As Mulheres Rumo ao Futuro
Boa Vontade Mundial

Hoje é o começo do despertar feminino, pois hoje uma nova onda alcançou a Terra, e novas lareiras se acenderam, porque a substância dos raios penetra profundamente. É alegre sentir a aproximação da Nova Época. (Agni Ioga, Folhas do Jardim de Morya, Vol. II)

Entramos no terceiro milênio com uma crescente sensação de expectativa. A nova era é chamada por alguns a era de Aquário, e conhecida no Oriente como a era de Maitreya, a época da Mãe do Mundo. Nos ensinamentos da Agni Ioga, tal e como os antecipou a escritora e ocultista russa Helena Roerich, se diz que esta nova era será uma em que os princípios femininos e os valores do coração começarão a cobrar maior ímpeto na consciência da raça e em que a voz das mulheres, mais que subjugar-se, se levantará. É a mulher, a portadora da vida, quem deve emergir para ajudar a ensinar a uma humanidade aflita, os valores da compaixão, do desprendimento, da receptividade e do amor. O objetivo não é a instauração de um sistema de matriarcado que advogue a superioridade feminina ou a retribuição de ofensas passadas, já que isto só aumentaria as distâncias existentes entre os sexos. Uma transformação social verdadeira e duradoura só pode ser conseguida através do estabelecimento de um estado de consciência que vá além das antigas estruturas e que rechace as velhas antipatias pelas quais um sexo, uma raça ou uma nação se tem como superior ou mais poderosa que outra. Por outro lado, a ordem do novo mundo que chega deveria fundamentar-se sobre a aceitação e a apreciação de nossas diferenças inerentes, assim como as contribuições que cada indivíduo e cada nação possam realizar para o bem maior da humanidade.

"O poder do patriarcado é extremamente difícil de compreender porque penetra tudo. Influenciou nossas ideias mais essenciais sobre a natureza e sobre nossa relação com o universo, a natureza "do homem" e "sua" relação com o universo, na linguagem patriarcal. É o único sistema que, até há pouco, nunca havia sido desafiado abertamente nos registros da história, e cujas doutrinas eram tão universalmente aceitas que pareciam ser leis da natureza; e de fato, habitualmente, se apresentavam como tais. Hoje, sem embargo, a desintegração do patriarcado está à vista. O movimento feminista é uma das correntes culturais mais fortes do nosso tempo, e terá um profundo efeito sobre nossa evolução posterior" (O Ponto de Mutação, Fritjof Capra)

Durante milênios contemplamos a supremacia do sistema patriarcal como fator condicionante de quase todas as sociedades do mundo. Entretanto, atualmente existe muita evidência de um sistema matriarcal anterior no qual sobressaiu a adoração à Deusa, a Terra, e do princípio feminino. As mulheres eram associadas com a divindade devido, principalmente, à percepção de seus poderes divinos de geração já que, naqueles tempos longínquos, não havia conhecimento da evidência científica moderna do papel masculino no processo reprodutivo. À medida que foi se compreendendo melhor o papel masculino na criação da vida, as mulheres perderam gradualmente o papel que haviam ostentado anteriormente na sociedade.

A tendência predominantemente masculina que atravessa a maior parte dos anais da história escrita é um testemunho do fato de que até o Século XX, a influência da mulher foi principalmente uma influência oculta. As mulheres funcionaram, na maior parte, em disposição de apoio, sacrificando em numerosas instâncias seus talentos, seus interesses e sua criatividade pelas conquistas de seus homens e suas famílias. Assim, não é de se estranhar que ao longo da história, até os nossos dias, a maioria das mulheres teve pouco tempo ou energia para contribuir com a sociedade, além dos confins de seu pequeno mundo da família e dos amigos. Até há pouco, as tarefas diárias do lar, acompanhadas, em muitos casos, de uma participação ativa na contribuição da renda familiar, deixavam a mulher com pouco ou nenhum tempo privado. É certo que a situação para os homens era escassamente melhor, especialmente nas classes mais baixas e, atualmente, esta situação continua dominando a maior percentagem da população mundial.

Ainda assim, sempre houve mulheres que deixaram sua marca na vida: mulheres como Aspasia, professora de Sócrates; Theano, brilhante matemática italiana e sucessora de Pitágoras como cabeça da Ordem Pitagórica; Hypatia, matemática, professora e estudiosa na antiga Alexandria; Harriet Tubman, abolicionista americana; Josephine Butler, reformadora social britânica, dedicada aos direitos das prostitutas; Barbara Ward, economista; Wangari Mathai, especialista em meio ambiente keniana; Florence Nightingale, Marie Curie, Helena Petrovna Blavatsky, Susan B. Anthoby, Alice A. Bailey, Maria Montessori, Eleanor Roosevelt e Madre Teresa. A lista poderia continuar mais e mais, e o fato de que as contribuições de algumas destas mulheres são relativamente desconhecidas só diminui a qualidade dos nossos livros de história e não a qualidade das contribuições delas para a melhoria da humanidade.

AS MULHERES E A ESPIRITUALIDADE

Historicamente, a principal via de escape do mesquinho lote da maioria das mulheres, assim como o principal meio de adquirir uma educação, estava nas numerosas tradições monásticas das religiões do mundo. As mulheres tiveram, certamente, um papel central na fundação de todas as principais religiões mundiais e com frequência os ensinamentos originais da maioria das religiões defendiam uma ampla tolerância e aceitação das mulheres, em reconhecimento de que elas também são divinas. Em Foundations of Buddhism, Helena Roerich cita Buddha: "A mulher", disse Gautama, "pode alcançar o mais alto grau de sabedoria aberto ao homem, pode converter-se em Arhat. A liberdade, que está bem além da das formas, não pode depender do sexo, que pertence ao mundo das Formas". O organismo psíquico das mulheres era considerado mais sutil que o dos homens e assim, no antigo Egito, a grande sacerdotisa de Isis transmitia as ordens da Deusa aos Hierofantes, mas nunca ao contrário. É bem sabido que muitos dos primeiros seguidores de Cristo foram mulheres e parte da natureza revolucionária do gesto de Cristo foi que aceitou e valorizou as mulheres. A igreja, nas suas entrincheiradas estruturas patriarcais, cerceou posteriormente as mulheres. Sem embargo, esta situação não deveria desviar-se da prodigalidade e ampla tolerância originais que caracterizaram a vida e os ensinamentos do Cristo.

No trabalho de trazer os ensinamentos da sabedoria eterna ao Ocidente, as mulheres desempenharam também um papel substancial. A escritora e professora russa Madame Helena Blavatsky foi cofundadora da Sociedade Teosófica e escreveu vários tratados detalhando os princípios da sabedoria eterna, sendo os mais notáveis A Doutrina Secreta e Isis sem Véu. O trabalho da Sociedade Teosófica recebeu ímpeto graças à engenhosa oratória e ao domínio da escrita de sua presidente durante anos, Annie Besant.

De 1919 a 1949 Alice Bailey prosseguiu os ensinamentos da sabedoria na sua série de 24 livros, que contém grande parte dos ensinamentos para a nova era. Paralelamente, a russa Helena Roerich se encontrava escrevendo energicamente uma série de livros sobre a Agni Ioga, a ioga do fogo, do qual se diz que é a ioga do futuro, que sintetizará o aspecto da vontade elevada com as energias do coração e da cabeça. As vidas destas mulheres foram uma demonstração de fortaleza, inteligência e serviço, de discipulado lutando contra inumeráveis obstáculos. O fato de que seu trabalho continua se realizando hoje em dia diz muito sobre a potência que havia por trás do seu ímpeto inicial.

OS PRINCÍPIOS DA LIBERAÇÃO

As dificuldades, nos últimos dois mil anos, que acossaram mulheres cujas mentes desejavam guiá-las aos círculos conhecidos da ciência, da literatura, das profissões e das artes, foram mais que formidáveis. Estas dificuldades penetraram em cada rincão do pensamento e nas culturas ocidentais. Assim, poderia alguém se surpreender que as mulheres começassem, embora lentamente, a rebelar-se contra este mundo pouco realista e distorcido?

O despertar feminino data da publicação da Justificação dos Direitos das Mulheres de Mary Wollstonecraft, em 1792. O movimento para a liberação recebeu seu impulso inicial na Inglaterra e na América no Século XIX. Na Inglaterra, o "First Reform Bill" (1832) garantia o voto a um número imenso de todos aqueles que tinham carecido anteriormente de direitos políticos, mas o restringia exclusivamente às "pessoas masculinas". O protesto foi imediato.

