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Livros de Alice Bailey

A LUZ DA ALMA - Sua Ciência e Efeito
Os Aforismos de Ioga de Patânjali


LIVRO II

OS PASSOS PARA A UNIÃO

a) Os cinco empecilhos e sua remoção
b) Definição dos oito métodos

Tópico: Os meios de realização.


Livro II - Aforismo 1

1. A Ioga de ação, levando à união com a alma, é aspiração ardente, leitura espiritual e devoção a Ishvara.

Devemos aqui ter em mente que estamos iniciando o livro que delineia a parte prática do trabalho, que dá as regras que devem ser seguidas se o aspirante espera se realizar, e que indica os métodos que trarão a realização da consciência espiritual. O objetivo foi tratado no Livro I. O aspirante naturalmente dirá, ao concluir o livro I, "quão certo e quão desejável, mas como será isto? Que devo fazer? Por onde devo começar?"

Patânjali começa bem desde o início e neste segundo livro indica:

1.Os requisitos básicos da personalidade
2.Os empecilhos que podem então ser notados pelo discípulo dedicado
3. Os oito "meios da ioga" ou os oito tipos de atividades que trarão os resultados necessários

A própria simplicidade deste delineamento torna seu valor muito grande; não há confusão, nem dissertações complexas, mas sim uma clara e simples relação dos requisitos.

Poderá ser útil se aqui mencionarmos as várias "iogas", de modo a dar ao estudante um conceito claro sobre suas distinções e deste modo permitindo-lhe cultivar a discriminação. As principais iogas são em número de três, sendo que as diversas outras "ditas iogas" se enquadram num destes três grupos:

1.Raja Ioga - a ioga da mente ou vontade
2.Bakti Ioga - a ioga do coração ou do devoto
3.Carma Ioga - a ioga de ação

A Raja Ioga é a ciência rainha de todas elas; é a soma de todas as outras, é o clímax e a que completa o trabalho de desenvolvimento do reino humano. É a ciência da mente e da vontade dirigida, e põe os mais elevados dos envoltórios do homem, nos três mundos, sob o controle do Regente Interno. Esta ciência coordena o tríplice homem inferior, inteiro, forçando-o até uma posição onde ele nada mais é que um veículo para a alma, ou o Deus in- terno. Inclui as outras iogas e tira proveito de suas conquistas. Sintetiza o trabalho de evolução e coroa o homem como um rei.

Bhakti Ioga é a ioga do coração; é a submissão de todos os sentimentos, desejos e emoções, ao ente amado, visto e conhecido pelo coração. É a sublimação de todos os amores inferiores, levando todos os anseios e desejos à submissão, ao anseio único de conhecer o Deus de amor e o amor de Deus.

Era a ciência "real" ou a mais importante da última raça raiz, a atlante, exatamente como a Raja Ioga é a grande ciência de nossa civilização ariana. A Bhakti Ioga transformava seu expoente em um arhat ou o levava à quarta iniciação. A Raja Ioga o torna um adepto e o conduz ao portal da quinta iniciação. Ambas levam à libertação, pois o arhat livra-se do ciclo do renascimento, mas a Raja Ioga o liberta para o completo serviço e liberdade para atuar como um Mago Branco. Bhakti Ioga é a ioga do coração, do corpo astral.

Carma Ioga tem uma relação específica com a atividade no plano físico e com o trabalho de trazer à manifestação objetiva todos os impulsos internos. Em sua forma antiga e mais simples foi a ioga da terceira raça raiz, ou lemuriana, e suas duas expressões mais conhecidas são:

a) a Hatha Ioga e a
b) Laya Ioga.

A primeira diz respeito especificamente ao corpo físico, ao seu funcionamento consciente (e não subconsciente e automático) e a todas as diversas práticas que dão, ao homem, controle sobre os diferentes órgãos e sobre todo o equipamento mecânico do corpo físico. A última diz respeito ao corpo etérico, com os centros de força ou chakras encontrados naquele corpo e com a distribuição das correntes de força e o despertar do fogo serpentino.

Assinale-se que se dividirmos o tronco do corpo humano em três departamentos, pode-se afirmar que:

1. A Carma Ioga provocou o despertar dos quatro centros que ficam abaixo do diafragma.
2. A Bhakti Ioga resultou em sua transmutação e transferência para os dois centros acima do diafragma, mas ainda no tronco, o coração e a garganta.
3. A Raja Ioga sintetiza todas as forças do corpo na cabeça e daí as distribui e controla.

A Raja Ioga, da qual Patânjali trata primordialmente, inclui os efeitos de todas as outras. Só é possível empregá-la quando já se trabalhou com as demais, mas não no sentido de se ter efetuado este trabalho nesta vida. A evolução trouxe todos os filhos dos homens (que estão prontos para serem chelas ou discípulos), através das várias raças e, enquanto na raça lemuriana (ou então no ciclo maior ou cadeia precedente), foram todos hatha ou laya iogues. Isto resultou no desenvolvimento e no controle do duplo corpo físico, denso e etérico.

Enquanto isso, na raça atlante o corpo de desejos ou astral foi desenvolvido e os melhores dessa raça foram verdadeiros filhos da bhakti ioga e verdadeiros devotos. Atualmente, o mais elevado dos três corpos deve ser levado a seu mais completo desenvolvimento e para isto a Raja Ioga foi planejada e este é o objetivo do trabalho de Patânjali. A raça Ariana contribuirá para a economia geral com este desenvolvimento mais completo, e toda a família humana (com exceção de uma percentagem que entrou para a raça muito tarde para poder obter o desabrochar completo da alma) se manifestará como Filhos de Deus, com todos os Seus poderes desenvolvidos e conscientemente utilizados no plano físico e no corpo físico. Patânjali diz que três coisas provocarão este acontecimento, associadas à obediência de certos métodos e regras, e essas três são:

1. Aspiração ardente, o domínio do homem físico de modo a que cada átomo de seu corpo esteja ardendo em zelo e esforço.

2. Leitura espiritual, que tem referência com a capacidade do corpo mental em ver o que está por trás de um símbolo ou de alcançar o sujeito que se encontra por trás do objeto.

3. Devoção a Ishvara, o que se relaciona com o corpo astral ou emocional, com todo o coração dedicado ao amor a Deus - Deus em seu próprio coração, Deus no coração de seu irmão e Deus como visto em cada forma.

A aspiração ardente é a sublimação da Carma ioga. A devoção a Ishvara é a sublimação da Bhakti ioga, enquanto a leitura espiritual é o primeiro passo para a Raja Ioga.

"Devoção a Ishvara" é um termo amplo e geral, abrangendo a relação do eu pessoal para com o eu superior, Ishvara, ou princípio do Cristo no coração. Abrange também a relação do Ishvara individual, com o Ishvara universal ou cósmico; trata da conscientização da alma, no homem, de que ela é uma parte integral da Superalma. Isto resulta na consciência grupal, que é o objetivo da ciência real.

A devoção envolve certos fatores que convém ao devoto compreender.

1. Uma capacidade para descentralizar-se, para mudar a própria atitude de centralização e de egoísmo, em outra que seja de dedicação ao que é amado. Todas as coisas são consideradas como não importantes desde que se alcance o objeto da devoção.

2. A obediência ao objeto amado, uma vez que ele seja conhecido. Em algumas traduções isto foi denominado "completa obediência ao Mestre" e esta é a tradução verdadeira e precisa, mas devido ao fato de a palavra Mestre sugerir (ao estudante de ocultismo) um dos adeptos, preferimos traduzi-la como "Ishvara", Deus no coração do homem, o Jiva divino ou o "ponto de vida divina", no centro do ser humano. Este é o mesmo em todos os homens, quer selvagens ou adeptos; a diferença está apenas no grau de manifestação e controle. A obediência completa a qualquer guru ou mahatma no sentido da completa subjugação da vontade nunca é ensinada na verdadeira ciência da ioga. A subjugação do homem inferior à vontade do Deus interno é ensinada, e todos os métodos e regras da ioga conduzem a este fim específico. Isto deve ser cuidadosamente mantido em mente. "A leitura espiritual" é a mais significativa e importante premissa ocultista dada até agora.

Cada forma é o resultado do pensamento e do som. Cada forma esconde ou vela uma ideia ou um conceito. Cada forma, portanto, é apenas um símbolo ou uma tentativa de representar uma ideia e isto, sem exceção, é verdadeiro em todos os planos de nosso sistema solar onde são encontradas formas, sejam elas criadas por Deus, pelo homem ou por um deva.

Um dos objetivos do adestramento de um discípulo é habilitá-lo a verificar o que está por trás de qualquer forma em qualquer dos reinos da natureza, e assim certificar-se da natureza da energia espiritual que a trouxe à existência. A amplidão deste simbolismo cósmico tornar-se-á aparente mesmo ao mais superficial dos pensadores e o principiante no caminho do aprendizado tem que aprender a separar as diversas formas em certos grupos específicos que representem certas ideias básicas. Ele tem de interpretar as ideias que estão por trás de símbolos específicos e tem de procurar o impulso específico latente em cada forma. Ele pode praticamente começar a fazer isto no ambiente e no lugar em que está. Ele pode procurar a ideia que está velada pela forma de seu irmão; pode procurar Deus por trás do corpo de todo e qualquer homem.

Assim, o aforismo em consideração leva o aspirante à parte mais prática da vida; ele o põe face a face com três quesitos básicos e à medida que procura respondê-los corretamente, ele inevitavelmente equipar-se-á para trilhar o caminho. Estes três quesitos são:

1. Para que objetivo tendem todos os anseios e aspirações de minha alma, para Deus, ou para coisas materiais?
2. Estarei colocando toda a minha natureza inferior sob o controle de Ishvara ou do verdadeiro homem espiritual?
3. Vejo Deus por trás de toda forma e circunstância em meus contatos diários?

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Livro II - Aforismo 2

2. A meta destes três é alcançar a visão da alma e eliminar os obstáculos.

É interessante registrar aqui que as palavras "visão da alma" precedem o pensamento dos obstáculos ou empecilhos eliminados, mostrando que a visão é possível mesmo para aqueles que ainda não chegaram à perfeição. A visão vem nos momentos de exaltação e elevada aspiração a que a maioria dos filhos dos homens é susceptível e dá-nos o necessário incentivo para produzir aquela determinação e perseverança que a eliminação do obstáculo requer. As palavras "eliminação dos obstáculos" ou "alteração dos empecilhos" (como algumas vezes são traduzidas) são urna expressão ampla e genérica e os comentaristas hindus assinalam que elas envolvem até mesmo a erradicação das sementes daqueles empecilhos e sua total destruição, como pelo fogo; que exatamente como uma semente queimada, seca, não é mais capaz de se propagar e se torna estéril; não produzindo crescimento algum, do mesmo modo as sementes dos obstáculos à vida do Espírito são esterilizadas. Estas sementes são encontradas em três grupos, cada qual produzindo um grande número de empecilhos ou obstáculos, nos três planos da evolução humana - as sementes latentes no corpo físico, as que produzem os obstáculos do corpo astral e as latentes no corpo mental. São, em cada caso, de três espécies, perfazendo assim, literalmente, nove tipos ou espécies de sementes:

1. Sementes traz idas de vidas anteriores
2. Sementes semeadas nesta vida
3. Sementes trazidas ao âmbito da vida de uma pessoa, pela família ou raça a qual pertence.

São estas sementes que produzem os empecilhos ou obstáculos à visão da alma e ao livre intercâmbio da energia espiritual e Patânjali diz que elas são de cinco tipos e começa a tratar especificamente delas. Alguns comentaristas traduzem a palavra como distrações e todos os três termos são igualmente corretos e qualquer um deles pode ser empregado. Pode-se talvez indicar que:

1. A palavra "obstáculo" seja mais tecnicamente correta quando aplicada ao plano físico.
2. A palavra "empecilho" aplica-se melhor às coisas que, por meio do corpo astral, impedem a visão da alma.
3. A palavra "distração" tem uma referência mais específica às dificuldades que assaltam o homem que procura aquietar a mente para assim obter a visão da alma.

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Livro II - Aforismo 3

3. Estes são os empecilhos que causam dificuldades: Avidya (ignorância), o senso da personalidade, desejo, ódio e o senso de apego.

Estes são os cinco conceitos ou ideias erradas que há eons de tempo e durante muitas vidas impedem os filhos dos homens de se conscientizarem de que são filhos de Deus. São estes conceitos que levam os homens a se identificarem com o que é inferior e material e a esquecerem as realidades divinas. São estas concepções errôneas que fazem um filho pródigo da Mônada divina, e que o enviam a países distantes para se alimentar das bolotas da existência mortal. São estas que devem ser vencidas e eliminadas antes que o homem possa "elevar seus olhos" e ter novamente a visão do Pai e da Casa do Pai, assim capacitando-se para trilhar conscientemente o Caminho de regresso.

Pode ser frisado que dois dos empecilhos, avidya e o sentido da personalidade, dizem respeito ao homem, à síntese no plano físico; que o desejo tem relação com seu corpo astral ou veículo do sentimento, e que o ódio e o senso de apego são produtos do senso de egoísmo (o princípio de ahamkara) que anima o corpo mental. Assim, a tríplice personalidade é o campo para as sementes e no solo da vida pessoal nos três mundos elas se propagam, florescem e crescem para obstruir e interceptar o homem real. Estas sementes devem ser destruídas e de sua destruição originam-se três coisas:

1.Pagam-se dívidas cármicas
2.Consegue-se a libertação
3.A visão da alma é aperfeiçoada.

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Livro II - Aforismo 4

4. Avidya (ignorância) é a causa de todos os outros obstáculos, quer sejam latentes, em processo de eliminação, superados ou em plena atuação.

A abrangência deste aforismo é a primeira coisa que atrai a atenção. Em pensamento, leva a pessoa à raiz de todo o mal e, em sua referência aos obstáculos, cobre todas as condições possíveis de sua existência. Este verso resume a condição de cada homem, desde o estágio selvagem, através de todas as condições intermediárias, até o estado de arhat, no qual as penas finais da ignorância são arrancadas. Ele afirma que a razão por que o mal existe, a razão por que o egoísmo e os desejos pessoais de qualquer espécie são evidentes, é encontrada na grande condição básica que é a própria limitação da forma, avidya ou ignorância.

Lembra ao aspirante, bem no início de suas investigações sobre as leis do desenvolvimento espiritual, que dois fatores devem ser levados em consideração, fatores estes que se baseiam no próprio fato da manifestação:

1. O fato do não-eu, para o qual os pontos divinos da vida espiritual são atraídos, e que os absorve durante o período de evolução.
2. O fato das limitações que o tomar forma impõe.

Estes dois fatores devem ser reconhecidos como verdadeiros tanto para o Logos solar, como para o Logos planetário, o homem ou um átomo. Cada forma de vida divina (a infinitamente pequena e a infinitamente grande), vela ou esconde uma fração de energia espiritual. O resultado para o ponto da existência espiritual é necessariamente um fechamento, um corte, e uma circunscrição dela mesma, e somente os contatos da própria existência e a luta da unidade espiritual dentro da forma podem levar à libertação final.

Por enquanto, e durante o processo de encarnação, o ponto de vida velado permanece na ignorância do que lhe é exterior e tem que lutar progressivamente para encontrar seu caminho para uma crescente liberdade e libertação.

No início, a esfera de sua própria forma é a única coisa de que tem consciência e ele permanece na ignorância de tudo o que lhe é exterior. Os contatos, originados pelo desejo, são os fatores pelos quais a ignorância vai-se transformando em conhecimento, e o homem (pois consideraremos apenas a unidade humana nesta conexão, embora as leis básicas sejam verdadeiras para todas as formas de vida divina) gradualmente se torna consciente de si mesmo e de seu meio ambiente. Como este meio ambiente é tríplice (físico, astral e mental) e como ele tem três veículos pelos quais pode contatar os três mundos, o período coberto por este despertar é imenso. A este respeito diz o velho comentário:

"Na Câmara da Ignorância os invólucros tríplices são conhecidos. Estabelece-se contato com a vida solar em seu ponto mais denso e o homem emerge plenamente humano".

A seguir o homem se torna consciente de algo mais, o grupo ao qual pertence, e ele realiza isto por uma descoberta da sua própria realidade interna, latente em sua personalidade. Ele aprende que ele, o átomo humano, é parte de um grupo ou centro no corpo de um Homem celestial, um Logos planetário, e que ele deve desenvolver a consciência:

a) da vibração de seu grupo
b) do propósito de seu grupo
c) do centro de seu grupo

Este é o estágio do caminho probatório ou do Caminho do Discipulado até a terceira iniciação, e o velho comentário prossegue:

"No interior da Câmara de Aprendizado, estabelece-se contato com o mistério central. Vê-se o método de libertação, a lei é bem cumprida e o homem emerge praticamente um adepto".

Finalmente, o homem penetra na Câmara da Sabedoria à qual era ocasionalmente admitido (e com frequência crescente) após a primeira grande iniciação, e aprende o local que seu grupo ocupa no plano planetário, tendo também uma ligeira visão do plano cósmico. A ignorância (como compreendemos o termo) é, evidentemente, anulada, mas não se pode enfatizar em demasia que ainda fica muita coisa desconhecida mesmo para o adepto, e que o Próprio Cristo, o Grande Instrutor do Mundo, não conhece tudo aquilo que é do conhecimento do Rei do Mundo. Os Aforismos de Ioga de Patânjali tratam apenas, no entanto, de como superar a ignorância que mantém o homem preso à roda do renascimento e o impede de desenvolver os verdadeiros poderes da alma. A este respeito diz o velho comentário, em seu estágio final:

"No interior da Câmara da Sabedoria, a luz brilha plenamente sobre os caminhos do adepto. Ele conhece a sétima parte e vê todo o resto. Ele próprio é um septenato e desta Câmara emerge Deus".

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Livro II - Aforismo 5

5. Avidya é a condição de confundir o permanente, puro, bem-aventurado e o Ego, com o que impermanente, impuro, doloroso e o não-eu.

Esta condição de ignorância, ou do "estado de avidya" é característica de todos aqueles que ainda não discriminam entre o real e o irreal, entre a morte e imortalidade e entre a luz e as trevas. Governa, assim, a vida nos três mundos, pois a correspondência entre avidya, no plano físico, tal como experimentada pelo homem encarnado, é encontrada em todos os planos. É urna limitação do próprio Espírito e um corolário necessário da tomada de forma. A unidade espiritual nasce cega e sem sentidos. Toma forma no início dos tempos e dos ciclos de renascimento num estado de total inconsciência. Tem que se tornar consciente daquilo que está à sua volta; para efetuar isto tem que, em primeiro lugar, desenvolver os sentidos pelos quais pode estabelecer os contatos e adquirir consciência. O método e o processo pelos quais o ser humano desenvolveu os cinco sentidos ou as avenidas de abordagem do não-eu são bem conhecidos e qualquer livro-texto padrão de fisiologia pode dar a informação necessária. Deve-se ter em mente três fatores em relação à unidade espiritual:

1. Os sentidos têm que ser desenvolvidos
2. O seu reconhecimento e utilização devem-se seguir
3. Segue-se um período no qual o homem espiritual emprega os sentidos para realizar seus desejos e, assim fazendo, identifica- se com seu equipamento de manifestação.

Ele é duplamente cego, pois não só nasceu cego e sem sentidos, como também é mentalmente cego, e não vê a si próprio ou às coisas como são, cometendo o erro de considerar-se como a forma material e isto ele o faz durante muitos ciclos. Não tem um sentido de valores ou de proporção, mas encara o homem transitório, sofredor, impuro e inferior (seus três invólucros em sua totalidade) como ele próprio, a realidade. Ele não pode dissociar-se de suas formas. Os sentidos são parte das formas; eles não são o homem espiritual, o morador na forma. Eles são parte do não-eu e o meio pelo qual este estabelece contato com o não-eu planetário.

