Educação, Cidadania e Democracia
Boa Vontade Mundial

Em todo o mundo, a relação entre educação e democracia enfrenta uma pressão renovada. A ascensão do populismo autoritário, a desinformação online, a polarização política e os ataques à liberdade acadêmica desafiam a função democrática da educação. Em muitos países, a educação cívica está sendo reduzida ou politizada. Além disso, o crescente marketing da educação — tratando a educação como uma mercadoria em vez de um bem público — desloca seu foco da cidadania para a produtividade. Essa estrutura econômica marginaliza a missão democrática da educação e corre o risco de produzir indivíduos apolíticos e desengajados, focados apenas em ganhos pessoais.

Alice Bailey escreve que: A verdadeira democracia “será possível pelo correto emprego dos sistemas de educação e da constante instrução ao povo para reconhecer os valores mais elevados, o ponto de vista mais correto, o idealismo mais nobre e o espírito de síntese e a unidade na cooperação. A unidade na cooperação difere da unidade imposta, pois o espírito subjetivo e a forma objetiva atuam para um fim único reconhecido”. [A Exteriorização da Hierarquia, p. 52]

O papel da educação neste momento de grande transição é crucial. Ao estabelecer padrões muito altos, poderíamos dizer que ela deve preencher a lacuna entre o intelecto e a intuição, entre a cidadania e o discipulado. Deve preparar os indivíduos não apenas para o emprego ou o voto, mas também para o serviço, a cooperação e a reconstrução de valores humanos em escala planetária. Não nos esqueçamos, no entanto, de que a UNESCO relata que, apesar do lento progresso ao longo de várias décadas, cerca de 251 milhões de crianças em todo o mundo ainda estão fora da escola. De um ponto de vista puramente cívico, a desigualdade educacional mina a democracia. De uma perspectiva esotérica, também obstrui a jornada evolutiva do Eu espiritual, a alma. Quando o acesso à educação de qualidade está ausente, isso prejudica tanto a livre participação no processo democrático quanto o despertar interior. A injustiça educacional não é apenas uma falha política; é uma emergência espiritual. Ignorar o desenvolvimento de processos educacionais em qualquer grupo de pessoas viola o princípio das corretas relações humanas. Lidar com isso exige mais do que reformas – exige uma ressacralização da educação e um senso de propósito revisto.

Sem entrar em detalhes sobre diferentes países ou regiões, é justo dizer que a educação em todo o mundo ainda se concentra amplamente na acumulação de fatos, na competição e no sucesso econômico, em detrimento de valores mais nobres. Isso reflete como a maioria das pessoas ainda vê o mundo: como material e não como espiritual. A UNESCO, em grande parte de seu trabalho para garantir a educação em todo o mundo – sem deixar ninguém para trás – não é exceção.

A educação desempenha um papel fundamental na formação do cidadão. Ela não apenas proporciona aos indivíduos o conhecimento de seus direitos e responsabilidades, como também fomenta o pensamento crítico e incentiva a participação na vida pública. John Dewey, um proeminente filósofo da educação do século passado, argumentou em Democracy and Education que a democracia deve renascer em cada geração e que a educação é sua parteira. A democracia não é algo que foi conquistado de uma vez por todas: é um processo a ser nutrido constantemente. Sem amplo acesso à educação de qualidade, os cidadãos não podem se envolver significativamente em processos democráticos. Gert Biestra é um pensador educacional moderno cujas ideias foram influentes, tendo sido até mesmo implementadas no Currículo Nacional Básico Finlandês para a Educação. Ele argumenta em Learning Democracy in School and Society que, na formação de cidadãos, a educação deve abordar três tópicos: qualificação, socialização e subjetivação. A qualificação consiste em dar aos alunos as qualificações para atuarem como parte da força de trabalho e, de forma mais ampla, como membros qualificados da sociedade. A socialização envolve a transmissão de valores e comportamentos sociais, políticos e culturais que visam à preservação da sociedade. A função socializadora da escola é (re)produzir a cultura existente, transmitindo normas e tradições culturais. A subjetivação consiste em os alunos se tornarem sujeitos e perceberem que têm a liberdade de agir, ou não, de maneiras particulares em cada situação de vida. A subjetivação é um conceito desafiador. Isso envolve o desenvolvimento de habilidades, por exemplo, para navegar nas tensões entre ideais e realidade. O gerenciamento dessas tensões recebe um foco ético e empático, incentivando os alunos a refinar e defender sua compreensão do que é certo e bom para si mesmos, bem como para as pessoas e o mundo ao seu redor.

Historicamente, diversos sistemas educacionais alternativos evoluíram e ainda estão evoluindo e prosperando hoje: escolas Waldorf, Montessori e Reggio Emilla, por exemplo. Há muitas iniciativas baseadas nesses conceitos, especialmente em países escandinavos e outros países bem desenvolvidos. Um exemplo é a Peace School, uma escola primária na Holanda, que fez uma apresentação como parte da recente celebração do Dia Internacional da Consciência em Genebra. No ensino superior, a paz e a educação para a paz também estão desempenhando um papel mais proeminente. Talvez não seja coincidência que o Instituto de Pós-Graduação de Genebra esteja sediado na Maison de la Paix (Casa da Paz). O Instituto de Pós-Graduação é uma universidade de pesquisa de nível de pós-graduação em Genebra, dedicada a produzir "conhecimento e expertise em relações internacionais, questões de desenvolvimento, desafios globais e governança". À medida que os desafios globais e o clima político se tornam mais complexos, a colaboração entre as entidades das Nações Unidas é mais essencial do que nunca. Para tanto, a Universidade para a Paz (UPEACE) e o Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (UNITAR) estão colaborando para oferecer programas conjuntos de mestrado e certificação.

O Democrat, financiado pela União Europeia, oferece um rico acervo de recursos sobre Educação para a Democracia. O blog Democrat Horizon do projeto apresenta perspectivas de vários países europeus. Um exemplo do blog é o projeto AKA (Conscientização, Conhecimento, Ação), que promove:

O poder transformador da Educação para a Cidadania Global (ECG) como base para a participação democrática. Jovens engajados na ECG desenvolvem competências essenciais, como:

Pensamento Crítico: Aprimorar a capacidade de analisar, questionar e compreender questões sociais complexas.

Empatia e Consciência Social: Promover a sensibilidade à diversidade, à tolerância e à solidariedade intergeracional.

Habilidades de Cidadania Ativa: Incentivar a participação em processos democráticos, advocacia e iniciativas comunitárias.

Responsabilidade Ambiental e Social: Promover a justiça climática, modelos econômicos sustentáveis ​​e igualdade de gênero como parte integrante do engajamento cívico.

Em vez de ser meramente um sistema político, a democracia pode ser considerada uma forma de transição que abre caminho para uma governança planetária mais unificada, baseada em princípios espirituais. Pois, para que a democracia evolua, os cidadãos precisam expandir sua identidade para além de raça, nação ou classe, a fim de abraçar a "Humanidade Única".

Isso exige um novo tipo de cidadão mundial guiado por:

Autoconsciência interior

Um compromisso com a justiça, não apenas com a legalidade

Responsabilidade para com a humanidade como um todo

Disposição para servir, não para dominar.

Os sistemas educacionais tradicionais, focados na competição e no sucesso individual, frequentemente suprimem essa identidade mais ampla. No entanto, a consciência grupal, o amor inteligente e a compreensão intuitiva são qualidades essenciais para uma futura democracia funcional, baseada em princípios espirituais.

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