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A HIERARQUIA, OS ANJOS SOLARES E A HUMANIDADE


Capítulo V

VIDA E TRABALHO NO ASHRAM

Funções do Ashram

A grande quantidade de métodos para o desenvolvimento espiritual que pode ser constatada atualmente e desde há quase um século, proporcionados principalmente pelas escolas esotéricas e filosóficas do mundo, é um claro indício da importância dos Ashrams nesta Era de transição que estamos vivendo. Independente da qualidade e das características dos sistemas empregados para o desenvolvimento espiritual dos aspirantes do mundo, é preciso reconhecer, em linhas gerais, que todo o processo de desenvolvimento interior e todas as técnicas específicas de treinamento para esse desenvolvimento obedecem, sem distinção alguma, a uma grande necessidade mundial de estímulo e de ajuda superiores. Existe um grande clamor invocativo que se eleva "das pequenas vontades dos homens" para as Alturas, pedindo angustiadamente um alívio divino para as grandes necessidades humanas. Esse clamor pode ser ouvido por Aqueles que são responsáveis diretos pelo Plano de Perfeição do mundo e que, a partir de regiões elevadas acima da concepção humana, dirigem inteligentemente o progresso evolutivo da Raça.

Como dissemos anteriormente, desde o início dos tempos, a Lei oculta de Fraternidade que emana do Coração da Divindade tem intervindo no desenvolvimento evolutivo do planeta, desde o Reino Mineral até o Reino Humano, passando pelos Reinos subumanos. O processo, iniciado em tempos remotíssimos, segue um curso imutável e atualmente, em sua fase principal, tende a converter o homem em uma individualidade divina plenamente consciente de todos os seus poderes e faculdades superiores. Essa fase, na qual unidades avançadas da Raça dos Homens e membros conscientes da Grande Fraternidade Branca intervêm ativamente, é definitiva no que se refere à Humanidade como um todo porque todo ser humano que consegue ser admitido nessa Fraternidade oculta e é capaz de penetrar em Seus profundos segredos converte-se automaticamente em um servidor consciente do Plano Planetário e em um vínculo de relação entre os seres humanos capazes de pensar e sentir corretamente e Aqueles Grandes Seres que cooperam inteligentemente com a Divindade no desenvolvimento do processo evolutivo da Natureza.

Essa grande Lei de vinculação fraternal que permite a continuidade desse desenvolvimento encontra seu principal ponto de aplicação nos discípulos mundiais. Não buscamos estabelecer uma hierarquia distinta dentro da Humanidade ao mencionar reiteradamente os discípulos, mas sim salientar um fato na Natureza que todo homem corretamente orientado obrigatoriamente deve considerar um dia. A existência dos discípulos e a sua incorporação no trabalho ativo de vinculação pressupõem um sistema de relação universal que abrange a vastidão infinita da criação.

No estudo que faremos sobre os discípulos do Ashram, a palavra "vinculação" sempre terá uma relação com a analogia universal.

A função dos Ashrams é precisamente a de estabelecer esse fim vinculativo. Esse é o propósito do Divino de aproximar-Se dos homens e partilhar com eles o Segredo transcendente de Sua própria Vida. A "vinculação" como lei da Natureza tem relação direta com os mistérios Sagrados da Divindade.

Os laços de vinculação familiares e sociais fazem parte dessa intenção de Deus de aproximação ao homem. Essa vinculação é ainda mais profunda e vívida quando se refere aos discípulos e à Lei de Atração que os reúne no Coração do Mestre e no retiro silencioso de um Ashram. Os Ashrams são os vestíbulos da Casa do Pai aos quais os tratados místicos se referem. Esses vestíbulos têm também o nome "Escolas de Sabedoria", supondo-se que todo discípulo que tenha chegado até lá está preparado para dar o passo transcendente que vai do humano ao divino. A vinculação dos discípulos à sua própria Alma Solar e ao Mestre, que é Mentor do Ashram, pressupõe uma aproximação à Hierarquia Planetária e, portanto, ao grande Plano de Perfeição do mundo.

Todos esses conceitos são consubstanciais e constituem como que elos da mesma corrente que abrange e vincula todos os reinos da Natureza, todos os planos de evolução, todas as raças, homens e continentes. A compreensão do alcance universal dessa séria ininterrupta de vinculações é o que outorga a aproximação a um Ashram.

Trabalhar dessa forma pressupõe um amplo sentido de orientação espiritual e o ponto de partida para a grande aventura da busca. Essa busca inicia-se com as simples, porém sinceras, práticas de boa vontade e avança etapa por etapa até culminar no grande Mistério que a Iniciação revela. Esse Mistério principal é, na realidade, um conjunto de mistérios menores, do mesmo modo que um discurso eloquente é um conjunto de palavras e frases. No processo de vinculação, o mistério mais acessível aos homens é o desenvolvimento da boa vontade. Esse é o motivo para a ênfase no trabalho vinculativo do Novo Grupo de Servidores Mundiais cujo objetivo imediato, no que se refere aos homens comuns, é o desenvolvimento da consciência humana realmente social, fundamentada nas simples práticas de relações corretas.

Quando, inspirada pelo desejo do bem, a boa vontade faz-se inteligente no sentido de ser focalizada e dirigida apropriadamente - como no caso dos discípulos mundiais -, abre-se o caminho que conduz ao Mistério Universal latente em nosso interior. Começamos a ser eficazes no contexto do Trabalho ativo da Hierarquia, que já pode nos utilizar, quer o saibamos quer não, no desenvolvimento de uma parte específica de seu Trabalho no mundo.

