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Livros de Alice Bailey

A LUZ DA ALMA - Sua Ciência e Efeito
Os Aforismos de Ioga de Patânjali


LIVRO IV

ILUMINAÇÃO

a) Consciência e Forma
b) União ou Unificação

Tópico: Unidade isolada


Livro IV - Aforismo 1

1. Os siddhis (ou poderes) superiores e inferiores são alcançados pela encarnação, ou por drogas, palavras de poder, desejo intenso ou pela meditação.

Chegamos agora ao quarto livro, no qual os poderes e os resultados obtidos pela prática da Raja Ioga são levados adiante até a realização grupal e se vê que eles produzem a consciência universal e não apenas a autoconsciência. Parece ser parte da sabedoria protestar aqui contra o emprego das palavras "consciência cósmica" por não serem verdadeiras e darem uma ideia falsa, pois mesmo o mais elevado adepto (prestem bastante atenção a este termo) só é agraciado com a consciência solar e não tem contacto com o que está fora de nosso sistema solar. Os Logos planetários (os sete Espíritos ante o Tronco), e os Senhores do Carma (as "quatro rodas" de Ezequiel) têm uma conscientização que ultrapassa nosso sistema solar. Existências menores podem pressenti-la como uma probabilidade mas ainda não é parte de sua experiência.

Os poderes obtidos se enquadram em dois grupos principais chamados:

a. Poderes psíquicos inferiores, os siddhis inferiores.
b. Poderes espirituais, ou siddhis superiores.

Os poderes inferiores são resultantes de estar a consciência da alma animal humana em relação com a anima mundi ou a alma do mundo, o lado subjetivo de todas as formas nos três mundos, de todos os corpos nos quatro reinos da natureza. Os poderes superiores são o resultado do desenvolvimento da consciência grupal, do segundo aspecto da divindade. Eles não somente incluem os poderes inferiores, mas também o homem em relação com aquelas existências e formas de vida que são encontradas nos reinos espirituais, ou, como diria o ocultista, naqueles dois planos que estão além dos três mundos, e que abrangem toda a escala da evolução, humana e supra-humana.

A meta do verdadeiro aspirante é o desabrochar destes poderes superiores que podem ser cobertos pelos termos conhecimento direto, percepção intuitiva, percepção espiritual, visão pura, a obtenção da sabedoria. Eles são diferentes dos poderes inferiores, pois os abolem. Estes últimos são descritos com precisão no Livro III, Aforismo 37:

"Estes poderes são obstáculos à mais alta realização espiritual, mas servem como poderes mágicos nos mundos objetivos",

Estes poderes superiores são inclusivos e distinguem-se por sua precisão e infalibilidade quando empregados corretamente. Seu funcionamento é tão instantâneo como um lampejo da luz. Os poderes inferiores são falíveis, o elemento tempo está presente em seu sentido sequencial e eles são limitados em seu funcionamento. Eles formam parte da grande ilusão e constituem uma limitação para o verdadeiro aspirante.

No aforismo que estamos considerando são dados cinco meios pelos quais se desenvolvem os poderes psíquicos e é interessante notar que temos nestas palavras um exemplo do fato de que os Aforismos da Ioga podem ainda ser o manual de ensinamento e de estudo de aspirantes mesmo tão avançados como os Mestres de Sabedoria. Estes cinco métodos podem ser aplicados nos cinco planos da evolução humana, que incluem os dois planos mais elevados onde operam os iniciados nos Mistérios.

1. Encarnação O método do plano físico.
2. Drogas A libertação da consciência astral.
3. Palavras de Poder Criação pela palavra, ou método do plano mental.
4. Desejo Intenso A sublimação da aspiração ou o método do plano búdico, a esfera do amor espiritual.
5. Meditação O método do plano átmico, a esfera da vontade espiritual.

Pode-se notar, nesta enumeração, que assim como o intenso desejo de tipo espiritual é uma sublimação do desejo astral ou emocional, a meditação, tal como praticada pelos iniciados, é a sublimação de todos os processos mentais. Assim, os dois últimos dados como resultando no desabrochar dos siddhis são os únicos praticados pelos iniciados, sendo a síntese e a sublimação das realizações alcançadas nos planos astral e mental.

Pode-se assim observar que (para o que procura a verdade) a encarnação, o desejo intenso e a meditação são os três métodos permitidos, e os únicos que devem ser praticados; drogas, palavras de poder e encantações mântricas são as ferramentas dos magos negros e dizem respeito aos poderes inferiores.

Pode-se aqui indagar se não é verdade que as palavras de poder e o emprego de' incenso são parte das cerimônias de iniciação e, portanto, empregadas pelos iniciados e aspirantes. Certamente que sim, mas não no mesmo sentido aqui referido, ou seja, com a finalidade de desenvolver poderes psíquicos. Os Mestres e seus discípulos empregam palavras de poder para lidarem com existências não humanas, para invocar o auxílio dos anjos e para manipular as forças construtivas da natureza, e empregam ervas e incensos para purificar as condições reinantes, eliminar as entidades indesejáveis e tornar assim possível aos que estão mais elevados na escala da evolução, fazerem sua presença sentida. Isto é, contudo, muito diferente de sua utilização para se obter poderes psíquicos.

É interessante notar aqui que a primeira causa que provoca o desenvolvimento dos poderes da alma, quer superiores ou inferiores, é a grande roda dos renascimentos. Isto deve sempre ser levado em consideração. Nem todos estão ainda no estágio em que lhes seja possível desenvolver os poderes da alma. Em muitos, o aspecto alma está ainda adormecido porque ainda não passaram por toda a experiência e desenvolvimento da natureza inferior.

Os quarenta anos de peregrinação pelas regiões selvagens carregando o Tabernáculo e a conquista de Canã tiveram que preceder o governo dos reis e a construção do Templo de Salomão. Deve-se passar por diversas vidas antes que o corpo, ou o aspecto Materno, seja tão aperfeiçoado que o Cristo Menino possa se formar dentro do veículo preparado. Deve também ser lembrado que a possessão dos poderes psíquicos inferiores é, em muitos casos, um sintoma de um baixo estágio evolutivo e da íntima associação de seu possuidor com a natureza animal. Isto tem que ser ultrapassa- do antes que os poderes superiores possam chegar à floração.

É desnecessário dizer que o uso do álcool e de drogas pode libertar e liberta a consciência astral, como também o faz a prática da magia sexual, mas isto é puro e simples astralismo, com o qual o verdadeiro estudante de Raja Ioga nada tem a ver. É parte do desenvolvimento no Caminho da esquerda. A obtenção dos poderes da alma pelo desejo intenso (ou aspiração fervorosa) e pela meditação foi tratada nos outros livros e não é necessário ampliá-la
aqui.

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Livro IV - Aforismo 2

2. A transferência da consciência de um veículo inferior para um superior é parte do grande processo evolutivo e criativo.

Esta é uma tradução muito livre mas transmite uma clara interpretação da verdade a ser apreendida. A evolução da consciência e o efeito desta evolução sobre os veículos em que a entidade consciente funciona, são a soma total dos processos da natureza e, do ponto de vista da unidade humana inteligente, três palavras abrangem o processo e o resultado. Estas três palavras são: transferência, transmutação e transformação.

Uma das leis básicas do desenvolvimento oculto e do desabrochar espiritual é dada nas palavras: "Como um homem pensa, assim ele é", e a elas pode-se associar o truísmo oriental: "A energia segue o pensamento", como explicação. À medida que o homem muda seus desejos, ele muda a si próprio; à medida que transfere sua consciência de um objetivo para outro, também ele se altera e isto é verdadeiro em todos os reinos e estados, superior e inferior.

O efeito da transferência de nosso estado de pensamento consciente, de um objetivo baixo para um mais elevado, produz um fluxo de energia de uma qualidade vibratória equivalente ao objetivo mais elevado. Isto produz uma mudança ou mutação nos invólucros da entidade pensante e eles são transmutados e levados a uma condição em que são adequados ao pensamento ou desejo do homem. Levados à sua conclusão produz-se a transformação, e as palavras de São Paulo se tornam claras: "Sê tu então transformado pela renovação de tua mente."

Mude sua linha de pensamento e você mudará sua natureza. Deseje o que é verdadeiro e correto, puro e sagrado, e sua consciência destas coisas criará, a partir do veículo velho, um novo veículo ou um novo homem, um "instrumento destinado ao uso".

Esta transferência, transmutação e transformação final são devidas a um dos dois métodos:

1. Um método lento, o das repetidas vidas, experiências e encarnações físicas até que finalmente a força motriz do processo evolutivo leve o homem, estágio por estágio, a subir a grande escada da evolução.

2. Um processo mais rápido, no qual através de um sistema como o delineado por Patânjali e ensinado por todos os guardiães dos mistérios da religião, o homem se controla decididamente e, seguindo as regras e leis estabelecidas, e por seu próprio esforço, consegue atingir um estado de desenvolvimento espiritual. Pode-se mencionar aqui que estes processos levam o homem à iniciação chamada Transfiguração.

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Livro IV - Aforismo 3

3. As práticas e os métodos não são a verdadeira causa da transferência da consciência, mas servem para remover os obstáculos, da mesma maneira como o fazendeiro prepara o seu solo para semear.

Este é um dos aforismos mais simples e claros e requer poucos comentários.