No congresso mundial contra a escravidão, em 1840, as abolicionistas inglesas deram sua visão feminista às suas irmãs americanas, o que resultou na Convenção de "Seneca Falls" em 1848, que iniciou a luta pelo sufrágio das mulheres na América. Quando em 1869 Elizabeth Cady Stanton e Susan B. Anthony lançaram seu movimento, não cabia nenhuma dúvida sobre a mudança que as mulheres buscavam. Em sua luta por liberar o povo negro da condição inumana da escravidão, as mulheres americanas começaram a compreender a condição de sua própria posição desigual na sociedade e aprenderam as técnicas de organização com as quais lançar sua própria batalha. Lamentavelmente, por trás da Guerra Civil, a questão se centrou na obtenção do sufrágio para os varões negros e, repentinamente, as mulheres descobriram que seus aliados anteriores as abandonavam quando elas exigiam o voto. Abriu-se uma brecha entre os dois movimentos e as mulheres ficaram sós para levar seu estandarte. As mulheres começaram a levantar sua voz, não só pelo direito ao voto, mas também pela educação, a reforma da lei, o emprego e os direitos civis.

A obtenção do voto foi, entretanto, o último a ser conseguido. O Estado de Wyoming, nos Estados Unidos, foi o primeiro lugar que outorgou o direito de voto às mulheres. O primeiro país que concedeu o voto às mulheres foi a Nova Zelândia em 1893. Mas a batalha foi lenta em numerosos países: Estados Unidos, 1928; Inglaterra, 1945: França, 1946; Itália e Suíça, 1971.

Na França as mulheres contribuíram para realizar uma das maiores revoluções contempladas pelo mundo. Foi uma marcha de 8.000 mulheres à Versalles que produziu a queda de Luiz XVI, Maria Antonieta e o resto da dinastia existente. As mulheres participaram plenamente na defesa da França; colocaram vendas, teceram roupas para os soldados e foram à luta com seus homens. Em 1792-93 a nova República lhes recompensou com múltiplas e novas liberdades, tais como o direito ao divórcio, a guarda dos filhos em caso de divórcio e a igualdade na herança e direitos de propriedade. Não obstante, não ganharam nem um só direito político. Mas todos os progressos reais na sua condição jurídica, obtidos durante as glórias iniciais da vitória, foram desbaratados nos começos do governo Napoleônico. O Código Napoleônico de 1804 foi anunciado como um dos documentos legais mais progressistas de sua época. É certo que o código exerceu uma ampla influência de liberdade sobre numerosos países de todo o mundo, para as mulheres foi especialmente repressivo. Napoleão legislou assegurando-se a total submissão das mulheres aos homens. Aboliu todos os direitos, exceto o de divórcio, mas também este foi restrito pela monarquia, reinstaurada imediatamente depois de 1815. O mandato do Código Napoleônico durou um século. (Ruth Graham em Loaves and Liberty: Women in the French Revolution)

PROGREDINDO PARA A MUDANÇA

"Como vão os homens e as mulheres refletir sobre sua virilidade e sua feminilidade neste século vinte, em que tantas de nossas velhas ideias devem ser formuladas de novo?" (Margaret Mead)

Há três condições básicas no mundo atual que contribuíram enormemente para a melhoria das vidas de inumeráveis mulheres do mundo. Estes fatores são: o acesso a uma educação igualitária perante a lei, o uso de anticoncepcionais e a industrialização da sociedade. É igualmente certo que a falta destas três condições, em muitas partes do mundo, contribui substancialmente para manter muitas mulheres cativas. A primeira desta triplicidade, a educação, liberou a mulher no nível mais fundamental, o nível da mente, o plano a partir do qual qualquer mudança é, no final, possível. Durante este século (vinte) e com maior rapidez nas últimas décadas, presenciamos uma florescente entrada das mulheres em todos os campos do saber. É certo que há poucas portas fechadas para as mulheres hoje. As estruturas patriarcais se mantêm, sem dúvida, firmes em muitas de nossas instituições globais. Em muitos dos bastiões masculinos tradicionais como a lei, a medicina, a ciência e a política, a crescente participação das mulheres está acelerando o lento processo de mudança, enquanto muitos começam a reconhecer as limitações inerentes ao enfoque de "clube de homens" que, todavia, prevalece com frequência.

Os métodos anticoncepcionais modernos, sempre e quando são possíveis, facilitaram enormemente a transição da mulher para uma participação mais completa na vida planetária. Até há poucas décadas a maioria das mulheres passavam a maior parte de suas vidas adultas dando à luz, criando e cuidando de crianças. As medidas anticoncepcionais atuais deram às mulheres a oportunidade de escolher e assim ter um maior controle sobre suas vidas. Desgraçadamente, em muitos países do mundo o acesso aos anticoncepcionais está limitado, fundamentalmente, pela falta de recursos econômicos suficientes para fundar centros de serviço à família. Devido a esta falta de acesso ao controle da natalidade em numerosos países, continuamos presenciando o aborto como meio mais difundido do controle da população para muitos. Algumas pessoas poderiam questionar a ética que dá respaldo ao direito da mulher de escolher e abundam os argumentos, tanto a favor como contra, a respeito desta questão tão controvertida do aborto. Mas é um fato indiscutível que a vida de uma mulher muda, de maneira irrevogável, por sua decisão de ter ou não ter filhos. A sociedade, na sua totalidade, tem ainda que chegar a conclusões bem definidas a respeito de quando a "vida" começa. No Um Tratado sobre o Fogo Cósmico, página 553, afirma-se: "A analogia no plano físico é constituída pelo estímulo da vida que se sente entre o terceiro e o quarto mês do período pré-natal, quando o coração da criança vibra com vida e a existência individual se converte em possibilidade". Mas, certamente, num assunto tão importante como este não pode existir outra autoridade que a consciência individual de cada um. E embora o tema do aborto se associe normalmente com o conceito de "escolha", é tristemente certo que, às vezes, as mulheres têm pouca escolha real neste assunto. A severidade das condições econômicas, os protestos do pai, dos membros da família, ou do Estado (como na China), têm levado algumas mulheres a abortar contra o seu próprio instinto e de suas inclinações naturais. A julgar pelas estatísticas globais de entre 35 e 60 milhões de abortos realizados por ano, este não é o tipo de assunto que vai desaparecer facilmente. Tampouco a sua proibição é uma solução humana, já que têm levado muitas mulheres desesperadas a buscar abortos ilegais que sempre deixam, como consequência, numerosas vítimas e uma saúde arruinada.

O velho provérbio "um homem trabalha de sol a sol, mas o trabalho da mulher não acaba nunca" poderia ser atestado como certo por muitas mulheres hoje e ao longo da história. É indubitável que os avanços de nossa sociedade industrializada liberaram a mulher de muitas das responsabilidades diárias contraídas ao criar uma família e cuidar de um lar. Alguns poderiam discutir convincentemente que nos mecanizamos a tal ponto que a vida da família praticamente desapareceu. Ainda assim, como Arlie Hochshild, autora de The Second Shift, descobriu que quando tanto o homem como a mulher trabalha em tempo completo, as mulheres continuam assumindo a maior parte das responsabilidades domésticas. Estima-se que, a cada ano, as mulheres investem o equivalente a trinta dias (de vinte e quatro horas) mais que os homens no cumprimento de tarefas domésticas (Arlie Hochshild e Ann Machung, em The Second Shift). A emancipação das mulheres no lar é, desde já, tão necessária como a emancipação das mulheres no local de trabalho e pode ser conseguida com uma mudança de atitude por parte de todos nós com respeito às necessidades da vida diária. Esta mudança de atitude deve incluir as crianças, que podem facilmente ser educadas de maneira que considerem as tarefas caseiras como parte de sua responsabilidade e de sua contribuição para um funcionamento mais fluido do lar comum. As crianças estão desejosas de ajudar se lhes deixarem crer que suas contribuições são valorizadas.

Além de todas as responsabilidades domésticas, mesmo que os filhos são maiores e autossuficientes, em geral a mulher tem que se voltar para outras formas de serviço, cuidando dos velhos pais ou netos, enquanto os mais jovens saem para trabalhar. Apesar de toda mecanização da sociedade, nunca será encontrado um substituto para aquele que cuida de pessoas, o frequentemente desapercebido guardião de outras vidas (um serviço prestado, em sua esmagadora maioria, por mulheres).

A ESTRUTURA INSTÁVEL DA FAMÍLIA

“A Nova Era não será introduzida nem encontrará uma autêntica expressão de suas latentes energias através de antigas técnicas e atitudes. Surgirá através de formas totalmente novas e mediante o processo de se desfazer, inteligentemente, das velhas expressões da religião, do governo e dos idealismos sociais.” (Discipulado na Nova Era, Alice A. Bailey)

Nossas antiquadas estruturas atuais, sociais e econômicas, estão tendo um impacto dramático sobre a família de hoje, talvez mais dramático do que em nenhum outro setor das vidas de mulheres e crianças. Com demasiada frequência suas vozes não são ouvidas nos parlamentos dos líderes políticos do mundo. A família que, mais ou menos, conseguiu superar as tormentas do passado, começou, durante a última parte do Século XX, a se desintegrar. Condições tais como a rápida elevação de preço dos bens de consumo, a elevada taxa de desemprego, as catastróficas estatísticas de divórcio, a crescente incidência de famílias de um só progenitor, as más condições de moradia e a Aids, contribuíram entre todos a corroer o que há muito foi um dos pilares básicos da sociedade. A realidade atual nos situa num mundo com uma estimativa de 30 milhões de crianças abandonadas e uma comunidade global que ainda tem que elevar a voz com suficiente ira para começar a mudar a corrente desta tragédia.