Através da discriminação e do desapego o ego, que é permanente, puro e bem-aventurado, pode finalmente dissociar-se do não-eu, que é impermanente, impuro e cheio de dor. Quando isto não é conscientizado, o homem está numa condição de avidya. Quando está em processo de realização o homem é um seguidor de vidya ou conhecimento, um caminho quádruplo. Quando a alma é conhecida como tal, e o não-eu é relegado ao seu correto lugar como um invólucro, veículo ou implemento, então o próprio conhecimento é transcendido e o conhecedor fica isolado. Isto é a libertação e a meta.

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Livro II - Aforismo 6

6. O senso da personalidade é devido à identificação do conhecedor com os instrumentos do conhecimento.

Este verso é o comentário sobre o anterior. O estudante deve lembrar-se de que o conhecedor, o homem espiritual, possui vários instrumentos para estabelecer contato com seu meio-ambiente e assim se torna cada vez mais consciente:

1. De seus três invólucros ou corpos, que são seus meios de contato nos três planos:

a) O corpo físico
b) O corpo emocional ou astral
c) O corpo mental

2. Dos seus cinco sentidos no plano físico: audição, tato, visão, paladar e olfato.

3. Da mente, o grande sexto sentido que tem um tríplice uso. Mas, por enquanto, para a maioria dos homens tem apenas um emprego:

Sua primeira e mais comum utilização é a reunião dos contatos realizados e sua transmissão, como informação, para o ego, ou conhecedor, quase do mesmo modo como o sistema nervoso telegrafa para o cérebro os contatos externos que realiza. E este emprego da mente que produz primeiramente o senso da personalidade, que começa a desaparecer à medida que as outras utilizações se vão tornando possíveis.

Um segundo uso da mente é aquele que os cinco meios da ioga tornam possível - o poder de transmitir ao cérebro os pensamentos, desejos e vontade do ego ou alma. Isto traz ao eu pessoal, no plano físico, um reconhecimento da realidade e o senso da identificação com o não-eu diminui firmemente.

O terceiro emprego da mente é sua utilização pela alma como um órgão de visão pelo qual o próprio reino da alma é contatado e conhecido. Os três últimos meios da ioga proporcionam isto.

Deve-se enfatizar que este é um fato de muita importância. Se o aspirante encarar o desenvolvimento e a plena utilização do sexto sentido como seu objetivo imediato e mantiver em mente os três fins em que deve ser empregado, fará rápido progresso, o senso da personalidade desaparecerá e seguir-se-á a identificação com a alma. Este é um dos maiores grilhões que mantém presos os filhos dos homens. E aqui que se deve aplicar o machado à raiz da árvore.

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Livro II - Aforismo 7

7. O desejo é o apego aos objetos de prazer.

Esta não é de maneira alguma uma tradução literal, mas dá a ideia básica tão claramente, que é melhor traduzir o aforismo desta maneira.

Estes objetos de prazer abrangem todos os apegos formados pelo homem desde o estado selvagem da infante humanidade até os graus avançados do discipulado; abrangem tanto o desejo por objetos grosseiros no plano físico, como o apego por coisas, ocupações e ações que as emoções ou buscas intelectuais oferecem; abrangem toda a gama das experiências sensoriais, desde a resposta do selvagem ao calor e a uma boa refeição, até o êxtase do místico. O desejo é um termo genérico, compreendendo a tendência do espírito em se expressar pela vida da forma. Pode significar o deleite de um canibal naquilo que come, o amor de um homem por sua família, a apreciação do artista por uma bela pintura ou a adoração do devoto pelo Cristo ou pelo seu guru. É todo o apego, em um ou outro grau, e o progresso da alma parece estar neste dispensar de um objeto sensorial a outro até chegar o tempo em que é lançado de volta sozinho sobre si mesmo. Ele esgotou todos os objetos de apego e até seu próprio guru parece tê-lo deixado só. Apenas uma realidade permanece, a realidade espiritual que ele próprio é, e seu desejo então se volta para o interior. Este não mais é dirigido para o exterior e ele encontra o reino de Deus interno. Então, todo o desejo o abandona. Ele estabelece contatos e continua a se manifestar e a trabalhar nos planos da ilusão, mas trabalha do centro onde habita seu eu divino, a soma total de todo o desejo, e nada mais há para o atrair para os desvios do prazer ou da dor.

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Livro II - Aforismo 8

8. O ódio é a aversão por qualquer objeto dos sentidos.

Este aforismo é o reverso do anterior. O verdadeiro iogue não sente nem aversão nem desejo. Ele está equilibrado entre estes pares de opostos. O ódio é o resultado da concentração sobre a forma e de um esquecimento do que toda forma (em maior ou menor grau) revela; o ódio é o inverso de fraternidade, sendo assim uma quebra de uma das leis básicas do sistema solar. O ódio nega a unidade, provoca a ereção de barreiras e produz as causas que levam à cristalização, destruição e morte. É energia empregada para repudiar em vez de para sintetizar e assim é contrário à lei da evolução.

O ódio é, na realidade o resultado do senso da personalidade e da ignorância, somados ao desejo mal aplicado. É quase que a culminância dos outros três. Foram o senso de personalidade e o de extrema ignorância que, associados ao desejo de ganho pessoal, provocaram no coração de Caim o ódio por Abel, ocasionando o primeiro assassínio, ou a destruição da forma de um irmão. Deve-se considerar cuidadosamente este fato, pois o ódio, em certo grau, e a aversão, em certa extensão, estão presentes em todo coração humano. Apenas quando forem completamente sobrepujados pelo amor ou pelo sentido de unidade, desaparecerão do seio da família humana a morte, o perigo e o temor.

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Livro II - Aforismo 9

9. O intenso desejo pela existência sensorial é apego. É inerente a todas as formas, é autoperpetuador e é conhecido mesmo pelos muito sábios.

Esta forma de apego é a causa básica de toda manifestação. É inerente ao relacionamento dos dois grandes opostos, espírito e matéria; é o fator que rege a manifestação logóica e esta é a razão pela qual mesmo "os muito sábios" estão sujeitos a ele. Esta forma de apego é uma faculdade que automaticamente se autorreproduz e se autoperpetua, e deve ser lembrado que o domínio desta tendência, mesmo quando levado ao seu mais elevado estágio pelo adepto, é um domínio apenas relativo. Enquanto o Logos de nosso sistema solar, ou o Espírito Absoluto, se encarnar por meio de um sistema solar, esta tendência estará presente no mais elevado Espírito planetário e na mais elevada existência espiritual. Tudo o que é possível na superação do apego ou em matar o desejo, é desenvolver o poder de equilibrar os pares de opostos em qualquer plano particular, de modo que o homem não mais seja prisioneiro das formas daquele plano e que a retirada se torne possível. Os estudantes dão às palavras apego, desejo e à sua extinção, significados muito secundários. Eles são interpretados em termos do pequeno avanço do estudante. São apenas palavras do vernáculo que, muito inadequada e apenas simbolicamente, procuram expressar um trabalho ocultista. Só podem ser verdadeiramente compreendidas em termos da lei de Atração e Repulsão e através da compreensão do sistema de vibrações ocultas.

A vontade de viver ou de se manifestar é parte do impulso da Vida divina, sendo, portanto, correta. A vontade de ser, ou de se manifestar em qualquer plano específico ou através de um grupo específico de formas não será correta quando esta esfera de manifestação estiver ultrapassada e quando qualquer determinado conjunto de formas tiver servido ao seu propósito de prover meios para contatos-experiência e não mais puder oferecer ensinamento algum, o mal penetra, pois a tendência para o mal nada mais é que uma tendência em reverter ao uso de formas e práticas que o Morador interno já ultrapassou. Por esta razão, os pecados animais grosseiros são universalmente encarados como mal, pois é geralmente reconhecido que o habitante da forma do homem já ultrapassou o reino animal, ou o terceiro reino.

Um adepto, portanto, transcendeu o apego às formas nos três planos (físico, astral e mental) e matou todo o anseio pelas formas nesses planos. Quando a vida ou o Espírito se retira, a forma, ocultamente, morre. Quando o pensamento do ego ou eu superior está ocupado com seu próprio plano, não há energia saindo em direção à matéria dos três mundos e portanto a criação e o apego às formas não são possíveis. Isto está de acordo com a verdade ocultista de que a "energia segue o pensamento", e de acordo também com o ensinamento de que o corpo do princípio Crístico (o veículo búdico) só começa a coordenar quando os empecilhos inferiores desaparecem. É consistente também com o fato de que o veículo causal, o corpo do eu superior nos níveis abstratos do plano mental ganha em beleza, tamanho e atividade com maior rapidez, durante os estados do discipulado, do que fora anteriormente possível durante todo o ciclo das encarnações anteriores. A energia egoica não mais é dirigida apenas para fora, mas é mais literalmente dirigida para o seu próprio desenvolvimento. O apego à forma ou a atração do Espírito pela forma é o grande impulso involutivo. A repulsa da forma e sua consequente desintegração é o grande impulso evolutivo.

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Livro II - Aforismo 10

10. Estes cinco empecilhos, quando sutilmente conhecidos, podem ser transpostos por urna atitude mental de oposição.

As palavras "sutilmente conhecidos" podem ser interpretadas como "quando compreendidas pelo homem inferior" e o pensamento por trás destas palavras foi bem explicado por Dvivedi em seu Comentário, como segue:

"Tendo descrito a natureza das "distrações" o autor indica o modo para suprimi-las. Elas são divididas em duas espécies, sutis e grosseiras. As primeiras são aquelas que existem em estado latente sob a forma de impressões, enquanto que as segundas são aquelas que afetam a mente de modo concreto. As primeiras somente podem ser completamente suprimidas quando se obtiver controle completo sobre toda a estrutura que as suporta, ou seja, o princípio pensante".

Este é o primeiro trabalho do aspirante à ioga. Ele deve compreender a natureza dos obstáculos e dispor-se então a vencê-los, trabalhando no plano mental. Ele tem que ganhar o controle do equipamento do pensamento; a seguir, tem que aprender como utilizá-lo e quando isto tiver sido conseguido, ele começa a expulsar os empecilhos por meio de correntes contrárias. Os próprios empecilhos são resultantes de hábitos errôneos de pensamento e do mau uso do princípio pensante. Quando são sutilmente conhecidos como as sementes que produzem as "formas que causam os obstáculos", podem então ser exterminados nos estados latentes pelos corretos hábitos de pensamento que darão como resultado os meios de se conseguir a libertação.

A ignorância (avidya) deve ser suplantada pela verdadeira vidya ou conhecimento e, como é bem sabido, nesta quarta raça, neste quarto globo e nesta quarta ronda, as quatro vidyas e as quatro nobres verdades e os quatro elementos básicos formam a soma total deste conhecimento.

As quatro vidyas da filosofia Hindu podem ser enumeradas como se segue:

1. Yajna Vidya - A realização de direitos religiosos a fim de produzir certos resultados. Magia cerimonial. É relacionada com o som, e assim com o Ákasa ou o éter do espaço. A "Yajna" é a deidade invisível que permeia o espaço.

2. Mahavidya - O grande conhecimento mágico. Degenerou no culto Tântrico. Diz respeito ao aspecto feminino, ou o aspecto matéria (Mãe). A base da magia negra. A verdadeira mahaioga diz respeito à forma (segundo aspecto) e à sua adaptação ao Espírito e às suas necessidades.

3. Guhya vidya - A ciência dos mantras. O conhecimento secreto de mantras místicos. A potência oculta do som, da Palavra.

4. Atma vidya - Verdadeira sabedoria espiritual.

As quatro nobres verdades foram estabelecidas para nós nas palavras do Buda, nos seguintes termos:

"Agora o Excelso assim se dirigiu aos irmãos:

"Pela não compreensão, embora não alcançando as Quatro Verdades Arianas, irmãos, muito temos caminhado e errado nesta longa jornada (ou renascimento) vocês e Eu. Quais são essas quatro?

A Verdade Ariana do Mal: A Verdade Ariana do Nascimento do Mal; a Verdade Ariana da Cessação do Mal: A Verdade Ariana do Caminho levando à Cessação do Mal.

Mas, irmãos, quando estas Quatro Verdades Arianas forem compreendidas e alcançadas, então o excessivo desejo pela existência será exterminado, cortado será o fio que leva ao renascimento e então não mais haverá o vir a ser".

Assim falou o Excelso. Quando o ser Feliz havia assim falado, o Mestre acrescentou o seguinte:

Cegos às Quádruplas Verdades Arianas das coisas,
E cegos para ver as coisas como realmente são,
Longa foi nossa jornada através de diversos renascimentos.
Desaparecida é a corda da vida quando estes são vistos.
Não mais vir a ser quando a raiz do Mal é cortada."

Os quatro elementos foram especificados para nós no seguinte extrato da Doutrina Secreta (1.95)

"O Ovo Dourado estava cercado pelos sete Elementos naturais, quatro prontos (éter, fogo, ar, água) e três secretos".

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Livro II - Aforismo 11

11. Suas atividades devem ser encerradas pelo processo da meditação.

A "atitude mental de oposição" mencionada no aforismo precedente tem uma referência distinta às sementes ou às tendências latentes quando subsistem no corpo mental ou no corpo de desejos. Esta atitude mental tem que se transformar numa forma de meditação mental ativa e de pensamento dirigido para que as atividades do corpo físico possam ser submetidas a um controle semelhante. Muito do que fazemos é automático e resultante de longos e continuados hábitos emocionais e mentais. Instintivamente, devido a práticas antigas e à sujeição a um mundo de formas tangíveis, nossas atividades no plano físico são governadas pelos cinco empecilhos. Eles têm que ser suprimidos e o trabalho de lidar com as sementes latentes e com a supressão das atividades externas deve prosseguir simultaneamente. A firme oposição da atitude mental se encarrega de uma; a meditação que traz os três fatores do pensador, da mente e do cérebro físico se encarregará da outra, e isto não deve ser esquecido, pois de outro modo a teoria não será convertida em prática inteligente. Este processo de meditação é tratado no Livro III e não há necessidade aqui de maiores considerações.

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Livro II - Aforismo 12

12. O próprio carma tem suas raízes nestes cinco empecilhos e deve frutificar nesta vida ou em alguma vida posterior.

Na exata medida em que o homem, no plano físico, estiver sujeito ou for governado por estes cinco empecilhos, na mesma exata medida ele iniciará as atividades que produzirão efeitos inevitáveis e na mesma exata medida estará ele amarrado à roda do renascimento e condenado a tomar forma. O estudante deve cuidadosamente anotar que estes cinco empecilhos são a causa de todas as atividades da personalidade inferior ou do homem inferior. Tudo o que faz é baseado em um ou outro deles e não há ação do homem comum, nos três mundos, que não seja resultante da ignorância e das identificações e ações errôneas que a acompanham.

À medida que estes empecilhos são vencidos e que a ignorância, o campo de todos eles, é sobrepujada pela divina sabedoria, há cada vez menos efeitos a cancelar no plano físico, e as correntes que ligam um homem à grande roda da manifestação física são rompidas uma a uma. Estas correntes, assim como o campo de ignorância, são tríplices, sendo os três grandes planos de consciência que constituem o campo da evolução humana. Quando o campo de ignorância se torna o campo de experimentação consciente e quando se sente que as correntes são prisões e limitações, o futuro chela terá dado um tremendo passo para diante no processo de libertação. Quando ele puder levar a luta para o interior, para aquilo que Ganganatha Jha chama "a vida não manifestada" e que nós frequentemente chamamos de "planos mais sutis" ele estará entrando na Câmara do Saber e cortando os grilhões que kama (ou desejo) e o uso errado da mente tão sutilmente forjaram. Posteriormente, ele entrará na Câmara da Sabedoria e lhe serão ensinados certos métodos esotéricos e ocultistas de acelerar o processo de libertação.

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Livro II - Aforismo 13

13. Enquanto as raízes (ou samkaras) existirem, seus frutos serão o nascimento, a vida e as experiências, que resultarão em prazer ou dor.

O trabalho predominante do estudante de ocultismo é a manipulação da força e a entrada naquele mundo em que as forças são ativamente colocadas em ação, de que resultam efeitos fenomênicos. Ele tem que estudar e compreender prática e inteligentemente o funcionamento da Lei de Causa e Efeito e não mais trabalha com efeitos e centra sua atenção nas causas que os produzem. Em relação a si próprio, chega a compreender que a causa primordial do fenômeno de sua existência objetiva nos três mundos é o próprio ego e que as causas secundárias são o agregado daqueles fundamentais impulsos egoicos que levaram ao desenvolvimento da resposta aos contactos sensoriais nos três planos. Estes impulsos produziram efeitos que (estando sujeitos à Lei) devem se traduzir em objetividade no plano físico. Assim é dada uma importância muito maior à necessidade de se estabelecer contato egoico direto pelo fio ou sutratma, pois apenas desta maneira pode o aspirante se certificar das causas que estão por trás das atuais manifestações de sua vida, ou começar a lidar com os samkaras ou sementes de suas futuras atividades. Estas sementes são kama-manásicas (ou parcialmente emocionais e parcialmente mentais) em sua natureza, pois o desejo é potente em seus efeitos e produz o veículo físico em seus dois aspectos:

a) Manas inferior, ou a mente concreta, é o fator básico na produção do corpo etérico.
b) Kama, ou desejo, é o principal fator que traz à existência o veículo físico denso.

Os dois juntos são responsáveis pela existência manifestada.

É bem conhecido que a árvore da vida é representada com as raízes para cima e as folhas brotando para baixo. Na pequenina árvore da vida do ego a mesma representação simbólica é verdadeira. As raízes são encontradas no plano mental. O florescimento em objetividade e frutificação é encontrado no plano físico. Por isso é necessário que o aspirante aplique o machado à raiz da árvore, ou que lide com os pensamentos e desejos que produzem o corpo físico. Ele deve penetrar no reino subjetivo se quiser lidar com aquilo que continuará a mantê-lo na roda do renascimento. Quando as sementes são erradicadas, a frutificação se torna impossível. Quando a raiz é separada de suas partes externas em qualquer dos três planos, então a energia de vida não mais flui para baixo. As três palavras nascimento, vida e experiência resumem a existência humana, seu objeto, método e meta e com eles não precisamos nos ocupar. Todo o problema do Carma (ou Lei de Causa e Efeito) é tratado neste aforismo e é um assunto muito vasto para ser aplicado aqui. Basta dizer que, do ponto de vista dos Aforismos de Ioga, o Carma é de três espécies:

1. Carma Latente. Aquelas sementes e causas que ainda não foram desenvolvidas e estão inativas e devem vir a frutificar em algum período da vida presente ou em vidas subsequentes.

2. Carma Ativo. Aquelas sementes ou causas que estão em processo de frutificação e para as quais a vida presente deve suprir o necessário solo para o florescimento.

3. Carma Novo. Aquelas sementes e causas que estão sendo produzidas nesta vida, e que devem inevitavelmente governar as circunstâncias de alguma vida futura.

O principiante nesta ciência da ioga pode começar lidando com seu carma ativo, interpretando cada acontecimento da vida e cada circunstância como oferecendo condições para que ele possa esgotar uma certa série específica de efeitos. Ele pode se esforçar para controlar seus pensamentos de modo a não semear novas sementes, para não gerar carma futuro que vá frutificar em alguma vida posterior.

As sementes do carma latente apresentam maior dificuldade para o trabalho do neófito e é aqui que seu Mestre pode ajudá-lo - manipulando suas circunstâncias e trabalhando com seu meio-ambiente nos três mundos, de modo que este tipo de carma possa ser mais rapidamente esgotado e liquidado.