As práticas mencionadas referem-se primariamente:

1. Aos meios para remover os obstáculos (ver Livro I Aforismos 29 e 39). Já nos foi dito que isto é conseguido por:

a) Contínua aplicação a um princípio
b) Compreensão para com todos os seres
c) Regulação do prana ou alento vital
d) Firmeza da mente
e) Meditação sobre a luz
f) Purificação da natureza inferior
g) Compreensão do estado de sonho
h) O caminho da devoção.

2. Ao modo de eliminação das obstruções (ver Livro li, Aforismos 2 a 33). Estas obstruções são eliminadas:

a) por uma atitude mental de oposição,
b) pela Meditação,
c) pelo cultivo do pensamento correto.

Eles dizem respeito mais especificamente à preparação da vida para o verdadeiro adestramento na prática da ioga, e quando praticada, levam toda a natureza inferior a uma condição tal que os modos mais drásticos produzem rápidos resultados.

Os métodos aqui mencionados são os oito meios da ioga, ou união, enumerados como se segue: os mandamentos, as regras, a postura ou atitude, o correto controle da força vital, a abstração, a atenção, a meditação e a contemplação (ver Livro 11, aforismos 29 a 54, e Livro 111, aforismos 1 a 12).

Pode-se notar, portanto, que poderíamos nos referir às práticas mais específicas para o estágio de vida do aspirante, no qual ele está no Caminho probatório, o caminho de purificação, enquanto que os métodos se referem aos estágios finais daquele caminho e ao caminho do discipulado. Quando as práticas e os métodos são seguidos, isto provoca certas mudanças nas formas ocupadas pelo homem real ou espiritual, mas não são a principal causa da transferência de sua consciência para o aspecto alma, para longe do aspecto corpo. Esta grande mudança é o resultado de certas causas, estranhas à natureza do corpo, tais como a origem divina do homem, o fato do Cristo ou a consciência da alma ser encontrado latente dentro destas formas, e o impulso do processo evolutivo que leva a vida de Deus em todas as formas sempre para diante, a uma expressão mais plena. Deve ser lembrado que à medida que a Vida una em que vivemos, nos movemos e temos o nosso ser, se desloca em busca de maiores conquistas, assim também as células e átomos de Seu corpo são, de modo análogo, influenciadas, estimuladas e desenvolvidas.

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Livro IV - Aforismo 4

4. A consciência "Eu Sou" é responsável pela criação de órgãos através dos quais se goza o sentimento de individualidade.

Temos aqui a chave da própria manifestação e o motivo de todas as aparências. Na medida em que a consciência de qualquer entidade (solar, planetária ou humana) se orientar para o exterior, no sentido dos objetos do desejo, para uma existência no plano das sensações, para uma experiência individual e para uma vida de percepção sensorial e de prazer, na mesma medida serão criados os veículos ou órgãos pelos quais possa o desejo ser gratificado, a existência material apreciada e os objetos percebidos. Esta é a grande ilusão pela qual a consciência fica fascinada, e enquanto este fascínio exercer qualquer poder, a Lei do Renascimento trará novamente à manifestação no plano da material idade esta consciência orientada para o exterior. É a vontade de ser e o desejo pela existência que trazem à luz tanto o Cristo cósmico, atuando no plano material através do sistema solar, como o Cristo individual, atuando através da forma humana.

Nos estados iniciais, a consciência "Eu sou" cria formas de matéria inadequadas à completa expressão dos poderes divinos. À medida que a evolução prossegue, estas formas se tornam cada vez mais adequadas, até que sejam criados os "órgãos" que possibilitem ao homem espiritual gozar do sentido da individualidade. Quando se atinge este estado, sobrevém a grande conscientização da ilusão. A consciência desperta para o fato de que, na percepção sensorial, na percepção da forma e na tendência para o afastamento do íntimo, não há verdadeira alegria ou prazer, e então inicia um novo esforço que é caracterizado por uma gradual retirada da tendência à exteriorização e por uma abstração do espírito de fora da forma.

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Livro IV - Aforismo 5

5. A consciência é una; contudo, produz as variadas formas dos muitos.

Patânjali estabelece aqui uma fórmula básica que serve para explicar não só o propósito e a razão da própria manifestação, como também cobre numa única e curta frase o estado de ser de Deus, do homem e do átomo. Por traz de todas as formas é encontrada a Vida una; dentro de cada átomo (solar, planetário, humano e elemental) é encontrada a existência no plano sensorial uno; por traz da natureza objetiva, a soma total de todas as formas em todos os reinos da natureza, é encontrada a realidade subjetiva que é essencialmente um todo unificado ou unidade, produzindo as muitas diversificações.

A homogeneidade é a causa da heterogeneidade, a unidade produz a diversidade, o Uno é o responsável pelos muitos. O estudante pode apreciar isto mais inteligentemente se seguir a regra de ouro que revela o mistério da criação e se estudar a si próprio. O microcosmo revela a natureza do macrocosmo.

Verificará que ele, o homem real ou espiritual, o pensador, ou a vida una em seu minúsculo sistema, é responsável pela criação de seus corpos mental, emocional e físico, seus três aspectos inferiores, a "sombra" da Trindade, exatamente como seu espírito, alma e corpo são reflexos dos três aspectos divinos, Pai, Filho e Espírito Santo. Ele verá que é responsável pela formação de todos os órgãos em seu corpo, e por todas as células de que são eles compostos e à medida que estuda seu problema mais intimamente, tomar-se-á consciente de que sua consciência e vida se interpermeiam, sendo responsável portanto por incontáveis minúsculas e infinitesimais vidas; que ele é a causa de sua agregação em órgãos e formas, e a razão porque estas formas são mantidas. Gradualmente desperta nele uma verdadeira compreensão do significado das palavras "feito à imagem de Deus". Sua "consciência é uma e apesar disto produziu as variadas formas dos muitos" dentro de seu pequeno cosmos, e o que é verdade para ele também o é para seu grande protótipo, o Homem Celeste, o Logos planetário, e é novamente verdadeiro do protótipo de seu protótipo, o Grande Homem dos Céus, o Logos solar, Deus em manifestação por meio do sistema solar.

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Livro IV - Aforismo 6

6. Entre as formas que a consciência assume, apenas a que é resultante da meditação está livre do carma latente.

As formas são resultantes do desejo. O correto tipo de meditação é apenas um processo mental e nele não entra o desejo. As formas são resultantes de uma tendência ou impulso para o exterior. A meditação é o resultado de uma tendência para o interior, da capacidade de se abstrair a consciência da forma e de centralizá-la no interior de si próprio.

A forma é um efeito produzido pelo amor ou natureza desejo do ser consciente; a meditação produz efeitos e diz respeito à vontade ou aspecto vida do homem espiritual.

O desejo produz efeitos, e aos órgãos da consciência no plano das sensações vem então inevitavelmente a lei de causa e efeito, do Carma, que rege a relação forma-consciência. O processo de meditação, quando compreendido e efetuado corretamente, requer a retirada da consciência do homem espiritual de todas as formas nos três mundos, e sua abstração de todas as tendências e percepções sensoriais. Ele está assim, no momento de meditação pura, livre do aspecto do carma que trata da produção de efeitos. Ele está temporariamente tão absorto que seu pensamento, perfeitamente concentrado, sem relação alguma com qualquer coisa nos três mundos, não provoca a emissão de vibrações externas, não se relaciona a qualquer forma e não afeta qualquer substância. Quando esta meditação concentrada se torna um hábito e é a atitude normal de sua vida diária, o homem então fica livre da lei do carma. Ele se torna consciente dos efeitos que ainda devem ser eliminados e aprende a evitar a criação de novos efeitos, não iniciando ação alguma que "crie órgãos" nos três mundos. Ele reside no plano da mente, permanece em meditação, cria por um ato da vontade e não pelo desejo descontrolado, e é uma "alma livre", um mestre e um homem libertado.

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Livro IV - Aforismo 7

7. As atividades da alma libertada estão livres dos pares de opostos. As das outras pessoas são de três tipos.

Este aforismo expressa o ensinamento em relação à lei do carma de um modo tão caracteristicamente oriental que confunde bastante o estudante ocidental. Uma análise do significado destas palavras e um estudo do comentário do grande instrutor Vyasa podem ajudar a esclarecer o significado. Deve-se também ter em mente que, no quarto livro, esta mos tratando dos exaltados estados da consciência que são alcançados pelos que seguiram os oito meios da ioga e que experimentaram os efeitos da meditação, detalhados no Livro III. O iogue é agora um homem livre, liberto das condições da forma e focalizado em sua consciência, fora dos limites dos três mundos do esforço humano. Ele atingiu o reino do pensamento puro e pode manter sua consciência livre e sem desejo. Assim, embora formule ideias e pensamentos, ele pode efetuar poderosas meditações e controlar "as modificações do princípio pensante", sem criar condições que possam arrastá-lo de volta ao vórtex do plano inferior da existência. Ele está liberto do carma, não dá origem a coisa alguma e nenhum efeito poderá prendê-lo novamente
à roda dos renascimentos.