O problema se estende para além da pura necessidade econômica e inclui também a pobreza do coração humano, já que é óbvio que, atualmente, muitos esqueceram o que outrora era considerado como um ato instintivo em estado natural no reino animal (o sentido inato de responsabilidade para com os próprios filhos).

É necessário conseguir mudanças estruturais na sociedade e na comunidade internacional; mudanças que levem a uma transformação interior da consciência, com a consequente melhoria exterior das condições. Talvez, as numerosas perturbações e separações na família e na instituição do matrimônio, sejam coincidentes com o fluxo de nova vida a estas “velhas formas” antes de uma nova revitalização e uma ascensão, por assim dizer, destes pilares fundamentais da sociedade. É certo que a mudança na consciência e no papel das mulheres contribui fortemente para a mudança na face da família. É de se esperar que, com o passar do tempo, a situação se transforme para modelar com maior facilidade o ideal de que “o homem não é melhor que a mulher, nem a mulher melhor que o homem”. Se adotarmos esta perspectiva, as separações podem, então, ser contempladas como boas e justas, e circunstanciais ao estabelecimento de uma nova e mais elevada associação de iguais, na qual nenhuma das partes seja submetida aos requisitos da outra, e seja fomentado o potencial interior de cada uma. Apesar de estarmos atravessando um período doloroso, existe grande esperança de que, mediante este processo, estejamos saindo da miragem e nos desiludindo para que, finalmente, emerjamos com maior medida de compreensão e apoio mútuo.

MULHERES E TRABALHO

“A nova mistificação é que as mulheres podem ter tudo. Atualmente, há toda uma nova geração de mulheres que se flagelam a si mesmas para competir pelo êxito segundo o padrão masculino, num mundo de trabalho estruturado para homens com esposas que se ocupam dos detalhes da vida”.(The Second Stage, Betty Friednan)

“As mulheres têm trabalhado, constante, continuamente, sempre e em todas as partes, em todo tipo de sociedade em qualquer lugar do mundo, desde o começo da humanidade”. (Heather Gordon Cremonesi)

“Organizamos a vida de tal maneira que um homem pode ter uma casa, uma família, amor, companhia, domesticidade e paternidade e, apesar de tudo, prosseguir como cidadão ativo de seu tempo e de seu país. Por outra parte, organizamos a vida de tal maneira, que uma mulher tem que “escolher”; tem que viver só, não amada, não acompanhada, não cidadã, sem lar, sem filhos, com seu trabalho como única compensação no mundo; ou abandonar o serviço ao mundo em troca das alegrias do amor, da maternidade e do serviço doméstico”. (Escrito em 1897 por Charlotte Perkins Gilman, ativista dos direitos das mulheres)

Betty Friednan foi durante muito tempo uma conhecida defensora dos direitos das mulheres. Seu livro The Feminine Mystique atua como catalisador do florescente movimento a favor dos direitos das mulheres dos anos 60 e 70. Agora, em seu último livro The Second Stage, pede eloquentemente uma redefinição das necessidades das mulheres, o conteúdo das mudanças nas ideias relacionadas com família e trabalho. É óbvio que a supermulher é um mito, já que as mulheres não podem tudo, cumprir com as responsabilidades da família e do trabalho, nem tampouco deveria de se esperar que pudessem.

É uma falácia manter o modelo nuclear da família como o ideal perdido, na crença de que a influência do movimento pela liberação da mulher animou-as a abandonar seu papel como provedora da segurança no lar para entrar no mundo do trabalho. A verdade nunca está definida com exatidão e a maioria das pessoas, hoje em dia, já não vive dentro dos limites do núcleo familiar tradicional. Na realidade, a família nunca foi uma unidade estática e, de fato, tem mudado e se adaptado ao longo de toda a história. As mulheres sempre trabalharam, tanto faz ou não se a sociedade escolhesse legitimar esse “trabalho” mediante uma compensação econômica. Parece bastante claro que, na atual conjuntura de nossa civilização, as mulheres, na maioria dos casos, têm que contribuir economicamente para a manutenção da unidade familiar. Hoje em dia, estima-se que cerca de 828 milhões de mulheres em todo o mundo estão em atividade, economicamente, desde 1990 (Nações Unidas, The World’s Women: Trends and Statistics 1970-1990). Mas conseguir uma cifra real das mulheres que trabalham é difícil, especialmente nos países em desenvolvimento. Existem muitas ambiguidades, por exemplo: onde acaba o trabalho doméstico não remunerado e começa a atividade econômica? Frequentemente, ao responder questionários, as mulheres se inscrevem como “donas de casa”, embora também trabalhem para o mercado ou produzem comida para seu lar. Não obstante, uma das maiores diferenças entre homens e mulheres é que, em geral, as mulheres aceitaram a responsabilidade adicional de dar à luz e criar filhos continuando, ao mesmo tempo, com o resto de suas obrigações.

Quanto mais tempo se emprega em gerar um salário e realizar as tarefas domésticas, maior é a necessidade de atenção à criança. Isto pode resultar numa união terrível para as mulheres. Muitas mulheres estão obrigadas a escolher entre ganhar um salário ou cuidar de seus filhos (e quase sempre escolhe pelos filhos). Um estudo da UNICEF descobriu que as mães brasileiras, devido ao aumento de suas responsabilidades ao fazer frente às numerosas crises da vida moderna, estão sofrendo um aumento de problemas de saúde mental. O informe diz que se sentem “duplamente culpadas: por uma parte se sentem culpadas como trabalhadoras, porque não são capazes de ganhar tudo o que necessitam e, por outra parte, como mães, já que suas possibilidades de ocuparem-se de seus filhos são praticamente inexistentes”.

Esta grande infiltração de mulheres em setores de trabalho, tradicionalmente de domínio masculino, não tem precedentes na história moderna, exceto em tempos de guerra. Então, é esta situação incompatível com dar à luz e criar filhos? Obviamente que não, mas por desgraça, devido à situação econômica atual e às pressões de uma carreira, numerosas mulheres se veem obrigadas a voltar ao seu trabalho pouco depois de dar à luz, deixando seus filhos aos cuidados de outros na etapa mais sensível de seu desenvolvimento. No continente africano e em outras partes do mundo, as mulheres em geral voltam ao seu trabalho no campo imediatamente depois do parto, mas a criança está quase sempre por perto, com a mãe ou com um parente e os laços de parentesco têm mais tempo para se desenvolver. A situação problemática que encontramos na juventude atual: os elevados níveis de violência, suicídios, uso de drogas e álcool, e a elevada taxa de fracasso escolar, clamam por uma solução. Mas muitos pais estão hoje lutando, fazendo as coisas o melhor que podem para manter adequadamente seus filhos, e passar mais tempo com eles é, com frequência, um luxo que poucos podem ter.

Muitas das jovens de hoje, ao terminar sua educação e se incorporar ao mercado de trabalho, parecem mais conscientes da luta travada em equilibrar profissão e família, talvez, por ter presenciado a luta de seus próprios pais e colegas. A realidade continua sendo que, na maioria dos casos, são as mulheres quem assume a maior parte da responsabilidade de criar os filhos. Quando a maioria destas mulheres está também trabalhando fora de casa, esta situação impõe uma quantidade incrível de pressão sobre elas.

A vida das mulheres, de longe, tem mudado radicalmente, com tantas portas de oportunidades e de liberdade de expressão que abriram recentemente diante delas. Entretanto, quando entram em seu direito natural de maternidade, ficam presas entre dois mundos. Não foram educadas com nenhum sentido real de restrição (pelo menos, em teoria, creem que podem conseguir qualquer profissão e trabalhar ombro a ombro com seus equivalentes masculinos). Mas, no elevado mundo do poder, grande pressão e competitividade do trabalho, as mulheres de hoje recebem escasso treinamento que pode prepará-las para a maternidade. Os bebês e as crianças pequenas não se adaptam com facilidade aos horários e ao ritmo de alta pressão de nossa sociedade ocidental. Quando uma mulher encara resolutamente com o assunto da criação dos filhos, compreende rapidamente que a vida não pode continuar como de costume. Entretanto, ocorre com frequência que se uma profissão é interrompida por um tempo prolongado, torna-se difícil “voltar à carga”. Nestes tempos em que as mulheres atrasam a época de ter filhos para conseguirem uma educação superior e avançar na sua profissão, a dificuldade de equilibrar as pressões da família e da carreira aumenta.

