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CONVERSAÇÕES ESOTÉRICAS


Capítulo XVI

A LIBERAÇÃO DO DESTINO

Em uma das nossas conversações anteriores, tratamos do tema sempre interessante do Carma, relacionando-o com as leis misteriosas da gravidade que regem o processo infinito da Criação Universal e tratando de encontrar um significado realmente plausível para o destino do homem aqui na Terra. Desse modo, introduzimo-nos em áreas esotericamente reconhecidas como "zonas de Mistério", ou espaços intermoleculares, sob um ponto de vista puramente científico. Vimos quanto a isso que tudo o que existe possui uma espécie particular de gravidade que, sem dúvida nenhuma, é a causa motivadora do Carma ou destino de todos os seres vivos da Natureza. Devido a essas considerações, chegamos à conclusão de que o Carma é uma Lei que se aplica a toda criação possível dentro do Universo e não apenas ao Reino humano, como acreditávamos antes, no início dos nossos estudos esotéricos. Essa Lei do Carma, consubstancial com o princípio científico da gravidade terrestre, é linda e poeticamente descrita na lenda mística oriental do Bhagavad-Gita, com seus principais protagonistas Krishna e Arjuna, este último sendo uma representação simbólica do aspecto gravitacional ou cármico que permite a Krishna, simbolizando o Espírito Criador, expressar-se no Espaço e no Tempo.

Bem, até aqui, tudo parece perfeito. A ideia em si é grandiosa, já que permite unificar todos os princípios científicos conhecidos com a evolução espiritual do ser humano. Toda substância psicológica individual, ou seja, mental e emocional, procede do princípio de gravidade que rege a Matéria, já que todo o Universo é material e constitui a expressão física de um elevado Ser Cósmico. O Carma vem determinado pelo princípio da gravidade, que fornece os elementos que produzem a substantificação do éter que forma o espaço e, com essa substantificação, a possibilidade infinita de expressão da vida espiritual. Como veem, os conceitos esotéricos se tornam cada vez mais técnicos e científicos, à medida que o planeta Terra se introduz na luminosa faixa celeste onde a constelação de Aquário faz sentir sua pressão e gravitação particular. A constelação de Aquário condicionará, com sua influência benéfica, toda a Nova Era, uma Era particularmente técnica e científica, onde os valores espirituais não terão validade para as pessoas se não assumirem expressões rigorosamente técnicas e mentais. Essa condição planetária da qual vamos nos aproximando está especialmente dinamizada pela atividade do Sétimo Raio, o Raio logóico da Magia, Ordem e Cerimonial, cuja missão específica é introduzir nos éteres planetários certas poderosas energias que produzirão uma verdadeira Magia de Revelação no coração de um grande número de seres humanos. Para essa realidade vamos assistir, ao longo dos próximos quinquênios, a uma reconciliação entre as energias do Quinto Raio da Ciência com as do Sétimo Raio, o do verdadeiro Cerimonial Mágico, produzindo-se, então, uma mudança completa das estruturas religiosas das Igrejas de todo o mundo, caracterizadas em sua maioria pelas energias do Sexto Raio da Devoção, levando para todos os crentes uma verdadeira e salutar unificação de todos os seus princípios religiosos, que adotarão, como única divisa de seus ensinamentos e doutrinas, a Fraternidade dos Corações. O processo dogmático que caracterizou no passado as manifestações específicas de Sexto Raio, que vai desaparecendo gradualmente e "ocultando sua Face", como se diz esotericamente, encerrará seu ciclo de expressão e dará lugar a uma reconciliação perfeita da Religião e da Ciência, abrindo-se com isso as perspectivas de uma ordem social mais justa e equilibrada. Como resultado dessa aproximação mútua, veremos aparecer paulatinamente na Terra os novos ideais que levarão a criatura humana diretamente à compreensão exata de seu destino criador e à realização de seus anseios infinitos de compreensão e de libertação.