Em seu comentário Vyasa indica que o carma (ou ação) é de quatro tipos, que assim expressa para nós:

1. O tipo de atividade que é má, traiçoeira e depravada. Esta é chamada negra. Este tipo de ação é produto da mais profunda ignorância, da mais densa materialidade ou de deliberada escolha. Quando for resultante da ignorância, o desenvolvimento do conhecimento provocará gradualmente um estado de consciência no qual não mais se conhece este tipo de carma. Quando o que chamamos de ação errada é proveniente da materialidade densa, o desenvolvimento gradual da consciência espiritual transforma a escuridão em luz e o carma é novamente anulado. Quando, no entanto, for resultante de escolha deliberada, ou da preferência pela ação errônea, apesar do conhecimento e em desafio à voz da natureza espiritual, este tipo de carma levará ao que o ocultista oriental chama de "avitchi" ou oitava esfera, um termo sinônimo ao que a ideia cristã chama de alma perdida. Estes casos no entanto são raríssimos e se relacionam com o caminho da esquerda e com a prática de magia negra. Embora esta condição implique o corte do mais elevado princípio (o do espírito puro, de suas duas expressões, a alma e o corpo, ou dos seis princípios inferiores), ainda assim, a vida, em si própria, permanece, e, após a destruição da alma em avitchi, ser-lhe-á oferecido um novo ciclo de ser.

2. O tipo de atividade que não é nem toda boa e nem toda má, que é chamada preta-e-branca. Diz respeito à atividade cármica do homem comum, que é governado pelos pares de opostos, e cuja experiência de vida é caracterizada por uma oscilação para a frente e para traz, entre o que é bondoso, inofensivo e resultante do amor, e o que é duro, maléfico e resultante do ódio. Diz Vyasa:

"O preto-e-branco é provocado por meios externos, pois neste caso, ou o veículo de ações cresce, ou causando sofrimento, ou agindo bondosa- mente para com outros."

Torna-se aparente então que o crescimento da unidade humana e suas qualificações dependem de sua atitude para com os demais e do efeito que tem sobre eles. Assim traz-se de volta à consciência grupal e se gera ou elimina carma. Assim, também, é a oscilação do pêndulo entre estes pares de opostos gradualmente ajustada até o ponto de equilíbrio ser alcançado, e o homem age corretamente, não porque o bem ou o maio atraiam, cada um por seu lado, mas porque a lei do amor, ou da alma, dirige do alto.

3. O tipo de atividade chamada branca. Este é o tipo de pensamento vivo e de trabalho, praticados pelo aspirante e pelo discípulo. Caracteriza o estágio do Caminho anterior à libertação. Vyasa o explica assim:

"O branco é daqueles que se valem dos meios para melhorar, do estudo e da meditação. Isto depende apenas da mente. Não depende dos meios externos, e não é conseguido, portanto, causando-se prejuízos a outros."

É evidente então, que estes três tipos de carma se referem diretamente:

a) Ao plano da material idade o plano físico
b) Ao plano dos pares de opostos o plano astral
c) Ao plano do pensamento dirigido o plano mental

Aqueles cujo carma é branco são os que, tendo feito progresso no equilíbrio dos pares de opostos, estão agora empenhados no processo de sua emancipação consciente e inteligente dos três
mundos. Fazem isto através de:

a) Estudo, ou desenvolvimento mental, através de uma apreciação da lei de evolução, de uma compreensão da natureza da consciência e de sua relação, de um lado com a matéria, de outro, com o espírito.

b) Meditação, ou controle da mente e a criação, assim, do mecanismo que dá à alma o controle dos veículos inferiores e torna possível a revelação do reino da alma.

c) Não agressão. Nenhuma palavra, pensamento ou ação que provoque dano a qualquer forma através da qual a vida de Deus se esteja expressando.

d) O último tipo de carma é descrito como - nem branco, nem preto. Não se gera carma de espécie alguma; não se produzem efeitos, através de processos iniciados pelo iogue, que possam prendê-lo ao lado forma de manifestação. Agindo como ele o faz, do ponto de vista do desapego, nada desejando para si, seu carma é nulo e seus atos não produzem efeito algum sobre ele próprio.

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Livro IV - Aforismo 8

8. Destes três tipos de carma emergem as formas que são necessárias à frutificação dos efeitos.

Quando cada vida vem à manifestação física, nela estão latentes os germes e sementes que devem frutificar e são estas sementes latentes que são a causa eficiente do aparecimento da forma. Estas sementes foram semeadas em algum tempo e devem frutificar. Elas são as causas ou skandas que produzem os corpos em que os efeitos devem vir a se anular. São os desejos, impulsos e obrigações que mantêm o homem na grande roda que, girando continuamente, leva-o à existência no plano físico, para ai í levar à frutificação tantas destas sementes quantas, de acordo com a lei, ele possa suportar ou controlar, numa vida. Estes são os germes subjetivos que produzem a forma em que frutificarão, amadurecerão e se completarão. Se as sementes cármicas forem negras o homem será grosseiramente egoísta, materialista e inclinado para o caminho da esquerda; se forem negras-brancas, levá-lo-ão a uma forma adequada ao pagamento de suas obrigações, de suas d (vidas, deveres e interesses e à realização de seus desejos; se forem brancas tenderão a construir um corpo que será o último a ser destruído, o corpo causal, o templo de Salomão, o karana sarira do ocultista. Esse corpo, na libertação final, é destruído e nada separa então, o homem de seu Pai no Céu, e nada o mantém ligado ao plano material inferior.

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Livro IV - Aforismo 9

9. Há identidade de relação entre a memória e a causa produtora do efeito, mesmo quando separadas por espécies, tempo e local.

Uma interpretação deste aforismo poderia servir para explicá-lo, e pode ser expressa assim: "Não importando qual tenha sido a raça, em que continente, passado ou presente, tenha-se passado uma vida, e não importando também quão distante tenha sido esta vida ou quantos milênios tenham decorrido, o ego ou alma retém as memórias. No tempo devido, sob condições corretas, cada causa então iniciada deve inevitavelmente se traduzir em efeitos e estes efeitos aparecerão, para se anularem em alguma vida. Nada o pode evitar e nada o pode impedir. Charles Johnston o expressa em seu comentário com as seguintes palavras:

"De maneira semelhante, o mesmo poder seletivo reinante, que é um raio do Eu Superior, reúne análogas imagens mentais, de diferentes nascimentos, tempos e lugares, que podem ser agrupadas no decorrer de uma única vida ou de um único acontecimento. Através deste agrupamento são causadas condições corporais visíveis ou circunstâncias externas provocadas e, através destas condições, a alma aprende e é adestrada.

Do mesmo modo como as imagens mentais dinâmicas do desejo amadurecem em condições corporais e circunstâncias, assim também os bem mais dinâmicos poderes de aspiração, em que a alma tende para o Eterno, frutificam em um mundo melhor, construindo a vestimenta do homem espiritual."

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Livro IV - Aforismo 10

10. Sendo eterno o desejo de viver, estas formas criadas pela mente não têm começo.

Um outro termo que poderia ser empregado em conexão com as palavras "desejo de viver" é a"vontade de experimentar". Inerente às vidas autoconscientes em formação, de nosso sistema (as existências super-humanas e humanas), é o desejo de ser, este anseio de tornar-se o impulso para estabelecer contato com o desconhecido e o distante. Não nos é possível compreender a explicação desse impulso, sendo ele cósmico e dependente do ponto de evolução em que está a Grande Vida em que vivemos, nos movemos e temos o nosso ser e em cujo corpo todas as formas nada mais são que uma célula ou um átomo. Tudo o que o homem pode fazer é construir o mecanismo que tornará possível esta compreensão, e desenvolver os poderes que lhe permitirão contatar e assim estar em relacionamento com o que está tanto dentro como fora dele. Quando isto se tornar possível ele desperta para a conscientização de que aqueles desejos que o dirigiam e o impeliam à ação, aqueles anseios que o forçavam a atividades várias, são algo, não só pessoal e real, mas também parte da atividade do todo do qual ele é uma pequena partícula. Ele descobre que a corrente de imagens mentais impelidas pelo desejo que ocupam sua atenção e formam a força-motriz de sua vida são formulados por ele mesmo, mas são também parte de uma corrente de imagens da mente cósmica, nascendo da Mente Universal, como resultado da atividade do Pensador cósmico que funciona como a Vida de nosso sistema solar.

Assim a verdade e ensinamento que foram formulados nos três livros anteriores são elevados do reino do pessoal e do individual e se tornam mais amplos, extensos e mais gerais. Para a unidade humana as imagens mentais, o resultado das ações provocadas pelo desejo e pelo pensamento, são, pois, sem começo conhecido. Elas o envolvem por todos os lados, o fluxo de sua atividade se abate sobre ele continuamente e arranca dele a resposta que dá testemunho ao desejo que existe dentro dele.

Para ele, portanto, devem vir duas novas atividades; primeiro a de transmutar e transcender estes desejos e anseios pela percepção sensorial que se encontra em seu interior e, segundo, a tarefa de proteger-se e isolar-se da atração e da influência dos fluxos maiores de imagens mentais que existem eternamente. Só assim pode ele conseguir a "condição de Unidade Isolada" descrita no Livro III, Aforismo 50.

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Livro IV - Aforismo 11

11. Tais formas, sendo criadas e mantidas unidas pelo desejo, a causa básica, a personalidade, o resultado efetivo, 'a vitalidade mental ou a vontade de viver, e o suporte da vida ou objeto que se expressam, quando estas deixam de atrair, então as formas igualmente cessam de existir.