O Interior de um Ashram

O interior de um Ashram, assim como o interior de qualquer pessoa, tem zonas que, por suas características especiais, têm que permanecer obrigatoriamente secretas e ocultas para o mundo profano, já que constituem seu sancta santorum. Desse lugar secreto, ou coração místico do Ashram, emergem a luz e a vitalidade, a inspiração e as iniciativas do discípulo consciente. Esse centro é realmente esotérico e, falando especificamente, corresponde não somente às batidas do Coração do Sol, como a Alma ou expressão consciente e sensível do nosso Universo é definida ocultamente, como também às energias que emanam daquele Centro ainda mais elevado e profundo que esotericamente chamamos "O Grande Sol Central Espiritual".

Essa relação ou vinculação é de ordem transcendente e realmente impossível de ser explicada racionalmente, mas devo dizer que, uma vez que se tenha tornado consciente na mente e no coração de um discípulo, é um Mistério revelado, a expressão de uma parte do Propósito da Divindade expressa naquilo que tecnicamente chamamos Iniciação.

A "interioridade de um Ashram" tem a ver com certas atividades da Hierarquia, regidas por um Alento superior ao que governa os trabalhos comuns ou mais conhecidos, como a identificação de certos Mestres com determinadas tarefas de ordem mundial, sejam de tipo social, econômico, religioso, cultural, político etc., e que são realizadas através de seus vários discípulos no mundo, membros de Seus respectivos Ashrams, ou através de alguns discípulos ou aspirantes espirituais pertencentes ao Novo Grupo de Servidores Mundiais.

A "interioridade de um Ashram" em muito ultrapassa o campo conceitual da mente concreta da média geral dos aspirantes espirituais, comumentemente imersa em intrincadas perguntas acerca de seus destinos particulares e profundamente preocupada com seus karmas pessoais. Refere-se concretamente à relação do Ashram com Shamballa, "O Centro onde a Vontade de Deus é conhecida".

Essas considerações talvez pareçam excessivamente elevadas para os que estudaram esoterismo ou teosofia, contudo devemos lembrá-los da grande afirmação esotérica com que todos estamos familiarizados: "A Hierarquia é o Ashram de Sanat Kumara." O que essa afirmação quer dizer? Simplesmente que "os sete e os quarenta e nove Ashrams da Hierarquia" a que os tratados ocultos se referem, ou seja, os sete Ashrams principais a cargo dos Sete Chohans ou Senhores de Raio e os sete Ashrams que dependem diretamente de cada um desses sete Ashrams principais, constituem a imensa "Escola de Sabedoria" onde atuam incessantemente a Vontade, o Propósito e a Vida de Sanat Kumara, o Grande Senhor Planetário.

A Atuação das Energias de Shamballa sobre os Ashrams

A pressão de Shamballa, Centro de Irradiação e Morada do Senhor do Mundo, sobre os diversos Ashrams da Hierarquia, transmitida pelos Sete Grandes Senhores de Raio e canalizada para o nosso planeta através dos diversos Mestres de Sabedoria, cada qual em Sua própria linha de Raio, chega paulatinamente, seguindo a lei natural ou hierárquica da "própria medida" ou grau de absorção, para todos os discípulos componentes de cada um dos quarenta e nove Ashrams da Hierarquia e para todos os grupos de atividade ou de serviço ashrâmico distribuídos pelo mundo. A parte dessa imensa energia ígnea de Shamballa, ou melhor explicando, a parte da Vontade Dinâmica e Propósito do Senhor do Mundo que os membros ou discípulos de um Ashram sejam capazes de receber, suportar e converter em motivos de ação correta ou de serviço criador, de fato constitui sua participação consciente e imediata no destino iniciático, ou de perfeição da Humanidade, que cada qual deve cumprir e realizar em sua própria vida.

Portanto "a interioridade de um Ashram" é muito mais extensa e profunda do que parece numa primeira visão, pois compreende fatores e circunstâncias que, por sua elevada transcendência, fogem à investigação e comprovação mais sagazes. Isso em grande parte explicará por que sempre me refiro "unicamente" ao meu Ashram e deixo as profundas implicações do que não me é possível revelar a cargo da capacidade intuitiva dos leitores.

No entanto, já que isso está inteiramente dentro dos limites das minhas próprias experiências espirituais, posso afirmar que a potência elétrica que emana de Shamballa faz-se sentir profundamente dentro do Ashram, principalmente nas vésperas de grandes acontecimentos mundiais decisivos, e penetra intensamente nas mentes e corações dos discípulos e Iniciados que o compõem. Naturalmente não posso entrar em detalhes de como essa força ou potência de Shamballa é recebida e canalizada pelo Mestre do Ashram e depois distribuída, "de acordo com o merecimento", para todos os membros do Ashram, mas devo dizer que o impacto de Shamballa produz uma aceleração notável e manifesta do ritmo normal e corrente da vida do Ashram, com profundas tensões na vida psicológica dos diversos membros e, consequentemente, grandes crises e dificuldades em suas vidas pessoais que os obrigam a esforços constantes e reiterados de equilíbrio e reajuste. Do mesmo modo, a potência extraordinária de Shamballa, incidindo na vida de um discípulo é responsável pelas energias do Fogo Elétrico que determinam e promovem o processo da Iniciação, com suas imensas possibilidades e oportunidades.

