Apurando a Compreensão do Mal
Dezembro 2023

Estimado (a) Condiscípulo (a)

Nos nossos recentes seminários de Boa Vontade Mundial, realizados em Genebra, Londres e Nova Iorque, considerou-se a crise de discriminação que a humanidade enfrenta como consequência das tecnologias emergentes. Da Biologia Sintética à Inteligência Artificial, a preocupação aumentou, particularmente sobre a possível perda do controle humano e do livre arbítrio. No entanto, todas estas crises crescentes podem servir para revelar valores subjacentes e desenvolver ainda mais a “percepção discriminatória entre o bem e o mal ou entre a espiritualidade e o materialismo” tão necessária para “vedar a porta onde mora o mal”.

Qual é a nossa compreensão do mal, planetário e cósmico, e por que o primeiro deve ser transmutado através de uma vida pura e ética, enquanto o segundo deve ser vedado atrás de “uma porta”? Dizem-nos que o mal planetário é a “tendência inata ao egoísmo e à separação inerente à substância do nosso planeta”, uma tendência que pode ser transmutada através da Ciência da Redenção. No entanto, o mal cósmico é uma corrente de força que a humanidade nunca deveria enfrentar, e “se expressa principalmente através de pensamentos errôneos, valores falsos e o mal supremo do egoísmo materialista e do sentimento de isolamento separatista”.

Não é tão fácil distinguir entre estes dois tipos de mal, uma vez que egoísmo e separatismo são termos usados para definir ambos. No entanto, é importante notar que o mal cósmico tem uma intensidade que ressoa mais profundamente com o polo negativo do par universal de opostos de espírito e matéria. O mal cósmico é expresso de uma forma menos pessoal do que o “egoísmo” humano do mal planetário, através de uma visão grupal absorvente, mas profundamente materialista. Promove o sentido humano de “separação” que constitui o mal planetário com um sentido de propósito e glória grupal separatista. Uma analogia pictórica poderia ser encontrada na maneira como a mente inferior e separatista contempla uma estrela que brilha com esplendor isolado enquanto gira sobre si mesma na escuridão do espaço, enquanto a mente superior, sintetizadora, contempla algo completamente diferente:

“Levanta a cabeça, ó Lanu! vês uma luz ou luzes inumeráveis por cima de ti, brilhando no céu negro da meia-noite?

"Eu percebo uma Chama, ó Gurudeva! Vejo milhares de centelhas não destacadas, que nela brilham.” (1)

Ao contrário do mal planetário, alimentado por desejos equivocados e muitas vezes expresso através de um comportamento humano “sujo e vil”, o mal cósmico é puro e disciplinado na sua visão materialista, uma visão que pode parecer agir no interesse daquilo que é correto e bom, no interesse de muitos. Um exemplo disto encontra-se na vida política de Otto von Bismarck, a quem se atribui a fundação do primeiro estado de bem-estar social numa sociedade industrial moderna. Nas palavras da Enciclopédia Britânica, Bismarck “perseguiu ativa e habilmente políticas pacíficas nos assuntos externos, conseguindo preservar a paz na Europa durante cerca de duas décadas” (2). Embora os historiadores geralmente elogiem Bismarck como “um visionário”, as suas políticas internas autocráticas cultivaram um tipo de nacionalismo feroz que se enraizou na cultura alemã e culminou em duas guerras mundiais.

Os estudantes da Escola podem encontrar uma comparação altamente educacional em termos da natureza do bem e do mal na vida política de Otto von Bismark e na de Abraham Lincoln. Segundo o Tibetano, ambos eram avatares raciais: “Lincoln, que emergiu da própria alma do povo”, Bismark, “que, correspondentemente, emergiu do reino do mal cósmico e é responsável pelo foco do materialismo no planeta atual. ... Ambos surgiram no mesmo século, demonstrando assim o equilíbrio da natureza e a constante interação de pares de opostos” (3).

No mundo confuso de hoje, figuras fortes e carismáticas ainda podem influenciar enormemente os assuntos nacionais e internacionais, ao longo das linhas do pensamento materialista que Bismarck promulgou. Além disso, o avanço intelectual da ciência e da tecnologia em direção a uma visão social que não tem consciência de um Plano Divino ou de um governo espiritual interior do mundo carece do poder invocativo necessário para evocar o reaparecimento do Cristo e vedar a porta onde mora o mal. Portanto, a situação que inicialmente permitiu que a porta onde mora o mal fosse aberta permanece sem solução:

“... mas com a chegada de um grandemente aumentado desenvolvimento mental, com o repúdio da Hierarquia pela massa da humanidade e com a prostituição da religião para fins materiais e estreitos dogmas teológicos e mentais, a Hierarquia foi forçada (muito contra a sua vontade) a remover alguma parte de seu poder protetor (embora não todo ele, felizmente para a humanidade).” (4)