Estes assuntos são complexos e não existem respostas fáceis, mas não há dúvida de que começam a surgir mudanças. Uma maior flexibilidade no horário de trabalho tanto para homens como para mulheres, a instalação de creches de qualidade, trabalho compartilhado, comprometimento para educar os filhos tanto em casa como no trabalho, permitiriam a homens e mulheres combinar a família com a profissão de uma forma mais equitativa. Ademais, os ocidentais deveriam reexaminar o aspecto materialista de nossas vidas, para determinar se poderíamos ou não empreender uma maior simplificação de nosso estilo de vida, simplificação que talvez permitisse uma qualidade de vida melhor, mais no sentido espiritual do termo do que no material.

Alguns países, especialmente a Suécia e os demais países escandinavos, estruturaram sua sociedade de tal maneira que a vida de mulheres e crianças recebem ajuda considerável, graças à política social do governo. Em 1984, num momento de recessão econômica, o governo sueco negou-se a cortar os programas sociais de ajuda às mulheres e às crianças. Ao longo de toda a escala, desde o aumento da permissão de trabalho para os pais a partir do nascimento do filho, ao subsídio de creches e programas para após a escola, o governo sueco tomou uma postura firme e prática no apoio às mulheres e às crianças.

Atualmente, estima-se que num terço dos lares do mundo, a cabeça da família é uma mulher. A falta de influência masculina na vida de tantas crianças é uma tragédia global real, cujas ramificações não são fáceis de serem determinadas. Podemos presenciar, com grande facilidade, a necessidade de criar laços masculinos quando vemos o amor e a avidez que tantas crianças mostram na presença de homens (ou de qualquer adulto que demonstre interesse), como professores, irmãos mais velhos ou amigos. Indubitavelmente, faltam modelos sólidos de influência masculina responsável na vida de tantas crianças, que a responsabilidade e a oportunidade é grande para aqueles homens que podem pôr algo de sua parte, ajudando a cobrir as necessidades das crianças de hoje. Fica patente que uma visita ocasional, uma conversa casual ou uma pequena excursão realizada com certa regularidade, significa muito para estas crianças. Embora exista um abandono generalizado das responsabilidades familiares, por um número crescente de homens, também existe um grupo significativo de pais interessados que perderam a capacidade de contatar seus filhos devido à mudança de domicílio realizado pelas mães, ou ao distanciamento. Em alguns casos parece produzir-se uma falta de capacidade de resposta dos tribunais para atender os direitos legítimos dos pais. Atualmente há um movimento, nos círculos legais, que busca situar os direitos e necessidades da criança em primeiro lugar, acima e além das necessidades dos progenitores individuais. Porque é inegável que um número considerável de pais e filhos estão passando verdadeiras penalidades.

NASCER MULHER

“Ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher”. (O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir)

À parte de qualquer noção preconcebida que tenhamos de um mundo ideal, quem quer que reflita sem preconceitos sobre sua própria educação e os comentários das crianças, compreenderá rapidamente que existem enormes diferenças entre homens e mulheres. Poderíamos discutir se estas diferenças são sociais ou genéticas e, provavelmente, concluiríamos que as diferenças são, seguramente, o resultado de uma combinação de ambas, assim como de uma infinidade de outras variáveis, não parecendo que exista uma única resposta. Observou-se que os bebês nascem “neutros” quanto à identidade de seu sexo. Mas, praticamente desde o momento de seu nascimento, seu ambiente social começa a lhes moldar para que se considerem a si mesmos como “masculinos” ou “femininos”.

Desde os primeiro registros históricos descobriu-se que o infanticídio feminino era praticado com regularidade. Nascer mulher na Índia, na China ou nos emirados Árabes era extremamente perigoso, e em alguns casos continua sendo. Na China pré-revolucionária, as preparações para o parto incluíam, durante milhares de anos, a provisão de um recipiente com cinzas ao lado da cama de parto para asfixiar as meninas tão logo nasciam. É possível que esta prática ainda seja mantida, já que um artigo publicado recentemente no New York Times informa que no censo chinês de 1990 faltava o 5 por cento do total de meninas nascidas. Não está claro o que lhes sucedeu. Na Índia, as meninas eram estranguladas, envenenadas, lançadas ao mar, abandonadas na selva, serviam como comida para tubarões, ou eram afogadas em leite com uma prece para que voltassem como filhos meninos. (Rosalind Miles em Women’s History of the World)

Em muitos países, devido ao desenvolvimento da amniomancia, os fetos de meninas são abortados num ritmo alarmantemente elevado. A UNICEF informa que em Bombaim, na Índia, somente 1 em cada 8.000 fetos abortados era varão. Na China a política governamental de um só filho por família converte a notícia do nascimento de uma filha num evento que produz, quase sempre, tristeza e vergonha e que, em alguns casos, termina em divórcio. Estas atitudes extremistas por parte dos pais são, sem dúvida, transmitidas às meninas. Ser educada desde o nascimento como cidadã de segunda classe pode levar a sentimentos de inibição e a uma baixa autoestima que pode pôr-lhes peia para o resto da vida. A circuncisão feminina, que é a amputação de todos os órgãos sexuais femininos externos, continua em nossos dias em muitos países africanos. O informe da UNICEF sobre “As Meninas” afirma que é praticada atualmente em 30 milhões de mulheres em 26 países. A operação é feita em meninas de idade entre 5 e 8 anos, quando estão plenamente conscientes, quase sempre no meio da noite, com instrumental não esterilizado e frequentemente com morte por infecção.

Como são os pais os que veem diferenças em seus filhos, há uma tendência natural em tratar cada sexo diferentemente. Mas cabe a esperança de que as coisas mudem, por intermédio da influência que os homens e mulheres de hoje em dia, mais sensíveis e abertos, possam exercer sobre a vida de seus filhos. Ao ir amadurecendo estas crianças com uma atitude mais ampla e inclusiva a respeito aos papéis masculino e feminino, sua percepção de si mesmos não estará tão definida pelo sexo como por um comum sentido de humanidade que compartilha com todas as pessoas do planeta.

Mas a maioria das crianças que atualmente nasce mulher, ainda enfrentará uma série de expectativas preconcebidas e de condicionamentos que podem ser, por sua vez, vantajosos e danosos. Descobriu-se que as meninas, tipicamente, põem grande ênfase em estabelecer vínculos entre si e, portanto, se tornam mais empáticas que seus companheiros masculinos. Alguns estudos descobriram, também, que esta ênfase que as meninas põem em manter relações sólidas entre elas pode levar a uma crise na puberdade, quando as moças começam a compreender que as expectativas gerais da sociedade não valorizam tanto o estabelecimento de laços e relacionamento como conquista individual, um conceito em que os rapazes parecem se enfocar. Esta realidade permite aos rapazes jogar com vantagem no sistema educacional e numa sociedade que está orientada, fundamentalmente, para o mérito acadêmico e profissional. Como resposta a esta situação há um movimento entre certos educadores pedindo um enfoque da educação que adote “valores maternais”; valores como a capacidade de cuidar, a compaixão, a capacidade de relacionar-se e a colaboração. Um prolongado estudo feito nos Estados Unidos por Carol Gilligan, da Universidade de Harvard, indicava esmagadoramente que as moças, na adolescência, perdiam confiança e segurança em si mesmas ao afirmar suas opiniões, características que em geral persiste até a idade adulta. Com a idade de 9 anos, a maioria das meninas tinha segurança, fazia valer seus direitos e era positiva com respeito a si mesma. Mas quando chegava o momento de começar o curso superior, menos de um terço se sentia assim. (Making Connections: The Relational Worlds of Adolescent Girls at Emma Willard School, de Carol Gilligan)

Alguns informes recentes sobre programação infantil de televisão, nos Estados Unidos, indicam que é também um mundo no qual desde o princípio os meninos mandam. Programas protagonizados por conhecidas personalidades femininas haviam sido cancelados porque os meninos se negavam, claramente, a ver tais programas. As meninas, por sua parte, mostravam-se mais contentes em contemplar um programa masculino.

Esta parcialidade pelo masculino na televisão poderia facilmente contribuir para a queda de autoestima que algumas meninas sofrem mais tarde. Também descobriu-se que existe uma preferência decididamente masculina na literatura infantil, assim como em muitos dos livros mais populares e de maior vendagem, centrados nos meninos e suas aventuras. Mas estas barreiras podem ser evitadas pelo pai e educador seletivo e ilustrado, que se nega a comprar literatura a favor desta tendência, até que chegue o momento em que, tal tendência, considere conveniente ou se convença da necessidade de aumentar seu nível de qualidade.

A LIBERAÇÃO DOS CONDICIONANTES SOCIAIS

Deixando de lado os condicionamentos da infância, uma das grandes correntes liberadoras do nosso mundo atual é o fato de que fazemos o possível para que se mesclem as diferenças entre os sexos. Mais que em nenhum outro momento da história, estamos vivendo numa era de enorme franqueza no que concerne ao sexo e à liberdade de expressar a própria união, o próprio ser essencial, prescindindo dos condicionamentos sexuais e sociais. As linhas demarcatórias entre os sexos se fundiram a tal ponto que mulheres e homens são, em muitas instâncias, capazes de participar mais abertamente em todos os aspectos da vida, porque as barreiras que tradicionalmente os separavam estão caindo. Esta é uma das tendências mais favoráveis dos últimos tempos, já que permitiu às mulheres entrar, de maneira crescente, na corrente fundamental da sociedade, assim como ajudar a reduzir um pouco a pressão a que estão submetidos os homens.