Não obstante sua elevada transcendência, o Centro de Shamballa, que, para a maioria parece algo misteriosamente longínquo, realmente não o é, se nos ativermos às regras lógicas da analogia hermética sob as quais todo Centro Planetário, por elevado que seja, tem sua correspondência no homem. Assim, no que se refere à atividade humana, Shamballa tem sua correspondência microcósmica na vontade individual, qualificando-a com certos elementos dinâmicos de vida que se expressam como intenção de permanência vital, desejo de ser e propósito de realização espiritual. Quando falarmos de certos eventos objetivos relacionados com o Ashram de Segundo Raio que tomamos como exemplo, uma ou outra vez nos referiremos a Shamballa, esse Centro máximo de tensão espiritual do planeta, do mesmo modo que, quando tratarmos de definir certos fatos ou circunstâncias da vida psicológica do homem, consideraremos consubstancial e indissoluvelmente os três aspectos que formam a consciência, ou seja, a vontade, o amor e a inteligência. A analogia, uma Lei fundamental do nosso Universo, é, portanto, correta no caso especial a que nos dedicamos, e devo dizer claramente que Shamballa, Morada do Senhor do Mundo, em sua elevada transcendência, é o Centro da Vontade de Deus, assim como a Hierarquia Planetária constitui o Centro de seu Amor infinito pela Humanidade como um, todo, o Centro pelo qual Deus expressa Sua energia mental, inteligente e criadora.

Sem poder entrar em muitos detalhes sobre Shamballa, que, para os discípulos e mesmo para os Iniciados, é "o lugar mais secreto" de suas pesquisas e de sua busca espiritual, deverei mencionar esse Centro com muita frequência para esclarecer certos pontos. como, por exemplo, os que dizem respeito ao "Fogo Elétrico" da Iniciação, cuja natureza logoica ou divina constitui a inspiração máxima e o supremo ponto de atenção de todos aqueles que, firme e sinceramente, querem transformar suas vidas espiritualmente. A experiência iniciática pode ser descrita como "a transformação espiritual do homem pela ação do Fogo Elétrico".

O Ashram e os Mistérios

Devemos dizer, atendo-nos às regras sagradas da Sabedoria Hermética, que são leis indubitáveis para o discípulo, que a missão principal de um Ashram é o restabelecimento dos Mistérios Sagrados da Divindade, devendo-se entender objetivamente por Mistério o Poder celestial progressivamente revelado no homem. Esse é o maior dos poderes, o que fez Cristo exclamar "Buscai primeiro o Reino de Deus...", o Reino que está além e acima de todas as qualidades e faculdades que o homem possa desenvolver.

A riqueza, símbolo de poder em todos os planos de desenvolvimento desta entidade que chamamos homem, tem apenas um valor muito relativo e circunstancial. As grandes posses materiais, as grandes conquistas intelectuais, as fortes emoções de idealismo criador, as faculdades psíquicas mais desenvolvidas etc., são coisas inerentes aos veículos de manifestação da Alma, seus reflexos nos três mundos, porém, a menos que estejam apoiadas numa sólida base de intenção correta e de propósitos sinceros de vida (as verdadeiras chaves do Reino), essas riquezas serão somente um lastro que impedirá que a Alma do aspirante se reintegre e goze do privilégio de um Mistério revelado.

O símbolo evidente de um Mistério é visto na Natureza, em suas manifestações cíclicas e harmônicas. Do mesmo modo que os antigos templos iniciáticos adotavam o sistema cíclico e natural em seus ensinamentos e consideravam o corpo humano como símbolo supremo do Universo, o homem, cujo corpo, pela Graça Divina, é um "Continente de Mistérios", deve habituar-se a refletir em si mesmo e em suas relações a harmonia e o equilíbrio da Natureza. Consequentemente, a expressão habitual e mais significativa de um Iniciado, ou seja, de Alguém que tenha acumulado em Si próprio a expressão de um Mistério Universal, é a Contemplação. Contemplar é reproduzir por similaridade a magnitude divina daquilo que a Natureza revela.

Sendo assim, uma das práticas assíduas no Ashram é a técnica da contemplação. O Mestre a define como "prática sagrada de contato" e define sua expressão mais concreta, a que se encontra na base de muitas vidas humanas, místicas, filosóficas e esotéricas, como "expectativa serena". No que se refere aos aspirantes comuns, as primeiras fases da expectativa serena são constituídas pelo silêncio - silêncio de palavras, silêncio de desejos e silêncio de pensamentos.

Assim, a base de um Mistério sempre repousa nas normas clássicas de purificação: simplicidade mental, pureza de coração, humildade sincera, humanidade primorosa.

Nesse sentido, não têm muito valor os grandes alardes intelectuais ou técnicas que o vulgo considera "privilegiadas", ou as grandes posses materiais cujo poder a maioria dos homens disputa. O Mistério está infinitamente além dessas coisas; é a Luz que vem do Alto, o Poder que renova, "o Grito Longínquo" que ressoa somente no coração dos que muito sofreram e experimentaram. E, apesar de tudo isso, o Mistério está aqui, no mais imediato, presente em tudo que existe e na expressão de toda característica humana. A respeito dessa questão, um dia o Mestre nos disse: "Não há que se buscar o Mistério ou conjunto de Mistérios como uma conquista humana, mas sim como uma herança divina.

