é através da cura de nossas lesões psíquicas é que nos convalescemos para o autoconhecimento e para uma expressão mais plena da nossa divindade essencial.
O SEXO E A ESPIRITUALIDADE
“Uma mente que está buscando não é uma mente apaixonada, pois a única maneira de descobrir o amor é dar com ele sem buscá-lo – encontrá-lo não deliberadamente, nem como resultado de qualquer esforço ou experiência. Tal classe de amor, descobrirão, não pertence ao tempo; semelhante amor é tanto pessoal como impessoal, é a unidade, é os muitos. É como uma flor perfumada; pode-se deter ante o seu aroma ou seguir o caminho. A flor é para todos e para quem que se toma ao trabalho de inalar-lhe profundamente e observá-la com prazer. Estar próximo do jardim ou muito longe é o mesmo para a flor, que está tão transbordante de perfume que o compartilha com todos.
O amor é algo novo, fresco, vivente. Não tem ontem nem amanhã. Mora além da agitação do pensamento. Somente a mente inocente conhece o que é o amor, e a mente inocente pode viver no mundo que não é inocente. Encontrar esta coisa tão extraordinária que o homem tem perseguido incessantemente através do sacrifício, da adoração, da relação, do sexo ou de toda forma de prazer ou de dor, só é possível quando o pensamento chega a compreender a si mesmo e naturalmente esgotar-se e chega a seu fim. Assim, o amor não tem oposto, não tem conflito.” J. Krishnamurti – Liberdade Total
“A energia sexual utilizada pela Natureza para o propósito da reprodução é em seu caráter essencial a energia fundamental da vida. Não pode ser usada para a elevação mas sim para certa intensificação da vida vital-emocional; pode ser controlada e desviada do propósito sexual e usada para uma frutificação estética ou artística, ou qualquer outra forma de criação ou produtividade, ou preservada para a elevação do intelecto ou outras energias. Sendo completamente controlada, é possível sua transformação numa força de energia espiritual. A energia do sexo mal empregada leva à desordem e à desintegração da energia vital e seus poderes.” Sri Aurobindo – A Mãe Natureza, sobre o Alimento e a Vida
É significativo o fato de que a função do centro sacro, o mais associado com o impulso sexual, seja a correspondência inferior do centro laríngeo, o centro criativo do ser humano. Embora os ensinamentos da Sabedoria Antiga advirtam contra qualquer tipo de concentração sobre os centros, é importante reconhecer que o centro laríngeo é o responsável pela estimulação do pensamento, investigação, cultura, e toda atividade criativa que realize o valor da beleza e da vida sobre a Terra. É-nos dito que devido à crescente polarização mental da raça humana este centro está sendo estimulado como nunca antes o havia sido, e como resultado do entrante sétimo raio, o centro sacro também está sendo energizado da mesma maneira. E à medida que aumenta a polarização mental da raça, produz-se um deslocamento natural das energias que gravitam em torno da sexualidade humana para uma modalidade de expressão mais elevada e criativa. Gradualmente, a preocupação pelo sexo e a criação de uma nova vida dará lugar a um interesse pelas criações da mente, mais do que pela criação de formas corporais. Quando consideramos as transcendentais implicações coletivas deste redirecionamento ou transferência de energias, começamos a perceber as oportunidades que se apresentam a nós e à nossa civilização numa nova rota evolutiva. Estamos em processo de cumprir nosso destino humano de ser “cocriadores com Deus”.
A sexualidade humana deveria assim, de forma ideal, como algum dia o fará, expressar o amor criativo entre um homem e uma mulher, de forma tal que ficará forjado um nível mais profundo de cooperação e entendimento mútuos que enriquecerá a vida sobre a Terra. Em lugar de condicionar-se à dependência e à necessidade, que só servem para diminuir o potencial criativo de cada um, o casal pode, como unidade, demonstrar grandeza, fortaleza e maior criatividade no sentido mais depurado do termo. Este tipo de relação contribuirá para uma compreensão da unidade essencial da vida, com seus padrões interdependentes de associação, todos eles sustentados em coerente simetria dentro do “círculo do amor divino”.
