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BHAGAVAD-GITA


CAPÍTULO XV: A Yoga da Pessoa Suprema

Pérola 78. A FIGUEIRA-DA-BENGALA DO ENVOLVIMENTO MATERIAL (versos 1 a 4)

1. A Suprema Personalidade de Deus disse: Existe uma figueira-de-bengala imperecível, cujas raízes ficam para cima e os galhos para baixo e cujas folhas são os hinos védicos. Quem conhece esta árvore é um conhecedor dos Vedas.

2. Os galhos desta árvore se estendem para baixo e para cima, nutridos pelos três modos da natureza material. Os brotos são os objetos dos sentidos. Esta árvore também tem raízes que descem, e estas estão atadas às ações fruitivas da sociedade humana.

3-4. Não se pode perceber a verdadeira forma desta árvore neste mundo. Ninguém pode compreender onde ela acaba, onde começa, ou onde ela se alicerça. Mas com determinação deve-se derrubar com a arma do desapego esta árvore fortemente arraigada. Em seguida, deve-se procurar aquele lugar do qual ninguém volta após ter chegado lá e render-se a esta Suprema Personalidade de Deus de quem tudo começou e de quem tudo emana desde tempos imemoriais.

Este mundo material é tão complexo que é comparado aqui com uma grande figueira-da-bengala. De fato, o desejo é a causa do enredamento da alma neste mundo, por isso o desejo é comparado à raiz dessa grande árvore do envolvimento material sem fim. Neste mundo, há ilimitadas possibilidades de gozo dos sentidos e, por isso, a possibilidade de enredamento também não tem fim. O ser vivo vagueia de galho em galho, ou seja, transmigra de uma forma para outra, mantendo sempre interesse em dominar a natureza material. Às vezes, devido ao seu bom karma material, ele se eleva aos planetas celestiais e, às vezes, o seu mal karma o leva a situações bastante miseráveis em planetas ou corpos inferiores. Mas, como os galhos desta árvore se estendem para baixo, o ser vivo na maioria das vezes é forçado à descer neles para tentar colher seus frutos e, assim, se posiciona de maneira bastante perigosa. Na verdade, esta mundo material, que é aqui comparado a esta árvore sem fim, é um reflexo da verdadeira árvore da morada suprema do Senhor, a qual se encontra no céu espiritual. Enquanto se mantiver neste mundo material, o ser vivo não poderá compreender esta morada suprema, como é explicada neste capítulo. Para isto, ele terá que se desapegar das atividades ilusórias deste mundo. O Bhagavad-gita foi transmitido pelo Senhor Krishna para que todos tivessem a oportunidade de aceitar o caminho perfeito do desapego deste mundo, que não passa de um reflexo do mundo espiritual visto às avessas. O tema principal do Bhagavad-gita é, portanto, a bhakti-yoga, ou o processo de transferirmos nossos apegos para o serviço à Suprema Personalidade de Deus.

Pérola 79. A MORADA SUPREMA (versos 5 a 6)

5. Aqueles que estão livres do falso prestígio, da ilusão e da falsa associação, que compreendem o eterno, que se enfastiaram da luxúria material, que estão livres das dualidades manifestas sob a forma de felicidade e sofrimento, e que com toda a lucidez sabem como se render à Pessoa Suprema alcançam este reino eterno.

6. Essa Minha morada suprema não é iluminada pelo Sol ou pela Lua, nem pelo fogo ou pela eletricidade. Aqueles que a alcançam jamais retornam a este mundo material.

Nos versos anteriores o Senhor Krishna recomenda que devemos desenvolver interesse em buscar a morada eterna suprema e render-se à Suprema Personalidade de Deus. Agora, portanto, Ele passa a explicar como se efetua o processo de rendição. Primeiramente, o Senhor afirma que temos que nos livrar das garras da ilusão. Na verdade, este tema é o ponto central do Bhagavad-gita. Como já foi explicado, as entidades vivas são partes integrantes do Senhor e, dessa maneira, são consideradas Suas energias divinas. Porém, ao desejarem dominar a natureza material, elas ficam sob as garras da energia material ilusória e não conseguem superar sua influência. É preciso, portanto, aceitar o serviço devocional e, desse modo, atrair a misericórdia do Senhor, que é o único que pode conceder a liberação à alma condicionada. A aceitação do serviço devocional só se torna possível para uma pessoa que, devido a inteligência, tenha se tornado verdadeiramente humilde e tenha se livrado do orgulho absurdo de se julgar o Senhor da natureza material. Antes disso, não há como se iniciar no processo de rendição.