Deixai, pois, que o Mistério se faça carne em vós, deixai de lhe oferecer resistência. Com isso, quero dizer-vos que não deveis tratar de viver em Cristo, à maneira tradicional, mas que Cristo viva em vós. Não invertais termos, pois esses confundem.

Definitivamente, o Mistério é vós próprios e, como o Mistério, que é a Vida de Deus, está também em todas as coisas, na exata medida que deixardes de vos opor aos fatos, pessoas, acontecimentos, estados de ânimo etc., do vosso interior, surgirá a glória do Mistério e derramar-se-á como uma benção sobre o mundo que vos rodeia."

Como veem, o Mestre nunca nos fala com palavras técnicas. "A técnica - disse-nos Ele - é somente um propósito de expressar Aquilo que nunca poderá expressar-se por meios técnicos. A técnica é de caráter fragmentário e, somente quando essa técnica é tão excelentemente depurada que fica reduzida ao símbolo ou ao axioma, Aquilo para o que toda a Natureza tende começa a ter certo significado mental como base de interpretações futuras. Sejais, portanto, parcimoniosos com palavras, para que vosso entendimento seja livre. Amai mais o silêncio do que as palavras, mais a parcimônia e a circunspecção do que a profusa variedade de conceitos e de tecnicismos vãos. Se assim o fizerdes, se educardes vosso entendimento na grande calma do silêncio, vossas palavras vindas do interior ou moldadas com a argila de tantos e tão variados comentários também terão o valor do Verbo."

As palavras do Mestre, que contêm sempre o Verbo Essencial do Espírito Santo que se verte no Cálice místico do Graal ou Cálice Sagrado, sempre entram no nosso coração por via direta. É a Voz da interpelação direta. É por esse motivo que cada membro do Ashram "escuta" o Mestre em sua própria língua, na língua nativa com que aprendeu a pensar. São palavras e vozes totalmente familiares que penetram profundamente em nossas mentes e gravam-se no cérebro físico com caracteres indeléveis. Eu particularmente "escuto" o Mestre em catalão, minha língua materna e, se bem que os conceitos emitidos pelo Mestre sempre contenham um tipo especial de ensinamento, o mais apropriado segundo a ordem cíclica ou astrológica do momento em que os emite, cada um de nós receberá em seu interior - sempre por via direta - o sentido mais idôneo e necessário para desenvolvimentos futuros.

Em sua acepção mística e esotérica, Verbo e Cálice são os símbolos da Alma do homem e de seus instrumentos de manifestação, os três corpos de expressão nos três mundos da evolução humana, ou seja, a mente concreta, o corpo de desejos e emoções e o veículo físico em suas diferentes densidades. No entanto, é óbvio que a maioria dos aspirantes mundiais sente-se mais atraída pelos ornamentos - mais ou menos vistosos - do Cálice e que dá maior importância ao Tabernáculo do que à Força Divina contida em Seu interior. Sendo assim, o Verbo fica confinado nas regiões sutis do entendimento como promessa de algo vago e remoto e raramente se demonstra como uma realidade viva e palpitante, presente em todos e cada um dos fatos da vida cotidiana. É desse modo que se perdem as grandes oportunidades da vida espiritual, ficando a expressão natural do discipulado circunscrita a regiões inacessíveis de sonho e fantasias.

A relação Verbo-Cálice, Espírito-Forma, Deus-Homem está sempre na base profunda dos Mistérios. O Mistério mais elevado é aquele em que esta consciência de dualidade desaparece e apenas a Unidade preside o eterno processo da Vida. No momento em que o Adorador e o Adorado se confundem em um só Corpo Místico de Realidade Universal, pode-se dizer que a plenitude do Mistério foi consumada no homem. Então, ainda existirá talvez uma Forma, um Corpo, uma Expressão, um Cálice ou Tabernáculo, contudo, essa Forma estará possuída e governada para sempre pelo Espírito de Deus.

Os símbolos do casamento místico da Igreja cristã, do Verbo e do Cálice, do Espírito e da Matéria, do Continente e do Conteúdo, do Adorador e do Amado, como todos os símbolos que expressam uma dualidade que busca sua unidade essencial em outro aspecto de dualidade distinta, são condições implícitas nos Mistérios, quer esses sejam de qualidade menor, própria dos aspirantes e discípulos em provação, ou de qualidade maior, como a que os verdadeiros Iniciados buscam e exteriorizam.

O discípulo sente pela primeira vez, um dia, no decorrer de sua vida evolutiva e na paz augusta e retiro sereno de um Ashram, a necessidade de invocar o poder do Fogo Criador de um Mistério como elemento de vinculação a todas as forças da Natureza. Então um caminho lhe é aberto, em que a mente concreta ou intelectual não lhe serve como outra coisa além de veículo de relação humana e de transmissora de verdades, isto é, como um instrumento de expansão dos Fogos menores. Não deve ser esquecido que o Fogo é o único agente de liberação de vida. Naturalmente não estamos nos referindo ao fogo físico, que só pode queimar ou liberar elementos materiais, mas ao Fogo Espiritual, do qual a eletricidade, tal como se conhece, é apenas um pequeno indício externo. Sempre sob a experiente direção do Mestre, o Fogo Espiritual é invocado somente em etapas de treinamento bem definidas em um Ashram. Por seu elevado poder vinculativo com a Vida da Divindade, esse Fogo permanece oculto, ainda em latência na imensa maioria dos seres humanos. Neles, o Fogo Espiritual é quase um ponto obscuro na noite da vida instintiva; nos aspirantes espirituais, é um indício, uma aurora que começa a surgir no horizonte escuro; no discípulo em provação, um estímulo que o impele para diante; no Discípulo Aceito, uma serpente que deve ser vencida e dominada e, no Iniciado, um Poder Universal progressivamente revelado através dos Mistérios. Contudo, todos esses graus de expressão do Fogo Criador, simbolicamente definidos, marcam indefectivelmente o Caminho da vida humana desde que se inicia como tal até a mais elevada culminação espiritual.