O fomento de uma visão materialista e científica que ignora as verdades superiores está impedindo o estabelecimento de uma nova religião mundial baseada na ciência de invocação e evocação. O atual despertar espiritual que está ocorrendo em grande parte da população precisa fazer um chamado de invocação intenso e determinado que alcance as Vidas espirituais na Hierarquia e em Shamballa que aguardam para responder. Neste momento, há uma necessidade esmagadora de uma nova ciência da religião, para que “o propósito que os Mestres conhecem e a que servem” possa “guiar as pequenas vontades dos homens”, como diz a Grande Invocação. Enquanto isso, somos informados de que, através da ciência de invocação e evocação, os discípulos podem “usar os impulsos dos ignorantes e os anseios superiores (ainda incipientes) das multidões... de um modo invocativo, ... e, desse modo, gerar uma energia suficientemente forte para provocar um verdadeiro impacto e uma impressão definida nos Seres e Vidas que se encontram em níveis mais elevados que aqueles dos três mundos.” (5)

Além disso, o Tibetano explica:

“A Ciência de Invocação e Evocação – que incorpora a técnica de interação dentro da própria Hierarquia, até certo ponto entre Shamballa e a Hierarquia, e numa extensão crescente entre a Humanidade e a Hierarquia – baseia-se inteiramente num sentido de relação. Portanto, apenas um certo nível de Vidas conscientes pode invocar Shamballa e evocar resposta, e isto porque Eles próprios desenvolveram alguns dos aspectos daquele tipo de compreensão mental que é a expressão hierárquica da Mente Universal. A conversa leve e fútil de certos escritores e pensadores sobre a consciência cósmica, e seu uso irreverente de frases como "sintonizar-se com o Infinito" ou "acessar a Mente Universal" servem apenas para mostrar quão pouco se sabe, na realidade, sobre as respostas e as reações daqueles de alto nível iniciado ou daqueles nos níveis mais altos da Vida hierárquica.” (6)

Claramente, os estudantes esotéricos que têm um “senso de relacionamento” com as Grandes Vidas da Hierarquia Espiritual e um conhecimento de invocação e evocação têm uma responsabilidade considerável. A Meditação Reflexiva sobre a Preparação para o Reaparecimento do Cristo proporciona aos estudantes esotéricos uma das invocações mais poderosas que podem ser feitas para satisfazer esta necessidade. As cartas recentes da Escola, bem como a carta de outono de Lucis Trust, foram enviadas com o objetivo de incentivar os estudantes e amigos de trabalho a reimaginar (*) como o reaparecimento de Cristo poderia ocorrer nesta era científica e tecnológica, uma era que, de outra forma, está ocupada e em grande parte ignorante do “problema atual do mal e… do poderoso domínio que o aspecto material tem sobre o espiritual”.

O objetivo desta carta é rever a nossa compreensão da natureza do mal, para podermos enunciar de forma mais compreensível o mandato da Grande Invocação para “vedar a porta onde mora o mal”. A antiga representação do mal personificado como uma besta com chifres não ocupa mais a mente moderna. Mas, seja na forma antiga ou moderna, o mal pode ser substituído pelo desenvolvimento de uma apreciação científica das forças conscientes do espírito e da matéria que atuam em todos os reinos da natureza. Em Um Tratado sobre o Fogo Cósmico, escrito como “um guia para os iniciados do mundo”, (7) aprendemos que, no longo prazo, até mesmo o mal cósmico pode ajudar a alcançar os objetivos do Logos, embora de uma forma muito mais extrema e dolorosa para a humanidade. O controle que as forças da matéria têm sobre as forças do espírito é o resultado de uma gigantesca forma mental que paira sobre a humanidade, “um produto da ignorância e do egoísmo do homem”. Ironicamente, em última análise, uma das maneiras pelas quais esta forma-pensamento pode ser destruída é “mantendo-a viva e vitalizada” até o ponto de cristalização. Isso ocorre através de:

“... pela encorajadora atenção dos Irmãos das Sombras, e dos representantes daquilo que pode ser chamado o “mal cósmico”, aqueles que (sob o carma da família humana, o quarto reino, nesta quarta ronda) assumem tremendas responsabilidades, tornando possível a vitalização secundária do pensamento-forma e produzindo condições tão terríveis que, de acordo com a lei, trazem a cristalização e a seguir, como consequência, a destruição final. Aconselha-se que os estudantes ampliem seu conceito sobre o propósito do mal e o lugar que as forças do mal ocupam no esquema geral.” (8)

Que a profundidade da nossa compreensão ajude a invocar a Luz, o Amor e o Poder Espiritual necessários para limpar o Caminho para a Vinda do Cristo. Trabalhamos juntos para atingir esse objetivo.

Em espírito de relacionamento grupal.

Grupo da Sede
ARCANE SCHOOL
Escola Arcana

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1. H.P. Blavatsky, A Doutrina Secreta Tomo I. p. 145.
2. Encyclopedia Britannica https://www.britannica.com/biographv/Otto-von-Bismarck
3. A Exteriorização da Hierarquia, págs. 297-8
4. Os Raios e as Iniciações, pág. 753
5. Telepatia e o Veículo Etérico, pág. 114
6. Idem, págs. 71-2.
7. Psicologia Esotérica, T. I, pág. xxi
8. Um Tratado sobre o Fogo Cósmico, pág. 949
(*) Reimaginar: trabalhar em conjunto para criar futuros compartilhados de algo que já tinha sido mentalmente criado. (Nota EE)

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