Mas, assim como o racismo, o “sexismo” continua ainda entrincheirado, embora nem sempre seja fácil percebê-lo, de tanto sujeitados que estamos à sua influência. Verdadeiramente, muitas mulheres continuam ignorantes das forças em formação contra elas e assim sucumbem, facilmente, às atitudes entrincheiradas e às ações perpetradas pelas estruturas patriarcais da sociedade. Talvez, sem esta cumplicidade por parte de algumas mulheres (cumplicidade que poderia desaparecer mediante uma crescente educação e consciência das questões), a sociedade em geral poderia se libertar com mais celeridade dos limites de antigos condicionamentos e estabelecer um mundo mais equitativo, tanto para homens como para mulheres. Isto porque, não é provável que um dos maiores prejuízos para progresso das mulheres esteja no medo que suas próprias ideias influenciem muitas delas? Pode ser que as mulheres se aferrem ao passado e a uma falsa sensação de segurança é devido ao medo infundado de que entrar numa estrutura social desconhecida e nova requer uma mudança demasiado radical em nossa forma de vida. Não podem entender que todos temos muito que ganhar mediante as mudanças que são produzidas. Algumas mulheres alcançaram seus objetivos a expensas de suas qualidades e princípios femininos. Limitaram-se a adotar o sistema de valores masculinos, tal e como está, e assim não conseguiram nenhuma mudança real para as mulheres ou para a sociedade na sua totalidade. A verdadeira mudança só pode ocorrer quando tanto homens como mulheres chegarem a entender que os princípios femininos como a capacidade de cuidar, de sacrifício e de compaixão devem ser difundidos em todas as nossas instituições. Ter mulheres em posição de poder não é suficiente, necessitam-se homens e mulheres que busquem incorporar estes princípios que se acham centrados no coração. É possível que as mulheres se convertam em chefes de estado e que se aprove leis de igualdade de direitos, embora os valores masculinos mantenham-se em seu lugar como influência que guie a política pública e como força dominante na sociedade. As coisas só começarão a mudar, verdadeiramente, quando mais mulheres e homens começarem a trabalhar ativamente para melhorar as condições de todos os povos, sem distinções de raça, sexo ou nível econômico. O avanço progressivo mais natural pode ser observado nas gerações mais jovens e nas crianças de hoje, a quem as novas estruturas e formas de relações parecerão mais naturais e, portanto, menos ameaçadoras.

POLÍTICA

“Se chegou o momento em que a mulher se prepara para participar com peso e liderança no governo, a mulher, a portadora da vida, que fixa as bases iniciais da educação, tem também direito de criar melhores condições para o que ela pode trazer ao mundo. Seu sentido comum e, especialmente, seu coração, lhe ditarão numerosas soluções corretas”.(Helena Roerich)

“Quando falamos de novas formas de poder, não se trata de “poder sobre” ou de poder para dominar, aterrorizar ou oprimir. Quando falamos de não violência e de desobediência civil, nos referimos a abolir o poder tal e como o conhecemos e redefini-lo como algo comum a todos, a ser utilizado por todos e para todos. O poder patriarcal deve ser substituído pelo poder compartilhado, pelo descobrimento de nossa própria força em oposição a uma recepção passiva de poder exercido por outros, em geral em nosso nome”. (Petra Kelly – Partido Verde Alemão)

“Assim, chegará a ocorrer que, quando as mulheres participarem plenamente e por igual nas questões do mundo, quando entrarem seguras e capazes no mundo das leis e da política, a guerra cessará; porque as mulheres serão o obstáculo e o impedimento para a guerra”. (Abdu’l-Baba)

Um dos veículos mais efetivos, através do qual podem ser produzidas mudanças para uma grande quantidade de mulheres é a sua participação ativa nos sistemas políticos do mundo. Mas, hoje em dia, apesar dos muitos avanços em todo o mundo, as mulheres continuam exageradamente sub-representadas no mundo da política e atualmente ostentam só cinco posições como chefe de estado em uns 170 países. Somente uns 3.5% dos ministros de governo são mulheres e as mulheres não ostentam nenhum posto ministerial em 93 países do mundo. Somente em três países as mulheres têm mais de 20% dos postos governamentais em ministérios: Bhutan, Dominica e Noruega. Em 1987 a maior representação de mulheres no parlamento aconteceu na Europa Oriental e na ex União Soviética, com cerca de 28%, mas a recente reestruturação política nestas regiões outorgou às mulheres um papel mais débil. Nas últimas eleições, o percentual de mulheres nos parlamentos da Europa do Leste caiu significativamente. (The World’s Women p.33/32) Entretanto, em numerosos países, as mulheres estão hoje trabalhando ativamente em grupos de pressão e como defensoras das causas do desarmamento, da paz e do bem-estar social. As mulheres também desenvolveram um papel crescente na luta pelo meio ambiente, transformando esta preocupação numa questão central. Nos países em desenvolvimento as mulheres estão desempenhando um papel sólido na gestão do meio ambiente através de sua atividade em projetos de reflorestamento, de manutenção e cuidados com a água, promovendo desenvolvimentos agrícolas comunitários e tecnologias eficientes do ponto de vista energético. A investigação demonstrou que as redes de assistência criadas nas bases estão enormemente estendidas e são de grande importância na vida das mulheres. Embora os meios de comunicação não lhes prestem atenção, não deixam de desempenhar um papel crucial na assistência às mulheres, tanto no Norte quanto no Sul. É somente questão de tempo para as mulheres ocuparem o lugar que lhes corresponde junto aos homens na esfera política do mundo. Os eleitores inteligentes podem ajudar a assegurar que os eleitos mantenham os direitos das mulheres como parte central de seus princípios políticos, assim como animar mais candidatas femininas a se apresentarem para postos de alta responsabilidade.

O começo dos anos 80 presenciou a formação de uma nova e positiva força para a mudança do mundo político, o partido Verde, que surgiu inicialmente na Alemanha Ocidental, expandindo-se depois para numerosos países da Europa Ocidental e também para os Estados Unidos. Apesar de que o potencial de realização de todo movimento é em geral entorpecido pelas dificuldades diárias, há muito que dizer da visão deste movimento, que em grande medida encarna a visão que todos os homens e mulheres de boa vontade desejariam ver algum dia realizada no mundo. Uma das divergências significativas que os Verdes têm a respeito dos partidos políticos tradicionais é a percentagem de mulheres que atuam tanto em papéis de liderança como de colaboração dentro do movimento. De fato, o programa Verde advoga a criação gradual de uma sociedade não patriarcal, na qual as necessidades de todos sejam assistidas dentro do bojo maior da sociedade na sua totalidade. Embora talvez seja demasiado cedo para saber quais vão ser as consequências do seu movimento no tempo, os Verdes são importantes porque proporcionam uma visão prática que estão intentando realizar com espírito prático. O poder para a mudança, que pode ser canalizado por meio de hábeis manobras políticas, pode fazer muito para conseguir realizar esses objetivos que tem estado sobre o horizonte já há algum tempo. Os políticos que se apressam como advogados dos direitos das mulheres e de todos os povos, demonstrarão ser poderosos catalisadores para as mudanças necessárias que deverão se realizar para instaurar a “nova ordem mundial”, uma ordem em que as necessidades e o bem-estar de todos sejam reconhecidos como importantes.

O TRABALHO DAS NAÇÕES UNIDAS

“Nós, os povos das Nações Unidas, decididos a salvar as gerações seguintes do açoite da guerra, que por duas vezes em nossas vidas trouxeram indizível dor à humanidade e para reafirmar a fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e valia da pessoa humana, na igualdade de direitos de homens e mulheres e de grandes e pequenas nações...

E com estes fins, praticar a tolerância e viver juntos em paz uns com os outros como bons vizinhos...

Resolvemos combinar estes esforços para conseguir nossos objetivos”. (Carta de Constituição das Nações Unidas, Junho de 1945 – Preâmbulo)

Uma das maiores esperanças para as mulheres de todo o mundo e, particularmente, para aquelas mulheres que vivem em condições de pobreza nos países em vias de desenvolvimento, pode chegar através do trabalho das Nações Unidas e suas numerosas agências especializadas. De todas as organizações do sistema das Nações Unidas, as mulheres têm 3% dos postos de maior responsabilidade e 8% dos de alta direção, mas chegam até 42% nos postos de funcionários básicos (The World’s Women, p. 5). Apesar de que a injusta realidade que as mulheres estão exageradamente sub-representadas nos altos postos das próprias Nações Unidas, existe um esforço genuíno e concentrado nas agências especializadas para desempenhar um forte papel advogando por apoio às mulheres. Em dezembro de 1990 a Assembleia Geral instou à continuidade de todos os esforços possíveis para aumentar o número de mulheres em toda a organização das Nações Unidas, particularmente na alta estratégia e postos de tomada de decisões, para alcançar um percentual de participação total de 35% em 1995.