Sendo o Fogo o promotor universal da evolução, é óbvio que o segredo de sua energia constitui um dos ensinamentos avançados do Ashram e um positivo laço de união entre seus membros. Desse ponto de vista, o Mestre pode ser considerado como um Sol ígneo cujos raios, contendo os três Fogos, da Natureza, o Físico, o Solar e o Elétrico, penetram no coração do discípulo e avivam progressivamente o Fogo requerido em cada momento de sua vida, de acordo com estados de consciência definidos. A expressão mística do Fogo Espiritual produz o verdadeiro conhecimento e inclusive o ar está repleto de uma espécie particular de Fogo. É por meio deste que as formas de pensamento emitidas pelo homem têm poder adequado e positivo, quer sejam a favor ou contra os interesses evolutivos da Humanidade. Isso pode parecer misterioso ou talvez sem sentido, mas obedece a verdades que se manifestam constantemente ao nosso redor e em nossas vidas, graças ao mistério infinito da vinculação fraternal da qual a telepatia, em seus aspectos superiores, é um expoente elevado.

A Iniciação, essa grande meta do homem, é inexoravelmente regida pelo Poder do Fogo Elétrico. Quando diversos membros do Ashram presenciaram a Iniciação de um dos irmãos de grupo, foi visto claramente como os corpos sutis e seus centros de força eram como fagulhas e seu poder estendia-se para além do corpo mental em centelhas de um intenso branco azulado, enquanto que Aquele que é a Luz do Mundo mantinha o Cetro Iniciático sobre certos pontos do corpo causal.

Na vida do Ashram, aprende-se a controlar o poder dos Fogos, desde o pequeno fogo da vida pessoal até o Fogo Espiritual que converge dos Planos Superiores para o nosso Eu Superior. Não devemos esquecer que quem consegue controlar o Fogo Triplo pode controlar a própria Vida, pois todas as coisas criadas são vivificadas por Ele. As distintas gradações humanas determinam o ponto-chave sobre o qual uma qualidade específica de Fogo atua, ou o ponto em que esse Fogo está contido. O caminho desse Fogo através do homem determina o progresso evolutivo da Raça.

Todo discípulo em treinamento espiritual conhece essa verdade a respeito do Fogo e trata de convertê-la em lei de sua vida. Os Ashrams da Hierarquia, apesar de não serem geradores desse Fogo Universal, são os seus instrumentos apropriados de transmissão para a vida da humanidade. Um Ashram é uma representação reduzida, ainda que exata, da Hierarquia. O Mestre é um Centro de Fogo do Amor de Cristo e os membros do Ashram são uma expressão ígnea das constelações e do poder dos Raios. Cristo e Seus doze Discípulos, os Apóstolos, constituíam uma pequena congregação que trazia o Amor de Deus para a Humanidade. O Novo Grupo de Servidores Mundiais também é uma espécie de Ashram, por constituir um laço de união fraternal entre muitos homens e mulheres de boa vontade no mundo que pensam corretamente, que cuidam sinceramente de servir e que, por esses motivos, são também vínculos de relação entre a humanidade e a Hierarquia. Portanto, não é sem razão que a seleção dos membros de um Ashram seja feita entre os componentes avançados do Novo Grupo de Servidores Mundiais.

O processo de vinculação espiritual certamente é lento, ainda que seguro, e com grandes expansões universais do Fogo Criador invocado pelas poderosas irradiações da constelação de Aquário, que começa a fazer sentir sua pressão sobre a Terra. Seus efeitos tão drásticos e profundos muito brevemente se farão presentes, fazendo aparecer entre os filhos dos homens, "novas Testemunhas da Luz" que cooperarão na aceleração do desenvolvimento do Plano Evolutivo da Raça e depositarão o germe ígneo de uma Humanidade planetária nova e mais fraternal.

Apesar da tremenda pressão que a Humanidade tem que suportar atualmente, não devemos nos sentir abatidos.

Triunfando em todos os desequilíbrios, injustiças e arbitrariedades que possamos verificar por todos os lugares e, às vezes, também em nossas vidas, nunca esqueçamos que a grande Lei de vinculação fraternal que emana do Coração Solar continua atuando em nós e vai nos moldando incessantemente de acordo com aquele infinito Arquétipo de Perfeição que é nosso destino final como filhos dos homens e como centelhas ígneas do Grande Fogo Criador do Universo.