Como foi explicado no Capítulo Sete, o necessitado, o aflito, o inteligente e o curioso que executaram atividades piedosas se voltam para a adoração do Senhor. De modo geral, quando as dificuldades surgem nas vidas dessas pessoas piedosas, eles não encontram outra alternativa além de buscar abrigo no serviço devocional do Senhor. Entretanto, aqueles que estão acumulando ações impiedosas não podem se aproximar do Supremo. Ao contrário disso, tais pessoas impiedosas permanecem associadas com as atividades falsas da energia ilusória material e nunca se rendem ao Senhor. Na verdade, a menos que a pessoa tenha a misericórdia do Senhor, ela não poderá admitir e entender que este mundo material é um lugar perigoso, cheio de calamidades. O sintoma de uma pessoa verdadeiramente inteligente é que ela desiste de fazer planos para ajustar-se permanentemente a essas calamidades materiais. Ao mesmo tempo, tal pessoa compreende que enquanto estiver neste mundo terá que se deparar com os inevitáveis infortúnios, os quais são considerados como estímulos positivos para o progresso na compreensão espiritual. Compreendendo sua posição como alma espiritual eterna, a pessoa deve manter-se transcendental às aparentes calamidades materiais, as quais são comparadas a um pesadelo. Num sonho, por exemplo, o homem pode ter a sensação que um tigre o está engolindo. Certamente, ele sofrerá com isto. Porém, assim como este 'tigre', o sofrimento material é ilusório, pois trata-se unicamente de um pesadelo. Já que são ilusórias, as calamidades desse mundo só poderão afetar a pessoa que não compreendeu a natureza ilusória deste mundo material. Aquele que não se rende ao Senhor, portanto, não pode compreender a verdadeira essência deste mundo. Deste modo, ao invés de dedicar sua vida ao Senhor, uma pessoa tola prefere buscar sua felicidade neste mundo cheio de perigos. Ela não têm informação da morada do Senhor, a qual é eterna e plenamente bem aventurada, sendo livre de qualquer vestígio de calamidades.

Este mundo material é comparado a um oceano turbulento, o qual deve ser cruzado o mais rápido possível. A conclusão é que, enquanto estivermos neste oceano, sempre estaremos numa posição perigosa, à mercê das ondas violentas. Mesmo que estejamos num grande e resistente barco, a qualquer momento poderá surgir um imprevisto e teremos que nos deparar com as situações mais adversas. Por isso, a nossa única preocupação deveria ser como atravessar o mais rápido possível este oceano de perigos. O Srimad-Bhagavatam explica que quem se refugia no Senhor está aceitando o barco mais adequado para cruzar o oceano da ignorância. Se uma pessoa aceita o abrigo dos pés de lótus do Senhor, ela poderá cruzar o oceano de existência material, assim como pode-se saltar facilmente as águas que ficam acumuladas nas covas criadas pelas pegadas de um bezerro. O destino final deve ser permanecer com o Senhor em Sua residência, que nada tem a ver com o lugar onde existe perigo à cada passo. Já que, enquanto estivermos neste mundo não poderemos evitar suas adversidades, devemos, então, com ou sem elas, cantar Hare Krishna e dedicar-nos ao desenvolvimento de nossa consciência de Krishna para retornarmos ao mundo espiritual, onde tudo é iluminado pela potência interna do Senhor.

Pérola 80. A LUTA DA ENTIDADE VIVA CONDICIONADA (versos 7 a 11)

7. As entidades vivas neste mundo condicionado são Minhas eternas partes fragmentárias. Por força da vida condicionada, elas empreendem árdua luta com os seis sentidos, entre os quais se inclui a mente.

8. Assim como o ar transporta os aromas, a entidade viva no mundo material leva de um corpo para outro suas diferentes concepções de vida. Com isso, ela aceita uma espécie de corpo e ao abandoná-lo volta a aceitar outro.

9. A entidade viva, aceitando esse outro corpo grosseiro, obtém um certo tipo de ouvido, olho, língua, nariz e sentido do tato, que se agrupam ao redor da mente. Ela então desfruta um conjunto específico de objetos dos sentidos.