Sendo assim, de que estranho poder os novos ideais virão revestidos, para que permitam ao ser humano acercar-se das Fontes imortais, onde brota a água Espiritual da Vida, e como conquistar esse poder? A humanidade como um todo avança rapidamente para a Síntese, para o centro Ômega de suas mais elevadas aspirações. Os novos ideais vêm a ser como uma Resposta do Alto a essas aspirações e formam linhas luminosas de aproximação da Verdade, que serão cada vez mais objetivas e evidentes à medida que o sentimento humano de perfeição se torne científico e adote a técnica também científica da mente, para demonstrar a imensa riqueza espiritual que subjaz na raiz de todos os seus sonhos e aspirações. A mente humana, por sua vez, deixando de lado todos os conceitos intelectuais estabelecidos como base de sua civilização, fracassando em seu constante empenho em "entesourar conhecimentos" e acumular ideias, doutrinas e opiniões pessoais, deixará em liberdade o espírito puro de investigação e penetrará sem peso e sem medida, simbolicamente falando, no infinito alento do sentimento criador. No interior desse cadinho mágico da mente e do coração, estes se refundirão, mesclando suas características especiais, e dotarão o ser humano de um gênero novo de visão e de uma reorientação total de suas perspectivas anteriores.

Arjuna, expressão do sentido cármico, sentir-se-á, assim, transportado aos Céus de Ventura prometidos e descobrirá a imensidão dos projetos universais de Krishna. O Carma, testemunha da gravidade terrestre, existente em todo tipo de matéria organizada e de todo tipo de "substantificação cósmica", se sutilizará ao extremo de adotar um novo aspecto implícito em sua própria Lei, revelando a capacidade redentora da substância e o poder libertador subjacente em toda criação universal. Assim nos introduziremos naquelas zonas intermoleculares dentro do próprio ser, onde "vivem, movem-se e têm o ser" as forças ultradimensionais inteligentes (angélicas ou dévicas) que produzem ordem e criam paz. Desse modo, entraremos em um novo campo de revelação, onde a gravidade tal como a conhecemos, ou seja, como fruto do Carma, não atua com o rigor implacável de antes e nos mostra aspectos de si mesma maravilhosos e desconhecidos. Somente a partir daí poderemos começar a falar, com verdadeiro conhecimento de causa e rigor científico, das grandes verdades proféticas reveladas em cada época da história planetária, que davam ao ser humano a categoria de um Deus com a missão iniludível e o dever universal de reconhecer e revelar essa divindade inata. Tudo, desde o início dos tempos, tem sido revelação espiritual e, à medida que ela tem se produzido, a glória da compreensão e o caminho iluminado de Síntese têm aparecido como metas claras e determinantes na vida íntima do ser humano. Esse é, em essência, o Mistério da Revelação que os tratados místicos citam. Na realidade, trata-se de aspectos religiosos dentro do coração do homem que se fazem científicos. Daí a importância que tem, para nós, a hora cósmica de oportunidade que a Nova Era nos assinala.

O Anjo Solar, Primeiro e Único Mestre do Homem

A nova história da humanidade não poderá ser escrita, como antes, com a participação única dos elementos separativos da consciência dos que percebiam "de baixo e para fora", mas deverá ser acrescentada da visão espiritual ou mística, que vê as coisas da vida "de cima e para dentro". Deverão ser esquecidos para sempre os tempos em que a imagem da Cruz tinha apenas uma explicação psicológica de sofrimento e de crucificação. Os sinais dos tempos mudaram radicalmente e uma revelação inteiramente nova está surgindo nas mentes e corações dos seres humanos, apesar das aparentes contradições na ordem social do mundo.

Agora, para uma grande maioria das pessoas, a Cruz adota uma imagem nova e mais esperançosa. Em seu centro, não está o Cristo crucificado, mas a Rosa simbólica do Sacrifício feito. O que foi predito e explicado pelos antigos Iniciados rosacruzes do passado, gloriosos herdeiros das elevadas verdades cósmicas, está se realizando hoje em grandes setores do mundo e, nestes momentos cruciais de mudança de Era, pode ser apontada quase objetivamente a imagem simbólica e altamente significativa da Rosa, símbolo do Cristo ressuscitado, no centro da Cruz cármica dos seres humanos. Tudo o que foi revelado pelos verdadeiros místicos de todas as religiões no sentido da Redenção da Alma e do Mistério da Ascensão tem valor especial nesta gloriosa etapa que a humanidade está vivendo. As mentes intelectuais e científicas de muitos seres humanos, e não apenas daqueles que adotaram o Departamento Hierárquico da Ciência como campo de expressão, estão se abrindo a zonas místicas de Revelação e também estão experimentando a enorme pressão daquelas forças potentíssimas, liberadas "além e acima" das culminâncias silenciosas da Hierarquia e dos misteriosos Retiros de Shamballa. Um ritmo novo e trepidante de fé imperiosa se introduz nessas mentes, produzindo a necessária catarse que determinará as novas revelações científicas e os novos estados de consciência.