O Ashram e sua Analogia Universal

Em nenhum Ashram são perseguidas finalidades diferentes das determinadas pelo processo evolutivo nem são criados entendimentos ou expressões psíquicas extraordinários, como muitos pensam. Tudo se resume no Mistério e na Revelação, e é isso o que a Humanidade realmente busca em todos os seus esforços espirituais e sociais. O fato de alguns dos irmãos de grupo, dentro ou fora do Ashram, possuírem alguns desses poderes psíquicos tão valorizados pelas pessoas ou de acumularem conhecimentos concretos sobre a vida que fogem à capacidade técnica de alguns grandes especialistas mundiais, tem importância muito relativa ou nula no sistema esotérico. Pretende-se outro gênero de visão, de cultura e de comportamento. Embora não existam, devido à grande sensibilidade dos discípulos da atualidade, aquelas provas e disciplinas árduas a que os aspirantes do passado que almejavam os Mistérios eram submetidos, existem "certas regras e técnicas de vida" às quais os que querem ser fiéis à Loja Branca do Planeta e ao seu Ashram em particular devem sujeitar-se. O treinamento assim adquirido "para maior glória de Deus" leva, como antes, O. grande tarefa universal de Serviço para os nossos semelhantes, de Serviço Criador para a Raça, outra forma de expressar o grande processo místico que conduz "da Escuridão para a Luz, do Irreal para o Real e da Morte para a Imortalidade".

Essas últimas palavras contêm o verdadeiro significado do trabalho oculto de um Ashram e cada um dos membros do grupo deve tê-las sempre presentes. Assim que esses significados tenham penetrado profundamente em suas vidas pessoais, esse grande apelo paia o serviço surge espontânea e naturalmente. Esse serviço, segundo normas universais, está sempre sujeito às características mais destacadas de cada um dos membros do Ashram. Não se trata de uma especialização técnica definida, ainda que seja progressivamente deduzida uma técnica natural de trabalho, mas da expressão das fortes tendências do Raio Causal ou da Alma e das configurações astrológicas da personalidade do membro em sua encarnação física. Na configuração astrológica, encontra-se a base do futuro tecnicismo: nas qualidades do Raio Causal, encontra-se a propensão para determinadas tarefas locais, grupais ou mundiais. A resolução de um Mistério, fundamento da Iniciação, está totalmente implícita na vida de um discípulo quando nele há um equilíbrio perfeito entre inspiração e técnica, entre a qualidade de Raio Causal a que pertence e a habilidade crescente para servir ao Plano de acordo com propensões kármicas ou astrológicas.

Quando falo do Ashram como um reflexo ou projeção do Universo, não faço senão ater-me a uma Realidade Essencial. De fato, assim como, na roda cíclica do nosso Universo, estão presentes os doze signos zodiacais, assim cada um dos membros do Ashram refletirá, de uma maneira ou de outra, o poder de alguma das doze constelações.

Atendo-me à minha condição particular, devo dizer a esse respeito que, no sistema espiritual ou ashrâmico, sou fortemente influenciado pelo signo de Libra, se bem que seja regido pelo signo de Gêmeos no sistema astrológico pessoal. Essa diferenciação entre o Raio do Ego e o que condiciona a vida tríplice pessoal é muito comum. Existe somente um caso na vida do Ashram em que os signos zodiacais do Raio da Alma e da vida tríplice pessoal coincidem. Trata-se do nosso irmão R..., condicionado em ambos os aspectos pelo signo de Sagitário. Essa coincidência também lhes explicará por que é R..., regido poderosamente pelo planeta Júpiter, pai universal por excelência, quem assume o lugar do Sol (simbolicamente, o Mestre) na congregação ashrâmica mística quando o Mestre, seja pelos motivos que forem, não assiste às reuniões periódicas do Ashram.

Nosso Universo rege-se por uma Lei que, convenientemente compreendida, constitui a base de todo conhecimento esotérico e de toda formulação concreta: a Lei da Analogia. Essa Lei, expressa graficamente nas palavras de Hermes "Assim como é em cima, é embaixo", reflete-se claramente em um Ashram, como se reflete em toda e cada uma das criações da Natureza, desde o átomo até o Ser mais elevado. Um homem realmente sábio não o é pelo seu conhecimento, mas unicamente na medida em que rege a sua vida pelo ditado dessa Lei Universal.

Pretendemos apresentar o Ashram como uma congregação de seres humanos que cuidam de incorporar em suas vidas o poder sagrado do axioma "Olhar acima e ajudar abaixo". Todas as diversas ideias emitidas, se bem examinadas, baseiam-se no equilíbrio da dualidade Eu Superior e eu inferior, a Alma humana e Sua expressão nos três mundos (a personalidade). Quando esse equilíbrio é perfeito, quando as bases essenciais de serviço foram nobremente aceitas e a inspiração espiritual encontra um eco de resposta plena na técnica humana, surge inevitavelmente o fator iniciático, o Mistério em suas interpretações distintas é revelado e encontra seu fluxo de expressão adequado na vida do discípulo que, a partir de então, rege sua vida pelo poder esplêndido e indescritível da Mônada, o verdadeiro Espírito de Unidade e de Realidade.

O Ashram a que temos a honra de pertencer tem doze componentes e, para revelar alguns de seus detalhes, contamos com a aprovação antecipada do Mestre.

Isso não quer dizer que sejam apenas doze os discípulos de Segundo Raio que atualmente recebem treinamento espiritual superior. Referimo-nos sempre ao nosso Ashram e não aos outros Ashrams de Segundo Raio, existentes em "outros lugares no tempo" dentro da aura espiritual do planeta. Contudo, é interessante lembrar que o número doze é eminentemente cíclico e que condiciona muito a expressão de vida universal. Não é casualidade, de modo algum, o fato de serem doze as constelações que influenciam o nosso planeta em seu trajeto ao redor do Sol, nem que, portanto, sejam doze os meses que compõem o ano cíclico planetário. Tampouco esqueçam, já que é altamente simbólico, que foram doze os Discípulos de Jesus, doze as tribos de Israel, doze os "trabalhos de Hércules" etc. A coincidência - caso se possa chamar de coincidência a aplicação da Lei hermética da Analogia - realmente é interessante.