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Livro II - Aforismo 14

14. Estas sementes (ou samkaras) produzem prazer ou dor, conforme a causa originária seja boa ou má.

Pode-se registrar que o bem é o que se relaciona ao princípio uno, à realidade que habita em todas as formas, ao Espírito do homem à medida que se revela através da alma, e ao Pai ao Se manifestar através do Filho. O mal se relaciona à forma, ao veículo, à matéria e realmente diz respeito à relação do Filho com seu corpo de manifestações. Se o Filho de Deus (cósmico ou humano) estiver limitado, aprisionado e cego por sua forma, este é o poder do mal sobre ele. Se ele tiver consciência de seu próprio ego, se não for prisioneiro das formas, e se estiver livre da escravidão da matéria, este é o poder do bem. A completa libertação da matéria produz bem-aventurança ou prazer - a alegria da realização. O mal causa dor, pois o Habitante Interno apenas sofrerá na medida em que for limitado por seu corpo de manifestação.

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Livro II - Aforismo 15

15. Para o homem iluminado, toda existência (nos três mundos) é considerada dor, devido às atividades das gunas. Estas atividades são tríplices, provocando consequências, ansiedades e impressões subliminares.

As três "gunas" são as três qualidades da própria matéria, sattva, raja e tamas, ou ritmo, atividade e inércia, e são inerentes a todas as formas. O estudante deve se lembrar que cada forma em cada plano é assim caracterizada, e isto é verdadeiro desde a forma mais elevada até a mais baixa, a manifestação destas qualidades diferindo apenas em grau.

Para o homem que está alcançando a perfeição torna-se cada vez mais aparente como toda forma por que ele, o homem espiritual, se manifesta, causa limitação e dificuldade. O veículo físico do adepto, embora construído de substância de natureza predominantemente sáttvica, equilibrado e rítmico, ainda assim, serve para confiná-lo ao mundo dos empreendimentos físicos e limita os poderes do verdadeiro homem. Falando de um modo geral, pode-se dizer que:

1. O atributo da inércia (ou tamas) caracteriza o ego pessoal inferior, os invólucros do tríplice homem inferior.

2. O atributo da atividade é a característica primordial da alma, e é esta qualidade que causa a intensa atividade e o constante labor do homem à medida que ele procura experiência, e posteriormente, quando procura servir.

3. O atributo do ritmo, ou equilíbrio, é a qualidade do espírito ou mônada e é esta tendência para a perfeição que é a causa da evolução do homem em tempo e espaço e o fator que leva toda a vida, através de todas as formas, até a consumação. Mantenhamos em mente, contudo, que estas três qualidades são as qualidades da substância pelas quais o tríplice espírito se manifesta neste sistema solar. Ainda não conhecemos a natureza do próprio espírito, pois não podemos pensar a não ser em termos de forma, não obstante o quão transcendentais possam ser estas formas. Somente as almas que alcançaram a mais alta iniciação e que podem ultrapassar o círculo-não-se-passa de nosso sistema solar conhecem alguma coisa sobre a natureza essencial do que chamamos espírito.

Vindo para o lado prático da manifestação das gunas nos três mundos (em relação ao homem) pode-se registrar que:

1. O atributo de equilíbrio ou ritmo distingue o veículo mental. Quando o corpo mental está organizado e o homem é dirigido por sua mente, sua vida se estabiliza e se organiza também e seus negócios prosseguem de modo equilibrado.

2. A qualidade da atividade ou mobilidade é a característica da natureza astral ou emocional, e quando esta é dominante, a vida fica caótica, violenta, emocional e sujeito aos caprichos e sentimentos. É primariamente a qualidade da vida de desejos.

3. A inércia é a qualidade dominante do corpo físico e o objetivo total do ego é quebrar esta inércia e levar seu veículo mais inferior a uma atividade que o leve a atingir as finalidades desejadas. Daí o emprego e a necessidade da guna da mobilidade e o emprego total da natureza emocional ou de desejos, nos estágios iniciais do esforço.

A dor é o resultado destas atividades da forma, pois é o resultado da diferença inerente entre os pares de opostos, espírito e matéria. Ambos os fatores ficam essencialmente "em paz" até serem levados à conjunção e ambos resistem um ao outro e produzem atrito e sofrimento quando unidos no tempo e no espaço.

Patânjali assinala que esta dor é inclusiva, abrangendo passado, presente e futuro.

1. Consequências. A dor é causada pela atividade do passado e pelo esgotamento do carma, à medida que aparece, no ajustamento dos enganos, o pagamento do preço do erro. O pagamento das obrigações e dívidas passadas é sempre um processo doloroso. Algumas eventualidades passadas requerem condições atuais quer de hereditariedade e meio-ambiente, quer do tipo de corpo, e a forma, tanto do veículo como das relações grupais, é dolorosa para a alma, que é assim confinada.

2. Ansiedades. Dizem respeito ao presente e algumas vezes, isto é, traduzido como - apreensões. Se o estudante examinar este termo verá que ele abrange não só o temor do mal no sofrimento, como também o temor do fracasso no corpo espiritual no serviço. Estes causam igualmente dor e aflição e fazem o despertar do homem real corresponder a uma conscientização de sua herança.

3. Impressões subliminares têm relação com o futuro e dizem respeito aos pressentimentos em relação à morte, sofrimentos e necessidades que dominam tantos dos filhos dos homens. É o desconhecido e suas possibilidades, o que tememos, tanto por nós como pelos outros, e isto por sua vez causa dor.

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Livro II - Aforismo 16

16. A dor que ainda está por vir pode ser evitada.

Aqui as palavras sânscritas transmitem uma ideia dupla. Em primeiro lugar, dão a entender que certos tipos de "miserabilidade" (conforme algumas traduções) ainda por vir, podem ser evitados pelo correto ajustamento das energias do homem, de maneira que, pela mudança de sua atitude, as reações dolorosas não mais sejam possíveis e, pela transmutação de seus desejos, tornem-se impossíveis as "velhas dores". Em segundo lugar, indica que a vida deve ser vivida, no presente, de modo tal que não dê lugar à geração de causas que sejam movimentadas segundo a linha de efeitos causadores de sofrimento. Esta dupla inferência provocará na vida do iogue um disciplinamento duplo, envolvendo uma firme determinação de praticar o desapego e um firme disciplinamento da natureza inferior. Isto provocará uma atividade mental de tal natureza que as velhas tendências, anseios e desejos não mais atraiam e que não mais sejam exercidas atividades que possam acarretar a criação de carma ou de resultados posteriores.

Aquilo que já passou somente agora pode ser esgotado, e deve-se permitir que este tipo de carma, que traz dor, tristeza e miséria em sua esteira, siga o seu curso normal. O carma atual, ou aquela precipitação de efeitos que o ego planeja dispersar no atual ciclo de vida, deve igualmente desempenhar seu papel na emancipação da alma. É, contudo, possível, ao homem espiritual, governar de tal modo o homem inferior que os acontecimentos cármicos (ou seus efeitos à medida que são esgotados no mundo físico objetivo) possam não causar dor ou aflição, à medida que sejam reconhecidos e enfrentados pelo iogue desapegado. Nem mais deixará que outras causas provocadoras de dor sejam acionadas.

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Livro II - Aforismo 17

17. A ilusão de que o Percebedor e aquilo que é percebido são uma e a mesma coisa, é a causa (dos efeitos que produzem dor) que deve ser afastada.

Este aforismo nos leva de volta à grande dualidade básica de manifestação, a união do espírito e da matéria. É seu intercâmbio que origina todas as modificações produtoras de forma ou atividade nos vários planos e que é a causa das limitações que a consciência pura impôs a si própria. Num breve comentário como este é impossível tratar deste tema com maior profundidade. Tudo o que é possível fazer é tocar no assunto à medida que ele afeta o próprio homem. Pode ser resumido como se segue: - Todo sofrimento e dor é causado pelo homem espiritual ao se identificar com suas formas objetivas nos três mundos e com o reino dos fenômenos no qual estas formas têm suas atividades. Quando ele puder se dissociar do reino dos sentidos e conhecer-se como "aquele que não é o que é visto, tocado e ouvido", poderá então libertar-se de todas as limitações da forma e permanecer à parte como o divino percebedor e ator. Ele utilizará as formas como desejar, para atingir determinados fins específicos, mas não se iludirá, considerando-as como sendo ele próprio. Os estudantes farão bem em aprender a manter a consciência de que nos três mundos (que é tudo o que concerne ao aspirante neste estágio) ele é o mais alto fator nas bem conhecidas triplicidades:

O Percebedor Percepção Aquilo que é percebido,
O Pensador Pensamento Formas de pensamento,
O Conhecedor Conhecimento O campo do conhecimento,
O Vidente Vista Aquilo que é visto,
O Observador Observação O que é observado,
O Espectador Visão O espetáculo,

e muitas outras igualmente conhecidas.

O grande objetivo da Raja Ioga é libertar o pensador das modificações do princípio pensante de modo a que ele não mais mergulhe no grande mundo das ilusões do pensamento nem se identifique com o que é puramente fenomênico. Ele fica livre e desapegado e usa o mundo dos sentidos como o campo de suas atividades inteligentes e não mais como o campo de suas experiências e esforços destinados a dar-lhe experiência.

Deve ser lembrado que os meios de percepção são os seis sentidos, isto é, audição, tato, visão, paladar, olfato e a mente, e que estes seis devem ser transcendidos e conhecidos pelo que realmente são. Os meios de percepção revelam a grande maya ou o mundo de ilusões que é composto de formas de todos os tipos, construído de substância que deve ser estudada quanto à sua constituição atômica e molecular e aos elementos básicos que dão a essa substância suas diferenciações e qualidade específicas. Para fins de estudo o estudante fará bem em lembrar-se de que deve investigar a natureza dos seguintes fatores no polo oposto ao espírito, a que chamamos de matéria:

1. Átomos
2. Matéria molecular
3. Os elementos
4. As três gunas ou qualidades
5. Os tattvas ou diferenciações de força em suas sete formas.

Através da compreensão da natureza e distinções da matéria, ele chegará a ter uma compreensão do mundo da forma que manteve prisioneiro o seu espírito por tanto tempo. Isto é indicado por Patânjali no aforismo seguinte.

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Livro II - Aforismo 18

18. Aquilo que é percebido tem três qualidades, Sattva, Rajas e Tamas (ritmo, mobilidade e inércia); consiste dos elementos e dos órgãos sensoriais. A sua utilização provoca a experiência e a libertação final.

Este é um dos mais importantes aforismos neste livro pois em poucas e concisas palavras resumimos a natureza da substância, sua constituição, seu propósito e sua finalidade. Poder-se-ia dedicar muito tempo à consideração de cada sentença, e as palavras, "as qualidades", "os elementos", "os sentidos", "evolução" e "libertação" exprimem a soma total dos fatores que dizem respeito ao crescimento do homem. Estes cinco são aqueles com os quais a unidade humana mais tem a ver e abrangem sua carreira desde o momento em que pela primeira vez se encarnou e através dos longos ciclos de vidas, até ter passado pelos vários portais de iniciação, para a vida maior do cosmos.

Primeiro a "inércia" o caracteriza, e suas formas são de uma natureza tão pesada e grosseira que muitos e violentos contatos são necessários antes que ele se torne consciente de seus arredores e de que, posteriormente os aprecie inteligentemente. Os grandes elementos da terra, água, fogo, e ar, desempenham sua parte na construção de suas formas e são incorporados ao seu próprio ser. Seus vários órgãos sensoriais lentamente se tornam ativos; primeiro, os cinco sentidos e, a seguir, quando a segunda qualidade de rajas, ou atividade, estiver firmemente estabelecida, o sexto sentido ou a mente começa a se desenvolver também. Posteriormente ele começa a perceber em tudo o que o cerca no mundo fenomênico, as mesmas qualidades e elementos que nele próprio existem, e seu conhecimento cresce rapidamente. Daí passa a fazer uma distinção entre ele próprio como o Percebedor e aquilo que percebe como suas formas e seu mundo de ser. O sexto sentido se torna cada vez mais dominante e é finalmente controlado pelo verdadeiro homem, que passa então ao estado sáttvico onde é harmonizado em si mesmo e consequentemente com tudo à sua volta. Sua manifestação é rítmica e em sintonia com o grande todo. Ele observa o espetáculo e se certifica de que as formas através das quais age no mundo fenomênico estão devidamente controladas e que suas atividades estão em harmonia com o grande plano.

Quando isto for verdadeiro ele será parte do todo e, apesar disso, livre do controle do mundo da forma, dos elementos e dos sentidos. Ele os utiliza; eles não mais o usam.

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Livro II - Aforismo 19

19. As divisões das gunas (ou qualidades da matéria) são quádruplas; a específica, a não específica, a indicada e o intocável.

É interessante registrar aqui que as gunas ou qualidades (a totalidade dos atributos ou aspectos da substância de nosso sistema solar) são quádruplas. Nesta divisão setenária temos uma analogia com os setenatos encontrados em todo o universo manifestado.
Temos primeiro os três aspectos principais da substância-pensamento:

1. Substância sáttvica ritmo, equilíbrio, harmonia,
2. Substância rajásica mobilidade, atividade,
3. Substância tamásica inércia, estabilidade.

Estas três dividem-se em:


1. específica elementos manifestados, forma,
2. não específica os sentidos, as reações de força, os tanmatras,
3. indicada substância primária, os táttvas, matéria atômica,
4. intocável A grande Existência que é a soma total de todos estes.

Neste aforismo a intenção é abranger todas as tecnicalidades do aspecto forma da manifestação, quer se refira à manifestação de um átomo humano, quer de uma deidade solar, e simplesmente indica a natural triplicidade da substância, sua natureza septenária e suas várias mutações. Expressa a natureza daquele aspecto da vida divina que é chamado Brahma pelo hindu, e Espírito Santo pelo cristão. Este é o terceiro aspecto da Trimurti ou Trindade, o aspecto da matéria ativa inteligente, do qual o corpo de Vishnu ou do Cristo cósmico deve ser construído, a fim de que Shiva, o Pai ou espírito, possa ter um meio de revelação. Portanto, poderá ser útil se indicarmos a natureza das quatro divisões das três gunas, após darmos os sinônimos para estas gunas.

As três gunas:

1. As qualidades da matéria,
2. Os aspectos da substância pensante, ou da mente universal,
3. Os atributos da força-matéria,
4. As três potências.

Estas triplicidades devem ser cuidadosamente estudadas, pois é através delas que se torna possível a consciência em seus vários graus. Aqui nós estamos tratando com a grande ilusão de formas com as quais o Homem Real se identifica para seu sofrimento e dor durante o longo ciclo de manifestação e das quais ele deve ser finalmente libertado.

Um pensamento ainda mais amplo é também envolvido: o aprisionamento da vida de um Logos solar na forma de um sistema solar, seu desenvolvimento evolutivo através dessa forma e a perfeição final e libertação daquela vida da forma na conclusão de um grande ciclo solar. O ciclo menor do homem está englobado no maior e sua conquista e a natureza de sua libertação é apenas relativa ao todo maior.

1. A divisão específica das gunas.

Esta divisão especifica ou particularizada das gunas distribui-se em dezesseis partes que tratam primariamente das reações do homem ao mundo tangível objetivo.

a. Os cinco elementos: éter, ar, fogo, água e terra. Estes são os efeitos diretamente envolvidos dos não específicos ou som ou palavra subjetivos.

b. Os cinco órgãos sensoriais: o ouvido, a pele, o olho, a língua e as narinas, esses órgãos ou canais físicos pelos quais a identificação com o mundo tangível se torna possível.

c. Os cinco órgãos de ação: voz, mãos, pés, os órgãos excretores e os órgãos genitais.

d. A mente. Este é o sexto sentido, o órgão que sintetiza todos os outros órgãos sensoriais e que por fim tornará a utilização deles uma coisa do passado.

Estes dezesseis meios de percepção e atividade no mundo fenomênico são os canais para o homem pensante real; eles demonstram sua realidade ativa e são a totalidade dos fatos físicos que dizem respeito a todo filho de Deus encarnado. De modo semelhante, em sua conotação cósmica, eles são a totalidade dos fatos que demonstram a real idade de uma encarnação cósmica. "A Palavra é feita carne" tanto individualmente como no sentido cósmico.

2. A divisão não específica das gunas.

Estas são em número de seis e dizem respeito ao que está por trás do específico; tratam daquilo que é subjetivo e intangível e com a dispensação da força que produz as formas específicas.

Tecnicamente são chamadas nos livros hindus, de tanmatras. Dizem mais respeito à consciência que à forma e são as "modificações especiais de budi ou consciência" (Ganganatha Jha), São elas:

1. O elemento da audição, ou aquilo que produz o ouvido, - o rudimento da audição;
2. O elemento do tato, ou aquilo que produz o mecanismo do tato, a pele etc. - o rudimento do tato;
3. O elemento da visão, ou aquilo que produz o olho;
4. O elemento do paladar, ou aquilo que produz o mecanismo do gosto;
5. O elemento do olfato, ou aquilo que produz o mecanismo do olfato.

Por trás destes cinco está a sexta tanmatra, ou modificação do princípio da consciência, o "sentimento de personalidade" como tem sido chamado, a consciência do "Eu sou Eu", o princípio do ahamkara. E isto que produz o senso da realidade pessoal e de ser a pessoa uma unidade distinta de consciência. E a base da grande "heresia da separatividade" e a causa de ser o homem real ou espiritual atraído para a grande ilusão. É isto que força o homem durante longos eons a identificar-se com as coisas dos sentidos e é isto também que finalmente o leva à posição onde ele procura a libertação.

3. A indicada.

Por trás das dezesseis divisões especializadas e das seis não especializadas está aquilo que é a causa de todas elas, chamada nos livros hindus Budi, ou razão pura, o intelecto separado da mente inferior, algumas vezes chamado intuição, cuja natureza é amor-sabedoria. Este é o princípio ou vida Crística, que no processo de se encarnar ou tomar forma, como o sabemos, manifesta-se como específica e não específica. Para a maioria é por enquanto apenas "indicada". Nós supomos que esteja lá. O trabalho da Raja Ioga é levar esta vaga suposição ao pleno conhecimento, de modo a que a teoria se torne fato e que o que está latente e que se acredita existir, possa ser reconhecido pelo que realmente é.

4. O intocável.

Chegamos finalmente à quarta divisão das gunas ou aspectos, aquela "em que vivemos, nos movemos e temos o nosso ser" o intocável ou desconhecido Deus. Esta é a grande forma de existência onde as nossas pequenas formas são encontradas. Esta é a totalidade da substância pensante da qual as nossas pequenas mentes são parte; esta é toda a manifestação de Deus por meio do Cristo cósmico, do qual cada pequenino Filho de Deus é uma parte. A mente do homem ainda não pode conceber este intocável e desconhecido.

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Livro II - Aforismo 20

20. O vidente é conhecimento puro (gnosis). Embora puro, ele olha para a ideia apresentada, através da mente.

Já se fez referência à excelente tradução deste aforismo feita por Johnston, que diz o seguinte: "O vidente é visão pura. Embora puro, ele olha para fora através da vestimenta da mente". Ganganatha Jha lança ainda mais luz sobre ele por meio destas palavras: "O espectador é sensibilidade pura, e embora pura, ainda armazena ideias do intelecto." O pensamento que se procura transmitir é que o verdadeiro homem, o espectador, o percebedor ou pensador é a soma total de toda percepção, seja ela pelas avenidas dos sentidos, ou da mente inferior; ele é em si próprio o conhecimento, visão clara ou percepção verdadeira. Tudo o que existe nos três mundos existe por causa dele e para ele; ele é a causa dessa existência e quando não mais a procura nem tenta visualizá-la, para ele não existe mais. Este aforismo é um dos versos chave deste livro e dá a pista para a compreensão de toda a ciência da ioga. Em sua formulação há alguns pensamentos ocultos, pensamentos estes que cobrem todo o campo desta ciência e os estudantes fariam bem em dar-lhe muita atenção. Tem efeito mântrico e se for dito como uma afirmação e utilizado constantemente pelo aspirante, demonstrar-lhe-á, por fim, a verdade do ditado: "como o homem pensa, assim ele é".

"Eu sou conhecimento puro. Embora puro, Eu observo as ideias apresentadas, por meio da mente".

Temos aqui:

1. O vidente ou o que observa e considera (de seu ponto de vista divino) este mundo de efeitos, esta grande maya de ilusão.