Bem, estou quase lhes anunciando a Vinda do Cristo Redentor, a chegada do Anjo Anunciador da Nova Era. Estou quase afirmando que nos encontramos, "aqui e agora", como no centro de uma comunidade sagrada, muito similar à estabelecida por Cristo e Seus Apóstolos, porém estendendo a mística figura de Cristo à Sua Projeção máxima Universal, e o sentido de união, comunhão e redenção a toda a grande família humana. Creio sinceramente que a hora que a humanidade vive é realmente solene e nos exige uma grande dose de serenidade e de profunda expectativa mental. Percebamos como, de modo imperceptível, mas progressivo, cede em nós a habitual tensão intelectual do pensamento e nos sentimos projetados para aquelas zonas de quietude e de recolhimento espiritual que são o prelúdio da revelação das grandes verdades cósmicas. Devido ao tremendo dinamismo que inflama os éteres planetários e converge na nossa vida diária, revela-se uma nova gravitação no coração do ser humano e um novo sentimento de honradez e de sinceridade torna possível, em muitos setores da vida social humana, que se realizem as palavras proféticas de Cristo: "...Todos somos Um, no Seio do Pai..."

Portanto, vamos contemplar a Vida de uma posição nova e mais elevada, onde as concepções mais simples assumem aspectos de realidades profundas e transcendentes. Ali naquelas regiões, o alento é suave e a alma flui em silêncio. Pergunto-me se já não nos achamos, consciente ou inconscientemente, em algumas dessas zonas de insegurança cósmica a que já me referi em alguma das nossas conversações anteriores. Em todo o caso, vamos nos tornando conscientes de que existe realmente uma nova ordem na nossa existência e uma nova paz mais serena no espírito, e isso não é uma ilusão dos sentidos, porquanto comprovamos, em mente e coração, a profundidade da experiência. Então, perdemos de algum modo o sentido psicológico da gravitação? Não nos liberamos, em alguma medida, do Carma que afligiu a nossa vida até agora? A partir do próprio momento em que iniciamos estas conversações esotéricas, uma coisa é evidente, e é que nos sentimos projetados conjuntamente ao cosmos espiritual e estabelecemos um círculo mágico de quietude que nos reanima e protege ante a insegurança e a adversidade.

Quem sabe nos seja possível agora falar do Anjo Solar em um sentido objetivo e atual e não de forma profética e mística simplesmente ou de promessas vagas e cheias de esperança? Até este momento, a Vida do Anjo Solar foi unicamente um assunto de fé ou de intuição. Agora, deveríamos nos referir a Ele num sentido mais prático, real e objetivo, não mais como um Ser ideal e longínquo, perdido entre as brumas do Mistério, mas como um Ser psicológico, objetivo e tangível, que nos indica de modo claro e contundente o caminho que leva diretamente, sem erro possível, ao Coração da própria Divindade, ou melhor dizendo, o caminho da perfeita redenção social, nossa personalidade cármica adquirindo, assim, um caráter absolutamente iniciático, tal como lhe corresponde, em sua qualidade de centro de evolução planetária, com o supremo objetivo de converter-se em Testemunha da Luz e em um Servidor do Plano. O místico deve "fazer-se carne", como é de Lei que aconteça na vida do Iniciado, e agora – permitam que me refira a esse eterno agora – deveríamos viver a glória da Revelação do Anjo Solar em nossa existência física. Consideremos, assim, que Arjuna, o grande revelador do destino humano, está se introduzindo lenta, mas incessantemente, no Coração de Krishna, o Criador, do qual nosso Anjo Solar, ou Eu Superior, é o símbolo mais completo e elevado.

As Oportunidades Cíclicas dos Tempos

Antes de mais nada, perguntemo-nos: o que é uma oportunidade cíclica? Eu diria que é a pressão dos astros do Universo fazendo-nos sentir suas gravitações particulares. Essa pressão ou "compressão" dos éteres planetários, como efeito das atividades "psicológicas que se expressam através dos planetas, sóis e Universos, inclina a Vontade e o Destino do nosso Logos Planetário para determinadas situações, cujo significado é demasiadamente elevado para ser entendido por nossa mente pequena e finita. Cientificamente descritas, essas forças cósmicas possuem uma gravidade muito além da nossa compreensão, que altera a própria gravidade da Terra e inclina subjetivamente o seu eixo, reorientando-o ocultamente para novas zonas cósmicas de atração ou gravitação, criando novas posições evolutivas na Vida e no Destino do próprio Logos.