Este aforismo expressa uma Lei da Natureza e é tão claro que muito pouca explicação é necessária. Seria conveniente, no entanto, analisarmos ligeiramente o ensinamento que aqui foi dado.

Aprendemos que quatro fatores contribuem para a existência das imagens-mentais, ou das formas que vêm à existência como resultantes da natureza desejo.

1. A causa básica desejo
2. O efeito ou resultado personalidade
3.A vontade de viver vitalidade mental
4.A vida para o exterior o objeto

Quando a causa, o desejo, produziu seu efeito, a personalidade ou aspecto forma do homem, então enquanto a vontade de viver existir, persistirá a forma. Ela é mantida em manifestação através da vitalidade mental. Isto foi demonstrado diversas vezes nos anais da medicina, pois foi provado que enquanto persiste a determinação de viver, tal será a provável duração da vida no plano físico, mas no momento em que esta determinação não mais existir, ou no momento em que o interesse do habitante do corpo não mais estiver centrado sobre a manifestação da personalidade, sobrevêm a morte e a desintegração desta imagem-mental, o corpo.

É interessante notar a significação oculta transmitida nas palavras "o suporte da vida que tende para o exterior, ou objeto", pois consubstancia o ensinamento ocultista de que a corrente da vida desde da causa originária e encontra seu objeto, ou manifestação final, no corpo etérico ou vital, que é a verdadeira substância de cada forma e que constitui o suporte ou apoio do veículo físico
denso.

Estes quatro fatores podem muito bem ser divididos em dois grupos ou pares de opostos, a causa e o efeito, a vontade de ser e a verdadeira forma ou objeto.

Durante um longo período no processo evolutivo o objeto ou a existência-forma é o único interesse do morador interno e a vida para o exterior se torna o único centro de atração.

Mas, à medida que a roda gira e que se vive experiência após experiência, a natureza-desejo alcança a saciedade e fica satisfeita e, pouco a pouco, a formação de imagens mentais e a produção de seus efeitos alcança o fim. Consequentemente, então, a forma deixa de ser, a manifestação objetiva não mais é procurada e tem-se a libertação de maya ou da ilusão.

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Livro IV - Aforismo 12

12. O passado e o presente existem na realidade. A forma assumida no conceito de tempo do presente é o resultado das características desenvolvidas e guarda latentes em si as sementes da qualidade futura.

Neste aforismo são formulados os três aspectos do Eterno Agora e vê-se que o que somos hoje é o produto do passado, e que o que seremos no futuro depende das sementes, quer latentes ou ocultas, quer semeadas na vida presente. O que foi semeado no passado existe e nada pode paralisar estas sementes ou impedir que venham a frutificar. Elas devem dar fruto na vida presente ou ficar ocultas até que condições de solo mais favoráveis ou mais adequadas façam com que germinem, desabrochem, cresçam e floresçam na luz clara do dia. Não há nada escondido ou oculto que não venha a ser revelado nem segredo algum que não venha a ser conhecido. A semeadura de sementes frescas e o início de atividades que tenham que dar fruto numa data posterior é, no entanto, um assunto diferente e mais completamente sob o controle do homem. Pela prática do desapego e da despaixão e pelo extremo controle da natureza-desejo, torna-se possível ao homem reorientar-se de modo que sua atenção não mais seja atraída para o exterior pelo fluxo de imagens-mentais, mas seja retirada e fique dirigida exclusivamente sobre a realidade.

Isto é tentado, em primeiro lugar, pelo controle do veículo de pensamento, a mente, e pela conquista das modificações do princípio pensante, e a seguir pelo trabalho e emprego deste mecanismo nas direções corretas e pela conquista de conhecimento do reino da alma em vez do conhecimento do reino da matéria. Assim novamente se obtém a libertação.

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Livro IV - Aforismo 13

13. As características, quer latentes quer potentes, participam da natureza das três gunas (as três qualidades da matéria).

As características são na realidade as qualidades, capacidades e faculdades que o homem está manifestando ou pode manifestar (nas condições apropriadas). São elas, como vimos, o resultado ou os efeitos de toda a sua experiência passada, levada através de todo o seu ciclo de vidas, até o presente. O produto dos contatos, desabrochamentos e desenvolvimentos que o governaram desde o mais remoto aparecimento de sua individualidade até o atual ciclo de vida, produzem o que ele é e tem, no presente. Deve-se ter em mente que todos estes fatores, que foram agrupados sob o título geral de "características", dizem respeito à forma e à sua resposta à vida espiritual interna.

Elas são produzidas tão rapidamente quanto o Morador Espiritual Interno possa impor sua impressão sobre a substância destas formas, curvá-las à sua vontade, controlá-las e subjugá-las. A forma tem certas atividades vibratórias próprias, inerentes à sua própria natureza. Pela identificação com a forma e por sua utilização, o Morador Interno desenvolve um duplo conjunto de características. Um conjunto se demonstra na forma do eu inferior e diz respeito à adaptabilidade da forma à influência interna e aos arredores externos. O outro diz respeito a tendências, impulsos e desejos que tendem a afetar permanentemente o corpo do Eu Superior, ou Causal. Daí estas características dizerem respeito, em ambos os casos, ao ritmo ou às gunas da matéria.

Pode-se dizer que o que somos é o produto do passado e se demonstra como as características da forma da personalidade. O que seremos na próxima encarnação é decidido pela habilidade do homem verdadeiro em influenciar o eu pessoal, curvando-o às finalidades superiores e elevando o seu ritmo vibratório. O homem é uma coisa, quando encarnado; e outra, quando desencarnado, pois é então o produto do passado, mais a conquista da vida presente, e essa conquista sob o grande impulso evolutivo, inevitavelmente o tem levado à frente, para uma condição harmoniosa, rítmica ou sátvica, afastando-o da condição tamásica da inércia, da imobilidade. Isto é alcançado através da imposição das características de atividade, a guna do meio, e a que controla predominantemente a atividade para o exterior e dirige o homem para a experiência sensorial.

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Livro IV - Aforismo 14

14. A manifestação da forma objetiva é devida à uni direcionalidade da causa que produz o efeito (a unificação das modificações da chitta, ou substância mental).

O impulso para a involução ou para tomar forma é tão dominante e o resultado do pensamento egoico tão unidirecionado que isto torna inevitável a manifestação objetiva. A chitta, ou substância mental, (no grande processo da apropriação da forma) é tão completamente unificada e o desejo de experimentar através de contatos no plano físico, tão dominante, que as diversas modificações da mente são todas voltadas para o mesmo objetivo.

Quando a condição é invertida e o homem no plano físico efetua sua própria libertação, pelo mesmo método são também conseguidas a unificação e a uni direcionalidade. O velho comentário torna isto claro em algumas de suas linhas, encontradas em relação ao simbolismo da estrela de cinco pontas. São elas:

"O mergulho é para baixo na matéria. O ponto desce, move-se rapidamente pela esfera aquosa e atravessa a que está inerte, imóvel, escura, silenciosa e remota. O ponto de fogo e pedra se une e alcança-se a harmonia e a união no caminho descendente.

O voo é para cima, para o espírito. O ponto ascende, elevando os dois que estão atrás, alcançando os três e os quatro na direção do que esta por trás do véu. A água não extingue o ponto de fogo; assim o fogo encontra-se com o fogo e se fundem. Alcança-se a harmonia e a união no arco ascendente. E assim se moverá o sol para o norte."

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Livro IV - Aforismo 15

15. Estas duas, consciência e forma, são distintas e separadas; embora as formas possam ser semelhantes, a consciência pode atuar em diferentes níveis do ser.

Este aforismo não deve ser considerado em separado do seguinte, o qual estabelece o fato de ser a Mente Una, ou Vida Una, a potente causa de todas as diferenciadas vidas e mentes menores. Isto deve estar sempre presente. Este aforismo envolve então três pensamentos principais.

Primeiro, que há duas linhas principais de evolução, a que concerne a matéria e a forma, e a que concerne a alma, o aspecto consciência, o pensador em manifestação. O caminho de progresso é diferente para cada um destes e cada um segue seu rumo. Como foi verificado, durante um longo período de tempo a alma se identifica com o aspecto forma e se esforça por seguir o "Caminho da Morte", pois isto é o que o caminho escuro realmente é para o pensador. Posteriormente, por meio de extremo esforço, esta identificação cessa; a alma se torna consciente de si mesma e de seu próprio caminho, ou dharma, e segue então o caminho da luz e da vida. Deve-se ter sempre em mente, contudo, que para os dois aspectos seu próprio caminho é o caminho da direita e que os impulsos que jazem escondidos no veículo físico ou no corpo astral, não são errados em si mesmo. Eles se tornaram errados sob certos ângulos quando distorcidos de seu uso correto, e foi esta compreensão que levou o discípulo no Livro de Job a gritar e a dizer "Eu perverti o que estava certo". Estas duas linhas de desenvolvimento são separadas e distintas, e cada aspirante tem que aprender isto.

Quando isto é compreendido ele procura auxiliar a evolução de suas formas de duas maneiras primeiro, recusando-se a se identificar com elas e, em segundo lugar, estimulando-as.