2. A ideia apresentada. O pensamento aqui transmitido é que cada forma que passa diante do espectador no grande panorama da vida nos três mundos é uma "ideia-apresentada", e que estas ideias apresentadas são, portanto, pensamentos corporificados de alguma espécie, devendo ser encarados como tais. A tarefa do ocultista é trabalhar com a força que está por trás de cada forma e não tanto com a forma que é apenas o efeito de alguma causa. Este método de esforço só pode ser desenvolvido gradualmente. O espectador passa gradativamente das formas e de sua verdadeira significação em seu próprio meio-ambiente imediato e em seu próprio pequeno mundo, pelas várias formas do processo mundial até que o mundo das causas lhe fique revelado e que o mundo dos efeitos assuma uma posição secundária.

Primeiramente ele percebe as formas nos três mundos. Gradualmente, então, ele se torna consciente daquilo que os produziu e do tipo de força que os trouxe à existência. Posteriormente, descobre a ideia que eles encarnam, e traçando-os progressivamente para a frente ou para trás até sua fonte original, ele entra em contato com as grandes vidas que são a causa de manifestação. Sai assim do reino da objetividade, dos mundos mental, emocional e físico, e entra no reino da alma ou da causa subjetiva desta tríplice manifestação. Este é o mundo das ideias e portanto do conhecimento puro, da razão pura e da mente divina. Posteriormente, num estágio muito avançado, ele entrará em contato com a Vida Una que sintetiza as diversas vidas, com o Propósito uno que mescla as diversas ideias em um plano homogêneo.

3. A mente. Este é o instrumento que o vidente emprega a fim de perceber as ideias apresentadas ou as formas de pensamento. Para maior clareza pode-se notar que as ideias apresentadas se enquadram em cinco grupos de formas de pensamento:

a. As formas objetivas tangíveis no mundo físico de cada dia. Com estas de há muito que o vidente se identificou, nos primeiros e mais selvagens estágios da existência humana.

b. Estados de humor, sentimentos e desejos, todos com formas no mundo astral, o mundo das emoções.

c. As formas de pensamento, em suas miríades de espécies, que povoam o mundo mental.
Através destas "ideias apresentadas" o vidente ganha conhecimento do não-eu.

d. As formas de pensamento que ele próprio pode criar após ter aprendido a controlar seu instrumento, a mente, e pode discriminar entre o mundo ilusório das ideias presentes e as realidades que constituem o mundo do espírito.

Por este processo ele chega a um conhecimento de si mesmo. Durante toda a grande experiência de conhecer o não-eu e a si mesmo, ele emprega a mente como seu meio de busca, de explicação e de interpretação, pois os sentidos e todos os seus canais de contato, telegrafam continuamente informações e reações à mente, por meio do instrumento inferior do cérebro. Tendo alcançado este estágio o vidente é então capaz de utilizar a mente de modo inverso. Em vez de voltar sua atenção para o não-eu ou o mundo ilusório dos efeitos e em vez de estudar sua própria natureza inferior, ele pode, agora, em virtude do controle mental que conquistou,chegar ao quinto estágio:

e. As ideias apresentadas pelo mundo da vida espiritual, o reino do conhecimento espiritual, e o reino de Deus em seu mais verdadeiro sentido.
Por este meio, o vidente chega ao conhecimento de Deus como Ele é e chega a uma compreensão da natureza do espírito. A mente serve então a um tríplice propósito:

1) Através dela o vidente observa o reino das causas, o reino espiritual.

2) Por seu intermédio, o mundo das causas pode ser interpretado em termos do intelecto.

3) Utilizando-a corretamente, o vidente pode transmitir ao cérebro físico do eu pessoal inferior (o reflexo no mundo dos efeitos do homem verdadeiro) aquilo que a alma vê e conhece. O seguinte triângulo é então formado e entra em atividade: o vidente ou o homem espiritual, a mente, seu meio de investigação, ou a janela por onde olha para fora (quer sobre o mundo dos efeitos, sobre si mesmo ou sobre o mundo das causas) e o cérebro, que é a placa receptora sobre a qual o vidente pode imprimir seu "conhecimento puro" utilizando a mente como intérprete e agente transmissor.

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Livro II - Aforismo 21

21. Tudo o que existe, é para o benefício da alma.

O homem, em sua arrogância, não deve encarar este aforismo como significando que tudo o que é criado existe para ele. O sentido é bem mais amplo que isto. A alma a que se refere é a do Ser Supremo, da qual a alma humana não é mais que uma parte infinitesimal. O pequeno mundo do homem, seu pequeno ambiente e contatos, existem para a experiência que lhe trazem, e pela libertação final que ocasionam; ele é a causa de suas manifestações e elas são o resultado do poder de seu próprio pensamento. Mas em volta e através dele encontra-se o todo maior do qual ele é parte, e todo o vasto universo, planetário e solar, existe em benefício da Vida maior em cujo corpo ele é apenas um átomo. Todo o mundo das formas é o resultado da atividade do pensamento de alguma vida; todo o universo da matéria é o campo para a experiência de alguma existência.

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Livro II - Aforismo 22

22. No caso do homem que conquistou a ioga (ou união) o universo objetivo deixou de existir. Apesar disto, existe para aqueles que ainda não estão livres.

Este aforismo contém o germe de toda a ciência do pensamento. Sua premissa baseia-se na conscientização de que tudo aquilo que observamos são modificações da substância do pensamento, que o pensador cria seu próprio mundo, quer seja ele Deus ou homem. Quando um homem, pela ciência da ioga (a ciência que trata da "supressão das atividades do princípio pensante" ou do controle da mente), conquista o controle total da mente e da substância mental ou matéria pensante, ele fica livre do controle das formas que mantêm a maioria dos homens cativa nos três mundos.

Ele fica então separado da grande ilusão; os corpos que até então o aprisionaram não mais o fazem; as grandes correntes de ideias e de pensamentos e desejos que têm sua origem através "das modificações do princípio pensante" dos homens prisioneiros nos três mundos não mais o abalam ou afetam; e as miríades de formas de pensamento que são o resultado destas correntes nos mundos mental, astral e físico, não mais o separam das realidades ou do verdadeiro mundo subjetivo das causas e das emanações de força. Ele não mais é enganado e pode discriminar entre o real e o irreal, entre o verdadeiro e o falso, e entre a vida do espírito e o mundo fenomênico. Ele se torna então sujeito às correntes de pensamento e o mundo das ideias que emanam das grandes entidades espirituais, das vidas espirituais e o grande plano do Arquiteto do Universo pode-se desenvolver ante ele. Ele está liberado e livre e sujeito apenas às novas condições de vida do homem que realizou a grande unificação. As leis dos três mundos não são ultrapassadas mas são transcendidas, pois o maior sempre inclui o menor, e embora - para fins de serviço - ele possa escolher limitar-se a uma vida aparentemente tridimensional, apesar disto ele avança para o mundo de dimensões superiores conforme com sua vontade e, quando necessário para a extensão do reino de Deus.

O objetivo desta ciência da ioga é revelar ao homem o modo de se libertar e como consegui-lo. Daí a direção dos ensinamentos de Patânjali até este ponto ter sido a de indicar a posição do homem no esquema, pôr o dedo sobre a causa básica da inquietação do homem e impulsioná-lo para a atividade de uma ou outra espécie; mostrar a razão da existência do grande mundo dos efeitos e induzir o aspirante a investigar o mundo das coisas; e assim demonstrar a necessidade de um desenvolvimento maior e a natureza dos obstáculos a este desenvolvimento de modo a que o homem esteja pronto a dizer: Se isto tudo é assim, quais são os meios pelos quais esta união com o real e esta dispersão da grande ilusão podem ser conseguidos? Este segundo livro apresenta os oito grandes meios da ioga, dando assim um delineamento claro e preciso dos passos exatos a serem seguidos para a necessária regulação da vida física psíquica e mental.

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Livro II - Aforismo 23

23. A associação da alma com a mente e assim com aquilo que a mente percebe, produz uma compreensão da natureza do que é percebido e, de modo semelhante, do Percebedor.

Neste aforismo chama-se a atenção do estudante para a qualidade primária que ele deve desenvolver, a da discriminação. Sua significação é portanto muito clara. Os pares de opostos, espírito e matéria, purusha e prakriti, são trazidos a uma íntima associação e essa união deve ser levada a ser reconhecida pela alma, a consciência percebedora. Pelo processo desta mistura das dualidades, a alma, o pensador, chega a uma compreensão da natureza que é a sua própria, a natureza espiritual, e da natureza do mundo fenomênico que ele percebe, contata e utiliza. O órgão de percepção é a mente, com os cinco sentidos, e do ponto de vista da alma, eles formam um instrumento. Durante um longo período e através de muitas encarnações, a alma, ou o pensador, se identifica com este órgão de percepção e nos estágios iniciais, também com aquilo que ele percebe através de seu emprego. Ele encara o corpo fenomênico que usa, o corpo físico, como a si próprio, como o testemunha a expressão: "Eu estou cansado", ou "Eu estou com fome". Ele se identifica com seu corpo de sentimento ou de desejo e diz: "Eu estou aborrecido" ou "Eu quero dinheiro". Ele se identifica com seu corpo mental e encara a si próprio como pensando isto ou aquilo. É esta identificação que resulta em diferenças teológicas, e nas diversidades doutrinárias e sectárias encontradas em toda parte, e nesta quinta raça-raiz, e particularmente nesta quinta sub-raça, esta identificação alcança sua apoteose. É a era do eu pessoal, e não do Eu espiritual. Esta conscientização da natureza inferior é parte do grande processo evolutivo, mas deve ser seguida pela conscientização do polo oposto, o Eu espiritual. Isto é conseguido pela alma ao começar a praticar a discriminação, a princípio teórica e intelectualmente (daí o grande valor da atual era de crítica e de discussão polêmica, pois ela faz parte do processo discriminativo planetário) e, posteriormente, experimentalmente. Esta discriminação leva finalmente a três coisas:

1. A compreensão da diferença entre espírito e matéria.

2. A compreensão da natureza da alma, produto desta união que é o filho, produto da união do pai-espírito e da mãe-matéria.

3. O desenvolvimento, através do qual a alma começa a se identificar com o aspecto espiritual e não com o mundo fenomênico das formas. Este último estágio é muito acelerado e auxiliado pela prática da Raja Ioga e daí a determinação da Hierarquia de dar esta ciência ao Ocidente crítico e discriminador. Deve-se ter em mente que a alma passa por grandes estágios no processo de unificação e que a palavra ioga abrange o desenvolvimento evolutivo da Mônada humana.

1. A união da alma com a forma e sua identificação com o aspecto matéria.
2. A união do homem pensante ou do reflexo autoconsciente nos três mundos, com o homem espiritual em seu próprio plano.
3. A união do homem espiritual ou pensador divino com seu Pai no Céu, a Mônada ou o aspecto espírito. O estágio I cobre o período desde a primeira encarnação até o trilhar do Caminho Probatório. O estágio II abrange o período do Caminho Probatório até a terceira iniciação, no Caminho do Discipulado. O estágio III cobre os estágios finais do Caminho da Iniciação.

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Livro II - Aforismo 24

24. A causa desta associação é a ignorância ou avidya. Isto tem que ser sobrepujado.

A ignorância da real natureza da alma e uma necessidade de conhecer sua própria natureza e seus poderes é a causa da identificação com os órgãos de percepção, e com aquilo que eles percebem ou introduzem na consciência da alma. Quando devido a esta ignorância e às suas consequências, a alma deixa de encontrar o que está procurando, sobrevém um estágio em que a busca toma uma forma diferente e a própria alma procura a realidade. Pode ser expresso assim.

A identificação com o mundo fenomênico e o emprego dos órgãos de percepção externa cobre o período que o homem real permanece no que é chamado a Câmara da Ignorância. A saciedade, a inquietação e uma busca pelo conhecimento do eu, ou alma, caracteriza o período passado na Câmara de Aprendizagem. A realização, a expansão da consciência e a identificação com o homem espiritual abrangem o período de permanência na Câmara da Sabedoria. Os termos vida humana, vida mística e vida oculta aplicam-se a estes três estágios.

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Livro II - Aforismo 25

25. Quando se acaba com a ignorância pela não associação com as coisas percebidas, esta é a grande libertação.

Durante o processo de encarnação, o vidente, a alma, é submergida na grande maya ou ilusão. Ele é aprisionado por suas próprias formas de pensamento e por suas criações de pensamento e também nas dos três mundos. Ele encara a si mesmo como parte do mundo fenomênico. Quando, através da experiência e da discriminação, ele pode distinguir entre ele próprio e essas formas, então o processo de libertação pode prosseguir e culminar finalmente na grande renúncia que, uma vez por todas, liberta o homem dos três mundos.

Este processo é progressivo e não pode ser realizado de uma só vez. Abrange dois estágios:

1. O estágio de provação, ou como os cristãos o chamam, o Caminho da Purificação.
2. O estágio do discipulado em duas partes:

a. O discipulado propriamente dito, ou o treinamento firme e a disciplina aplicados ao eu pessoal inferior pela alma, dirigido por seu guru ou mestre
b. A iniciação, ou as expansões progressivas de consciência, às quais o discípulo se submete sob a orientação do mestre

Certas palavras descrevem este duplo processo:

a. Aspiração
b. Disciplina
c. Purificação
d. A prática dos meios da ioga ou união
e. Iniciação
f. Realização
g. União

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Livro II - Aforismo 26

26. O Estado de escravidão é sobrepujado pela manutenção de uma perfeita discriminação.

Uma palavra sobre a discriminação será útil pois este é o primeiro grande método de atingir a libertação ou a liberdade dos três mundos. Baseado, como o é, na conscientização da essencial dualidade da natureza, e considerando a natureza como o resultado da união das duas polaridades do Todo Absoluto, espírito e matéria, a discriminação é, a princípio, uma atitude de mente e deve ser zelosamente cultivada. A premissa da dualidade é admitida como uma base lógica para posterior trabalho e a teoria é testada num esforço para provar a verdade. O aspirante, então, assume definidamente a atitude de polaridade mais elevada (a do espírito, manifestando-se como a alma ou o regente interno) e procura nos assuntos do quotidiano discriminar entre a forma e a vida, entre a alma e o corpo, entre a soma total da manifestação inferior (homem físico, astral e mental) e o eu real, a causa da manifestação inferior.

Ele procura cultivar, nos assuntos do quotidiano, a consciência do real e a negação do irreal e leva isto a todas as suas relações e negócios. Ele se acostuma, pela prática constante e ininterrupta, a distinguir entre o eu e o não-eu, a se ocupar com os assuntos espirituais, e não com os da grande maya ou mundo das formas. Esta distinção é a princípio teórica, a seguir intelectual, mas, posteriormente, assume maior realidade e entra nos acontecimentos dos mundos emocional e físico. Finalmente, a adoção deste método resulta na entrada do aspirante em uma dimensão completamente nova e na sua identificação com uma vida e com um mundo de ser dissociados dos três mundos dos empreendimentos humanos.

Quando isto é assim, o novo ambiente se torna familiar a ele, de modo que conhece não somente a forma, mas também a Realidade subjetiva que produz ou provoca a existência das formas.

Passa, a seguir, a cultivar a grande qualidade seguinte, que é o desapego ou a ausência de desejo. Um homem pode ser capaz de distinguir entre o real e o verdadeiro, entre a substância e a Vida que a anima e, apesar disto, desejar ou "sair" em direção à existência na forma. Isto também deve ser sobrepujado antes que a perfeita libertação, emancipação ou liberdade seja atingida. Num dos velhos comentários nos arquivos da Loja dos Mestres, encontram-se as seguintes palavras:

"Não é suficiente conhecer o caminho nem sentir a força que serve para extrair a vida das formas de maya. Deve haver um momento de grande importância, quando o cheia quebra, por meio de um ato e de uma palavra de Poder, o sutratma ilusório que o prende à forma. Como a aranha que recolhe novamente seu fio dentro de si própria pelo qual se aventurara a reinos desconhecidos, assim o cheia retira-se de todas as formas nos três reinos do ser, que até então o atraíram."

O que está dito acima deve ser cuidadosamente considerado e pode ser ligado ao pensamento envolvido na frase ocultista:

"Antes que um homem possa trilhar o Caminho, ele deve se transformar no próprio Caminho".

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Livro II - Aforismo 27

27. O conhecimento (ou iluminação) alcançado é sétuplo e é atingido progressivamente.

O ensinamento hindu sustenta que os estados de consciência da mente são em número de sete. O sexto sentido e o seu emprego trazem à luz sete modalidades de pensamento, ou - para falar mais tecnicamente - há sete modificações capitais do princípio pensante. São elas:

1. Desejo de conhecimento. E o que impulsiona o Filho Pródigo, a alma, para os três mundos da ilusão, ou (recuando com a metáfora ainda mais até sua origem) o que impulsiona a Mônada ou Espírito a encarnar-se. Este desejo básico é o que provoca toda experiência.

2. Desejo de libertação. O resultado da experiência e das investigações realizadas pela alma em seus inúmeros ciclos de vida é provocar um grande anseio por uma condição diferente e um grande desejo de libertação e de liberdade da roda dos renascimentos.

3. Desejo de felicidade. Esta é uma qualidade básica de todos os seres humanos, embora se manifeste de muitos modos diferentes. É baseada numa faculdade inerente de discriminação e numa capacidade profundamente enraizada em discriminar entre a casa do "Pai" e a atual condição do Filho Pródigo. É esta inerente capacidade de "bem-aventurança" ou felicidade que produz a inquietação e o impulso para mudar que está por trás do próprio impulso evolutivo. É a causa da atividade e do progresso. A insatisfação com a condição atual baseia-se numa obscura memória de um tempo de satisfação e bem-aventurança. Esta tem que ser reconquistada antes que se possa conhecer a paz.

4. Desejo de cumprir o próprio dever. As primeiras três modificações do princípio pensante finalmente levarão a humanidade em evolução a um estado em que o motivo para viver se transforma simplesmente no cumprimento do drama de cada um. O anseio por conhecimento, liberdade e felicidade trouxe o homem a um estado de completa insatisfação. Nada lhe dá verdadeira alegria ou paz. Ele se exauriu na procura de alegria para si mesmo. Agora ele começa a alargar seus horizontes e a buscar onde (no grupo e em seus arredores) possa estar o que deseja. Ele desperta para um sentido de responsabilidade em relação aos demais e começa a procurar a felicidade no cumprimento de suas obrigações para com seus dependentes, sua família, amigos e todos a quem contata. Esta nova tendência é o começo de uma vida de serviço que o levará finalmente à completa conscientização da significação da consciência grupal. H.P.B. disse que um senso de responsabilidade é a primeira indicação do despertar do ego ou do princípio Crístico.

5. Tristeza. Quanto maior for o refinamento do veículo humano, tanto maior será a resposta do sistema nervoso aos pares de opostos, dor e prazer. À medida que o homem progride e sobe na escala da evolução na família humana, torna-se aparente que sua capacidade de apreciar a tristeza e a alegria aumenta muito. Isto se torna terrivelmente verdadeiro no caso de um aspirante e de um discípulo. Seu senso de valores se torna tão agudo e seu veículo físico tão sensível, que ele sofre mais que o homem comum. Isto serve para incentivá-lo a progredir com ainda maior atividade em sua busca. Sua resposta aos contatos externos é cada vez mais rápida e sua capacidade para a dor, física e emocional, torna-se muito maior. Isto se evidencia na quinta raça e particularmente na quinta sub-raça, através do aumento da frequência de suicídios. A capacidade de sofrimento da raça é devida ao desenvolvimento e refinamento do veículo e à evolução do corpo de sensações, o astral.

6. Medo. À medida que o corpo mental se desenvolve e que as modificações do princípio pensante se aceleram, o medo e sua causa começam a se demonstrar. Este não é o medo instintivo dos animais e das raças selvagens, que é baseado na resposta do corpo físico às condições do plano físico, mas sim os medos da mente, baseados na memória, imaginação e antecipação e no poder da visualização. Estes são difíceis de sobrepujar e só podem ser dominados pelo ego ou pela própria alma.