10. Os tolos não conseguem compreender como a entidade viva pode abandonar seu corpo, nem conseguem entender a espécie de corpo que ela usufruirá sob o encanto dos modos da natureza. Mas aqueles cujos olhos estão treinados em conhecimento pode ver tudo isto.

11. Os transcendentalistas diligentes, que estão em auto-realização, podem ver tudo isto com bastante clareza. Mas aqueles cujas mentes não são desenvolvidas e que não estão situados em auto-realização não podem ver o que está acontecendo, mesmo que tentem.

Os filósofos impersonalistas acreditam erroneamente que ao alcançar a liberação, a alma individual irá se fundir no Supremo e perderá sua individualidade. Eles se confundem ao julgarem que a individualidade da alma é uma condição temporária e que só se manifesta na fase condicionada. Nesta passagem, portanto, o Senhor Krishna não apoia esta teoria inventada que acredita que a alma tenha se fragmentado num determinado momento de sua existência. Pelo contrário, o Senhor enfatiza aqui que a individualidade do ser vivo é eterna. O ser vivo é, portanto, uma parte fragmentária eterna do Senhor.

O oceano possui infinitas gotas d'água e todas estas gotas d'água são qualitativamente idênticas ao oceano. Similarmente, mesmo sendo uma parte integrante infinitesimal do Senhor, a entidade viva em seu estado original possui todas as Suas qualidades, só que em proporção infinitamente inferior. No entanto, ao abusar de sua independência parcial, a entidade viva acaba se transferindo ao mundo material e recebe um corpo temporário. Estando coberta, portanto, pelo ego falso, inteligência, mente e sentidos materiais, a entidade viva originalmente bem aventurada depara-se com uma situação de sofrimento artificial. Envolvendo-se com atividades materiais, a alma permanece sempre sujeita às reações materiais e se vê forçada a transmigrar interminavelmente de um corpo para outro. O corpo sutil é composto de mente, inteligência e ego falso e este corpo sutil detém as concepções que a entidade viva desenvolveu na sua vida e as transporta para o próximo corpo. Isto não significa que seu próximo corpo será necessariamente um corpo humano. Por exemplo, se a entidade viva adultera sua consciência com qualidades caninas ou felinas, certamente seu próximo corpo será de cão ou gato. Como já discutimos anteriormente, a consciência é um elemento originalmente puro, como a água. No entanto, se misturarmos alguma tintura na água, ela irá mudar de cor. A consciência original é absolutamente pura e é chamada de consciência de Krishna, mas, ao se misturar com certas qualidades materiais, ela sofre uma transformação. Devido à consciência transformada, irá manifestar-se com um certo tipo de mentalidade material, o que vai resultar num corpo material que se coadune com seu estado específico de consciência. Ao dedicar-se ao estudo profundo do Bhagavad-gita e submeter-se a um treinamento sob a guia do mestre espiritual, uma pessoa pode entender completamente estes fenômenos. Mas uma pessoa comum, sem treinamento espiritual, não pode compreender como a alma abandona o corpo e qual será o corpo que ela irá obter na próxima vida.

Pérola 81. A PRESENÇA TODO-ABRANGENTE DO ABSOLUTO (versos 12 a 15)

12. O esplendor do Sol, que dissipa a escuridão de todo esse mundo, vem de Mim. O esplendor da Lua e o esplendor do fogo também vêm de Mim.

13. Eu entro em cada planeta, e por intermédio de Minha energia eles permanecem em órbita. Eu Me torno a Lua e desse modo forneço o suco da vida a todos os vegetais.

14. Nos corpos de todas as entidades vivas, Eu sou o fogo da digestão e Me uno ao ar vital, que sai e que entra, para digerir as quatro espécies de alimentos.

15. Estou situado nos corações de todos, e é de Mim que vêm a lembrança, o conhecimento e o esquecimento. Através de todos os Vedas, é a Mim que se deve conhecer. Na verdade, sou o compilador do Vedanta e sou aquele que conhece os Vedas.