Assim, consideremos que essas posições cíclicas dos Universos e das constelações em relação ao nosso pequeno mundo são as criadoras do Carma planetário, do qual Sanat Kumara, o Senhor do Mundo, se faz diretamente responsável. Os astrônomos pouco nos falam dessas influências "extrassiderais", pois, por sua sutilidade, escapam à percepção dos equipamentos científicos da mais alta precisão técnica, mas não à intuição dos verdadeiros investigadores esotéricos, que sempre falaram com grande segurança desses campos vibratórios extrassolares que formam a base da estruturação cármica do destino do nosso planeta. Além da passagem cíclica da Terra pelas chamadas "zonas zodiacais", existem outras importantes forças divinas que cooperam na evolução do nosso planeta e de todos os demais no Universo. O conjunto de forças siderais e extrassiderais, ou seja, as que procedem do campo zodiacal e as que atuam além e acima das doze constelações do Zodíaco conhecido, determina misteriosas zonas de maior atração, nas quais, se podemos assim dizer, banha-se o nosso mundo.

Graças a esses potentes e desconhecidos fluxos de energia e graças também à atividade natural e característica da própria vida do planeta, vai-se escrevendo a verdadeira história Cármica planetária, com suas épocas de luz e suas épocas de sombra. Desse modo, surge uma Era e se precipita sobre a Terra, dinamizando os éteres planetários e condicionando-os ao extremo de produzir um determinado tipo de civilização, positivo ou negativo conforme o caso, pois não se deve considerar apenas a posição cíclica dos astros e os fluxos de energia que promovem, mas também o grau de evolução da consciência humana em determinados períodos de sua história. O que pode ser afirmado sob o ponto de vista oculto é que as incidências gravitacionais dos grandes astros e das constelações mais além das atualmente conhecidas afetam singularmente o eixo da Terra, deslocando-o lentamente para um ou outro daqueles grandes Colossos do Cosmos, tais como Sirius ou a Estrela Polar, para a qual, aparentemente, o eixo planetário se dirige. Porém, em um futuro mais remoto, quando as condições evolutivas da Terra tiverem alcançado uma certa magnitude e uma determinada profundidade de caráter espiritual, o eixo da Terra se dirigirá para a horizontal de sua eclíptica e, segundo nos é dito esotericamente "apresentará sua face ao Sol" sem qualquer deformação possível. Seu movimento de rotação então será perfeito, o chamado "movimento de retrogradação" desaparecerá e os ritmos serão perfeitos também, razão pela qual o trabalho do homem na Terra será o de colher, nos momentos culminantes de civilizações desconhecidas e transcendentes, a experiência de todos os ciclos anteriores.

Há muito que falar, portanto, acerca do que, em linguagem oculta, é chamado "um planeta sagrado". Em primeiro lugar, devemos nos referir a certas posições cíclicas do Cosmos em relação ao nosso Sistema Solar, que poderíamos definir como transcendentais, assim como a certas posições solares em relação ao nosso planeta, que fazem com que seu eixo "se dirija até constituir uma vertical perfeita sobre a horizontal da eclíptica". No extremo superior do eixo planetário, poderá ser vista uma poderosíssima estrela, cujo nome é conhecido mas não pode ser revelado, que regerá o destino do planeta até que nosso Logos Planetário tenha recebido a Quinta Iniciação Cósmica, graças a que não haverá "zonas de sombra" no planeta e o aspecto psicológico que chamamos "o Mal" terá praticamente desaparecido da Terra. Bem, como os senhores terão compreendido, essas ideias devem ser admitidas única e exclusivamente como hipotéticas, aguçando-se o máximo possível a intuição.