7. Dúvida. Esta é uma das modificações mais interessantes pois diz mais respeito às causas que aos efeitos. O homem que duvida pode ser talvez descrito como duvidando de si próprio como árbitro de seu destino, de seus semelhantes quanto à sua natureza e ações, de Deus, ou da primeira causa, tal como testemunhado pelas controvérsias sobre religião e seus expoentes, sobre a própria natureza, dúvida esta que o impulsiona a constantes investigações científicas e, finalmente, à própria mente. Quando ele começa a questionar a capacidade da mente para explicar, interpretar e compreender, praticamente esgotou a totalidade de recursos nos três mundos.

A tendência destes sete estados da mente, produzidos pela experiência do homem na Roda da Vida, é levá-lo ao ponto no qual sente que a vida no plano físico, os processos sensoriais e mentais nada têm a dar-lhe e em absoluto o satisfazem. Ele atinge o estado ao qual Paulo se refere quando diz: "Eu conto todas as coisas como perdas a menos que possa alcançar o Cristo."

Os sete estágios de iluminação foram descritos por um professor hindu, como segue:

1. O estágio no qual o chela compreende que percorreu toda a gama de experiência da vida nos três mundos e pode dizer: "Eu conheci tudo o que havia para ser conhecido". Nada mais resta para conhecer. Seu lugar na escala lhe é revelado. Ele sabe o que tem a fazer. Isto diz respeito à primeira modificação do princípio pensante, o desejo de conhecimento.

2. O estágio em que ele se liberta de toda limitação conhecida e pode dizer: "libertei-me de meus grilhões". Este estágio é longo mas resulta na conquista da liberdade e diz respeito à segunda das modificações anteriormente tratadas.

3. O estágio em que a consciência sai completamente da personalidade inferior e se transforma na verdadeira consciência espiritual, centrada no homem real, o ego ou a alma. Isto introduz a consciência da natureza Crística que é amor, paz e verdade. Ele pode dizer agora: "Atingi a minha meta. Nada mais há nos três mundos que me atraia". O desejo de felicidade está satisfeito. A terceira modificação é transcendida.

4. O estágio no qual ele pode verdadeiramente dizer: "Cumpri o meu darma e realizei completamente meu dever". Pagou as dívidas cármicas e cumpriu a lei. Ele se torna então um Mestre e um aplicador da lei. Este estágio tem relação com a quarta modificação.

5. O estágio no qual se alcança o completo controle da mente e no qual o vidente pode dizer: "Minha mente está em repouso". Então, e somente então, quando se conhece o completo repouso, pode-se conhecer a verdadeira contemplação e o samadhi da mais elevada espécie. A tristeza, a quinta modificação, é dissolvida pela glória da iluminação recebida. Os pares de opostos não mais estão em guerra.

6. O estágio no qual o chela se conscientiza de que a matéria ou forma não tem mais nenhum poder sobre ele. Pode então dizer: "As gunas ou qual idades da matéria, nos três mundos não mais me atraem; não obtêm nenhuma resposta de mim" O medo é assim eliminado pois nada mais há no discípulo que possa atrair para ele o mal, a morte e a dor. Supera-se assim também a sexta modificação e a conscientização da verdadeira natureza da divindade e a perfeita bem-aventurança tomam seu lugar.

7. A plena autoconscientização é o estágio seguinte e final. O iniciado pode, com pleno conhecimento, então dizer: "Eu sou aquele Eu sou", e ele se conhece como uno com o Absoluto. A dúvida não mais controla. A plena luz do dia ou a iluminação completa têm lugar e inunda todo o ser do vidente.
Estes são os sete estágios no Caminho, as sete estações da Cruz, como os cristãos as denominam, as sete grandes iniciações e os sete caminhos para a bem-aventurança. Agora o "Caminho do justo brilha cada vez mais até o dia perfeito".

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OS OITO MEIOS

Livro II - Aforismo 28

28. Quando os oito meios para a Ioga houverem sido praticados com firmeza e quando a impureza houver sido dominada, sobrevirá o esclarecimento, levando à plena iluminação.

Chegamos agora à parte prática do livro, onde é dada a instrução sobre o método a seguir para se obter a ioga total, a união ou a unificação. Pode-se descrever o trabalho como duplo:

1. A prática dos meios corretos pelos quais se obtém a união.
2. A disciplina do tríplice homem inferior, de modo a que a impureza em qualquer dos três corpos seja erradicada.

A firme dedicação a este trabalho duplo acarreta dois resultados correspondentes, cada qual dependendo de sua causa:

1. Torna-se possível a discriminação. A prática dos meios leva o aspirante a uma compreensão científica da distinção existente entre o eu e o não-eu, entre espírito e matéria. Este conhecimento não é mais teórico e nem aquilo a que o homem aspire, mas sim um fato na experiência do discípulo e aquele no qual baseia todas as suas atividades subsequentes.

2. Ocorre o discernimento. À medida que o processo de purificação prossegue, os invólucros ou corpos que velam a realidade se tornam mais tênues e não mais se comportam como espessos véus, escondendo a alma e o mundo sobre o qual a alma normalmente se move. O aspirante se torna consciente de uma parte de si mesmo, até então oculta e desconhecida. Ele se aproxima do coração do mistério que é ele próprio e se aproxima do "Anjo da Presença", que só pode ser verdadeiramente visto na iniciação. Ele discerne um novo fator e um novo mundo e procura torná-los seus em sua própria experiência consciente sobre o plano físico.

Deve-se anotar aqui que as duas causas de revelação, a prática dos oito meios para a ioga e a purificação da vida nos três mundos, abordam o problema do homem sob o ponto de vista dos três mundos e dão (no cérebro físico do homem) o poder de discriminar entre o real e o irreal e o poder de discernir as coisas do espírito. Provocam também algumas mudanças de condições dentro da cabeça, reorganizando os ares vitais e atuam diretamente sobre a glândula pineal e sobre o corpo pituitário. Quando estes quatro:

1. Prática,
2. Purificação,
3. Discriminação,
4.Discernimento,

são parte da vida do homem no plano físico, então o homem espiritual, o ego ou o pensador em seu próprio plano, dá atenção à sua parte no processo de libertação e os dois estágios finais são trazidos de cima para baixo. Este processo sêxtuplo é a correspondência, no Caminho do Discipulado, do processo de individualização, no qual o homem animal, o quaternário inferior (físico, etérico, astral e mental inferior) recebeu aquela dupla expressão de espírito, atma-budi, vontade espiritual e amor espiritual, que o completaram e o tornaram verdadeiramente homem.

Os dois estágios de desenvolvimento que são trazidos pelo ego, no íntimo do aspirante purificado e aplicado, são:

1. Esclarecimento. A luz na cabeça, que a princípio é apenas uma centelha, é avivada até tornar-se uma chama que ilumina to- das as coisas e que é constantemente alimentada de cima. Isto é progressivo (ver o aforismo anterior) e depende da prática contínua da meditação e do serviço dedicado.

2. Iluminação. O aumento gradual do jorro de energia ardente provoca o aumento contínuo da "luz na cabeça" ou o fulgor encontrado no cérebro na vizinhança da glândula pineal. Isto é para o pequeno sistema do homem tríplice em manifestação física o que o sol físico é para o sistema solar. Esta luz finalmente se torna uma intensa chama de glória e o homem se torna um "filho da luz" ou um "sol de correção". Assim foram o Buda, o Cristo e todos os Grandes que a alcançaram.

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Livro II - Aforismo 29

29. Os oito meios para a ioga são: os Mandamentos ou Yama, as Regras ou Niyama, a postura ou Asana, o correto controle da força vital ou Pranayama, abstração, ou Pratyahara, a atenção, ou Dharana, a meditação, ou Dhyana, e a contemplação, ou Samadhi.

Notar-se-á que estes meios ou práticas são aparentemente simples, mas deve ser cuidadosamente lembrado que eles não se referem a coisa alguma realizada num ou noutro plano em algum corpo mas, sim, à atividade simultânea e à prática destes métodos em todos os três corpos simultaneamente, de modo a que o homem tríplice inferior, em sua totalidade, pratique os meios que se referem aos veículos físico, astral e mental. Isto é muitas vezes esquecido. Por isso, no estudo destes vários meios para a ioga ou união, devemos considerá-los como se aplicam ao homem físico, a seguir ao homem emocional e então ao homem mental. O iogue, por exemplo, tem que compreender a significação da respiração correta ou da postura, uma vez que estas se relacionam ao homem tríplice inferior alinhado e coordenado, lembrando-se de que será somente na medida em que o homem inferior forme um coerente instrumento rítmico, tornar-se-á possível ao ego esclarecê-lo e iluminá-lo. A prática dos exercícios de respiração, por exemplo, tem levado com frequência o aspirante a concentrar-se sobre o equipamento físico de respiração, com a exclusão de práticas análogas para o controle rítmico da vida emocional.

Pode ser aconselhável aqui (antes de analisarmos os meios, um por um) tabularmos cuidadosamente estes meios, dando, sempre que possível, seus sinônimos:

MEIO I

Os Mandamentos. Yama. Autocontrole ou paciência. Controle. Abstenção de atos errôneos. São em número de cinco e dizem respeito ao relacionamento do discípulo (ou cheia) para com os demais e para com o mundo exterior.

MEIO II

As Regras. Niyama. Observância correta das regras. São também em número de cinco e são frequentemente chamadas "observâncias religiosas" porque se relacionam com a vida interior do discípulo e com a ligação, o sutratma ou elo, que o relaciona a Deus, ou ao seu Pai no Céu. Estes dois, os cinco Mandamentos e as cinco Regras, são os correspondentes hindus aos dez Mandamentos da Bíblia e cobrem a vida diária do aspirante, pois afetam os que estão à sua volta e as suas próprias reações internas.

MEIO III

Postura. Asana. Postura correta. Atitude correta. Posição. Este terceiro meio diz respeito à atitude física do discípulo durante a meditação, sua atitude emocional em relação às ideias, correntes de pensamento e conceitos abstratos. Finalmente, a prática deste meio coordena e aperfeiçoa o homem tríplice inferior de modo a que os três envoltórios possam formar um canal perfeito para a expressão ou manifestação da vida do espírito.

MEIO IV

Correto controle da força vital. Paranayama. Supressão da respiração. Regulação da respiração. Este se refere ao controle, regulação e supressão dos ares vitais, a respiração e as forças ou shaktis do corpo. Realmente leva à organização do corpo vital ou corpo etérico, de modo a que as correntes vitais ou forças, emanando do ego ou do homem espiritual em seu próprio plano, possam ser corretamente transmitidas ao homem físico em manifestação objetiva.

MEIO V

Abstração. Pratyahara. Retirada correta. Controle. Retirada dos sentidos. Voltamos aqui para o que está por trás dos corpos etérico e físico, para o corpo emocional, a sede dos desejos, da percepção sensorial e do sentimento. Pode-se notar aqui o método ordenado que é seguido na busca da ioga ou união. Cuida-se da vida no plano físico, da interna e da externa; a correta atitude para com a vida em sua tríplice manifestação é cultivada. O corpo etérico é organizado e controlado e o corpo astral é reorientado, pois a natureza de desejos é subjugada e o homem real se abstrai gradualmente de todos os contatos obtidos pelos sentidos. Os dois meios seguintes dizem respeito ao corpo mental e o final, ao homem real ou pensador.

MEIO VI

Atenção. Dharana. Concentração. Fixação da mente. Aqui, o instrumento do Pensador, o Homem Real, é colocado sob seu controle. O sexto sentido é coordenado, compreendido, focalizado e utilizado.

MEIO VII

Meditação. Dhyana. A capacidade do pensador em utilizar sua mente como desejado e em transmitir ao cérebro, pensamentos mais elevados, ideias abstratas e conceitos idealistas. Isto diz respeito à mente superior e à inferior.

MEIO VIII

Contemplação. Samadhi. Isto se relaciona com o ego ou o homem real e diz respeito ao reino da alma. O homem espiritual contempla, estuda ou medita sobre o mundo das causas, sobre as "coisas de Deus". Então, utilizando seu controlado instrumento, a mente (controlada pela prática da concentração e da meditação) transmite ao cérebro físico, pelo sutratma ou fio que atravessa os três invólucros e vai até o cérebro, aquilo que a alma conhece, vê e compreende. Isto produz a plena iluminação.

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Livro II - Aforismo 30

MEIO I. OS MANDAMENTOS

30. A inofensividade, a prática da verdade para com todos os seres, o abster-se de roubar, da incontinência e da avareza, constituem yama ou os cinco mandamentos.

Estes cinco mandamentos são simples e claros e, contudo, se praticados, tornariam um homem perfeito em suas relações com os outros homens, com os super-homens e com os reinos sub-humanos. O próprio primeiro mandamento, de ser não violento, é na verdade uma soma de todos os outros. Estes mandamentos são estranhamente completos e abrangem a tríplice natureza; ao estudar todos estes meios verificaremos suas relações com uma ou outra parte da tríplice manifestação inferior do ego.

I. NATUREZA FÍSICA

1. Inofensividade. Isto abrange os atos físicos do homem no que diz respeito a todas as formas de manifestação divina e concerne especificamente à sua natureza de força ou a energia que demonstra através de suas atividades no plano físico. Não fere nem maltrata a quem quer que seja.

2. Verdade. Diz respeito primariamente ao seu emprego da palavra e dos órgãos de emissão do som e se relaciona à "verdade na parte mais íntima", de modo a tornar possível a verdade em sua exteriorização. Este é um assunto vasto e trata da formulação das crenças do homem em respeito a Deus, às pessoas, às coisas e formas, por intermédio da língua e da voz. Isto é tratado no aforismo em Luz no Caminho. "Antes que a voz possa falar na presença do Mestre deve ter perdido o poder de ferir".

3. Abster-se de roubar. O discípulo é preciso e acurado em todos os seus negócios e não se apropria de coisa alguma que não lhe pertença por direito. Este é um conceito amplo, abrangendo mais que o fato da não apropriação física das posses de outros.

II. NATUREZA ASTRAL

4. Abster-se da Incontinência. Isto é, literalmente, não desejar, e controlar as tendências dirigidas para aquilo que não seja o eu, e que encontra expressão no plano físico na relação entre os sexos. Deve ser aqui lembrado, no entanto, que esta expressão é encarada pelo estudante de ocultismo como apenas uma das formas que estes impulsos tomam ao se exteriorizarem, e uma forma que relaciona o homem intimamente com o reino animal. Qualquer impulso que diga respeito às formas e ao homem real e que tenda a ligá-lo a uma forma de incontinência. Há a incontinência no plano físico e isto deveria ter sido deixado para trás pelo discípulo há muito tempo. Mas há também muitas tendências para a procura do prazer com a consequente satisfação da natureza de desejo e isto, para o verdadeiro aspirante, também é encarado como incontinência.

III. NATUREZA MENTAL

5. Abster-se da avareza. Isto diz respeito ao pecado da cobiça, o que é literalmente roubo, no plano mental. O pecado da avareza pode levar a um sem número de pecados no plano físico e é muito poderoso. Concerne à força mental e é um termo genérico abrangendo os poderosos anseios que têm sua sede não só no corpo emocional ou kâmico (desejo), mas também no corpo mental. Este mandamento de abster-se da avareza é tratado por São Paulo quando diz: "Eu aprendi a estar satisfeito em qualquer estado em que esteja." Esse estado tem que ser atingido antes que a mente possa ser de tal modo aquietada que as coisas da alma possam encontrar entrada.

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Livro II - Aforismo 31

31. Yama (ou os cinco mandamentos) constitui o dever universal e independente de raça, lugar, tempo ou emergência.

Este aforismo torna clara a universalidade de certos requisitos e, por um estudo destes cinco mandamentos, que formam a base do que o budista chama de "conduta correta", ver-se-á que eles formam a base de toda verdadeira lei e que sua violação constitui a ausência da lei. A palavra traduzida como dever ou obrigação poderia muito bem ser expressa por este compreensivo termo darma em respeito a outros. Literalmente, darma significa o cumprimento adequado das obrigações (ou carma) da pessoa, no meio ambiente e arredores em que o destino a colocou. Certos fatores que governam a conduta devem ser observados e não se permite latitude alguma a este respeito, qualquer que seja a nacionalidade, o local em que a pessoa se encontre, sua idade ou qualquer que seja a emergência que por acaso surja. Estas são as cinco leis imutáveis que governam a conduta humana e quando forem seguidas por todos os filhos dos homens, será compreendido o completo significado da expressão: "paz a todos os seres".

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Livro II - Aforismo 32

MEIO II. AS REGRAS

32. A purificação interna e externa, o contentamento, a aspiração ardente, a leitura espiritual e a devoção a Ishvara constituem Nijama (ou as cinco regras).

Como dito acima, estas cinco regras governam a vida do eu pessoal inferior e formam a base do caráter. As práticas da ioga que tanto interessam ao pensador e aspirante ocidental, e que o atraem em sua aparente facilidade de execução e riqueza de recompensa (tal como o desenvolvimento psíquico) não são permitidas pelo verdadeiro guru ou mestre até que yama ou nijama tenham sido estabelecidas como os fatores que controlam a vida diária do discípulo. Em primeiro lugar deve-se cumprir os mandamentos e as regras, e quando a conduta externa em relação a seus semelhantes e sua disciplina interior da vida estiverem ajustados a estes requisitos, então ele poderá progredir livremente e com segurança nas formas e no ritual da ioga prática, mas nunca antes disto.

É a falha em reconhecer esta diretiva que causa tantos problemas entre os estudantes ocidentais de ioga. Não existe melhor base para o trabalho do ocultismo oriental que a rígida obediência aos requisitos estabelecidos pelo Mestre de todos os Mestres no Sermão da Montanha, e o cristão autodisciplinado, votado à pureza de vida e ao serviço desinteressado, pode praticar a ioga com muito maior segurança que seu irmão mais vivido e egoísta, embora intelectual. Ele não correrá os riscos que seu despreparado irmão correrá.

As palavras "pureza interna e externa" dizem respeito aos três envoltórios que velam o eu e devem ser interpretadas num sentido duplo. Cada envoltório tem sua forma mais densa e mais tangível e estas devem ser mantidas limpas, pois há uma maneira em que os corpos astral e mental podem ser mantidos limpos de impurezas vindas a eles de seu meio-ambiente, do mesmo modo como o corpo físico deve ser mantido limpo de impurezas semelhantes. As matérias mais sutis destes corpos devem ser mantidas igualmente limpas e isto é a base do estudo de pureza magnética que é a causa de tantas práticas no Oriente que parecem inexplicáveis ao ocidental. Uma sombra lançada sobre o alimento por um estranho produz condições de impureza; isto se baseia na crença que certos tipos de emanações de força produzem condições impuras e embora o método de combater estas condições possa ter o sabor de uma letra morta de um ritual, o pensamento por trás da observância é ainda verdadeiro. Conhece-se tão pouco ainda sobre as emanações de força do ser humano, ou que agem sobre o mecanismo humano, que o que se pode chamar de "impureza científica" está ainda em seus estágios iniciais.

O contentamento produz condições em que a mente fica em repouso; baseia-se no reconhecimento das leis que governam a vida e primariamente a lei do carma. Produz um estado mental em que todas as condições são encaradas corno corretas e justas e como aquelas em que o aspirante melhor pode resolver seu problema e atingir a meta para qualquer vida específica. Isto não acarreta condições de calma e da aquiescência que produz a inércia, mas, sim, um reconhecimento dos recursos atuais, uma autoavaliação das oportunidades, deixando-as formar um fundo e uma base para todo o progresso futuro. Quando isto é corretamente feito pode-se seguir mais facilmente as três regras restantes.