Mesmo que tenha uma boa visão, uma pessoa não poderá enxergar nada se ela estiver num lugar escuro. A ignorância é comparada à escuridão e conhecimento à luz, de modo que, como discutimos nos versos anteriores, a pessoa precisa ser treinada em conhecimento espiritual para poder enxergar as coisas como elas são. Uma pessoa que tenha se submetido ao treinamento adequado por um mestre espiritual autêntico pode compreender que tudo vem da Suprema Personalidade de Deus.

O sol ilumina todo o Universo e devemos compreender que a luz do Sol deve-se à refulgência espiritual que emana do Senhor. A Lua é a responsável por nutrir os alimentos e torná-los saborosos e suculentos, além de distribuir seu brilho agradável a todos. Portanto, a Lua é uma das manifestações da bondade do Senhor. O elemento fogo tem uma importância fundamental para a sociedade humana. É somente devido a ele que podemos preparar alimentos cozidos e podemos fabricar tantas utilidades para o nosso desenvolvimento progressivo. Já que ninguém poderia viver sem a ajuda do Sol, da Lua ou do fogo, devemos refletir e compreender que sem a misericórdia do Senhor não poderíamos sequer nos manter vivos.

Como a Superalma localizada, o Senhor penetra todos os átomos, todas as entidades vivas, todos os planetas e, finalmente, todos os universos. Tudo é sustentado unicamente devido a presença do Senhor em tudo. Assim como um corpo específico é mantido e sustentado pela presença da alma individual, todos os diferentes planetas também podem flutuar e permanecer em órbita unicamente devido à presença do Senhor. Sob a ação de Sua força e energia, todas as coisas móveis e inertes permanecem em seus devidos lugares. Segundo as escrituras ayur-védicas, existe um fogo no nosso estômago que é o responsável por digerir os alimentos. Como o bom funcionamento do aparelho digestivo é considerado o principal fator que determina a saúde, devemos compreender que sem a ajuda do Senhor, não poderíamos estar desfrutando da vida. Existem quatro tipos de alimentos – aqueles que são sorvidos, aqueles que são mastigados, aqueles que são lambidos e outros que são chupados. De qualquer modo, o Senhor é o responsável por digerir todos estes alimentos e por transformá-los em força vital. Com o propósito de nos iluminar em conhecimento perfeito, diferentes textos védicos apresentam elaboradamente cada um destes temas para dar ênfase no desenvolvimento espiritual gradual. Devemos ser conscientes também que os próprios Vedas são a manifestação do Senhor na forma do conhecimento perfeito. Nos Upanishads se afirma que todos os quatro Vedas – Rig Veda, Yajur Veda, Sama Veda e Atharva Veda – emanam da respiração da grandiosa Personalidade de Deus. Portanto, além de Se converter nos próprios Vedas, o Senhor, sob Sua encarnação como Vyasadeva, torna-Se também o compilador dos Vedas. Sabemos que depois de compilar o Vedanta-sutra, Vyasadeva pôs-se a escrever um comentário sobre esta obra, conhecido como Srimad-Bhagavatam. De modo que, além de compilador, o Senhor é o único verdadeiro conhecedor dos Vedas. Ele está dentro de todos os seres vivos como a Superalma onipresente e está sempre dando orientações para todos, além de testemunhar os trabalhos de todos. Como esquece de tudo o que aprendeu na vida passada, o ser vivo recebe internamente do Senhor o conhecimento necessário para reiniciar suas atividades a partir do ponto onde ele atingira na vida passada. Assim, além de sofrer ou gozar neste mundo conforme o que lhe é imposto pelo Senhor, todos recebem a oportunidade de compreender os Vedas. Caso uma pessoa leve a sério o conhecimento védico, o Senhor internamente a ajudará, dando-lhe a inteligência necessária para que tal pessoa possa compreender os temas transcendentais védicos. Aqui se afirma também que o propósito de se estudar os Vedas é compreender a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krishna. O estudo do Bhagavad-gita nos leva a esta compreensão. Podemos concluir que o Bhagavad-gita é a literatura que apresenta a essência de todo o conhecimento védico, pois ele é apresentado diretamente pelo próprio Senhor, o qual nos deixa claro que a função principal dos Vedas é elevar o estudante védico ao serviço devocional amoroso à Sri Krishna, a Suprema Personalidade de Deus.

Pérola 82. A PESSOA SUPREMA (versos 16 a 20)

16. Há duas classes de seres, os falíveis e infalíveis. No mundo material, toda entidade viva é falível, e no mundo espiritual, toda entidade viva se chama infalível.