Zonas de Luz e Zonas de Sombra

Os senhores talvez me perguntem o que deve ser entendido por "zonas de luz" e "zonas de sombra" em relação ao tema que estamos desenvolvendo. Pois bem, empregando a analogia, deveríamos falar de posições planetárias, como fazem os astrólogos, e os efeitos que elas determinam em relação ao planeta e aos seres humanos, ou seja, em termos de quadraturas, trígonos, sextis etc., posições essas que têm a ver com as formas geométricas que os corpos celestes formam entre si e que, ao que parece, têm uma relação total com as formas geométricas da aura etérica que constitui o campo magnético de um determinado astro. Sempre encontraremos, na raiz dos movimentos celestes e de seus correspondentes trânsitos estelares, a atividade de uma lei única, de caráter absolutamente cósmico, a gravidade e, dentro do seu campo gravitacional, uma Energia interna, de tipo puramente "agravitacional", que trata constantemente de se liberar, de se projetar para o Cosmos Espiritual e místico de onde procede realmente. O que o investigador esotérico cuida de realizar é equilibrar dentro de si ambos os impulsos e, dentro desse equilíbrio, encontrar a paz e o estabelecimento de um ritmo de ação verdadeiro.

As determinantes da ação universal, afetando o minúsculo ponto de vista presente na Eternidade que chamamos homem, têm um caráter imensamente místico e não são facilmente reconhecíveis, dado o atraso que a Ciência atual ainda se encontra em relação aos profundos conhecimentos que os antigos sacerdotes maias, egípcios e caldeus possuíam da "Ciência dos Céus". Estes podiam e sabiam ler nos elevados firmamentos as possibilidades cíclicas de redenção que podiam converter o ser humano em um verdadeiro Deus em manifestação cíclica, da mesma maneira que os verdadeiros alquimistas do passado sabiam como aproveitar as circunstâncias cíclicas ambientais e o poder operante de certos astros definidos para transmutar os metais vis em ouro puro. Foi possível, assim, acrescentar um dado positivo e afirmativo à Lei do Carma, que gravita sobre a humanidade desde o próprio início dos tempos, no sentido de que "...os Astros inclinam, mas não obrigam", liberando a mente do homem inteligente do estigma do "pecado original" e da submissão cega aos dados históricos e religiosos ministrados pela tradição, condicionantes dos estados psicológicos da dor, da angústia, da incerteza e do medo.

Para compreender as oportunidades cíclicas que causam o fenômeno de Liberação ou Redenção da alma humana, teríamos que reorientar todo o processo científico, atualmente enfocado no movimento particular e na massa gravitacional dos corpos, assim como nas formas geométricas que assumem no espaço, para aquelas zonas "interespaciais" ou "intermoleculares" de extrema sutilidade, onde o equilíbrio e a harmonia reinantes são como uma oferenda dos Deuses Cósmicos para todos os Filhos dos Homens que realizem o esforço exigido e cujas almas, realmente aspirantes, decidam solenemente alcançar a Liberação. De acordo com o que estamos expondo, será lógico compreender que o homem superior deverá possuir uma mente muito aguda e tremendamente alerta para poder intuir "os sinais dos Novos Tempos" e tornar-se eco das infinitas ressonâncias cósmicas dentro de seu coração, já que o Bem Cósmico está localizado dentro desse santuário de amor universal, enquanto que a mente supremamente expectante dá uma noção clara do Mal que deve ser evitado. Sendo assim, vemos que os aspectos siderais, tanto de luz quanto de sombra, podem ser facilmente registrados e reconhecidos. Aqui está também a explicação, para as mentes atentas, do já citado axioma esotérico "os Astros inclinam, mas não obrigam”.

Assim, parece que a obra de Krishna, o Espírito humano, se realiza preferencialmente naquelas zonas livres de tempo e de massa gravitacional que eu chamo "espaços intermoleculares". Desses centros desconhecidos de luz e de harmonia projetam-se, cada vez mais frequentemente sobre o ser humano, energias muito mais sutis e dinâmicas do que as que os cientistas e psicólogos têm podido detectar até aqui. Bem analisada, a Psicologia atual, apesar de seus enormes avanços no estudo da constituição psíquica do ser humano, ainda não conseguiu penetrar nos retiros sagrados dentro do ser individual, de onde emanam luz, paz e serenidade perfeitas. Há ainda um grande caminho a percorrer antes que a psicologia moderna se introduza naquelas zonas supraconscientes, como o fez nas áreas mais objetivas e com maior poder gravitacional que chama subconsciência e onde, ao que parece, encontra-se a raiz do carma humano. O estudo objetivo das zonas supraconscientes da consciência pertence às Raças do futuro e podemos afirmar que é muito reduzido o número das seletas personalidades na grande família humana que conseguiram alcançar essas zonas misteriosas de luz dentro do seu próprio ser e ali descobrir que Krishna e Arjuna, o transcendente e o imanente do homem, eram a mesma coisa. O espaço e o tempo realmente deixam de atuar dentro do coração humano, quando se penetra nessas zonas de elevada frequência vibratória cósmica, onde os efeitos da gravidade praticamente deixaram de existir. O poder gravitacional que condicionava o processo cármico deixou de atuar assim sobre o Eu. O homem, introduzido no espaço intermolecular de sua própria vida, onde a luz e a sombra estão em perfeito estado de equilíbrio, ascende para as alturas de seu próprio ser e sabe, então, por experiência e não por simples estudos ou raciocínios, que realmente "pode triunfar sobre as estrelas" e reger seu próprio destino cármico.