Aspiração ardente. Será tratada com maior detalhe no próximo livro, mas é conveniente indicar aqui que esta qualidade de "se encaminhar" em direção ao ideal ou ao objetivo deve ser tão profunda no aspirante à ioga que dificuldade alguma possa fazê-lo recuar. Só quando esta qualidade tiver sido desenvolvida e provada e quando se verificar que nenhum problema, nenhuma treva e nenhum elemento de tempo podem impedi-lo, é que se permite que um homem se torne discípulo de algum Mestre. O esforço ardente, o anseio persistente e contínuo e a fidelidade permanente ao ideal vislumbrado são o sine qua non do discipulado. Estas características devem ser encontradas nos três corpos, levando à constante disciplina do veículo físico, à firme orientação da natureza emocional e à atitude mental que capacite o homem a "contar todas as coisas como perda", exceto aquelas que o levem ao seu ideal.

Leitura espiritual. Verificar-se-á que diz respeito ao desenvolvimento de um sentimento das realidades subjetivas. E incrementado pelo estudo, assim entendido no sentido físico, e pelo esforço em chegar aos pensamentos que as palavras indicam. É desenvolvido por uma cuidadosa análise das causas que estão por trás de todos os desejos, aspirações e sentimentos e é relacionado ao plano astral ou de desejos. Trata da leitura de símbolos ou formas geométricas que abrigam uma ideia ou pensamento e isto é concernente ao plano mental. Isto será posteriormente tratado no Livro III.

A devoção a Ishvara pode ser resumida como constituindo a atitude do tríplice eu inferior para com o serviço do ego, o regente interno, o Deus ou o Cristo Interno. Este será tríplice em sua manifestação, levando o eu pessoal inferior a uma vida de obediência ao Mestre no coração; levará finalmente o aspirante ao grupo de algum adepto ou instrutor espiritual e também a um devotado serviço a Ishvara ou o Eu Divino, tal como encontrado nos corações de todos os homens e por trás de todas as formas de manifestação divina.

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Livro II - Aforismo 33

33. Quando pensamentos contrários à Ioga estão presentes, deve-se cultivar seus opostos.

A tradução feita por Johnston dá a mesma ideia em palavras muito bonitas e o método é adequadamente exposto. Diz ele:

"Quando as transgressões obstruem, deve-se lançar o peso da imaginação no lado oposto."

Toda a ciência do equilíbrio dos pares de opostos é dada nestas duas traduções, nenhuma delas sendo completa sem a outra. É muitas vezes difícil traduzir termos do sânscrito antigo por uma palavra ou frase, pois naquele idioma um termo poderá representar uma ideia completa, o que exigirá diversas frases para reproduzir o sentido verdadeiro no idioma inglês mais limitado.

Certos conceitos básicos estão incorporados neste aforismo e, para maior clareza, podem ser tabulados como segue:

1. Como um homem pensa, assim ele é. O que se traduz em objetividade física é sempre um pensamento, e de acordo com este pensamento ou ideia, serão a forma e o propósito da vida.

2. Os pensamentos são de duas espécies; os que levam à construção de formas, à limitação, à expressão no plano físico; os que se afastam dos três planos inferiores e, portanto, do aspecto forma como o conhecemos nos três mundos, levando assim à união (ioga ou unificação) com a alma, o aspecto crístico.


3. Quando se verifica que os pensamentos habitualmente cultivados produzem ações físicas e astrais e também consequências, deve-se compreender que são antagônicos à ioga; impedem o processo de unificação.

4. Deve-se então cultivar pensamentos contrários a estes; pode-se verificar facilmente quais são estes pensamentos pois são os diretamente opostos aos pensamentos inibidores.

5. O cultivo dos pensamentos que tenderão à ioga e levarão um homem ao conhecimento de seu eu real e à consequente união com esse eu, envolve um processo tríplice:

a. O novo conceito do pensamento, definitivamente formulado e que se verificou ser contrário à antiga corrente de pensamento, deve ser considerado e analisado para se ter certeza de sua correção.

b. Segue-se o emprego da imaginação, a fim de trazer o pensamento à manifestação. Isto introduz o reino de desejos e consequentemente, o corpo astral ou emocional é afetado.

c. Vem então a visualização definida daquilo sobre o que se pensou e imaginou, tal como será manifestado na vida no plano físico.

Verificar-se-á que isto gera energia. Consequentemente isto significa que o corpo etérico se torna vitalizado ou "energizado" pela nova corrente de pensamento e ocorrem certas transformações e reorganizações, que provocarão, finalmente, uma completa mudança nas atividades do homem do plano físico. Cultivando-se constantemente estes efeitos obtém-se uma completa transformação do tríplice homem inferior e, finalmente, a verdade da fraseologia cristã, "Apenas Cristo é visto e ouvido", se torna evidente; somente o homem real ou espiritual pode ser visto expressando-se através de um meio físico, como Cristo o fez através de Seu instrumento e discípulo, Jesus.

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Livro II - Aforismo 34

34. Os pensamentos contrários à Ioga são a nocividade, a falsidade, o roubo, a incontinência e a avareza, quer sejam cometidos pessoalmente, induzidos ou apoiados, quer sejam provenientes da avareza, da raiva, ou do engano (ignorância); quer sejam de pequeno, médio ou grande vulto. Estes resultam sempre em dor e ignorância excessivas. Por esta razão, devem ser cultivados os pensamentos contrários a eles.

Observar-se-á que os cinco Mandamentos tratam especificamente destes "pensamentos contrários à ioga" ou união, e que, guardando-se os cinco Mandamentos ter-se-á:

a. Inofensividade em vez de nocividade;
b. Verdade em vez de falsidade;
c. Abstinência de roubo em vez do furto;
d. Autocontrole em vez de incontinência;
e. Contentamento em vez de avareza ou cobiça.

Não há desculpa para o aspirante e lhe é dita a verdade de que a transgressão dos Mandamentos, seja ela pequena ou muito grande, produz os mesmos resultados. Um "pensamento contrário" deve produzir seu efeito e este é duplo: dor e ignorância, ou engano.
Há três palavras que o estudante de ocultismo associa sempre com os três mundos:

1. Maya ou ilusão, referindo-se ao mundo das formas onde o verdadeiro eu se encontra quando encarnado, com o qual ignorantemente se identifica por longos eons;

2. Engano; o processo de identificação errônea, com o qual o eu se ilude e diz "Eu sou a forma";

3. Ignorância ou avidya, o resultado e ao mesmo tempo, causa desta identificação errônea.

O eu está vestido na forma; está enganado no mundo da ilusão. Todas as vezes, contudo, que "pensamentos contrários à ioga" são entretidos com conhecimento de causa, o eu submerge ainda mais no mundo ilusório e aumenta o véu de ignorância. Cada vez que o "peso da imaginação" é lançado no lado da natureza real do eu e afastado do mundo do não-eu, a ilusão é diminuída, o engano se enfraquece e a ignorância é gradativamente substituída pelo conhecimento.

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Livro II - Aforismo 35

35. Na presença daquele que aperfeiçoou a inofensividade, toda a inimizade cessa.

Este aforismo nos demonstra o funcionamento de uma grande lei. No Livro IV, Aforismo 17, Patânjali nos diz que a percepção de uma característica, de uma qualidade e de uma forma objetiva depende do fato de que no percebedor devem ser encontradas características, qualidades e capacidades objetivas semelhantes. Esta semelhança é a base da percepção. Há uma sugestão referente a esta mesma verdade na primeira Epístola de São João, onde se encontram as palavras "Nós seremos como Ele, pois O veremos como Ele é". Só se pode estabelecer contato com o que já está parcial ou totalmente presente na consciência do percebedor. Se este encontrar a inimizade e o ódio é porque existem nele as sementes do ódio e da inimizade. Quando elas estão ausentes, só existem a unidade e a harmonia. Este é o primeiro estágio do amor universal, o esforço prático de parte do aspirante para ser um com todos os seres. Ele começa consigo mesmo e se certifica que as sementes da nocividade em sua própria natureza terão sido erradicadas. Lida, portanto, com a causa que produz a inimizade para com ele e para com os demais. O resultado natural é que ele fica em paz e que os outros ficam em paz com ele. Em sua presença mesmo as feras selvagens se tornam impotentes e isto devido ao estado mental do aspirante ou iogue.

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Livro II - Aforismo 36

36. Quando a verdade para com todos os seres é aperfeiçoada, a eficácia de seus atos e palavras é imediatamente vista.

Esta questão da verdade é um dos grandes problemas que o aspirante tem que resolver, e aquele que tenta falar apenas o que é perfeitamente acurado ver-se-á enfrentando dificuldades bem definidas. A verdade é inteiramente relativa enquanto a evolução prossegue, e é progressiva em sua manifestação. Pode ser definida como a demonstração, no plano físico, do tanto da realidade divina quanto o estágio em evolução e o meio empregado o permitem. A verdade envolve, então, a capacidade do percebedor ou aspirante, de ver corretamente quanto, do divino, uma forma (tangível, objetiva ou em palavras) se reveste. Envolve, assim, a capacidade de penetrar até o âmago do assunto e de contatar aquilo que é velado por cada forma. Envolve também a habilidade do aspirante em construir uma forma (tangível, objetiva ou em palavras) que transmita a verdade como ela é. Estes são, na realidade, os dois primeiros estágios do grande processo criativo:

1. Percepção correta
2. Construção precisa,

e levam à consumação tratada no aforismo ora em consideração - a eficácia de todas as palavras e atos em reproduzir a realidade ou a verdade como ela é. Este aforismo dá a indicação para o trabalho do mago e é a base da grande ciência dos mantrans ou palavras de poder que são o equipamento de todo adepto.

Por uma compreensão da:

a. Lei de vibração
b. Ciência do som
c. Propósito da evolução
d. Estágio cíclico atual
e. Natureza da forma
f. Manipulação da substância atômica,

o adepto não só vê a verdade em todas as coisas, como também compreende como tornar visível a verdade, auxiliando assim o processo evolutivo e "lançando imagens sobre a tela do tempo". Ele realiza isto por meio de certas palavras e atos. Para o aspirante, o desenvolvimento desta capacidade é obtido através de um esforço constante para cumprir os seguintes requisitos:

1. Rígida atenção na formulação de cada palavra empregada;

2. O sábio emprego do silêncio como um fator de serviço;

3. O constante estudo das causas subjacentes a cada ato de modo a que seja compreendido o motivo da sua eficácia ou falha.

4. Um contínuo esforço em ver a realidade em cada forma. Literalmente, isto envolve um estudo da lei de causa e efeito, ou carma, sendo o objetivo da lei cármica levar o polo oposto do Espírito, a matéria, a uma rígida conformidade com os requisitos do espírito, de modo a que a forma e a matéria possam expressar perfeitamente a natureza do espírito.

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Livro II - Aforismo 37

37. Quando a abstenção do roubo é aperfeiçoada, o iogue pode obter o que desejar.

Encontra-se aqui o indício para a grande lei de procura e oferta. Quando o aspirante aprendeu a "nada desejar para o eu separado", pode-se então confiar a ele as grandes riquezas do universo; quando ela nada pede para a natureza inferior e nada reclama para o tríplice homem inferior, então tudo o que ele deseja vem a ele, sem ser pedido ou reclamado. Em algumas traduções encontram-se as palavras "todas as joias lhe pertencem".

Deve ser cuidadosamente lembrado que o roubo aqui referido relaciona-se não só com as coisas físicas e tangíveis, mas também com a abstenção do roubo nos planos emocional e mental. O aspirante nada toma; benefícios emocionais tais como amor e favores, ódio e aversão não são por ele considerados e absorvidos quando não lhe pertencem; benefícios intelectuais, a exigência de uma reputação imerecida, a assunção de deveres, favores ou popularidade alheios é igualmente repudiada por ele, e adere rigidamente ao que é propriamente seu. "Que cada homem cumpra o seu próprio dharma" e realize sua própria função, é a injunção oriental. "Cuide de sua vida" é a tentativa ocidental de ensinar esta mesma verdade e de transmitir a injunção de que nenhum de nós deve roubar de outro a oportunidade de praticar o bem, de se elevar à altura de suas responsabilidades e de cumprir com o próprio dever. Esta é a verdadeira abstenção do roubo. Levará perfeitamente o homem a enfrentar suas próprias obrigações, a assumir suas próprias responsabilidades e cumprir com seu dever. Levá-lo-á a abster-se de se apropriar de qualquer coisa que pertença a seu irmão nos três mundos dos esforços humanos.

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Livro II - Aforismo 38

38. Pela abstenção da incontinência adquire-se energia.

A incontinência é geralmente encarada como dissipação da vitalidade ou da virilidade na natureza animal. O poder de criar no plano físico e de perpetuar a raça é o mais elevado ato físico de que o homem é capaz. A dissipação dos poderes vitais por uma vida dissipada e pela incontinência é o grande pecado contra o corpo físico. Envolve a falha em reconhecer a importância do ato procriador, a impossibilidade de resistir aos prazeres e desejos inferiores, a perda do autocontrole. Os resultados desta falha se mostram, atualmente, em toda a família humana, no baixo índice médio de saúde, nos hospitais repletos e nos homens, mulheres e crianças doentes, enfraquecidos e anêmicos encontrados em toda parte. Há pouca conservação de energia e as próprias palavras "dissipação" e "homens dissolutos" contêm uma lição.

A primeira coisa que um discípulo tem a fazer é aprender a verdadeira natureza da criação e conservar sua energia. O celibato não é apreciado. O autocontrole é. No ciclo de vidas relativamente curto, contudo, no qual o aspirante se prepara para trilhar o caminho, ele terá de passar por uma ou diversas vidas em definida abstenção do ato da procriação a fim de aprender o completo controle e demonstrar que subjugou completamente a natureza sexual inferior. O correto emprego do princípio sexual juntamente com a completa conformação à lei do país é a característica de todo o verdadeiro aspirante.

Além da consideração deste assunto segundo as linhas da conservação de energia, existe um outro ângulo do qual o aspirante aborda o problema, que é a transmutação do princípio vital (tal como se manifesta através do organismo físico) em sua demonstração dinâmica, tal como se manifesta através do órgão do som, ou da criação pela palavra, o trabalho do verdadeiro mago. Existe, como o sabem todos os estudantes de ocultismo, uma estreita relação entre os órgãos genitais e o terceiro centro maior, o centro laríngeo. Isto é fisiologicamente aparente na mudança de voz que se verifica durante o período de adolescência, Pela verdadeira conservação de energia e abstenção da incontinência, o iogue se torna um criador no plano mental, pelo uso da palavra e dos sons, e a energia que pode ser dissipada pela atividade do centro inferior é concentrada e transmitida no grande trabalho criativo do mago. Isto é conseguido pela continência, pela vida pura e pensamento limpo, e não através de quaisquer perversões da verdade oculta, tais como, magia sexual e as iniquidades das perversões sexuais de várias das chamadas escolas de ocultismo. Estas últimas estão no caminho negro e não conduzem ao portal da iniciação.

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Livro II - Aforismo 39

39. Quando se aperfeiçoa a abstenção da avareza, obtém-se uma compreensão da lei do renascimento.

Este aforismo transmite em termos inequívocos o grande ensinamento de que é o desejo pela forma de alguma espécie, que leva o espírito a encarnar-se. Quando não mais existe desejo, então os três mundos não mais podem aprisionar o iogue. Nós forjamos nossas próprias cadeias na fornalha do desejo, do anseio por coisas, pela experiência e vida na forma.

Quando o contentamento é cultivado e está presente, estas cadeias vão caindo gradativamente e não se forjam outras. À medida que nos desemaranhamos do mundo da ilusão, nossa visão se torna clara e as leis da existência se tornam aparentes para nós e vão sendo compreendidas pouco a pouco. O como e o por que da vida são respondidos. A razão para e o método da existência no plano físico não mais são um problema e o iogue compreende porque aconteceu o passado e quais são as suas características; ele compreende a razão dos atuais ciclos de vida e experiência e pode dar aplicações práticas à lei a cada dia, e sabe bem o que tem a fazer no futuro. E assim ele se libera, nada deseja nos três mundos e se reorienta para as condições do mundo do ser espiritual.

Nestas qualidades temos o cumprimento dos cinco Mandamentos.

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Livro II - Aforismo 40

40. A purificação interna e externa produz a aversão à forma, tanto à própria como a todas as demais.

Esta interpretação do aforismo 40 não está de acordo com a tradução técnica das palavras sânscritas devido à incompreensão das palavras usadas. Literalmente, a tradução é a seguinte: "a purificação interna e externa provoca o ódio ao próprio corpo e o não relacionamento com todos os corpos". A tendência dos estudantes ocidentais a interpretações literais requer uma tradução um pouco mais livre. O estudante oriental, mais versado na apresentação simbólica da verdade não está tão sujeito a cometer erros nesta linha. Ao considerar este aforismo deve-se lembrar que a pureza é uma qualidade do espírito.

A purificação é necessariamente de diversas espécies e diz respeito aos quatro veículos (o corpo físico, o corpo etérico, o corpo emocional e o corpo mental) pelos quais o homem estabelece contacto com os três mundos de seu esforço. Podemos, assim, fazer delas a seguinte distinção:

a. Pureza exterior Veículo físico Corpo denso
b. Pureza magnética Veículo etérico Pureza interior
c. Pureza psíquica Veículo astral Pureza emocional
d. Pureza mental Veículo mental Pureza da mente concreta

Deve-se ter cuidadosamente em mente que esta pureza concerne à substância da qual cada um destes veículos é composto. É obtida de três modos:

1. Eliminação da substância impura ou dos átomos e moléculas que limitam a livre expressão do espírito e que o confinam à forma, de modo a que não possa ter livre nem o acesso nem a saída.

2. Assimilação dos átomos e moléculas que tendem a suprir uma forma através da qual o espírito possa atuar adequadamente.

3. A proteção da forma purificada, da contaminação e deterioração.

No Caminho de Purificação ou de Prova é iniciado este processo de eliminação; no Caminho do Discipulado, aprendem-se as regras do processo construtivo ou assimilativo e no Caminho da Iniciação (após a segunda iniciação) inicia-se o trabalho protetor.

Conhecem-se bem, no Ocidente, as regras para a purificação exterior, e as sanitárias e de higiene são bem conhecidas e grandemente aplicadas. No Oriente conhecem-se melhor as regras de purificação magnética e, quando os dois sistemas forem sintetizados e mutuamente reconhecidos, o invólucro físico em sua dupla natureza será levado finalmente a um alto grau de refinamento.

Neste ciclo, contudo, o interesse da Hierarquia está sendo grandemente centrado na questão da pureza psíquica e este é o motivo do desenvolvimento atual do interesse pelo ensinamento ocultista. Ele está longe do que é comumente conhecido como desenvolvimento psíquico, não dá ênfase alguma aos poderes psíquicos inferiores e procura adestrar o aspirante nas leis da "vida espiritual. Isto produz uma conscientização da natureza da psique ou alma, e um controle da natureza psíquica inferior. O grande "impulso" do esforço Hierárquico para este século, 1926/2026, será segundo estas linhas, combinado com uma disseminação das leis do pensamento. Daí a necessidade da promulgação dos ensinamentos dados nos Aforismos da Ioga. Eles dão as regras para o controle da mente, mas tratam também extensamente da natureza dos poderes psíquicos e do desenvolvimento da consciência psíquica.

Todo o terceiro livro trata destes poderes e o tema dos aforismos como um todo poderia ser resumidamente afirmado como sendo o desenvolvimento do controle da mente visando ao contacto com a alma e ao consequente controle dos poderes psíquicos inferiores, com seu desenvolvimento ocorrendo em paralelo com o dos poderes psíquicos superiores. Isto deve ser enfatizado. A aversão pela forma, ou "o não desejar" que é o termo genérico que abrange esta condição da mente, é o grande impulso que no final levará à completa libertação da forma.