Assim como o Sol no sistema planetário, o Mestre no Ashram sempre ocupa o centro da nossa congregação mística. Como dado realmente curioso, ainda que esotericamente natural, relatamos que cada um dos componentes do grupo vê sempre o Mestre diante de si e que cada um recebe de Suas palavras o mais interessante, prático e útil para seu desenvolvimento e ensinamento particular. Com efeito, cada membro do Ashram sente-se particularmente aludido como se o Mestre falasse única e exclusivamente para si e em sua própria língua. Esse é um dos grandes Mistérios da vida espiritual, a partir do qual começa a alinhar-se de fato o verdadeiro sentido de vinculação interna entre o Mestre e o discípulo. Aproximar-se do Coração do Mestre implica aproximar-se do Grande Mistério de Unidade Universal, onde a linguagem, o Verbo Criador, é um prolongamento vivo do Propósito e um agente de liberação da necessidade kármica.

Para muitas pessoas, parecerão estranhas certas definições relativas ao Ashram, mas é preciso considerar que, "no lugar no tempo" por ele ocupado, as três dimensões do mundo físico foram ultrapassadas e que muitas das minhas explicações não terão um caráter racional se não tratarem de se adaptar ao ritmo interno e de elevar as concepções mentais o máximo que lhes seja possível.

No entanto, há algo que pode ser compreendido de modo concreto. Refere-se ao fato de que os Ashrams e o processo iniciático posterior existem para satisfazer certas necessidades específicas de "aceleração" da evolução planetária. Esse processo de "aceleração" do ritmo de evolução do planeta iniciou-se há muitas eras com a chegada na Terra daquelas Entidades Excelsas procedentes do planeta Vênus, definidas esotericamente com o misterioso nome "Senhores da Chama". Não é necessário que nos estendamos nos pormenores desse fato que já citamos anteriormente.

Entretanto, devo esclarecer que o processo de "aceleração" da evolução planetária, iniciada por Sanat Kumara, o Senhor do Mundo, e Seus Três Discípulos, continua atuando incessantemente sobre a Humanidade em todos os seus níveis. Uma de suas expressões mais elevadas são os Ashrams, o consequente processo iniciático e a existência da própria Hierarquia. Também atua incessantemente sobre o Reino Dévico, essa evolução que, dos mundos ocultos, condiciona a vida da Natureza em todos os seus aspectos expressivos. Trata-se de um Reino desconhecido para a grande maioria da Humanidade, mas que, por sua estreita ligação com o Reino Humano, constitui um campo de investigação necessário para o discípulo em treinamento espiritual avançado, com o qual deve ter contato consciente antes de receber a Iniciação.

O Ensinamento no Ashram

Quando falamos de atividades ashrâmicas, referimo-nos sempre a um Ashram do Segundo Raio de Amor-Sabedoria em que uma das principais funções criadoras, segundo o esquema planetário e dentro da vida organizada da Humanidade, é a do ensinamento espiritual e intelectual. Trata-se de duas correntes claras e definidas, ambas igualmente necessárias para o desenvolvimento mental da consciência humana.

Para os membros do Ashram e, analogamente, de todos os Ashrams de Segundo Raio no mundo dedicados ao ensinamento, seja por vocação natural, por predisposições kármicas ou pelo Raio específico e condicionador de suas mentes, existe uma grande oportunidade de serviço.

Ambos os tipos de educação, a intelectual e a espiritual, não se contradizem; complementam-se. São fases distintas de um mesmo processo criador. Todos os ensinamentos, quer concretos, quer abstratos, são consubstanciais e estão implícitos na Mente Divina. Os graus de densidade das ideias, partindo dos grandes Arquétipos abstratos até chegar à densidade maior da intelectualidade humana, obedecem mais ao espírito de função do que ao de hierarquia. Queremos dizer com isso que toda substância mental é essencialmente pura, seja ela sutil, leve, compacta ou densa. Em todo caso, o que nos interessa desenvolver é uma função correta para cada tipo de ensinamento ou de sutileza mental, que cada um de nós adquira a habilidade de ser criativamente consciente quando está pensando ou utilizando a substância mental de que todas as ideias e pensamentos dos homens estão revestidos.

O intelecto, formado de substância mental mais densa, é o instrumento da Alma ou Eu Superior que, por sua vez, recebe as impressões arquetípicas ou abstratas provenientes da Mente Superior ou aspecto mental da Tríade que, em Seu conjunto (Atma-Budhi-Manas), constitui o que definimos esotericamente como "Consciência Monádica" ou de Unidade Universal.

Alguns discípulos pertencentes a Ashrams do Segundo Raio habilitam-se para o tipo de ensinamento concreto ou intelectual e esse treinamento é muito valioso, considerando-se a necessidade mundial de conhecimento concreto, base da cultura dos novos e fator controlador das emoções humanas. Outros discípulos, sempre por "predisposições naturais", dedicam-se ao ensinamento espiritual que se estende a áreas que geralmente escapam ao discernimento comum e normal dos seres humanos. Uma elevada capacitação técnica de meditação e um grande propósito de vida espiritual são necessários para se poder romper "a nuvem de conhecimentos superiores" ou abstratos e penetrar na zona mental intuitiva onde se movimentam os Arquétipos divinos que governam o destino da Raça dos Homens.