1975 foi contemplado como o Ano Internacional da Mulher. Na conferência da Cidade do México foi proclamado que de 1976 a 1985 seria a Década das Mulheres, como reconhecimento dos enormes problemas aos quais enfrentam as mulheres e à impossibilidade de qualquer mudança fácil a este respeito. Os temas para a Década eram, Igualdade, Desenvolvimento e Paz. A década intensificou os esforços dos governos e das agências internacionais e não governamentais por organizarem-se para melhorar a situação das mulheres em todo o mundo. Como resultado, numerosos países mudaram suas leis para melhorar a situação legal das mulheres e destinaram mais recursos a projetos que beneficiavam as mulheres. Uma das conquistas mais importantes da Década foi a Convenção para a Eliminação da Discriminação Contra as Mulheres, que foi adotada pela Assembleia Geral em 1979. Trata-se, essencialmente, de um projeto de lei internacional a favor dos direitos das mulheres. O Comitê para a Eliminação da Discriminação das mulheres foi criado para supervisionar o progresso da Convenção e está composto por juristas, advogados, professores, diplomatas e expertos em temas de mulheres. Diz-se que é um poderoso catalisador para a mudança. Como disse um membro do comitê: “Sem a Convenção, os países em vias de desenvolvimento teriam necessitado 20 anos para alcançar o nível de suas normas. Mas, graças à ela, as mulheres cultas, os advogados e os representantes das organizações de mulheres podem se agrupar para pedir mudanças que farão seu país subir seu nível”. Terminada a Década em 1985, os delegados de 157 países se reuniram em Nairobi, no Kênia, para revisar o progresso alcançado. Adotaram as “Estratégias de Nairobi Rumo ao Futuro para o Progresso da Mulher”, um projeto de atuação até o ano de 2000. As Estratégias de Nairobi são um modelo para os anos de 1986 a 2000 e esperam prover um esquema para a renovação do compromisso por parte da comunidade internacional, para o progresso da mulher e a eliminação da discriminação baseada nas diferenças de sexo. Uma Quarta conferência internacional sobre as mulheres acontecerá em 1995, provavelmente em Viena, na Áustria, na qual se intentará estimular o progresso para a igualdade das mulheres em todo o mundo. Algumas das prioridades para 1995 incluem uma campanha para informar às mulheres os seus direitos, a revisão de livros de textos tendenciosos, o mesmo salário pelo mesmo trabalho, a eliminação do estereótipo feminino dos meios de comunicação de massas e os passos necessários para assegurar um aumento de 50% no número de mulheres em postos de liderança no governo, na política e nos sindicatos. Um informe de junho de 1991, “As Mulheres do Mundo 1970-1990”, prevê o primeiro intento global de quantificar, estatisticamente, a posição das mulheres na sociedade. Apesar de que as mulheres realizaram avanços significativos durante os últimos vinte anos, o informe conclui que “a maioria continua, todavia, atrás dos homens em poder, riqueza e oportunidades”.

A EXPLORAÇÃO DAS MULHERES

“O homem não é melhor do que a mulher, nem a mulher melhor do que o homem. Entretanto, milhares de pessoas consideram a mulher como a personificação do mal e a base da tentação. Mas Deus ordenou desde o princípio que homens e mulheres satisfizessem suas necessidades mútuas e que atuassem como complemento um do outro”. (Alice A. Bailey – Psicologia Esotérica I)

“Quando o problema do sexo for resolvido... veremos o estabelecimento da igualdade entre os sexos, a eliminação dessas barreiras que existem no presente entre homens e mulheres e a salvaguarda da unidade familiar”. (Alice A. Bailey – Psicologia Esotérica I)

A resposta natural da beleza e graça das mulheres encontra-se na inerência que a gente tem de perceber a mulher. A beleza natural das mulheres tem sido uma fonte de inspiração para a expressão artística e para o trabalho criativo e abnegado ao longo do tempo. Situadas por trás da cena, numerosas mulheres têm atuado como exemplos inspiradores e como conselheiras de inumeráveis homens, mas esta situação também está mudando ao se transformarem as mulheres não só em inspiradoras, mas em agentes criativos e ativos em si mesmas. Lamentavelmente, a tendência para acentuar a beleza externa tem tido um efeito negativo sobre muitas mulheres e as têm distanciado do desenvolvimento de outros aspectos da personalidade.

Hoje em dia, em muitos países do mundo, faz-se um gasto anual de milhões de dólares em cosméticos, vestuário e na indústria da cirurgia estética para acentuar e manter a beleza e juventude do corpo físico. As sociedades ocidentais, em particular, perderam, lamentavelmente, grande parte da veneração pela velhice que era anteriormente um dos principais suportes da civilização ao longo do tempo. Na nossa era das comunicações são os jovens os que têm o protagonismo e os que atraem mais atenção. Com demasiada freqüência a sabedoria dos mais velhos é rechaçada e parece que, com arrogância e miopia, cremos que tem pouco a nos oferecer. Esta situação afeta fortissimamente as mulheres e, atualmente, entre as moças jovens, podemos observar um aumento na incidência de insatisfação e preocupação com o corpo físico, até o extremo em que muitas se submetem à cirurgia estética com idade cada vez mais nova, na busca do corpo perfeito. A elevada incidência entre as mulheres de bulimia, anorexia nervosa e regimes que causam inanição, é outra lamentável indicação do impacto que os modelos de beleza da sociedade exercem sobre as mulheres ou aos quais as mulheres decidem se submeter. Já não basta ter “bom aspecto”, muitos esperam a perfeição. Tudo isto está sendo divulgado num momento que grandes setores da população global não podem nem sequer satisfazer suas necessidades diárias básicas de comida e alojamento, um mundo em que milhões vão para a cama famintos a cada noite.

Com o aumento da cirurgia estética há uma escassa percepção real do aspecto que uma mulher tem, quando vai envelhecendo. Os homens mais velhos são, em numerosas instâncias, valorizados e percebidos como refinados e sábios. As mulheres mais velhas não são nem de perto tão respeitáveis, nem tão comerciais e, em geral, tornam-se “invisíveis”. O repúdio das mulheres quando a sua beleza começa a murchar, é um golpe devastador para a autoestima de muitas delas. Esta situação torna-se especialmente exasperante quando as mulheres mais velhas são desprezadas por seus homens em troca de outras mais jovens, como frequentemente ocorre. Afortunadamente, o movimento das mulheres tem feito muito para compensar esta situação, animando as mulheres a se valorizarem a si mesmas, assim como a sua dignidade inerente, sem fazer caso das aparências externas e também as animando a olhar para além dos limites das expectativas da sociedade tradicional e ampliar seus horizontes. Esta mudança na autopercepção das mulheres tem tido, ao mesmo tempo, um efeito positivo sobre os homens que, por sua vez, começam a mudar suas percepções e expectativas sobre as mulheres.

Os meios de comunicação se converteram em poderosos agentes na hora de colorir a nossa visão do mundo. Pode-se adquirir, instantaneamente, uma ideia das últimas décadas vendo filmes e, ao fazê-lo, compreendemos rapidamente quanto radicalmente mudou nossa percepção das mulheres. Mas, apesar de que a situação melhorou, continua prestando escassa atenção a um retrato realista das mulheres. Parte do problema consiste em que, geralmente, retrata-se as mulheres através da visão que os homens têm delas. Os homens predominam como roteiristas, produtores e diretores. Os meios de comunicação mudarão, sem dúvida, quando um número crescente de mulheres se introduzirem nestas posições e quando um número crescente de atrizes, assim como o público, exigirem papéis que retratem as mulheres de uma posição de fortaleza e segurança nelas mesmas, que não sejam humilhantes para a sua natureza essencial.