Com o auxílio da força espiritual, ele verificará também o ponto evolutivo em que seus irmãos se encontram e não mais os criticará pelo que para ele poderá ser uma ação errônea, mas que para eles é a atividade natural da forma durante o ciclo em que a forma e a alma se identificam e são consideradas o mesmo.

A segunda linha principal de pensamento deste Aforismo 15 é mais difícil de expressar. Dá cor e veracidade à afirmação de muitos pensadores, de que as coisas existem e têm forma e atividade apenas enquanto a mente do pensador as formula. Em outras palavras, que através das modificações de nosso princípio pensante, construímos nosso próprio mundo e criamos nosso próprio meio ambiente. A inferência é, então, de que (dada a substância básica, espírito-matéria) nós a tecemos em formas pelos nossos próprios impulsos de pensamento. Outros percebem o que vemos porque algumas das modificações de suas mentes são análogas às nossas e suas ações e impulsos são semelhantes sob alguns aspectos. Apesar disto, não há duas pessoas que vejam um objeto exatamente da mesma maneira. "Coisas" ou formas da matéria de fato existem; elas estão criadas, ou estão em processo de criação e por elas alguma mente, ou mentes, são responsáveis. Torna-se então uma questão de quem é responsável pelas formas de pensamento que nos rodeiam. O comentário de Dvivedi e sua tradução se inclinam mais para esta segunda linha de pensamento do que a interpretação do Tibetano, e é conveniente estudá-la, pois pela maneira com que diversas mentes encaram um problema, sua magnitude pode ser melhor apreciada, conclusões tolas ou apressadas são evitadas e torna-se possível a aproximação à verdade. O ponto de vista sintético está mais próximo da verdade universal do que o especializado. Diz ele:

"Embora as coisas possam ser semelhantes, a causa das mentes e das coisas é distinta em virtude da diferença das mentes".

As considerações precedentes estabelecem, de um modo indireto, a existência de coisas como objetos exteriores à mente. Os Vijnanavadi-Budas que afirmam que as coisas nada mais são que reflexos de nosso princípio pensante, objetariam a este ponto de vista. Esta objeção não resistiria a um exame, pois a existência de coisas à parte do princípio pensante é certa. Embora haja, realmente, semelhança completa entre objetos da mesma classe, ainda assim a maneira como estes objetos afetam a mente e a maneira pela qual a mente é por eles afetada, são completamente distintas. Existem, portanto, objetos à parte do princípio pensante. Embora possam ser semelhantes, os objetos não são apresentados a diferentes mentes sob a mesma luz, o que mostra que estão à parte da mente. Novamente, muitas vezes ouvimos mais de uma pessoa dizer que viu um objeto do mesmo modo como foi visto por outra. Isto provaria que embora o objeto fosse um, os observadores seriam diversos. Este fato prova a diferença entre o objeto e a mente. Novamente, aquele que vê e a coisa vista, isto é, a mente e o objeto ou o instrumento do conhecimento e o objeto do conhecimento não podem ser uma e a mesma coisa, pois então todo o conhecimento distintivo seria impossível, o que é, no entanto, absurdo. Procurar solucionar esta dificuldade dizendo que a eterna vasana da forma dos objetos externos é a causa de todo o nosso conhecimento diverso é inútil, pois o que já desgastou a si próprio não se pode tornar a causa. Da í afirmar-se que a existência objetiva é in- dependente do sujeito. Nem se deve imaginar como uma substância (Prakriti, por exemplo) poderia provocar neste caso todas as numerosas e diversas diferenças em nossa experiência, pois as três gunas e suas várias combinações em diferentes graus são bastante para justificar tudo isto. No caso dos iogues devidamente iluminados é correto que, tendo o conhecimento provocado neles o supremo Vairagya, eles não mais se preocupam com as gunas, que também assumem um estado de equilíbrio e não produzem efeito."

A terceira linha de pensamento trata mais especificamente do aspecto realização, ou da condição de consciência do pensador interno, e é assim de imediato valor prático para o estudante de Raja Ioga. Envolve certas questões que podem ser assim expressas:

1. Em que nível do ser ou de conscientização (pois este pensamento é idêntico para o estudante do ocultismo) estarei atuando?

2. Eu me identifico com a forma ou com a alma?

3. Que caminho estou seguindo, o superior da alma ou o inferior,
da matéria?

4. Será que estou num período de transição, em que a minha capacidade de conscientização está sendo transferida da consciência inferior para superior?

5. Embora em meu corpo, será ele apenas um instrumento meu e estarei eu desperto em um outro plano de consciência?

Estas perguntas, e outras semelhantes, são de profundo valor para o aspirante, se feitas sinceramente e respondidas com honestidade, como o devem ser na presença de Deus e do Mestre.

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Livro IV - Aforismo 16

16. As diversas modificações da mente única produzem as diversas formas que, para existirem, dependem dos muitos impulsos destas mentes.

Com estas palavras, o conceito integral é trazido do reino do particular para o reino dos universais. Somos postos face a face com os impulsos cósmicos e solares e a pequenez e pouca importância de nossos problemas individuais se torna aparente. Toda forma em manifestação é o resultado do pensamento de Deus; todo veículo objetivo através do qual os impulsos de vida do universo fluem é produzido e mantido em manifestação objetiva através do contínuo fluxo de correntes de pensamento emanando de um estupendo pensador cósmico. Seus misteriosos caminhos, Seu plano secreto oculto, o grande propósito para o qual Ele está trabalhando neste sistema solar, ainda não está evidente para o homem. Contudo, à medida que a capacidade do homem em pensar em termos mais amplos, que seu poder de visualizar o passado como um todo e dê unificar qual conhecimento ele tem da vida de Deus à proporção que esta se demonstra através dos reinos da natureza, e à medida que sua compreensão da natureza da consciência aumente, a vontade de Deus (baseada na atividade amorosa) tomar-se-á aparente.

A chave para o por quê e o corno.jaz na compreensão, pelo homem, de suas próprias atividades mentais. Uma apreciação do grande pensamento-forma de Deus, de um sistema solar e de sua sustentação, crescerá à medida que o homem vá compreendendo suas próprias formas de pensamento e o modo como constrói e cria seu próprio ambiente e colore sua própria vida. Ele constrói seus próprios mundos pelo poder de seus processos mentais e pelas modificações do fragmento do princípio pensante universal de que se apropriou para seu próprio uso.

O Logos Solar, Deus, seja isto lembrado, é a soma total de todos os estados de consciência ou percepção. O homem - a humanidade como um todo, ou uma unidade individual - é parte deste total. As diversas mentes, desde a mente do átomo (reconhecida pela ciência) até a mente do próprio Deus, através de todos os graus de pensadores e estágios de percepção, são responsáveis por todas as formas encontradas em nosso sistema. À medida que trabalhamos do infinitamente pequeno para o infinitamente grande, do microcosmo para o macrocosmo, torna-se aparente uma gradual expansão do estado de consciência e um contínuo aumento de condição da percepção. Nesta escala de desenvolvimento três tipos principais de formas, como resultado da mente, são encontrados:

1. A forma do átomo, o verdadeiro microcosmo.
2. A forma do homem, o macrocosmo para todos os reinos subumanos.
3. A forma de Deus, um sistema solar, o macrocosmo para o homem e todos os estágios supra-humanos.

Todas estas formas, juntamente com todas as formas intermediárias, dependem de alguma vida, dotada de capacidade de pensar e, através do impulso do pensamento, da capacidade de modificar e influenciar a substância sensorial, e de elaborar formas com elas.

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Livro IV - Aforismo 17

17. Estas formas são conhecidas ou não, de acordo com as qualidades latentes na consciência percebedora.

Isto foi traduzido com muita aptidão por Charles Johnston nas seguintes palavras:

"Um objeto é percebido ou é não percebido, conforme a mente esteja, ou não, matizada com a cor do objeto".

Nós vemos o que somos; tornamo-nos conscientes disto por meio de outras formas que são desenvolvidas em nós. Deixamos de ver certos aspectos de vida porque, em nós mesmos, estes aspectos ainda não estão desenvolvidos mas sim latentes. Para ilustrar: deixamos de ver o divino em nossos irmãos porque o divino em nós ainda não está contatado e é desconhecido; o aspecto forma e suas limitações estão desenvolvidos em nós e a alma está tão escondida que só tomamos consciência da forma de nosso irmão, e deixamos de ver sua alma. No momento em que estabelecemos contacto com nossa própria alma e vivemos sob sua luz, vemos a alma de nosso irmão, percebemos sua luz e nossa atitude para com ele muda completamente. Eis aí a chave para nossas limitações. Eis aí a promessa de nosso sucesso. A faculdade latente, quando desenvolvida, revelar-nos-á um novo mundo. Os ocultos poderes da alma, quando levados à plena expressão, nos tornarão conscientes de um novo mundo e revelar-nos-ão um esquema de vida e um reino até então negado por nós, porque não os víamos. Daí a necessidade de cada investigador dos mistérios da existência trazer seu equipamento completo para a sua busca e daí, portanto, a necessidade de ser efetuado o processo de desenvolvimento da alma e de serem desenvolvidas suas faculdades potenciais, se se quiser compreender a verdade em toda a sua plenitude.

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Livro IV - Aforismo 18

18. O senhor da mente, o percebedor, está sempre consciente da substância mental constantemente ativa, a causa produtora do efeito.