Pergunta: É surpreendente e, ao mesmo tempo, apaixonante essa ideia do Carma como o senhor a apresentou. Como devemos atuar em nossa vida para chegar a essas conclusões sobre o simbolismo de Krishna e Arjuna, ou do Criador à parte de Sua Obra, como é expresso precisamente no Bhagavad Gita?

Resposta: No meu entender, o processo é muito fácil de entender, ainda que muito difícil de ser posto em prática, pois é preciso existir previamente uma base de completo desapego aos valores temporais, considerando que são estes os que criam e perpetuam o carma. Basta considerar o sentido de "meu" ou de posse que aplicamos a todas as coisas que nos rodeiam e teremos uma ideia bastante clara de como temos que atuar na vida para nos libertarmos do peso agoniador de um amargo destino. Nossa vida se encontra em um estado de permanente tensão devido exatamente ao número incrível de posses que vão se acumulando no interior do eu pessoal e que se cristalizam em forma de carma. O senhor me pergunta como é preciso agir para poder contemplar a nossa obra e suas consequências à parte de nós mesmos. Pois bem, é deixando de acumular no tempo, esquecendo completamente de nós mesmos na ação pessoal e social e sendo consequentes com o processo cármico que estamos gerando, que iremos perdendo progressivamente o peso das seguranças, a que o nosso coração aspira tão ardentemente e, com ele, toda a nossa vida. Consideremos quanto a isso que o caminho que vai do "meu" ao "Eu", ou seja, de Arjuna a Krishna, é longo e fatigante, e que é preciso prescindir, a partir de um determinado momento, do prazer dos resultados espetaculares e do amor pelo fruto das nossas ações. Observemos que a obra de Krishna no coração de Arjuna, quando este se deixa "modelar" voluntária e conscientemente, é lenta, silenciosa e humilde. É a Obra Universal do Criador que "... depois de preencher o Universo com um pequeno fragmento de Si Mesmo, Ele persiste...", totalmente apartado do resultado de Sua Ação Cósmica.

Pergunta: A mim interessou particularmente o que disse a respeito da Astrologia; porém, o senhor realmente crê que o indivíduo possa se liberar de seu destino, apenas se propondo a isso e romper, assim, com as cadeias que o ligam inexoravelmente com os demais seres humanos a quem está vinculado por efeito do Carma?

Resposta: Liberar-se do destino pessoal não implica de modo algum romper os laços de solidariedade espiritual que nos ligam aos demais seres, mas simplesmente desligar a nossa consciência dos acontecimentos conforme estes vão se produzindo no incessante vir-a-ser da vida. É vendo o processo "de dentro e para cima" e não "de baixo e para fora" que a incógnita da ação deve ser resolvida. A ideia de Krishna e Arjuna está implícita em ambas as atividades da consciência, a que se realiza no nível espiritual e a que se verifica no nível das atividades físicas, através da ação do Carma. Krishna contempla Sua Obra à parte de Si mesmo, como podemos verificar no Bhagavad Gita, o que não quer dizer que se desinteresse de Sua criação ou de Arjuna, mas simplesmente que a está observando desapaixonadamente, com desapego infinito. Quanto a Arjuna, passa-se exatamente o contrário: fica tão envolvido em sua obra que perde de vista o sentido de sua infinita transcendência e a torna material ou substancial, quer dizer, cármica. Portanto, a ideia de liberação do destino a que o senhor se refere deve se realizar pensando mais em Krishna que em Arjuna, mais na Divindade que em César. Como Cristo dizia, "É preciso viver no mundo sem ser o mundo”. Existe outra frase mística que expresse tão bem o que o indivíduo deve fazer dentro de seu coração para liberar-se de seu destino cármico, desse destino que o aprisiona sem misericórdia a um mundo irreal e caleidoscópico de sombras em movimento?