A prostituição e, mais recentemente, a imensa indústria pornográfica têm servido para submeter ainda mais a mulher. Hoje em dia nos encontramos com a glorificação da prostituição em muitos dos nossos mais notórios filmes, apresentando uma imagem sedutora de um estilo de vida que está muito longe da dura realidade e que, obviamente, está exercendo um poderoso efeito sobre nossas jovens de hoje. Muitos de nossos filmes rebaixaram tanto que mostram a pornografia tanto na trama, nos ângulos de tomadas, nos vestuários, nos adornos, etc. O que era, não faz muito tempo, só “aceitável” como pornografia para adultos, está se apresentando agora de forma altamente elegante e sedutora nos filmes de alta bilheteria protagonizados por estrelas de renome. Muitas das restantes mulheres do mundo do espetáculo (particularmente no mundo da música) imitam também a forma de vestir e o comportamento das prostitutas. Estas mulheres gozam de uma elevada popularidade entre as garotas jovens, que necessitam urgentemente de modelos com papéis positivos. A prostituição é, por certo, um problema tanto econômico como social, estreitamente unido à escassa capacidade de numerosas mulheres obter ganho, particularmente as mulheres de países em vias de desenvolvimento. Um programa recente de televisão citava a estatística de que mais de 70% das garotas cursando o curso superior na Rússia estava considerando seriamente a profissão de prostituta como forma de ganhar a vida. Esta é uma questão de grande complexidade, mas é óbvio que as proibições não servem de nada e que são essencialmente absurdas ao penalizar a mulher e não levar em consideração a ofensa dos homens. Numerosos estudos testemunharam a incidência muitíssima elevada das vítimas de abusos sexuais durante a infância que se dedicam à prostituição, e como o exíguo nível de autoestima nestas mulheres está com frequência disfarçado por uma ousada desvergonha. Talvez quando as garotas forem capazes de denunciar os abusos sexuais e também melhoradas as condições econômicas das mulheres, um número maior destas rechaçará, com toda lógica, este tipo de exploração, a começar por valorizar e respeitar-se a si mesmas. Há um desejo real de amor no mundo e pode ser que esta distorcida indústria reflita de alguma maneira sobre esta necessidade imperiosa.

Um informe de dezembro de 1990, no New York Times, afirmava que a proporção de depressão é o dobro nas mulheres do que nos homens e se crê que este dado está relacionado especificamente como o fato de ser mulher no mundo contemporâneo. Este informe examinou estudos recentes sobre a depressão nas mulheres e descobriu que os fatores que aumentavam o risco de incidência nelas incluíam abusos físicos e sexuais, pobreza, a parcialidade que persiste em formas como salários inferiores aos dos homens, matrimônios desfeitos, e mudanças hormonais. Indiscutivelmente, a violência contra as mulheres imbuída na sociedade, que aparece refletida na indústria cinematográfica, ajuda pouco a melhorar esta situação. Aumentam as informações de violência doméstica e violação de mulheres, e isto serve para aterrorizar e ferir ainda mais as mulheres de todo o mundo. Apesar de estarem declaradas oficialmente como ilegais, as mortes tendo como causa o dote estão aumentando na Índia. São causadas pelo noivo ou a família deste que vendem ou assassinam a noiva porque o dote levado para o matrimônio não foi considerado suficientemente abundante. O noivo fica então livre para voltar a casar-se com outra que possa levar um dote maior. Em 1985 foram registrados 99 casos de mortes por causa de dote. Em 1986 foram 1319 mortes e em 1987, 1786 mortes.

O recente debate nacional nos Estados Unidos, a respeito do assédio sexual, serviu para chamar a atenção do mundo sobre esta questão. Somente quando este tipo de assunto vier à luz publicamente, pode haver alguma esperança de mudar as atitudes e atos da sociedade em geral, que têm consentido que tais ações se perpetrem. No Japão, a situação é singularmente aguda, com cerca de 70% das mulheres japonesas denunciando assédio sexual no trabalho e 90% denunciando nos meios de transporte de ida e volta para o trabalho. De fato, até 1989 nem sequer existia uma palavra no vocabulário japonês que significasse assédio sexual. Atualmente, as mulheres do Japão estão começando a falar mais em apoio da proteção dos direitos da mulher. Até hoje, somente seis países europeus (Grã Bretanha, Irlanda, Dinamarca, Portugal, Espanha e França) têm algum tipo de lei que reconhece o assédio sexual. Mas o parlamento europeu está, atualmente, formulando as normas referentes ao assédio sexual, a representação sexual das mulheres na publicidade, assim como um número de outras questões que abordam o respeito e a proteção das mulheres. Embora estas normas não supõem a sua aplicação forçosa na Europa, não deixarão de ser poderosas na hora de imprimir forma à Comunidade Europeia.

AS MULHERES NOS PAÍSES EM VIAS DE DESENVOLVIMENTO

As mulheres dos países em vias de desenvolvimento, além de serem presas de todas as condições que oprimem as mulheres dos países mais desenvolvidos do mundo, estão sujeitas a uma carga de fatores adicionais que tornam as suas vidas extraordinariamente difíceis.

Para vergonha geral, a maior parte de nossa população global vive em condições de angústia e pobreza. Como as mulheres, em todos os países em vias de desenvolvimento, são em geral tratadas descaradamente como cidadãs de segunda classe, as garotas geralmente recebem os piores cuidados sanitários, educação e alimentação. Como suas mães, estão submetidas a horas de trabalho doméstico ao dia. Por exemplo, na África e na Ásia as meninas de idade compreendida entre 10 e 14 anos dedicam sete ou mais horas diárias às tarefas de casa. Para ajudar a melhorar a situação das meninas, a UNICEF está cuidando da criação de objetivos específicos que melhorem a sorte das meninas, com vistas a serem alcançados no ano 2000. As mulheres adultas em geral trabalham 18 horas por dia cultivando campos e jardins, cuidando de gado e aves, recolhendo lenha em bosques em vias de extinção e transportando água de lagos e rios em geral poluídos. Outros trabalhos incluem a colheita de grãos, o preparo de comida, o cuidado das crianças, a fabricação de conservas e a confecção de roupa para vender no mercado. Como no ocidente, milhões delas estão realizando isto sozinhas.

Na grande maioria dos casos hoje, um dos maiores problemas que as mulheres enfrentam nos países em vias de desenvolvimento é o fato de que elas continuam criando filhos com se estivessem na Idade Média. Os estudos indicam que mais da metade dos casais do mundo em vias de desenvolvimento, e mais de 90% em outros países, não utilizam nenhuma forma de anticoncepção. Embora as mulheres desejem menos gravidez, na maioria dos casos elas têm pouco ou nenhum acesso a centros de planejamento familiar, e se o têm, em geral enfrentam extrema oposição dos maridos. Nas áreas rurais, especialmente, as crianças são necessárias para trabalhar e prover a família, sendo a produção de crianças um símbolo altamente respeitado como virilidade masculina. O aborto é o principal método de controle da natalidade, não por escolha, mas, como se afirmou anteriormente, por falta dos recursos necessários para ter acesso a um centro de planejamento familiar. As principais causas da mortalidade das mulheres jovens do terceiro mundo são atribuídas à gravidez e aos abortos ilegais. Jodi Jacobson escreve em World Watch “...por cada mulher que morre, 15 a 20 sofrem problemas graves de saúde que afetam a sua capacidade de provimento para si mesmas e para suas famílias”. (World Watch, janeiro e fevereiro de 1991, pág. 9-11). Em 1987 WHO se une ao Fundo para Populações das Nações Unidas e ao Banco Mundial num plano de ação chamado Iniciativa para uma Maternidade Segura. Seu objetivo é melhorar a saúde materna e uma de suas prioridades mais importantes é treinar as parteiras e assistentes sanitários dos povoados a dispensar cuidados pré-natais, assistir aos partos e identificar gravidez problemática.

Em países como os do continente africano, a prática da poligamia serve para submeter ainda mais as mulheres e o nível geral de promiscuidade, tendo levado a inumeráveis tragédias, na era da AIDS. Três milhões de mulheres estão agora infectadas com o vírus HIV e uma elevada percentagem destas mulheres tem filhos, muitos dos quais nascem também infectados. As previsões realizadas por WHO assinalam que, para o ano 2000, 10 milhões de crianças estarão órfãos. Apesar desta espantosa tragédia, ainda há resistência para se proteger e numerosas vítimas inocentes estão morrendo. Devido ao baixo nível geral de saúde nos países em vias de desenvolvimento e à falta d e recursos médicos adequados, a enfermidade cobra um elevado número de vítimas ainda mais rápida e devastadoramente.

Encontramos uma tendência alentadora no Estado de Kerala, na Índia, que tem a menor proporção da população do país devido à sua ênfase em facilitar às mulheres serviços fundamentais como anticoncepcionais, cuidado com a saúde, salas de aulas e oportunidades econômicas. Rami Chahbra, assessor de imprensa do Ministério da Saúde e Bem-Estar Familiar em Nova Delhi afirma: “Essencialmente, nosso problema de população simboliza a impotência das mulheres em nossa sociedade. Devemos, portanto, ativar a consciência das mulheres, fazer com que reajam e ensinar-lhes a ter segurança em si mesmas e afirmarem-se. Em Kerala, um varão não pode mais confinar uma mulher e convertê-la numa máquina de procriar”. O percentual de analfabetismo no Estado de Kerala é de 70%, que é três vezes superior à média nacional.

Em numerosas partes do mundo em vias de desenvolvimento há um progressivo reconhecimento das mulheres por seus direitos e sua generalizada cidadania de Segunda classe. Como no Ocidente, os grupos para a assistência das mulheres e para educá-las nos métodos de ajudarem-se a si mesmas estão aumentando rapidamente. Criam-se departamentos de governo para o bem-estar da mulher, desenvolvem-se movimentos para uma educação igualitária e para a revisão de livros de texto. Os meios de comunicação e a imprensa estão também informando regularmente sobre as mulheres e seus direitos. Um sinal positivo é a recém criada constituição da Namíbia que tem sido louvada como uma das mais democráticas da África. Na sua constituição, uma democracia não pode ser considerada justa a não ser que garanta os direitos das mulheres.