Em geral, uma das áreas de maior confusão e dificuldade que defrontam muitos aspirantes na Senda Espiritual, relaciona-se com o tema do sexo. De muitas maneiras estas pessoas se separaram da consciência de massa, com sua identificação com a forma, com a miragem e maya dos três mundos, funcionando a partir de uma clareza mental recentemente adquirida. O discipulado é um estágio muito difícil dentro do caminho do crescimento evolutivo, já que por um lado ele é humano, com todas as suas necessidades – físicas, emocionais e mentais – de contato e relação, e por outro lado se vê confuso, e se pergunta que lugar ocupam tais necessidades dentro do contexto da vida espiritual. Os ensinamentos espirituais tradicionais, na sua maioria, aproximam-se da moralidade e advertem contra os assim chamados “pecados” de comportamento. Muitas escolas de pensamento religiosas também defendem o celibato como a melhor senda de transformação interna. E ninguém pode negar as necessidades da própria alma e o fato de que o seu propósito pode, em certos trechos do caminho durante certas existências, requerer a vida celibatária. Mas o conceito imposto à vida que coloca a expressão sexual num lugar separado da espiritualidade, é certamente uma má interpretação que, afortunadamente, será clarificada durante o desenvolvimento da próxima era.
Como nos é explicado em “Psicologia Esotérica” – Tomo I: “Crer que o discípulo deve levar uma vida de celibato e abster-se de praticar toda função natural é incorreto e indesejável. ...não pode haver uma esfera de atividade humana na qual o homem não atue de forma divina ou que todas as funções não possam ser iluminadas pela luz da razão pura e pela inteligência divina. ...a vida que não estiver perfeitamente integrada e que não exerça todas as funções da sua natureza animal, humana e divina, (o homem tem as três num só corpo) é frustrada, inibida e anormal. É verdade que nem todos podem contrair matrimônio nestes tempos, mas isto não nega a realidade maior que Deus criou o homem para unir-se em matrimônio”. (15)
A regulação da vida sexual não significa que a sua expressão seja negada. Ainda assim, quando alguns indivíduos empreendem ardorosamente o Caminho Espiritual, erroneamente supõem que o sexo, de que maneira for, é algo que deve ser descartado. É verdade, não obstante, que se não há uma boa regulação da vida, a prática da meditação levará a uma intensificação dos problemas de natureza sexual. As alturas do contato espiritual conseguidas durante a sua prática atraem a energia da alma para a personalidade e tal energia, com frequência, deriva-se diretamente para o centro sacro, no lugar de ser contida no laríngeo, como deveria ocorrer. É-nos dito que isto pode levar a perversões da vida sexual, e que a imaginação perigosamente estimulada, conduzirá à perda de controle. Esta é a explicação do porque uma vida contemplativa solitária, alijada do mundo e carente de qualquer via real de canalização externa em termos de serviço, etc, pode tornar-se problemática. A Sabedoria Antiga, portanto, nos insta a nos entregar ativamente a vidas criativas de serviço, utilizando ao máximo nossas capacidades mentais. Isso permitirá um livre afluir das energias com as quais se fez contato, e deveria ajudar a aliviar qualquer estímulo indevido do centro sacro. Diz o “Um Tratado sobre Magia Branca”: “Quando as energias do centro sacro, focalizadas até agora no trabalho da criação e da geração físicas e portanto a fonte da vida e do interesse sexual, são sublimadas, reorientadas e elevadas para o centro laríngeo, então o aspirante se torna uma força consciente e criadora nos mundos superiores; penetra o véu e começa a criar o cânon das coisas que, oportunamente, estabelecerá o novo céu e a nova terra”. (16)
Encontramo-nos agora numa etapa do nosso crescimento evolutivo em que as energias da mente e as da alma estão melhor assentadas e já pode ser efetuada a transferência necessária das energias com as quais tenha sido feito contato. Este redirecionamento é, na sua totalidade, parte de um ponto decisivo na história da evolução planetária, e um fragmento vital da contribuição que a humanidade está destinada a oferecer dentro do esquema planetário.
O SEXO NA NOVA ERA
Diz-se que a psicologia será a ciência que prevalecerá no futuro e que um dos propósitos fundamentais do seu novo enfoque será a determinação do propósito individual de vida. A isso será acrescentado o aporte de estudo da constituição do raio de cada indivíduo. Apoiadas neste conhecimento, as relações humanas poderão ser dirigidas mais inteligentemente e a união com o sexo oposto não só será impulsionada pelo amor e pelo desejo, mas também por uma ordenada apreciação intelectual do verdadeiro significado desta relação como uma manifestação da Lei da Vida Grupal. Homens e mulheres serão considerados como células componentes de um organismo vital, e as suas atividades e perspectivas serão coloridas por esta compreensão. Então é assim como o amor do homem pela mulher e vice-versa fará sentir a sua presença com mais força do que agora, já que assentará as suas bases sobre a inteligência no lugar de ser puramente emocional ou físico. Eventualmente, a relação matrimonial será um sinal de união entre iguais, ou seja, os companheiros de enlace compartilharão aproximadamente o mesmo ponto de desenvolvimento evolutivo. Isso facilitará a neutralização dos desequilíbrios dos matrimônios de hoje. Ambos membros do casal se complementarão e resultarão harmônicos em todos os níveis: físico, emocional e mental, condição raramente encontrada nas relações de agora.