O senhor mencionou a Astrologia... Mas o que sabemos realmente dessa Ciência, no que se refere às almas fortes, sinceras e audazes que adotaram, como divisa de suas vidas e propósito de suas existências, a Liberação? Assim como ensinaram os perfeitos astrólogos da Caldeia, do Egito e de Atlântida, "os Astros inclinam, mas não obrigam", pondo nas mãos dos homens inteligentes e de boa vontade, de todas as nações, o instrumento de liberação adequado. Assim nasceu evidentemente a casta dos Iniciados na Ciência do Desapego e na verdadeira Maestria na Arte suprema de Viver, profundamente integrados nas Leis indescritíveis da Necessidade Cósmica, que criou o Destino Perfeito dos Deuses e o dos próprios seres humanos.

Pergunta: Existem então dois destinos a cumprir, o de Arjuna, o pequeno eu, e o de Krishna, que representa a vida espiritual da alma?

Resposta: Apenas um e único destino dirige toda a Criação. Krishna, o Criador, constantemente envia o Seu reflexo, Arjuna, para cumprir o Propósito permanente de Redenção da Vida, de acordo com as sagradas Leis da Necessidade Cósmica. Assim, Arjuna, Obra de Krishna, dotado de alma e compreensão espiritual, porém ligado às coisas temporais devido àquela mesma Necessidade Cósmica de Expressão, reencarna ciclicamente para cumprir os Propósitos de Criação de Krishna. A parte de Krishna, dotada de gravidade, densidade e peso cármico, ou seja, Arjuna, é a que se manifesta no espaço e no tempo, é aquela parte de Si mesmo que, através das eras, vai criando e extinguindo Carma ao mesmo tempo. Contudo, o propósito essencial de ambos os aspectos do Poder Criador, Krishna e Arjuna, é cumprir a Vontade Infinita daquele supremo Logos Cósmico (no caso do nosso planeta, o Logos Solar), que é a Causa da Vida e que utiliza a Obra de Krishna no espaço, e a de Arjuna no tempo, para atender às Leis infinitas da Necessidade Cósmica de Expressão a que todos os Logos Criadores se sujeitam, seja qual for a Sua evolução dentro do Cosmos Absoluto. Talvez nos perguntemos o porquê desse processo misterioso de Criação constante. Poderíamos dizer apenas de acordo com a analogia, que nos é dado compreender a obra conjunta de Krishna e Arjuna como o símbolo das relações entre a Personalidade do homem e sua Alma Superior, ou as de Cristo e o Mestre Jesus, ou as do Logos Planetário em relação a Sanat Kumara. Mas ainda não podemos nos introduzir no Mistério infinito da Lei Cósmica da Necessidade, que está além e acima do nosso entendimento humano.

Pergunta: Há alguma fórmula objetiva de resolução em nossa vida para poder expressar o poder espiritual de Krishna?

Resposta: Essa fórmula, se existisse, deveria estar condicionada ao grau de evolução de cada um de nós. O fragmento de vida consciente, que é Arjuna, logicamente deve crescer até alcançar a estatura espiritual de Krishna, ou de Cristo, se preferem essa elevada Entidade divina como guia de seus propósitos de Redenção Solar. A incessante tarefa da evolução na humanidade criou, através do tempo, os sistemas de treinamento espiritual ou de aperfeiçoamento místico, conhecidos como a Ioga, ou Ciência de União com a Divindade, e outras disciplinas de caráter interno, a que muitos seres humanos se submetem para atingir a perfeição de suas vidas psicológicas. Se o senhor chama "fórmula concreta" estas disciplinas, terá somente que escolher a que lhe pareça mais conveniente. Mas já dissemos em alguma das nossas conversações anteriores que a melhor fórmula espiritual de redenção ou perfeição, ou seja, a que se refere ao trabalho místico de Arjuna dentro do próprio coração em sua busca incessante do aspecto superior de Krishna, é deixar-se guiar única e exclusivamente pelo próprio Krishna, que sabe melhor que nós qual é a Senda que, por via de Evolução, de Raio ou de Temperamento, nos corresponde. Mas também deve ser dito uma vez mais que deve-se viver muito atenta, profunda e silenciosamente, para que Krishna, o Anjo Solar, se fixe em nós, no pequeno Arjuna que, submerso nas aflições, dificuldades e problemas do Carma pessoal, procura alcançar as Alturas em um sublime propósito de Redenção...

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