Não que a forma ou o tomar forma seja um mal em si mesmo. Tanto as formas quanto o processo de encarnação são corretos e certos em seu devido lugar, mas para o homem para quem a experiência nos três mundos não tenha mais uso, tendo aprendido as necessárias lições na escola da vida, a forma e o renascimento se tornam males e devem ser relegados a uma posição fora da vida do ego. É verdade que o homem liberto pode escolher limitar-se por uma forma para propósitos específicos de serviço, mas isto ele o faz por um ato de vontade e de autoabnegação; ele não é a isto impelido pelo desejo, mas sim por amor à humanidade e por um anseio de permanecer com seus irmãos até que o último dos filhos de Deus tenha alcançado o portal da libertação.

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Livro II - Aforismo 41

41. Pela purificação obtém-se também um espírito calmo, a concentração, o domínio dos órgãos e a capacidade de ver o Ego.

Deve ser lembrado que tanto os Mandamentos como as Regras (Yama e Nyama) têm a ver com o quádruplo eu inferior, funcionando nos três mundos e frequentemente chamado o quaternário inferior. Vimos no aforismo precedente que a purificação requerida é quádrupla e concerne aos quatro veículos. Os resultados desta pureza também são quádruplos e se referem igualmente aos quatro envoltórios. Estes resultados, na ordem dos veículos, são:

1. O domínio dos órgãos O corpo físico
2. Um espírito calmo O veículo emocional
3. Concentração A mente inferior ou o corpo mental
4. Habilidade em ver o eu O resultado sintético da tríplice condição dos envoltórios acima.

O "domínio dos órgãos" refere-se especialmente aos sentidos e é o resultado da pureza magnética ou do refinamento do corpo etérico. Em relação a isto os estudantes devem ter em mente que o corpo físico não é um princípio, mas sim construído em exata conformidade com o corpo etérico. Este corpo etérico é o veículo magnético no plano físico e atrai (segundo sua própria natureza e constituição) os átomos e partículas de substâncias das quais o físico denso é constituído. Quando as percepções sensoriais são refinadas e quando a condição vibratória do corpo vital está corretamente sintonizada, os órgãos dos sentidos são inteiramente dominados e controlados pelo homem real e, finalmente,o colocam em contacto com os dois mais elevados subplanos do plano físico e não com o astral inferior, como é atualmente o caso. A correta ordem desse controle dos órgãos de percepção física ou dos cinco sentidos é a seguinte:

1. Percepção intelectual correta do ideal no plano mental.
2. Desejo puro, livre do amor pela forma no plano astral ou emocional.
3. Utilização correta e desenvolvimento dos cinco centros ao longo da coluna vertebral (base da coluna, centro sacro, plexo solar e centros do coração e da garganta), cada um dos quais é encontrado no corpo etérico e é ligado a um ou outro dos cinco sentidos.
4. Consequente reação correta dos órgãos sensoriais aos requisitos do homem verdadeiro ou espiritual.

Em conexão com o corpo astral, o resultado da purificação é um espírito calmo ou "a suave quietude" do veículo de modo a poder refletir adequadamente o princípio Crístico, ou a natureza búdica. A relação do princípio astral ou kârnico (empregando o veículo do meio do tríplice homem inferior) com o princípio búdico, empregando o veículo do meio da tríade espiritual (ou atma-budi-manas), deve ser cuidadosamente considerada. As emoções acalmadas e o controle da natureza de desejo sempre precedem a reorientação da inferior. Antes que o desejo do homem possa ser dirigido para coisas espirituais ele tem que parar de desejar as coisas do mundo e as da carne. Isto produz um período de grande dificuldade na vida do neófito e o processo é simbolizado para nós na utilização da palavra "conversão" nos círculos cristãos ortodoxos; envolve uma "reviravolta" com sua consequente turbulência, mas com a calmaria final.

No corpo mental, o efeito da purificação é o desenvolvimento da capacidade de concentração ou de manter o pensamento dirigido. A mente não mais salta de um lado para outro, mas sim é controlada e quiescente e receptiva às impressões superiores. Como isto será completamente discutido no livro três, não é necessário abordá-lo agora com maiores detalhes.

Quando estes três resultados da purificação se fizerem sentir na vida do aspirante, ele estará se aproximando de certo clímax que é uma súbita percepção da natureza da alma. Ele obtém uma visão da realidade que é ele próprio e compreende a verdade das , palavras do Cristo que "os puros de coração verão a Deus". Ele observa a alma e daí por diante seu desejo o dirige sempre para a realidade e para longe da irrealidade e do mundo da ilusão.

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Livro II - Aforismo 42

42. Como resultado do contentamento conquista-se a bem-aventurança.

Pouco há a dizer em relação a este aforismo a não ser assinalar que toda dor, descontentamento e infelicidade baseiam-se na rebelião, e que, do ponto de vista do ocultista, a rebelião apenas tumultua ainda mais os problemas e que a resistência apenas serve para alimentar o mal, qualquer que seja ele. O homem que aprendeu a aceitar sua sorte não perde tempo em vãs recriminações, e toda sua energia pode então ser aplicada no perfeito cumprimento de seu dharma, ou trabalho obrigatório. Em vez de reviver e obscurecer os fatos da vida com preocupações, dúvidas e desespero, clareia seu caminho pela silenciosa compreensão da vida como ela é e pela apreciação direta do que pode realizar com estes mesmos fatos. Assim, não perde força, tempo ou oportunidade e consegue firme progresso em direção à sua meta.

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Livro II - Aforismo 43

43. Pela aspiração ardente e pela remoção de toda impureza, obtém-se o aperfeiçoamento dos poderes e dos sentidos do corpo.

Embora as duas causas do processo de aperfeiçoamento sejam a aspiração e a purificação, elas são na realidade apenas uma e são os dois aspectos da disciplina no Caminho Probatório. O velho comentário que forma a base esotérica do ensinamento interior da Raja Ioga contém algumas sentenças que são valiosas na transmissão do conceito correto:

"À medida que o sopro do fogo se dirige para cima através do sistema, à medida que o elemento ardente faz sentir sua presença, vê-se desaparecerem os empecilhos, e o que era obscuro fica iluminado.

O fogo sobe e as barreiras são queimadas; a respiração se expande e as limitações desaparecem. Os sete, até então quiescentes, se agitam para a vida. Os dez portais, selados e fechados ou parcialmente abertos, abrem-se completamente.

Os cinco grandes meios de contato entram rapidamente em atividade. Os obstáculos são dominados e as barreiras não mais obstruem. O purificado torna-se o grande receptor e o Uno é conhecido."

Nestas palavras a purificação pelo fogo e pelo ar é considerada e esta é a purificação que se obtém no caminho da ioga. A purificação pela água é feita nos últimos estágios da vida do homem altamente evoluído, antes de trilhar o Caminho do Discipulado, e faz-se referência a ela pelas palavras "águas da tristeza" tão frequentemente usadas. A prova do fogo foi então ultrapassada e toda a natureza inferior passou pelo fogo. Este é o primeiro significado e aquele com o qual o aspirante deve-se preocupar mais. Quando ele está em condições o chamado ao fogo é enviado de seu coração, encarnado nas palavras:

"Eu procuro o Caminho; estou ansioso por aprender. Vejo visões e vislumbro impressões profundas. Por trás do Portal, no outro lado, está o que chamo lar, pois o círculo foi completamente trilhado e o fim se aproxima do início.

Eu procuro o Caminho. Meus pés percorreram todos os caminhos. O caminho do Fogo me chama com intenso apelo. Nada em mim procura o caminho da paz; nada em mim deseja a terra.

Que o fogo se alastre e que as chamas devorem; que toda a escória seja queimada; e que eu cruze o Portão e trilhe o Caminho do Fogo".

Sente-se também o alento de Deus como uma brisa purificadora e é a resposta da alma à aspiração do discípulo. A alma então "inspira" o homem inferior.

O significado secundário evidentemente se refere diretamente ao trabalho de kundalini, ou fogo serpentino, na base da coluna vertebral, à proporção que ela responde à vibração da alma (sentida na cabeça, na região da glândula pineal e chamada "luz da cabeça"). Subindo, queima todas as obstruções no canal medular etérico e vitaliza ou eletrifica os cinco centros ao longo da coluna e os dois na cabeça. Os ares vitais dentro dos ventrículos da cabeça são também arrastados à atividade e provocam uma limpeza, ou melhor, um efeito de eliminação no local. O estudante ainda nada tem a ver com isto, exceto quanto a ver que, tanto quanto lhe diga respeito, a aspiração de seu coração é do caráter "ardente" necessário e que a firme purificação de sua natureza física, emocional e mental prossiga como desejado. Quando este é o caso, a resposta da alma será efetiva e as consequentes reações dentro dos centros etéricos se farão com segurança, normalmente e de acordo com a lei.

Os três versos acima citados dizem respeito:

a. aos sete centros, até então quiescentes;
b. aos dez portais fechados, os dez orifícios do corpo físico;
c. aos cinco sentidos pelos quais se dá o contato com o plano físico;
e, nestes termos, se abrangem todas as atividades para o exterior e para o interior do homem no plano físico.

Quando todas estas atividades tiverem sido submetidas ao controle da alma, ou regente interno, efetua-se então a unidade com a alma e a consequente identificação com aquele em 'quem vivemos, nos movemos e temos o nosso ser.

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Livro II - Aforismo 44

44. A leitura espiritual traz como resultado o contato com a alma (ou o Divino Uno).

Isto talvez possa ser mais literalmente traduzido como "a leitura dos símbolos produz contato com a alma". O símbolo é uma forma de alguma espécie que vela ou oculta um pensamento, uma ideia ou uma verdade e pode ser então estabelecido como um axioma geral, que cada forma de qualquer espécie é um símbolo, ou o véu objetivo de um pensamento. Ver-se-á que isto, quando aplicado, referir-se-á igualmente à forma humana, que deve ser o símbolo (ou feita segundo a imagem) de Deus; esta é uma forma objetiva velando um pensamento ou verdade divinas, a manifestação tangível de um conceito divino. A meta da evolução é levar à perfeição esta forma simbólica objetiva. Quando um homem sabe isto, deixa de se identificar com o símbolo que é sua natureza inferior. Começa a funcionar conscientemente como o eu divino subjetivo interior, empregando o homem inferior para velar e esconder sua forma, e lidando diariamente com essa forma de modo a moldá-la e forjá-la como um adequado instrumento de expressão. A ideia é também desenvolvida na vida diária, na atitude do homem para com cada forma (nos três reinos da natureza) que ele contata. Ele procura ver por baixo da superfície e alcançar a ideia divina.

Esta é a quarta das Regras e diz respeito à atitude interna do homem para com o universo objetivo. Pode-se então dizer que estas regras concernem a atitude do homem para com:

1. Sua própria natureza inferior Purificação interna e externa
2. Seu carma ou seu destino na vida Contentamento
3. Sua alma ou ego Aspiração ardente
4. Seu meio ambiente no plano físico Leitura espiritual
5. A Existência una, Deus Devoção a Ishvara

A “correta atitude” para com todas as coisas abrange este conjunto de regras.

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Livro II - Aforismo 45

45. Pela devoção a Ishvara a meta da meditação (ou samadhi) é alcançada.

A meta da meditação é contatar o eu interior divino e, por este contato, chegar à conscientização da unidade deste eu com todos os outros egos e com o Todo-Eu, e isto não apenas teoricamente, mas sim como um fato da natureza. Isto se dá quando um estado chamado "samadhi" é alcançado, onde a consciência do pensador é transferida da consciência do cérebro inferior para a alma, em seu próprio plano. Os estágios desta transferência podem ser enumerados como se segue:

1. Transferência da consciência do corpo, a consciência instintiva dirigida para o exterior, do homem físico, para a cabeça. Isto requer uma retirada consciente da consciência para um ponto no interior do cérebro, na vizinhança da glândula pineal, e sua consciente centralização neste ponto.

2. Transferência da consciência do cérebro ou cabeça, para a mente ou corpo mental. Nesta transferência, o cérebro permanece intensamente alerta e a retirada é conscientemente efetuada através do corpo etérico, empregando o brahmarandra ou a abertura no cimo da cabeça. Em ocasião alguma está o homem em transe, inconsciente ou adormecido. Ele ativamente inicia e efetua o processo de abstração ou retirada.

3. Transferência da consciência do corpo mental para o do ego, a alma, alojada no corpo causal ou lótus egoico. Provoca-se então uma condição em que o cérebro, o corpo mental e o corpo egoico formam uma unidade quiescente e coerente, viva, positiva e firme.

4. Pode-se então ter acesso ao estado de samadhi, ou de contemplação espiritual, quando a alma olha para seu próprio mundo, vê a visão das coisas como realmente são, contata a realidade e "conhece Deus".

Seguindo-se este, vem um estágio em que o homem espiritual transmite ao cérebro, através da mente, o que é visto, visualizado, contatado e conhecido; e, desta maneira, o conhecimento se torna parte do conteúdo do cérebro e fica disponível para emprego no plano físico.

Esta é a meta do processo de meditação e os resultados, em suas inúmeras e distintas formas são o assunto do Livro III, e são obtidos pela obediência aos oito meios da ioga que foram tratados no Livro II. Somente a dedicação a Ishvara ou o verdadeiro amor a Deus, com as qualidades de serviço que o acompanham, amor ao homem, e paciente e duradouro esforço em fazer o bem, levarão
o homem por este árduo caminho de disciplina, purificação e trabalho duro.

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Livro II - Aforismo 46

MEIO III. POSTURA

46. A postura assumida deve ser firme e cômoda.

Este aforismo ocasionou inúmeros problemas a nossos estudantes ocidentais, pois eles o interpretaram unicamente em seu sentido físico. É verdade que tem uma significação física, mas considerado em relação à tríplice natureza inferior, pode-se dizer que se refere a uma posição firme e imutável do corpo físico quando em meditação, a uma condição estável e invariável do corpo astral ou emocional durante sua passagem pela vida, e a uma mente firme e equilibrada, que esteja absolutamente sob controle. Destas três pode-se dizer que a postura física é a de menor importância e a melhor é aquela em que o aspirante mais rapidamente se esqueça de que tem um corpo físico. De modo geral pode-se estabelecer que uma posição ereta, numa cadeira confortável, com a coluna ereta, os pés naturalmente cruzados, as mãos cruzadas no colo, os olhos fechados e o queixo ligeiramente caído, seja a melhor posição para o aspirante ocidental. No Oriente há uma ciência sobre posições e existem cerca de oitenta e quatro posições diferentes, algumas das quais, muito intrincadas e dolorosas, são relacionadas. Esta ciência é um ramo da hatha ioga e não deve ser seguida pela quinta raça; é um remanescente da ioga que foi necessária e suficiente para o homem da raça raiz lemuriana, que necessitava aprender o controle físico. A bhakti ioga, ou a ioga do devoto, foi a ioga da raça atlante ou do homem da quarta raça raiz, além de alguma coisa também da hatha ioga. Nesta quinta raça raiz, a ariana, a hatha ioga deve cair em desuso no que concerne ao discípulo, que deve-se ocupar com a raja ioga e com um pouco da bhakti ioga - se for um devoto mental.

O discípulo Lemuriano aprendeu a controlar o corpo físico e a devotá-lo ao serviço de Ishvara pela hatha ioga ao aspirar ao controla emocional.

O discípulo Atlante aprendeu a controlar o corpo emocional e a devotá-lo ao serviço de Ishvara pela bhakti ioga, com aspiração ao controle mental.

O discípulo Ariano tem que aprender a controlar o corpo mental e a dedicá-lo ao serviço de Ishvara pela raja ioga, com aspiração ao conhecimento do habitante interno, a alma. Assim, nesta raça raiz, o homem inferior interno, a personalidade, é subjugado e terá lugar a "Transfiguração" da humanidade.

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Livro II - Aforismo 47

47. A firmeza e a comodidade da postura são obtidas por um leve e persistente esforço e pela concentração da mente no infinito.

Isto abrange os dois aspectos que provocam dificuldade durante a meditação, o conforto do corpo e o controle da mente. É digno de nota que o esforço para atingir o esquecimento do corpo físico através da posição correta é alcançado por uma prática firme, contínua e suave, em vez de o ser através de violentos esforços, forçando o corpo em posição e atitudes desconfortáveis a que não está habituado. Quando isto puder ser feito e quando a mente puder estar tão concentrada na consideração das coisas da alma, então a firmeza e a facilidade caracterizarão o homem no plano físico. Ele se esquece do veículo físico e pode assim concentrar a mente, e a concentração de sua mente fica tão firmemente dirigida que se torna impossível pensar no corpo.

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Livro II - Aforismo 48

48. Quando isto é alcançado, os pares de opostos não mais limitam.

Os pares de opostos dizem respeito ao corpo de desejos e é significativo que o aforismo precedente apenas tenha tratado da mente e do corpo físico. Neste aforismo, a natureza emocional, expressando-se através do desejo, deixa de ser influenciada pelo impulso de qualquer força atrativa. O corpo astral se torna quiescente, não procurando dominar, e não responde a qualquer atração do mundo de ilusão.

Há um grande mistério no que concerne ao corpo astral do homem e à luz astral, e a natureza deste mistério é, até agora, conhecida apenas pelos iniciados mais avançados. A luz astral é tornada objetiva por dois fatores e o corpo astral do homem responde a dois tipos de energia. Essencialmente, parecem em si mesmos não ter caracterização ou forma, mas sim dependeram, para sua manifestação, "daquilo que está acima e daquilo que está abaixo". A natureza de desejos do homem, por exemplo, parece responder à atração do grande mundo de ilusão, a maya dos sentidos, ou à voz do ego, empregando o corpo mental. As vibrações dos planos físico e mental atingem o corpo astral e, de acordo com a natureza do homem e com o ponto de evolução em que está, assim será sua resposta ao apelo superior ou inferior.

O corpo astral ou responde à impressão egoica ou é influenciado pelos milhões de vozes da terra. Aparentemente não tem voz própria e nem caráter próprio. Isto foi retratado para nós no Gita, quando Arjuna fica entre as duas forças opostas, do bem e do mal, e procura sua correta atitude para com ambas. O plano astral é o campo de batalha da alma, o local da vitória ou da derrota; é o kurukshetra, no qual a grande escolha é feita.

Nestes aforismos sobre a postura, está latente a mesma ideia. Dá-se ênfase aos planos físico e mental e chama-se a atenção para o fato de que, quando a postura no plano físico e a concentração no plano mental são obtidas, então os pares de opostos não mais constituem limitações. O ponto de equilíbrio é alcançado e o homem é liberado. As balanças da vida do homem são completamente equilibradas e ele fica livre.

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Livro II - Aforismo 49

MEIO IV. PRANAYAMA

49. Quando a postura correta (asana) é alcançada, segue-se o correto controle do prana e a inspiração e expiração corretas.

Temos aqui novamente um aforismo que causou muita incompreensão e erro. O ensinamento sobre o controle do prana é o ponto principal e daí decorreram os exercícios sobre respiração e as práticas que, para seu sucesso, dependem da suspensão do processo respiratório. A maioria destes erros foi provocada por uma crença da mente ocidental de que prana e respiração são sinônimos. Isto de modo algum é o caso. Vivekananda o assinala em seu comentário sobre este aforismo, com as seguintes palavras:

"Quando a postura correta tenha sido alcançada, então tem-se que interromper este movimento e controlá-lo, e assim chegamos ao pranayama; o controle das forças vitais do corpo. Prana não é respiração, embora seja comumente traduzido assim. É a totalidade da energia cósmica. É a energia que está em cada corpo, e sua manifestação mais visível é o movimento dos pulmões. Este movimento é causado pelo prana promovendo a respiração e é o que procuraremos controlar no pranayama. Começamos por controlar a respiração como o meio mais fácil de obter o controle do prana".

Prana é a soma total da energia no corpo (e isto se aplica igualmente aos corpos solar e planetário). Diz respeito ao influxo de energia no corpo etérico e ao seu refluxo, portanto, por meio do corpo físico. Isto é simbolizado para nós, no corpo físico, nos necessários movimentos de inspiração e expiração. Por se dar demasiada importância ao ato físico de respirar perdeu-se muito do verdadeiro sentido deste aforismo.