Como resultado destes matrimônios mais apropriados, poderão ser providos melhores veículos para as almas de grande desenvolvimento que necessitam encarnar. Assim diz “Psicologia Esotérica” Tomo I: “A correta preparação acontecerá antes de se satisfazer o impulso sexual e as almas serão atraídas pela urgência do desejo de seus pais, da pureza dos seus motivos e do poder do seu trabalho de preparação”. (17) A necessidade de famílias mais numerosas será gradualmente substituída pela ideia de uma criança com qualidade e inteligência. A humanidade avança rapidamente para o reconhecimento de que o Planeta Terra não poderá sustentar, além de certo ponto, uma população muito numerosa.
Quando a Lei do Renascimento chegar a ser mais aceita pelo público em geral, sua repercussão sobre as relações humanas será de amplo alcance, já que a humanidade gozará de um entendimento mais completo das obrigações familiares e grupais, e consequentemente poderá transitar o caminho da vida com mais esmero. Entender-se-ão com maior clareza as responsabilidades que advêm do matrimônio e da vida familiar, e o ser humano entenderá cada vez mais com maior profundidade a verdade que encerra o aforismo “o que o homem planta, colhe”, e colherá aqui e agora e não num místico e mítico céu ou inferno. Ele terá que realizar seus ajustes no âmbito da vida diária, que de per si já proporciona o adequado céu e um mais adequado inferno.
Segundo os Antigos Anais da Sabedoria Secreta, na atualidade transitamos um período que é preparatório em sua natureza. Estamos nos alistando para um acontecimento transcendente dentro de nossa vida planetária: o reaparecimento do Cristo, o Grande Instrutor Mundial da Era de Aquário. Afirma-se que “Quando houver um debilitamento da Lei” o Mestre surge para emitir a nota e estabelecer a tonalidade da nova civilização em desenvolvimento. Previamente a esta manifestação física efetiva, podemos esperar um fluxo de energia sem precedente: a energia do Amor vertida em cada um dos três planos de manifestação do ser humano. E isto está acontecendo agora. Mas os efeitos do estímulo resultante estão sujeitos à qualidade dos veículos sobre os quais é produzido o impacto desta energia. Este fato é assim explicado pela “Psicologia Esotérica” Tomo I: “A afluência do Amor estimulará tanto o amor como o desejo terreno e a concupiscência animal; fomentará o impulso de adquirir posses materiais, com todas as suas consequências malignas, o consequente crescimento das reações sexuais e as diversas expressões de um mecanismo mal regulado que responde a uma força impessoal. Também produzirá o desenvolvimento do amor fraternal, fomentará o desenvolvimento da expressão da consciência de grupo e a compreensão universal, trazendo uma nova e poderosa tendência para a fusão, a unificação e a síntese. Tudo isto se fará por meio da humanidade e do espírito crístico. O amor de Cristo derramará constantemente sobre a Terra e a sua influência será cada vez mais forte durante os séculos vindouros; ao final da Era de Aquário e mediante o trabalho do sétimo raio (que faz com os pares de opostos colaborem mais estreitamente), poderemos esperar a “ressurreição de Lázaro dentre os mortos”, e o surgimento da humanidade da tumba da matéria. A divindade oculta será revelada. Todas as formas estarão sob a influência do espírito crístico e será alcançada a consumação do Amor”. (18)
Podemos assim vislumbrar o fato de que avançamos inexoravelmente, não mais na escuridão, para uma nova e mais alta expressão da nossa natureza de amor, uma expressão de energia que será condicionada, nos seus mais elevados aspectos, pela emergente energia do Cristo. São inevitáveis, portanto, as mudanças fundamentais em todas as nossas relações, incluindo as sexuais. É muito o que se pode esperar deste presente período e das décadas futuras, e somente podemos imaginar e contemplar os efeitos externos da transformação que este tremendo influxo de amor produzirá dentro de nós mesmos e do mundo.