Temos neste aforismo uma afirmação que é a chave para um trabalho efetivo e seguro de meditação. Quem medita é a alma, o ego, e seu trabalho é uma atividade positiva e não um estudo ou condição negativa. Muito do trabalho realizado sob o nome de meditação é perigoso e inútil, porque quem procura o controle é o homem no plano físico e seu esforço é concentrado na obtenção do aquietamento do cérebro. Ele procura aquietar as células cerebrais e torná-las negativas, quiescentes e receptivas. A verdadeira meditação, contudo, diz respeito à alma e à mente; a receptividade do cérebro é uma reação automática à condição superior. Na Raja Ioga, portanto, o contato com o homem verdadeiro, o ego, e o poder de "aquietar as modificações do princípio pensante" devem preceder toda a atividade cerebral e a capacidade de resposta do cérebro. O Senhor da mente está sempre desperto, sempre consciente da tendência da mente em responder a correntes de força, produzidas pelo pensamento ou pelo desejo; ele observa, portanto, cada emoção de força precedente dele e controla todo pensamento e impulso de modo que somente se originem nele as correntes de energia e aqueles impulsos que estejam de acordo com o propósito constantemente observado e que respeitem o plano grupal.

Jamais deve ser esquecido que todos os egos trabalham em formação grupal e sob o direto controle daqueles Pensadores que encarnam o divino pensamento logoico. O trabalho que cada aspirante procura realizar, portanto, é alinhar a consciência cerebral com o pensamento que o alcança através de sua própria consciência da alma e, como resultado disto, o plano divino é gradualmente levado à manifestação no plano físico.

À medida que cada filho de Deus leve a matéria mental ativa pela qual é responsável, a uma condição em que responda ao pensamento divino, então o plano das idades será levado a uma conclusão. Homem algum deverá desesperar-se face à sua aparente incompetência ou pequenez, pois a cada um de nós é confiada uma parte do plano e devemos cumpri-la; sem a nossa cooperação ter-se-á atrasos e confusões. Algumas vezes há muita perturbação quando uma pequena parte de um grande mecanismo não funciona corretamente. Muitas ajustagens são frequentemente necessárias antes que a máquina possa realizar seu trabalho com êxito, e no reino da cooperação humana pode ocorrer uma situação análoga.

A substância mental constantemente ativa pode responder à vibração inferior, que emana do tríplice homem inferior, e aos impulsos mais elevados, oriundos da alma como intermediária entre o espírito e a matéria. A alma está sempre consciente desta condição; o homem no plano físico é cego a ela ou está apenas despertando para esta dupla possibilidade. O trabalho daquele que aspira à união é submeter a substância mental, gradualmente, e cada vez mais, ao controle do impulso superior, retirando-a da vibração inferior, até que sua resposta ao superior se transforme em uma condição estável e que a atividade vibratória do homem inferior diminua e acabe.

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Livro IV - Aforismo 19

19. Por poder ser vista ou percebida, é óbvio que a mente não é a fonte de iluminação.

Este aforismo e os dois que seguem nos dão uma abordagem tipicamente oriental a um problema muito difícil, e este método de raciocínio não é fácil de ser aprendido pelas mentes ocidentais. Nas seis escolas da filosofia hindu, todo este problema da fonte de criação e da natureza da mente é analisado e discutido e tão completamente analisado que praticamente todas as nossas modernas escolas podem ser encaradas como ramificações ou como sequencia lógica das diversas posições hindus. A chave para a diversidade de opinião sobre estes dois pontos pode talvez ser encontrada nos seis tipos em que todos os seres humanos se enquadram, pois o sétimo nada mais é que a síntese inclusiva de todos eles, e não exclusiva.

Nos aforismos de Ioga, a mente é relegada simplesmente à posição de um instrumento, de um intermediário, de uma placa sensitiva, registrando seja o que jorra sobre ela vindo de cima, seja o que a afeta vindo de baixo. Não tem uma personalidade própria; não tem vida ou luz própria, exceto a que é inerente a toda substância e que é portanto encontrada nos átomos que constituem a substância mental. Estes últimos, pertencendo à mesma linha evolutiva que o restante da natureza inferior, engrossam a maré das forças materiais que procuram manter a alma prisioneira e constituem a grande ilusão.

A mente, portanto, pode ser conhecida em duas direções: em primeiro lugar pode ser conhecida, reconhecida e vista pelo pensador, a alma em seu próprio plano e, em segundo lugar, pode ser vista e conhecida como um veículo do homem no plano físico. Por um longo período o homem se tornou aquilo com que se identificou, à exclusão do verdadeiro homem espiritual, que pode ser conhecido, contatado e obedecido uma vez que a mente seja relegada ao seu devido lugar, como um instrumento de conhecimento.

Uma analogia no plano físico poderá ser útil. A visão é um de nossos sentidos principais pelo qual adquirimos conhecimento, um meio pelo qual vemos. Contudo, não cometemos o erro de encarar o olho como a fonte de luz e que produz a revelação. Nós o conhecemos como um instrumento que responde a certas vibrações luminosas por meio das quais determinada informação relativa ao plano físico é enviada ao nosso cérebro, a grande placa receptora sobre o plano físico. Para a alma, a mente também opera como um olho ou como uma janela através da qual se recebe informação, mas não é em sí mesma a fonte de luz ou de iluminação.

É interessante notar aqui que à medida que o cérebro e a mente ficaram coordenados (como aconteceu em primeiro lugar nos dias lemurianos) o sentido da visão foi simultaneamente desenvolvido. À medida que a evolução prossegue, tem lugar uma coordenação superior e a alma e a mente se tornam sintonizadas. Então, o órgão da visão sutil (o terceiro olho) começa a funcionar e, em vez de cérebro, mente e dois olhos, tem-se uma outra triplicidade, a da alma, mente e o terceiro olho. O cérebro, portanto, não é a fonte de iluminação, mas toma consciência da luz da alma e do que ela revela no reino da alma. O terceiro olho se desenvolve simultaneamente e introduz seu possuidor nos segredos dos reinos sutis nos três mundos, de modo que o cérebro recebe iluminação, informação e conhecimento de duas direções; da alma, através da mente, e dos planos sutis, através do terceiro olho. Deve ser lembrado aqui que o terceiro olho revela primordialmente a luz a ser encontrada no coração de toda a forma de manifestação divina.

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Livro IV - Aforismo 20

20. Tampouco pode conhecer dois objetos simultaneamente, a si própria e àquilo que lhe é exterior.

Nenhum dos envoltórios através dos quais a alma atua tem autoconhecimento; são apenas os canais através dos quais se obtém conhecimento e experiência da vida. A mente não conhece a sí mesma, pois isto implicaria sua autoconsciência, e não tendo, portanto, consciência individual, não pode dizer: "este sou eu, eu próprio, e isto é exterior a mim, sendo consequentemente o não-eu". É apenas um outro sentido pelo qual se obtém informação e que revela mais um campo de conhecimento. Não passa de um instrumento, como foi dito anteriormente, capaz de uma dupla função, registrando contatos de uma das duas direções e transmitindo este conhecimento: ou da alma ao cérebro, ou do homem inferior à alma. Deve-se meditar sobre isto e todo o esforço deve ser empreendido para levar este instrumento a uma condição tal que possa ser usado nas melhores condições. Isto é o que os três últimos meios da ioga procuram realizar. Como já se tratou deste ponto anteriormente não é necessário que nos alonguemos.

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Livro IV - Aforismo 21

21. Se o conhecimento da mente (chitta) por uma mente mais remota for postulado, deve-se inferir a existência de um número infinito de conhecedores e a sequencia das reações da memória tenderia para uma confusão infinita.

Uma das explicações das funções da mente é afirmar sua capacidade de destacar-se de si própria e ver-se como uma coisa à parte. Deste modo se torna uma confusão de partes separadas, afastadas umas das outras e levando (se a ideia for desenvolvida até sua conclusão lógica) a uma condição caótica. Tudo isto nasceu da recusa dos pensadores ortodoxos em admitir, ao longo de linhas filosóficas e mentais, a possibilidade de haver uma entidade, destacada e à parte da mente, que procure apenas usá-la como um meio de adquirir conhecimento. O problema surgiu em grande parte do fato deste pensador não poder ser conhecido antes da mente estar desenvolvida; ele pode ser pressentido e sentido pelo místico e pelo devoto, mas o conhecimento dele (conforme o sentido usual do termo) não poderá ser alcançado enquanto não se tiver desenvolvido o instrumento do conhecimento, a mente. É aqui onde entra o conhecimento oriental para esclarecer o trabalho tão maravilhosamente realizado pelos cientistas mentais e cristãos. Eles deram ênfase à mente, individual e universal, e a nossa dívida para com eles é grande. A natureza da mente, sua finalidade, controle, seus problemas e processos são assuntos comuns de discussão hoje em dia, enquanto que há cerca de cem anos isto não acontecia. Mas, com tudo, nisso ainda há muita confusão como resultado de nossa moderna tendência de endeusar a mente, de encará-la como o fator de real importância. A ciência oriental vem em nosso auxílio e diz-nos que por trás da mente está o pensador; por trás da percepção, o percebedor será encontrado e, por trás do objeto observado, está quem observa. Esta entidade percebedora, pensadora e observadora, é o imortal e imorredouro ego, a alma em contemplação.

