Quo vadis, Domine?
JCB

Déjà vu (já visto em francês) é “aquilo que dá a impressão de já ter sido visto, ou presenciado. A sensação de já haver estado em determinado lugar ou em certa situação quando isso, na realidade, não aconteceu.” (1) Pode ser descrito "como uma sensação desencadeada por um fato presente que faz com quem o sofra se lhe pareça estranhamente que já presenciara aquela específica situação, quando, em verdade, não o fizera.” (2) Não é fato raro. Eu já li este livro? Já assisti a este filme? Já estive neste lugar antes? Conheço esse sujeito? – são perguntas corriqueiras de nossa vida.

Algo havia acontecido. Não me recordo do lugar em que estava, embora fosse real. Era uma estrada deserta e mal definida.

De repente, aproxima-se de mim, ao passar por ali, o Grande Mestre. Em um gesto de reverência, pergunto-Lhe:

- “Quo vadis, Domine?” – Aonde vais, Senhor?

- “Roman vado iterum crucifigi” – “Vou a Roma para ser crucificado outra vez”, respondeu Ele.

Diz a lenda, nos livros apócrifos, que Pedro deixava Roma para escapar da perseguição de Nero quando na Via Ápia encontrou o Mestre Jesus, indagando-O aonde ia.

"Já que abandonas o meu povo, vou a Roma para ser crucificado, outra vez".

- Mas, Mestre, pera aí. Esta estrada vai pra Brasília. Lá nada pode ser feito.

- Não, não é bem assim, você se engana. O povo está abandonado. Se for preciso serei crucificado de novo. Entretanto, mesmo assim não perceberão, mas...

- Não Mestre, deverá haver outra maneira.

- Sim há. Não se esqueça de que, como a sua própria vó dizia, Deus escreve certo por linhas tortas. Ele, como Eu, usa alegorias. Brasília é o centro político e administrativo do país, por isso quero utilizá-la como cidade-símbolo da expressão da alma de toda a nação brasileira. A alma brasileira é sadia, mas está muito debilitada e precisa de cuidados urgentes.

- Ah, bem...

- Como lá é o centro político e administrativo, a síntese da alma brasileira está lá, é mais eficaz dedicar-se à síntese do que à parte, embora a parte esteja sempre no centro de todas as atenções.

- Agora percebo.

- Quando lá chegar, em um momento adequado, farei um ato convocatório às pessoas de bem e de boa vontade que povoam o coração de toda a nação. Não estou só nesta empreitada. Muito pode ser feito.

- Irei em Sua companhia.

- É melhor ficar. Apenas faça a sua parte.

Acordei neste momento com a sensação de ter estado ali. Aos poucos percebi ter sido a vivência de um sonho. Um lindo sonho. Mas, a dúvida foi imediata: será que tenho feito a minha parte?

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(1) Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa
(2) Wikipédia

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