PENSAMENTOS FINAIS
Sabemos que o mundo interior está velado para nós e que se manifesta em forma de símbolos no mundo externo. Como já foi dito, o sexo é um dos símbolos mais profundos de que dispomos, já que retrata, de certa maneira, o impulso inesgotável para a união com o divino. Desafortunadamente, este símbolo exterior tem velado tão profundamente a realidade subjetiva que, para muitos hoje em dia, o sexo perdeu toda classe de parentesco com a sua origem divina e transformou-se em mera manifestação física. O culto do sexo, como o do dinheiro e o da beleza no plano físico, desprovido de suas dimensões mais excelsas, nunca alcançará o objetivo a que se destina. É apenas algo mais de um apetite insaciável que acorrenta o ser humano aos substratos da miragem e da ilusão, obrigando-o a renascer mais e mais vezes.
Mas já são muitos os que aspiram uma manifestação mais elevada desta força divina, buscando o caminho de saída através da miragem que turva este símbolo épico e procuram firmemente entender em que lugar exatamente deve ocupar no drama humano. Ninguém tem, como indivíduo, todas as respostas para este complexo problema, nem existe autoridade alguma que pode nos indicar o caminho a seguir, a despeito do enorme caudal de sabedoria que possa ter. Como todos os demais problemas que afligem a vida neste final de século, o enigma do sexo não cederá a soluções fáceis ou cômodas. As respostas certamente evoluirão no contexto coletivo, surgindo da sabedoria compartilhada de muitas mentes e corações que juntos forjarão a rota de escape da atual confusão. Nossa tarefa, como grupo, é de caráter purificador – a purificação da atmosfera subjetiva do planeta – e nisso podemos ajudar através da qualidade e dedicação de nossas vida.
Aquário é o símbolo da irmandade – uma irmandade que implica o mais profundo respeito e confiança. Seguramente, com o auxílio desta afluência de energia qualificadora, nossa civilização planetária encontrará o caminho para uma manifestação mais espiritual do amor humano. As mudanças estruturais e psicológicas necessárias são de tal profundidade que são poucos os que parecem dispostos a enfrentar o desafio, quanto mais não seja em pensamento, menos ainda na ação. Mas também sabemos, ao observar os arrasadores eventos mundiais dos anos passados, que as mudanças podem surgir rapidamente, uma vez que as sementes tenham sido semeadas. Ninguém discute que no que se refere ao tema da sexualidade, como da igualdade dos gêneros, chegou o momento de corrigir as injustiças do passado. Sabemos positivamente que existe um problema, o vemos ao nosso redor, em nossa vida diária, em nosso lugar de trabalho, nas instituições nacionais e internacionais, nos meios de difusão e nas artes. Cabe a cada um de nós contribuir para a geração da forma mental para a solução deste problema.
Somos advertidos que é nossa obrigação confrontar as transformações
necessárias no mundo externo com as mudanças correspondentes em nós mesmos.
Não é suficiente, portanto, esperar e trabalhar por transformações externas
na esperança que estas efetuem as devidas mudanças internas. Devemos dirigir
a nossa vista para o interior e descobrir que atitudes, antagonismos e
antipatias que moram no seio da nossa consciência coletiva estão contribuindo
para sustentar este estado de coisas e impedindo o estabelecimento do Plano
Divino na Terra.
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Referências:
1 – Os Raios e as Iniciações – A A Bailey – pág.
603
2 – Astrologia Esotérica – A A Bailey – pág. 164
3 – Moralidade Sexual nas Religiões Mundiais – Geoffrey Parrinder –
pág. 26
4 – Disha Nikaya – pág. 2.141
5 – Moralidade Sexual nas Religiões Mundiais – pá. 193
6 – Educação na Nova Era – A A Bailey – pá. 135
7 – Coalizão Nacional contra a Violência Doméstica – Barbara Hart,
1998
8 – The New York Times, Escravidão Sexual, da Tailândia a Nova York,
11.9.95
9 – ECPAT-USA News, Tomo II, janeiro de 1997
10 – Astrologia Esotérica – A A Bailey – pág. 238
11 – Idem – pág. 61
12 – Idem – pág. 61-62
13 – Idem – pág. 62
14 – A Psicologia do Amor Romântico – Robert A Johnson – pág. 11-12
15 – Psicologia Esotérica, Tomo I – A A Bailey – pág. 304-305
16 – Um Tratado sobre Magia Branca – A A Bailey – pág. 192
17 – Psicologia Esotérica, Tomo I – A A Bailey – pág. 297
18 – Idem – pág. 281-283