A personalidade humana só pode atingir essa zona mental de alta frequência espiritual ou de tensão criadora quando consegue estabelecer contato definido e consciente com sua Alma Solar ou Eu Divino. Portanto, isso implica "uma elevada visão espiritual e uma persistência constante na nobre tarefa da busca". Esses contatos, a princípio fugazes, mas depois mais frequentes e contínuos implicam uma manipulação consciente de forças e energias que o esoterismo define tecnicamente. A ciência esotérica é a ciência de contato entre as forças materiais e psíquicas da pequena personalidade nos três mundos e as energias espirituais de seu Pai nos Céus, a Alma, o Eu Superior ou Anjo Solar, com todas as implicações sutis que esse contato infere para o processo evolutivo da Raça.

Alguns membros do Ashram possuem uma constituição mental forte e especializada e, devido à sua experiência espiritual, suas tendências naturais e influências definidas de determinados tipos de Raio, acumulam grandes conhecimentos culturais, que através de um intelecto muito bem treinado, permitem-lhes atingir "um número considerável de pessoas". O campo intelectual e o mundo do conhecimento concreto são os principais elementos na área específica de seu serviço dentro da atividade ashrâmica. Não esqueçamos, porém, que a Luz do Ashram, a santa bênção do Mestre e seu contato com o Centro de Luz da Hierarquia estão constantemente presidindo todas e cada uma de suas atividades. Na obra de estruturação do Plano da Hierarquia no mundo, essa base sólida de conhecimento concreto é necessária para apoiar posteriormente as elevadas verdades universais ou arquetípicas.

Os membros do Ashram que, por influência do Raio de sua mente e de sua própria capacitação espiritual, tenham se especializado no segundo tipo de ensinamento, ou seja, o espiritual, trabalham com as mais "seletas minorias", com pessoas cujo intelecto, de tanto discernir, tenha se aberto para as impressões superiores ou intuitivas da mente através de suas próprias Almas. O centro de irradiação espiritual desse ensinamento é muito mais amplo, sutil e profundo do que no caso anterior, o intelectual, mas apenas um reduzido número de pessoas é consciente dele. Trata-se de pessoas que se encontram misticamente preparadas para se colocarem em contato com o Mestre (Aquele que deve conduzi-las à Iniciação) e ingressarem em um Ashram da Hierarquia.

Em todos os casos, esse tipo de ensinamento adquire um caráter muito subjetivo e específico e implica, em determinada etapa, o desenvolvimento da faculdade telepática, um dos poderes psíquicos que o discípulo em treinamento espiritual obrigatoriamente deve possuir para colocar-se em contato com seu Mestre e com os elevados fluxos de energia mental que emanam da Hierarquia, assim como com seus irmãos de grupo e com necessidades mundiais subjetivas.

Quando o discípulo de Segundo Raio, dedicado ao tipo de ensinamento espiritual ou esotérico, entra em contato com outras pessoas em quem o Princípio Divino de reconhecimento interno começa a atuar, automaticamente é estabelecida uma relação espiritual magnética que cria a base de um karma transcendente para o futuro. É precisamente essa relação magnética, que, na maioria dos casos, é a "recordação" de certas relações kármicas do passado, que origina aquele vínculo de caráter seletivo que culmina em um Centro de Luz de um Ashram e no contato com o Mestre.

O trabalho com "minorias seletas" e mesmo o próprio trabalho do Mestre de "seleção" dos membros que constituirão Seu Ashram frequentemente fundamenta-se nas repercussões kármicas do passado. Pode-se dizer que no Ashram todos são "amigos de outrora", não simplesmente conhecidos de uma existência terrestre, sem querer com isso indicar que possa haver separação ou qualquer prevenção a respeito dos demais aspirantes espirituais e discípulos do mundo com quem não estamos ligados por karmas anteriores ou que pertençam a Ashrams regidos por Raio diferente. Aqui deve ser lembrado algo que o Mestre disse em certa ocasião: "...o trabalho e o serviço que unem e identificam os discípulos entre si e com seu Mestre têm sua origem no karma do passado, e esse karma transcendente é partilhado inclusive pelos próprios Logos Criadores dos mundos e dos Universos que flutuam no Cosmo infinito."

Quando o Mestre ministra ensinamento aos Seus discípulos, sempre sugere o essencial e mais oportuno para a obra que cada um deve realizar no mundo. Posteriormente entra em ação a consciência cerebral ou física, que retira do ensinamento o que pode ser exercido imediatamente para o serviço aos outros. É nesse centro de consciência cerebral que se definem as grandes correntes de serviço do Ashram dentro do Plano de ensinamento dado pelo Mestre, uma intelectual, própria para a maioria e que abrange indistintamente todas as pessoas cultas do mundo, e outra eminentemente espiritual ou esotérica, que forçosamente só poderá chegar a pequenos núcleos ou minorias seletas de ordem espiritual.

O Ashram, em seu aspecto de função integradora de vida, é algo completo. É a árvore com frutos de intuição, porém firmemente apoiada e sustentada no terreno do conhecimento material ou concreto da vida. Seus membros perseguem apenas um propósito definido na vida, o de se amarem muito e sinceramente, assim como Cristo ensinou e praticou entre Seus Discípulos, e de servirem integralmente o mundo, dirigidos pela inspiração da Alma, cujo instinto natural de Amor pode oferecer somente frutos de abnegação, de serviço e de sacrifício.

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