Ao se estudar o pranayama certas coisas devem ser lembradas. Primeiro, que um dos principais propósitos do corpo etérico é que ele atua como um estimulador e alimentador de energia do corpo físico denso. É quase como se o corpo físico denso não tivesse existência independente, mas que apenas reagisse ao ser estimulado e motivado pelo corpo etérico. O corpo etérico é o corpo de força ou vital e permeia todas as partes do veículo denso. É o que está por trás, a verdadeira substância do corpo físico. De acordo com a natureza da forma que anima o corpo etérico, de acordo com a vitalidade e a lentidão das mais importantes partes do corpo etérico (os centros ao longo da coluna vertebral), assim será a correspondente atividade do corpo físico. De modo semelhante e simbolicamente, de acordo com o estado do aparelho respiratório, e de acordo com a capacidade deste aparelho em oxigenar e purificar o sangue, assim será o estado de saúde e a condição de todo o corpo físico denso.

Deve ser também lembrado que a chave da resposta precisa do inferior ao superior, está no ritmo e na possibilidade do corpo físico em responder, ou vibrar, ritmicamente em uníssono com o corpo etérico. Os estudantes têm verificado que isto é bastante facilitado por um modo de respirar uniforme e profundo e que a maioria dos exercícios respiratórios, quando praticados com exclusão dos três prévios meios para a ioga (os Mandamentos, as Regras e a Postura) têm um efeito definido sobre o corpo etérico e podem levar a resultados desastrosos. t imprescindível que os estudantes sigam os meios da ioga na ordem em que foram dados por Patânjali, e que portanto se certifiquem de que o processo de purificação, a disciplina das vidas interna e externa e a concentração da mente devam ser os objetivos a atingir, antes de tentarem o controle do veículo etérico através da respiração e do despertar dos centros.

O trabalho realizado através do pranayama pode ser resumido do seguinte modo:

1. A oxigenação do sangue e, assim, a limpeza das correntes sanguíneas e a consequente saúde física.

2. A sincronia de vibração entre o corpo físico e o corpo etérico. Isto traz como resultado a completa subjugação do corpo físico denso e seu alinhamento com o corpo etérico. As duas partes do veículo físico formam uma unidade.

3. A transmissão de energia a todas as partes do corpo físico denso, através do corpo etérico. Esta energia pode vir de diversas fontes:

a. Da aura planetária. Neste caso é prana planetário e concerne primariamente ao baço e à saúde do corpo físico.
b. Do mundo astral através do corpo astral. Esta será unicamente a força do desejo ou kâmica e afetará primariamente os centros abaixo do diafragma.
c. Da mente universal ou força manásica. Esta será principalmente a força do pensamento e irá para o centro da garganta.
d. Do próprio ego, estimulando primariamente os centros da cabeça e do coração.

A maioria das pessoas recebem força apenas dos planos físico e astral, mas os discípulos recebem força também dos níveis mental e egoico.

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Livro II - Aforismo 50

50. O correto controle do prana (ou das correntes da vida) é externo, interno ou imóvel; está sujeito a lugar, tempo e número e é também prolongado ou breve.

Este é um aforismo muito difícil de se compreender e seu significado foi propositalmente tornado obscuro devido aos perigos incidentes no controle das forças corporais. As ideias e os ensinamentos transmitidos se enquadram em três partes:

I. O controle externo, interno ou imóvel das correntes de vida do corpo (denso e etérico. Isto concerne:

a. ao aparelho respiratório e o emprego da respiração;
b. aos ares vitais e sua radiação;
c. aos centros e seu despertar;
d. ao fogo Kundalini e sua correta progressão subindo ao longo da coluna vertebral.

II. A significação astrológica e a relação do homem ao seu grupo, planetário ou outro. Isto é considerado nas palavras "lugar, tempo e número".

III. O processo de iluminação e a produção de resposta no homem físico, através do cérebro, às impressões superiores. Esta habilidade em responder à voz do ego e de se tornar quiescente e receptivo deve preceder aos últimos quatro meios da ioga que não concernem tão de imediato ao plano físico denso ou aos níveis etéricos de consciência.

É óbvio que muitos dos ensinamentos transmitidos neste aforismo só podem ser dados, com segurança, diretamente pelo instrutor ao aluno, após o correto estudo das condições corporais deste aluno. Não é possível e nem correto dar num livro destinado ao público em geral, as regras, práticas e métodos que permitem ao discípulo treinado levar seu veículo físico denso à sincronização instantânea com seu corpo etérico, a tornar densa e irradiar sua aura de modo a produzir certos resultados magnéticos em seu ambiente, e a despertar seus centros de modo a demonstrar certos poderes psíquicos. Os métodos para despertar Kundalini e de fundi-la com a força egoica que vem de cima devem também ser deixados ao ensinamento direto por um mestre, versado nesta ciência, a seu aluno. Há um extremo perigo no despertar prematuro deste fogo, com a consequente destruição de certas estruturas protetoras no corpo etérico e das barreiras entre este mundo e o astral, antes que o aluno esteja devidamente "equilibrado entre os pares de opostos". Existe um perigo no crescimento prematuro dos poderes psíquicos inferiores antes que a natureza superior seja despertada, e o efeito sobre o cérebro pode ser visto na forma de insanidade, de um tipo ou outro, suave ou severa. Pode-se dar umas poucas palavras de explicação, contudo, que habilitarão o verdadeiro estudante ocultista a obter a informação que, se usada corretamente, servirá como chave para obtenção de maiores informações. Este sempre foi o método ocultista. Vamos portanto, tratar brevemente de nossos três pontos.

I. O controle externo do prana ou das correntes de vida trata dos exercícios respiratórios e de práticas rítmicas que levam os órgãos físicos, aliados aos centros etéricos, às condições corretas. O mago branco ou ocultista nunca lida especificamente com estes órgãos físicos. A magia negra, porém, lida com estes órgãos, que são: o cérebro, os pulmões, o coração, o baço e os órgãos geradores.

O mago negro utiliza definidamente estas partes físicas do corpo para gerar um tipo de força que é uma mistura de força etérica e de energia física densa, para permitir-lhe realizar certas formas de trabalho de magia e também para produzir efeitos sobre os corpos físicos de animais e de homens. E o conhecimento destes fatos que é a base de vuduísmo e de todas as práticas que provocam a debilidade e a morte de homens e mulheres que obstruem o caminho do mago negro ou que são por eles encarados como inimigos. O aspirante aos mistérios da Fraternidade da Grande Loja Branca nada têm a ver com as práticas acima mencionadas. Ele provoca a confluência das duas partes do físico denso e a sincronia do ritmo dos dois corpos e a consequente unidade do homem inferior inteiro, pela atenção à respiração e o ao ritmo etéricos. Isto inevitavelmente, produz o "controle externo das correntes de vida".

O controle interno das correntes de vida é obtido de três modos:

1. Por meio de uma compreensão intelectual da natureza do corpo etérico e das leis de sua vida.
2. Através de uma consideração dos tipos de energia e de seu equipamento, o sistema de centros, encontrado no corpo etérico.
3. Através de certos desenvolvimentos e conhecimento que vêm ao aspirante quando ele está pronto (tendo cumprido os prévios meios da ioga) e que lhe dão a capacidade de captar certos tipos de forças, energias, ou shaktis, de utilizá-los corretamente por meio de seus próprios centros e provocar efeitos que se enquadram nos seguintes termos descritivos: iluminantes, purificadores, magnéticos, dinâmicos, psíquicos e mágicos.

O controle imóvel das correntes de vida é o resultado do correto desenvolvimento dos outros dois, os controles externo e interno, e deve ser obtido antes que o quinto meio da ioga, a retirada ou abstração, seja possível. Indica apenas a perfeita sincronização equilibrada e a completa unificação das duas partes do corpo físico, de modo a não mais haver qualquer empecilho às forças que entram ou saem. Quando se obtém o controle imóvel, o iogue pode retirar-se de seu corpo físico à vontade ou pode atrair aquele corpo e manipular à vontade qualquer das sete grandes forças planetárias.

Deve-se ter em mente que estamos tratando aqui da situação ideal e que nenhum aspirante pode adquirir este meio da ioga sem trabalhar simultaneamente também com os outros meios. O estudo do paralelismo na natureza é valioso neste ponto.

II. Faz-se também, aqui, uma alusão ao significado astrológico por meio das três palavras, "lugar, tempo e número". Nestas palavras deve-se reconhecer as triplicidades universais, e o correto controle das correntes de vida deve ser visto relacionado ao carma, oportunidade e forma; há certas palavras que, quando compreendidas corretamente, dão a chave para todo o ocultismo prático e transformam o iogue em um mestre da vida. São elas:

Som Número Cor Forma
Palavra Vida Luz Corpo

e reconhece-se estas como sujeitas à ideia do espaço e ao elemento tempo. Deve-se ter em mente, a este respeito, que "o espaço é a primeira entidade" (Doutrina Secreta I. 583) e que a manifestação cíclica é a lei da vida.

Quando isto é reconhecido, a entidade, manifestando-se ciclicamente, fará sentir sua presença pela diferenciação, pela cor ou qualidade da forma veladora e através da própria forma. Estes fatores constituem a totalidade da expressão de qualquer identidade, Deus ou homem, e o aparecimento de qualquer homem em expressão exotérica no plano físico depende do movimento cíclico ou rítmico das energias emitidas ou atraídas pela grande Vida na qual ele vive, se move e tem o seu ser. Esta é a base da ciência astrológica ou a relação entre o planeta, ou planetas, e o ser humano, e sua relação com as estrelas e os vários signos zodiacais.

Para o correto controle das correntes de vida é essencial algum conhecimento da ciência astrológica, de modo a que o discípulo possa tirar proveito dos "tempos e estações" em que se pode acelerar o progresso.

III. O processo de iluminação do homem inferior se torna possível através do correto controle dos pranas e este "processo de iluminação" é uma ciência exata, para a qual estes quatro meios da ioga prepararam o caminho. Os fogos do corpo estão corretamente posicionados, a condição de "imóvel" pode ser mais ou menos obtida e os ares vitais na cabeça estão "em paz" e o homem inferior completo espera um de dois processos:

a. A retirada do homem espiritual ou verdadeiro para atuar em algum plano mais elevado;
b. ou trazer à consciência do cérebro inferior, a luz, a iluminação e o conhecimento dos planos do ego.

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Livro II - Aforismo 51

51. Há um quarto estágio que transcende aqueles que tratam das fases interna e externa.

Vimos como o controle das forças de vida pode ser internamente ativo, externamente ativo ou equilibrado. Este tríplice processo traz o homem pessoal inferior completo a uma condição, em primeiro lugar, de resposta rítmica ao fator motivador interno (neste caso, o ego ou homem espiritual em seu próprio plano) e, a seguir, a uma completa calma ou quietude. A esta última condição de espera receptiva, se pode ser assim chamada, segue-se outra, de uma forma de atividade mais elevada. Isto é literalmente a imposição de um novo ritmo vibratório ao inferior, o soar de uma nova nota, emanando do homem espiritual interno que produz certos efeitos definidos nos três envoltórios que constituem o eu inferior e que produz certos efeitos definidos nos três envoltórios que ocultam a divindade que é o homem. Estas mudanças são consideradas nos dois próximos aforismos.

O trabalho do aspirante comum é mais frequentemente dedicado à preparação dos envoltórios de modo a que este quarto estágio se torne possível. Sua atenção concentra-se na obtenção:

1. de uma coordenação consciente dos três envoltórios ou corpos;
2. de seu devido alinhamento;
3. da regulagem do ritmo dos envoltórios de modo a sincronizá-los entre si e com o ritmo da impressão egoica;
4. de sua unificação em um todo coerente de modo a que o homem seja literalmente o três em um e o um em três;
5. da calma, ou a atitude de receptividade positiva à inspiração superior e ao fluxo descendente de vida egoica e de energia.

Pode ser útil ao estudante se ele se conscientizar de que o controle correto do prana envolve o reconhecimento de que a energia é a soma total da existência e da manifestação, e que os três corpos inferiores são corpos de energia, cada um formando um veículo para o tipo de energia mais elevado, sendo eles mesmos transmissores de energia. As energias do homem inferior são energias do terceiro aspecto, o Espírito Santo, ou do aspecto Brahma. A energia do homem espiritual é a do segundo aspecto, a força Crística, ou budi. O objetivo da evolução na família humana é trazer esta força Crística, o princípio do budi, à plena manifestação no plano físico e isto através da utilização do tríplice envoltório inferior. Este tríplice envoltório é o Santo Graal, a taça receptora e que contém a vida de Deus. Quando o homem inferior é levado à resposta adequada pelo cumprimento dos quatro meios da ioga já considerados, começam a se manifestar nele dois resultados e ele está pronto a empregar os outros quatro meios restantes que o reorientarão e, finalmente, o levarão ã libertação.

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Livro II - Aforismo 52

52. Através disso, aquilo que obscurece a luz é gradualmente removido.

O primeiro resultado é a gradual dissipação ou atenuação das formas materiais que escondem a realidade. Isto não significa o desperdício das formas mas sim, o contínuo refinamento e transmutação da matéria de que são construídos de modo que se tornam tão purificados e claros que a "Luz de Deus" que até então esconderam, pode brilhar em toda a sua beleza nos três mundos. Pode-se demonstrar isto como sendo literalmente verdadeiro no plano físico, pois através do trabalho de purificação e do controle das correntes de vida, a luz na cabeça se torna tão aparente que pode ser vista por aqueles que têm visão sobrenatural, como irradiações estendendo-se por toda a volta da cabeça, formando assim o halo tão conhecido nas pinturas de santos. O halo é um fato na natureza e não um símbolo apenas. E o resultado do trabalho da Raja Ioga e é a demonstração física da vida e da luz do homem espiritual. Vivekananda, falando tecnicamente, diz ( e é conveniente que os estudantes ocidentais de ocultismo dominem a técnica e a terminologia desta ciência da alma de que o Oriente foi o guardião por tanto tempo): "A chitta tem, por sua própria natureza, todo o conhecimento. E feita de partículas de sattva, mas é coberta de partículas de rajas e tamas, e pelo pranayama esta cobertura é removida."

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Livro II - Aforismo 53

53. E a mente é preparada para a meditação concentrada.

A edição de Johnston dá uma bela tradução deste aforismo nas palavras: "Então vem o poder da mente para se manter na luz", sendo a ideia que, uma vez obtida a condição de quietude e tornado possível o quarto estágio de impressão supranormal, os meios restantes da ioga, abstração, atenção, meditação e contemplação podem ser então adequadamente assumidos. A mente pode ser controlada e aplicada e o processo de transmitir ao cérebro, através da mente, o conhecimento, a luz e a sabedoria do ego ou alma, pode, então, ser feito com segurança.

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Livro II - Aforismo 54

MEIO V. ABSTRAÇÃO.

54. A abstração (ou pratyahara) é a subjugação dos sentidos pelo princípio pensante e sua remoção daquilo que até então fora seu objetivo.

Este aforismo nos dá um sumário do trabalho realizado no controle da natureza psíquica, e o resultado obtido quando o pensador, por meio da mente - o princípio pensante, domina tão completamente os sentidos que eles não mais têm expressão própria independente.

Antes que a atenção, a meditação e a contemplação (os três últimos meios da ioga) possam ser adequadamente empreendidas, não só deve a conduta externa ser corrigida, não só a pureza interior deve ser obtida, não só deve ser cultivada a correta atitude para com todas as coisas e as correntes de vida consequentemente controladas, como também a capacidade para subjugar as tendências dos cinco sentidos para as coisas externas deve ser obtida. Assim, se ensina ao aspirante a correta retirada ou abstração da consciência que tende para o exterior, para o mundo fenomênico, e ele deve aprender a centrar sua consciência na grande estação central da cabeça, de onde esta energia pode ser conscientemente distribuída à medida que ele participa no grande trabalho, e de onde pode estabelecer contacto com o reino da alma e no qual ele pode receber as mensagens e impressões que emanam daquele reino. Este é um definido estágio que se obtém e não, simplesmente, uma maneira simbólica de expressar um interesse dirigido.

As diversas vias da percepção sensorial são levadas a uma condição quiescente. A consciência do homem real não mais se projeta para fora ao longo de suas cinco vias de contato. Os cinco sentidos são dominados pelo sexto sentido, a mente, e toda a consciência e faculdade de percepção do aspirante é sintetizada na cabeça e voltada para dentro e para cima. A natureza psíquica é assim subjugada e o plano mental se torna o campo de atividade do homem.

Este processo de retirada ou de abstração prossegue em estágios:

1. A retirada da consciência física, ou percepção, através da audição, tato, visão, paladar e olfato. Estes modos de percepção se tornam temporariamente adormecidos e a percepção do homem se torna unicamente mental e a consciência do cérebro é a única atividade no plano físico.

2. A retirada da consciência para a região da glândula pineal, de modo a que o ponto de conscientização do homem esteja centralizado na região entre o meio da fronte e a glândula pineal.

3. O estágio seguinte é o da abstração da consciência no centro da cabeça, o lótus de mil pétalas ou sahasara, pela voluntária retirada da consciência da cabeça. Isto pode ser feito em plena consciência vigil, quando certas regras são aprendidas e certo trabalho realizado. Estas, obviamente, não podem ser dadas num trabalho como este. A maioria das pessoas ainda tem que dominar os dois primeiros estágios e aprender a controlar as vias de percepção, os cinco sentidos.

4. A abstração da consciência para o corpo astral, libertando-a assim, do plano físico.

5. Ainda uma ulterior abstração, para o plano mental ou mente, de maneira que nem o astral e nem o físico limitem ou confinem o homem.

Quando isto pode ser feito, a verdadeira meditação e contemplação se tornam possíveis.

Dvivedi, em seu comentário sobre este aforismo, diz: "a abstração consiste na inteira assimilação ou controle dos sentidos pela mente. Eles devem ser removidos de seus objetivos e fixados à mente e assimilados a ela, de modo que, evitando-se a transformação do princípio pensante, os sentidos também o sigam e sejam imediatamente controlados. E não apenas isto, mas eles estarão sempre prontos para contribuir coletivamente para a absorvente meditação, a qualquer momento, sobre qualquer coisa".

Em resumo, portanto, o resultado da correta abstração, ou retirada, é:

1. A síntese dos sentidos pelo sexto sentido, a mente;
2. O alinhamento do tríplice homem inferior de modo a que os três corpos funcionem como uma unidade coordenada.
3. A libertação do homem das limitações dos corpos.
4. Consequente habilitação da alma ou ego para impressionar e iluminar o cérebro por meio da mente.

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Livro II - Aforismo 55

55. Como resultado destes meios segue-se uma completa subjugação dos órgãos sensoriais.

No Livro I foi dada uma indicação geral do objetivo da Raja Ioga e dos empecilhos à sua prática, com uma indicação de seus benefícios. No Livro II, que acabamos de completar, tratamos especificamente dos empecilhos, e indicamos o método para corrigi-los e, a seguir, consideramos os meios da ioga, tendo sido explicados cinco dos oito meios. Estes cinco meios, quando devidamente seguidos, levam o homem ao ponto em que a sua natureza psíquica inferior começa a ser controlada, em que os sentidos são dominados e ele pode, então, iniciar a subjugação do sexto sentido, a mente.

Os métodos pelos quais a mente é controlada e pelos quais o aspirante se torna o mestre completo do homem inferior inteiro são considerados no livro seguinte. Os três meios restantes da ioga são explicados e, a seguir, os resultados da ioga são dados em detalhes. Os estudantes verificarão que é útil observar o método gradual e preciso delineado neste maravilhoso tratado. É válido registrar sua brevidade e, apesar disto, sua natureza completa e concisa. É o livro de texto de uma ciência exata e em suas poucas páginas estão reunidas todas as regras necessárias, nesta raça-raiz ariana, para o completo controle da mente, o qual deve ser a contribuição desta raça ao processo evolutivo.

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