17. Além desses dois, há também a maior personalidade viva, a Alma Suprema, o próprio Senhor imperecível, que entrou nos três mundos e os mantém.

18. Porque sou transcendental, situado além do falível e do infalível, e porque sou o maior, sou celebrado tanto no mundo quanto nos Vedas como essa Pessoa Suprema.

19. Quem quer que, sem duvidar, conheça-me como a Suprema Personalidade de Deus, é o conhecedor de tudo. Ele, portanto, se ocupa em pleno serviço devocional a Mim, ó filho de Bharata.

20. Esta é a parte mais confidencial das escrituras védicas, ó pessoa impoluta, e está sendo revelada por Mim. Quem quer que compreenda isto se tornará sábio, e seus esforços redundarão em perfeição.

Podem-se dividir as inúmeras entidades vivas em duas categorias – as falíveis e as infalíveis. As entidades vivas falíveis são aquelas que entraram em contato com a energia material e, como foi falado anteriormente, estão deparando-se com uma luta inglória, munidas dos cinco sentidos e a mente. No entanto, aqueles que permanecem unidos com a Suprema Personalidade de Deus são chamados infalíveis. Permanecer unido com o Senhor significa manter-se espontaneamente ocupado no serviço do Senhor com amor e devoção. A base desta união amorosa, portanto, é o amor puro que existe eternamente entre o ser vivo e o Senhor. Os filósofos impersonalistas não conseguem compreender este tema, o qual é considerado por todas as escrituras védicas como o mais confidencial. Estes filósofos mal informados não conseguem compreender que esta união com o Senhor não elimina a existência da personalidade. Eles pensam erroneamente que, para unir-se com o Senhor, a entidade viva precisa necessariamente eliminar seu ego. Até certo ponto, eles estão certos, pois, por tratar-se de um relacionamento imaculado, é evidente que o relacionamento entre o ser vivo individual e o Senhor é absolutamente desprovido de ego material. O que eles não podem compreender é que, através de bhakti, ou serviço devocional, duas coisas maravilhosas ocorrem simultaneamente. Por um lado, através de bhakti experimentamos a eliminação completa do ego material impuro – o ego falso que nos força a identificar-nos com o corpo material temporário. E, por outro lado, manifestamos o ego espiritual puro – o ego que nos enche de conhecimento pleno, eternidade e bem-aventurança. Este ego espiritual é a condição da própria alma em seu estado puro original – uma alma eternamente devotada ao serviço amoroso do Senhor. A conclusão é que devemos compreender que esta união amorosa entre o ser vivo e o Senhor só se torna possível através de um relacionamento interpessoal transcendental. Esta é a essência de bhakti, e é considerado o mais secreto de todos os conhecimentos. A compreensão do aspecto impessoal de Deus é a primeira percepção espiritual. Certamente, tal percepção também é importante, mas devemos estar certos de que, se simplesmente nos limitarmos a compreender que tudo que existe não passa de uma energia divina de Deus, estaremos ainda munidos de um conhecimento parcial e incompleto. Progredindo ainda mais, existe o estágio onde se realiza o segundo aspecto do Senhor, a Superalma localizada. Neste estágio pode-se realizar a presença do Senhor em todo e qualquer átomo e passa-se a buscar um relacionamento com Ele internamente no coração, através da yoga e da meditação. Depois deste grande passo no despertar da consciência de Deus, devemos prosseguir ainda mais para podermos alcançar a percepção máxima, a percepção acerca da Pessoa Suprema, a Personalidade de Deus. Desse modo, o conhecedor imperfeito satisfaz-se simplesmente com a compreensão de que tudo é energia de Deus ou, no máximo, de que o Senhor é tão poderoso que está presente no coração de todos como a Superalma. Aqui, portanto, se afirma que o conhecedor de tudo conhece o Senhor como a Pessoa Transcendental Suprema e dedica toda a sua energia a prestar-Lhe serviço amoroso, ouvindo, cantando, lembrando, oferecendo preces, servindo os pés de lótus do Senhor e adorando-O como um servo completamente rendido. Esta atitude de serviço devocional, faz com que tal devoto se livre completamente de toda contaminação material, tornando-se automaticamente perfeito.

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