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Livro IV - Aforismo 22

22. Quando a inteligência espiritual que fica só e livre dos objetos se reflete na substância mental, tem-se então a consciência do eu.

Esta inteligência espiritual, que é o verdadeiro homem, o Filho de Deus, eternamente nos Céus, é conhecida por muitos e variados nomes, de acordo com a escola de pensamento. A seguinte lista de sinônimos é útil para o estudante, pois dá-lhe uma visão mais ampla e uma compreensão mais inclusiva, revelando-lhe o fato de que os Filhos de Deus, revelados ou não, são encontrados em todos os lugares:

A Inteligência espiritual O Regente interno A Palavra feita Carne
A Alma O segundo aspecto O AUM
A Entidade autoconsciente A segunda Pessoa O Pensador
O Cristo Deus em encarnação O Observador, o Percebedor
O Eu O Filho da Mente O construtor da Forma
O Eu superior O divino Manasaputra Força
O Filho de Deus O Agnishvattva O Habitante do corpo

Estes e muitos outros termos serão encontrados espalhados pelas escrituras e literatura mundiais. Em nenhum livro, porém, a natureza da alma, quer macrocósmica (o Cristo cósmico) quer microcósmica (O Cristo individual) é tão maravilhosamente retratada como no Bhagavad Gitâ, e os três livros: O Bhagavad Gitâ, o Novo Testamento e os Aforismos de Ioga contêm um completo retrato da alma e de seu desenvolvimento.

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Livro IV - Aforismo 23

23. Então a substância mental, refletindo tanto o conhecedor como o que pode ser conhecido, se torna onisciente.

Este aforismo tem o caráter de um resumo e dá ênfase ao fato de que a mente, sendo aquietada e tornada quiescente pela prá tica da concentração e da meditação, se torna o refletor do que "está em cima e do que está em baixo". É a transmissora do conhecimento do eu para o cérebro físico do homem em encarnação, e também o transmissor de tudo o que o eu sabe e percebe. O campo do conhecimento é visto e conhecido. Também se percebe o conhecedor e a "percepção de todos os objetos" se torna possível. Torna-se então literalmente verdade que para o iogue nada permanece oculto ou desconhecido. A informação sobre todos os assuntos se lhe torna possível, pois ele tem um instrumento que pode usar para se certificar daquilo que a alma conhece sobre o Reino de Deus, o reino da verdade espiritual. Ele também pode entrar em comunicação com a alma e transmitir-lhe o que o homem em encarnação física conhece. Assim o conhecedor, o campo do conhecimento e o próprio conhecimento são reunidos e o meio por que se consegue esta união é a mente.

Este é um grande estágio sobre o caminho de retorno e embora no tempo devido a intuição se superponha à mente e a percepção espiritual direta tome o lugar da percepção mental, este estágio é um estágio avançado e importante e abre a porta à iluminação direta. Nada agora impedira o influxo de força espiritual e de sabedoria para o cérebro, pois o tríplice homem inferior foi purificado e dominado, e os corpos físico, emocional e mental formam simplesmente um canal para a luz divina e constituem o veículo através do qual a vida e o amor de Deus se podem manifestar.

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Livro IV - Aforismo 24

24. Também a substância mental, refletindo, como o faz, uma infinidade de impressões da mente, torna-se um instrumento do eu e age como um agente unificador.

Nada mais resta ao homem espiritual para fazer, em relação com este eu inferior purificado, a não ser aprender a usar este seu instrumento, a mente e, através dela, dirigir, controlar e utilizar os outros dois corpos. Através dos oito meios da ioga, seu instrumento foi descoberto, desenvolvido e subjugado e deve agora ser colocado em serviço ativo e empregado de três maneiras:

1. Como um veículo para a vida da alma.
2. No serviço da Hierarquia.
3. Em cooperação com o plano de evolução.

No aforismo 41, do Livro I, encontramos as seguintes palavras: "Para aqueles cujas Vrittis (modificações da substância da mente) estão inteiramente controladas, segue-se um estado de identidade com - e uma semelhança a - aquilo que é realizado. O conhecedor, o conhecimento e o campo de conhecimento se tornam um, do mesmo modo como o cristal toma as cores do que nele é refletido". Isto nos dá um retrato do que acontece ao homem que dominou seu instrumento. Ele registra em seu cérebro, através da mente, aquilo que é real e verdadeiro; ele se torna consciente da natureza do ideal e aplica todo o poder que possui no trabalho de trazer aquele ideal à manifestação objetiva; ele vê a visão do reino de Deus como será nos últimos dias, e tudo o que ele é e tem, ele dá para que a visão possa ser vista por todos; ele conhece o plano, pois este lhe é revelado no "lugar secreto sobre o Monte de Deus", e coopera com ele inteligentemente no plano físico; ele escuta a Voz do Silêncio e obedece às suas injunções, trabalhando continuamente na tarefa de vida espiritual num mundo consagrado às
coisas materiais.

Tudo isto é possível ao homem que aquietou a versátil natureza psíquica e dominou a real ciência da Raja Ioga.

Na literatura velada dos adeptos as seguintes sentenças sumarizam o estado do homem que realizou, que é mestre e não servo, conquistador e não escravo:

"O quíntuplo entrou na paz, contudo, caminha em nossa esfera. Aquilo que é denso e escuro brilha agora com pura luz, o resplendor se projeta dos sete lótus sagrados. Ele ilumina o mundo, e irradia o mais baixo lugar com fogo divino.

Aquilo que até agora era irrequieto, selvagem como o oceano, túrgido como um mar tempestuoso, jaz quieto e parado. As águas da vida inferior estão límpidas e em condições de serem oferecidas aos sedentos que, tateando, gritam de sede.

Aquilo que matou e manteve velado o Real por muitos e longos eons está agora morto, e com sua morte cessa a vida em separado. O Uno é visto. A Voz é ouvida. O Real é conhecido, a Visão vislumbrada. O fogo de Deus se projeta para cima em uma chama.

O local mais escuro recebe a luz. A madrugada aparece na terra. A aurora, do alto, lança seus brilhantes raios sobre o próprio inferno e tudo é luz e vida".

Uma escolha é colocada então ante o iogue liberto. Ele se defronta com um problema espiritual e sua natureza nos foi transmitida no seguinte fragmento de um antigo catecismo esotérico:

"O que vês tu, ó liberto? Muitos que sofrem, Mestre, que choram e imploram auxílio.

E o que farás tu, ó homem de paz? Voltarei ao lugar de onde vim.

E de onde vieste, divino Peregrino? Das maiores profundidades da escuridão, e daí para cima, para a luz.

E aonde vais tu, Ó Viajante no caminho para o alto?

De volta à escuridão das profundezas, para longe da luz do dia.

E porque este passo, ó Filho de Deus? Para reunir os que tropeçam na escuridão e iluminar seus passos no caminho.

E quando termina o teu serviço, ó Salvador de homens?

Eu não sei, a não ser que enquanto houver um que sofra, eu ficarei para trás e servirei".

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Livro IV - Aforismo 25

25. O estado de unidade isolada (recolhido à verdadeira natureza do eu) é a recompensa do homem que pode discriminar entre a substância mental e o eu, ou o homem espiritual.

Este estado de unidade isolada deve ser encarado mais como o resultado da conquista de um particular estado da mente, do que como uma reação separatista.

Todo o trabalho de meditação, todos os momentos de reflexão, todos os exercícios de afirmação, todas as horas de recordação da verdadeira natureza são os meios empregados para destacar a mente das reações e tendências inferiores, e formar o hábito de uma constante conscientização da verdadeira natureza divina do homem. Quando se consegue esta conscientização, não há mais necessidade destes exercícios e o homem recebe sua herança. O isolamento mencionado é o desapego do eu, do campo de conhecimento, a recusa do eu em procurar experiências sensoriais externas e sua firme permanência no estado de ser espiritual.

O homem se torna consciente de sí mesmo como o conhecedor e não mais está primordialmente interessado no campo de conhecimento, como nos primeiros estágios de seu desenvolvimento; e nem mais está envolvido com o conhecimento propriamente dito, como estava durante o estágio de desenvolvimento mental,quer como um homem avançado ou como um discípulo. Ele pode discriminar entre todos os três e daí em diante não mais se identifica com o campo de conhecimento, com a vida nos três mundos através de seus três veículos, nem com os cinco sentidos e mais a mente, nem com o conhecimento obtido ou com a experiência ganha. Ele conhece o eu; ele se identifica com O verdadeiro conhecedor, e assim vê as coisas como elas são, dissociando-se inteiramente do mundo da percepção sensorial.

Ele faz isto, no entanto, enquanto atua como um ser humano na terra. Ele participa da experiência terrena; ele se envolve nas atividades humanas; ele caminha entre os homens, comendo e dormindo, trabalhando e vivendo. Entretanto, durante todo o tempo ele "está no mundo, mas não é do mundo", e pode-se dizer dele o que se disse do Cristo, "que, sendo em forma de Deus, não considerava um furto ser igual a Deus; mas anulou-se a sí mesmo tomando a forma de servo, e foi feito à semelhança dos homens:

E, achado na forma de homem, humilhou-se, sendo obediente até a morte, e a morte de cruz, Fil. II 6 a 8.

Ele está em sintonia com a alma de tudo, mas isolado, separado de tudo o que diz respeito à forma ou à natureza material. Os três aforismos seguintes devem ser considerados como um, dando, como o fazem, um retrato do crescimento gradual da natureza espiritual no homem que chegou ao estado de desapego discriminativo, e que, pela completa despaixão, conhece o significado da unidade isolada.

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Livro IV - Aforismos 26/27 e 28

26/27 e 28. A mente tende então para a discriminação e crescente iluminação quanto à verdadeira natureza do eu único. Pela força do hábito, contudo, a mente refletirá outras impressões mentais e perceberá objetos de percepção sensorial. Estes reflexos têm a natureza de empecilhos e o método de se as sobrepujar é o mesmo.

Tendo sido estabelecidos o ritmo e as corretas tendências, torna-se então apenas uma questão de contínua perseverança, bom senso e resistência. A menos que se exerça a maior vigilância, os antigos hábitos da mente voltarão a se impor com grande facilidade e mesmo até a iniciação final o aspirante deve "vigiar e orar".

As regras que governam a vitória, as práticas que trarão o sucesso, são as mesmas tanto para o experimentado combatente avançado e iniciado como para o mais humilde neófito. No Livro II são dados com grande cuidado os métodos pelos quais os empecilhos e obstáculos podem ser sobrepujados e anulados e do momento em que se pisa o caminho probatório até o grande momento em que se experimentou a última grande iniciação e em que o homem liberto surge na luz total do dia, estes métodos e modos de vida disciplinada devem ser seguidos sem desvios. Isto envolve paciência, capacidade de prosseguir após fracassos e de perseverar quando o sucesso parece estar muito longe. Isto era bem sabido pelo grande iniciado Paulo, e foi a razão de sua advertência aos discípulos que procurava ajudar. "Permanecei assim ... e tendo feito tudo, prossegui". James nos transmite o mesmo pensamento quando diz: "Cuidado, nós os consideramos felizes, os que resistem".

É o prosseguir quando se alcançou o ponto de exaustão, o dar mais um passo quando a força para isto parece não existir, o manter-se firme quando parece haver apenas derrota adiante, e a determinação de suportar o que quer que possa aparecer quando a resistência foi levada ao limite extremo, que dá a marca dos discípulos de qualquer grau. Para eles vai o chamado de clarim de Paulo:

"Estai, pois, firmes, tendo cingidos os nossos lombos com a verdade e vestido a couraça de justiça;

E calçado os pés na preparação do evangelho da paz;

Tomando sobre tudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno.

Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus". Ef.VI 14 a 17.

O comando de Krishna e Arjuna também soa igualmente claro:

"Em relação a teu dever, não ouses recusar. Pois nada é melhor para um guerreiro do que a batalha correta.

E uma batalha como esta veio a ti por si mesma, uma verdadeira porta do céu será aberta; felizes os guerreiros ... que encontram uma luta como esta ...

Levanta-te, portanto, determinado a combater. Tornando iguais a boa e a má sorte, o ganho e a perda, a vitória e a derrota, equipa-te para o combate" (Gita 11,31,32,37 e 38).

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Livro IV - Aforismo 29

29. O homem que desenvolve o desapego mesmo em sua aspiração à iluminação e à unidade isolada, se torna finalmente consciente, pela prática da discriminação, da nuvem de conhecimento espiritual que o encobre.

É difícil ao neófito ser impessoal quando o seu próprio desenvolvimento espiritual está em jogo. Não obstante, a própria seriedade de sua aspiração pode ser um empecilho, e uma das primeiras coisas que ele tem que aprender é prosseguir no caminho, de acordo com as regras, segundo os exercícios, empregando os meios e cumprindo firmemente a lei, ocupando-se ao mesmo tempo não consigo mesmo, e sim, com a visão e com o serviço. É tão fácil ser vítima do desejo elevado e se ocupar tanto com as reações e emoções do homem inferior que aspira, que rapidamente se é novamente envolvido com os trabalhos da versátil natureza psíquica.

O desapego a todas as formas de percepção sensorial, tanto a superior como a inferior, tem que ser desenvolvido.

Muitas pessoas, ao se transferirem do caminho do sentimento e da abordagem com o coração devoto (a linha mística) para o caminho do controle intelectual - a abordagem através da cabeça, o método ocultista - se queixam de que os antigos momentos de alegria e bem-aventurança experimentados na meditação, não mais são sentidos. O sistema que agora seguem parece árido, seco e insatisfatório. A alegria e a bem-aventurança são, contudo, manifestações da natureza emocional e de modo algum afetam a realidade. É imaterial, do ponto de vista da alma, que seu reflexo, o homem em encarnação, esteja feliz ou não, alegre ou triste, satisfeito ou com problemas. Uma coisa apenas importa, a obtenção do contato com a alma, o chegar à união com o Uno. Esta união pode-se traduzir na consciência no plano físico como um sentimento de paz e alegria; ela deve-se traduzir como uma capacidade aumentada de servir à raça e de servi-la mais eficientemente. Os sentimentos do discípulo são de pouca importância; sua compreensão e utilidade como um canal para a força espiritual são importantes. Deve ser lembrado, que, quando no caminho, nem as nossas virtudes nem os nossos vícios contam (exceto na medida em que escapamos dos pares de opostos). Isto é a única coisa que conta e que nos impele para diante no caminho que "brilha mais e mais até que o dia esteja conosco".

Quando um homem puder afastar seus olhos de tudo o que diga respeito ao físico, emocional e mental, e levantá-los dirigindo-os para longe de si, ele terá consciência da nuvem de conhecimento espiritual que o encobre, ou do "arco-íris" de coisas que se pode conhecer", como também foi traduzido.

Demos aqui, esotérica e simbolicamente, a indicação do que jaz adiante do iniciado (já avançado), um progresso ainda maior, e outro véu a ser penetrado. Ele realizou uma grande sintonização e unificou alma e corpo. Ele está (em relação aos três mundos) no estágio chamado de unidade isolada. Mas uma outra união se torna possível, a da alma com o espírito. O Mestre deve tornar-se o Cristo e para realizar isto deve alcançar o arco-íris do conhecimento espiritual, utiliza-lo e atravessá-lo. O que jaz no outro lado deste véu, que esconde o Pai, não é necessário considerarmos. Em nosso Novo Testamento, quando o Pai se comunicou com o Cristo, a voz partiu de dentro de uma nuvem. (ver Mateus XV 11).

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Livro IV - Aforismo 30

30. Quando se atinge este estágio, então os empecilhos e o carma são sobrepujados.

Os dois versos que acabamos de estudar levaram o aspirante do estágio de adepto ao do Cristo.

Tudo o que servia de obstáculo, que velava ou impedia a completa expressão da vida divina, foi sobrepujado; todas as barreiras foram derrubadas, todos os obstáculos, removidos. A roda do renascimento serviu à sua finalidade e a unidade espiritual que entrou na forma, levando consigo poderes em potencial e possibilidades latentes, desenvolveu-os até a sua plena capacidade e fez desabrochar completamente a flor da alma. A lei da causa e efeito, como age nos três mundos, não mais controla a alma libertada; seu carma individual chegou ao fim, e embora ele ainda possa estar sujeito ao carma grupal (planetário ou solar) ele próprio nada mais tem a pagar nem dá início a qualquer coisa que possa servir para aprisioná-lo pelas cadeias do desejo, aos três mundos. O seu estado é sumarizado para nós no aforismo seguinte.

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Livro IV - Aforismo 31

31. Quando, pela remoção dos empecilhos e pela purificação dos invólucros, a totalidade do conhecimento se torna disponível, nada mais resta ao homem para fazer.

O trabalho dual foi realizado. Os empecilhos que são o resultado da ignorância, da cegueira, do ambiente e da atividade foram vencidos; a falta de refinamento dos envoltórios foi corrigida e, por causa disto e pelo seguimento dos meios da ioga, a totalidade do conhecimento está disponível. O iogue está agora consciente de sua onipresença essencial ou de que sua alma é uma com todas as almas e parte, portanto, da essencial unidade, da vida que tudo permeia, do imutável princípio sem fronteiras que é a causa de toda manifestação. Ele também é oniciente, pois a totalidade do conhecimento é sua e todas as avenidas do conhecimento lhe estão abertas. Ele está livre do campo do conhecimento e, apesar disto, pode operar nele; ele pode utilizar o instrumento do conhecimento e certificar-se de tudo o que procura conhecer, mas centralizado na consciência do conhecedor. Nem o espaço nem o tempo podem prendê-lo, nem pode a forma material aprisioná-lo, e vem para ele a grande consumação que nos é dada por Patânjali nos seus aforismos finais:

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Livro IV - Aforismo 32

Aforismo 32. As modificações da substância mental (ou qualidades da matéria) através da natureza inerente das três gunas atingem a um final, pois serviram ao seu propósito.

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Livro IV - Aforismo 33

Aforismo 33. O tempo, que é a sequencia das modificações da mente, também termina, dando lugar ao eterno agora.

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Livro IV - Aforismo 34

Aforismo 34. O estado de unidade isolada se torna possível quando as três qualidades da matéria (as três gunas ou potências da natureza) não mais exercem nenhum controle sobre o eu. A consciência espiritual pura se recolhe ao uno.

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