A educação é, sem nenhuma dúvida, um dos meios chave pelos quais as mulheres podem começar a se elevar (e consequentemente a vida de seus filhos) acima do interminável ciclo de pobreza e de vidas subsidiadas. Têm-se comprovado repetidamente que uma mãe alfabetizada cria filhos alfabetizados e, por esta razão, são fundamentais os programas de alfabetização de mulheres. Não obstante, a situação é em geral difícil de mudar já que, devido às suas pesadas tarefas domésticas, as mulheres não têm tempo para salas de aula, nem para estudar. Ademais, muitas vezes não têm com quem deixar seus filhos ou seus maridos opõem à ideia.

Numerosas ONGs e outros grupos estão sendo ativados no serviço de alfabetização e os programas mais efetivos estão combinados para satisfazer as necessidades das mulheres, num esforço coordenado, oferecendo planejamento familiar, salas de aula, treinamentos em tecnologias simples para ganhar tempo, conhecimentos de saúde e nutrição.

O acesso aos serviços bancários para começar seus próprios negócios poderia facilitar enormemente a carga das mulheres que têm de passar horas transportando água e recolhendo lenha para o fogo. Organizações como SEWA (Self Employed Women’s Association) na Índia e o Grameen Bank em Bangladesh, estão dotando as mulheres com créditos para seus pequenos negócios e elas estão se tornando auto suficientes.

Assim, enquanto de incontáveis maneiras as mulheres pobres do mundo em vias de desenvolvimento são o grupo mais oprimido do planeta, existem atualmente numerosos esforços em marcha para ajudar a melhorar sua situação. E, se pudéssemos começar a reajustar a locação dos recursos mundiais de forma mais equitativa, as tecnologias de comunicação poderiam facilmente permitir que o acesso global à educação se convertesse em realidade. Um emprego progressivo de tecnologias simples para o cultivo, bombas d’água, arados simples e cozinhas simples de energia solar (eliminando a necessidade interminável de busca de lenha) permitiria a estas mulheres ganhar tempo para melhoria de sua qualidade de vida.

COMENTÁRIO FINAL

“Não há luz ou obscuridade para a alma, mas somente existência e amor. Apoiem-se nisto. Não há separação, mas somente identificação com o coração de todo o amor. Quanto mais amem, mais poderá crescer o amor através de vocês a outros. Os laços de amor unem o mundo dos homens e o mundo das formas; constituem a grande cadeia da Hierarquia. O esforço espiritual que se lhes pede é o de desenvolver em si mesmos um centro vibrante e poderoso desse fundamental amor universal”. Estas palavras de Alice Bailey apresentam sucintamente a solução para todos os nossos problemas mundiais e parecem ser de peculiar importância, no que concerne reconciliar as dificuldades que existem entre os dois sexos no mundo de hoje. Porque, por trás de todas as diferenças externas que provê o belo mosaico da vida tal como conhecemos, encontra-se a alma, o princípio unificador que, em essência, não conhece a separação que confere a vida no mundo externo.

Homens e mulheres estão destinados a se complementarem e equilibrem-se uns aos outros, chegando a ser maiores juntos do que a soma de suas partes individuais. Enquanto resolvemos as mudanças necessárias no crisol de nossa vida diária, podemos sempre manter no fundo de nossas mentes o princípio diretor e subjacente da síntese e da universalidade da vida. As mesquinhas divisões que nos separam uns dos outros carecem, na realidade, de qualquer importância ao longo do tempo. Preferencialmente, cada um de nós pode, em nossa vida diária e dentro dos limites de nosso ambiente individual, buscar eliminar essas divisões em nossas próprias consciências para podermos compreender mais plenamente a divindade que subsiste em todas as coisas. Então, quando os homens e mulheres de boa vontade em todo o planeta se dedicarem à tarefa de reconstruir o “santuário da vida do homem”, o faremos desta perspectiva mais equilibrada e de uma posição de fortaleza.

No livro Psicologia Esotérica, Vol I, pág 235 Alice Bailey descreve: “Quando o homem chegar a compreender a tríplice natureza de sua consciência, na profundidade de sua própria vida subconsciente, terá lugar, gradual e automaticamente, uma mudança na atitude do homem para com a mulher e da mulher para seu destino”. Esta mudança de atitude será ajudada por um reconhecimento e compreensão da Lei básica do Renascimento, que lançará luz sobre o fato subjacente da unidade da humanidade e da Imanência de Deus. Este conhecimento fará muito por atenuar as divisões atuais entre os sexos porque compreenderemos, com muita naturalidade, que o homem não é melhor que a mulher, nem a mulher melhor que o homem, já que todos vivemos e experimentamos ambas polaridades repetidamente ao longo do tempo. No mesmo livro, página 239, afirma-se que: “Somente no processo de diferenciação, a fim de passar experiências, o homem espiritual encarnante ocupa primeiro um corpo masculino e depois um feminino, arredondando assim os aspectos negativo e positivo da vida das formas. Toda a raça é culpável e deve estar ativa no processo de criar as corretas condições e pôr ordem no atual caos”.

Estamos testemunhando o ressurgir do princípio feminino, que tem sido silenciado durante muitos séculos, mas que nunca foi extinto, pois tem vivido e se alimentado na profundidade do coração humano. A prolongada supressão ou afastamento do princípio feminino para uma posição por trás da cena, tem sido, talvez, uma das maiores causas da miséria humana, já que tem deixado a humanidade se esforçando sob o peso de uma situação essencialmente desequilibrada. A inerente receptividade ao princípio feminino deve agora deixar sentir a sua presença e ajudar assim, ativamente, a remodelar os valores sobre os quais a civilização futura se baseará. Porque todos eles não necessários, urgentemente necessários, para realizar com êxito esta transição para a nova era.

Três acontecimentos que perfilam no horizonte contribuirão, substancialmente, para a melhoria e elevação da mulher à posição que tem sido destinada na nossa vida planetária: a entrada do Sétimo Raio de Magia Cerimonial, a entrada da energia que emana do signo de Aquário (o signo da era em que estamos entrando), o retorno iminente do Cristo e a exteriorização da Hierarquia espiritual. Muitos dos impedimentos do presente, no mundo, se despojarão mais rapidamente sob esta mudança na maré das energias espirituais que nos chegam.

O Sétimo Raio une e sintetiza espírito e matéria que, no plano externo, estão simbolizados pelas polaridades masculina e feminina. Ao impregnar-se esta energia, de forma progressiva, em nossa consciência, produzir-se-á, gradualmente, um crescente sentido do ritmo na vida diária. Nova Vida será injetada em todos os canais de esforço e, com segurança, a relação entre homens e mulheres melhorará incomensuravelmente. De fato, os ensinamentos de Alice Bailey indicam que no futuro a incidência de matrimônios salutares e complementares será tão elevada como o são hoje as estatísticas de matrimônios fracassados. Diz-se que existirão salvaguardas contra incursões excessivamente apressadas no contrato do matrimônio, e que se realizará o devido trabalho preparatório para assegurar a compatibilidade.

O signo de Aquário, mesmo nos tratados astrológicos tradicionais, é associado com um sentimento de irmandade universal do qual, talvez, os “hippies” dos anos 60 foram os precursores distorcidos. Aquário é um signo do ar, seguido pelo aquático signo de Peixes, que qualificou a nossa vida planetária durante os últimos 2.000 a 2.500 anos. O símbolo de Aquário, o Portador de Água, indica o estímulo que receberá o latente desejo de servir que reside em todas as almas humanas. Ao estender-se o serviço como princípio fundamental desta época seremos, logicamente, testemunhas do desperdício do sentimento de luta e conflito que tem estado tão desenfreado em nosso planeta.

O retorno do Cristo e da Hierarquia espiritual assinalará a segura anunciação dos ensinamentos espirituais com respeito à posição das mulheres no Plano divino. O Reaparecimento do Cristo, pág. 68 afirma: “O caos, a desordem, as perturbações emocionais e o desequilíbrio mental que existem atualmente no mundo, adquirirão equilíbrio de acordo com esta lei, mediante um equivalente ciclo de calma, quietude emocional e equilíbrio mental, emancipando a humanidade para que entre numa nova etapa e experimente a liberdade. A paz estará de acordo com os distúrbios experimentados”. A reconstrução da civilização requer o melhor que possamos oferecer de nós mesmos. A balança dourada do equilíbrio será a chave do futuro. As mulheres terão um posto nos conselhos do mundo e os homens aperfeiçoarão a arte da compaixão amorosa.

A era da Humanidade Una chegou. O lema que brilhou através da Europa durante a Revolução Francesa “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” tem ainda que ser conseguido, mas é um estandarte que não perdeu nada do seu atrativo original, um atrativo que ressoa das profundezas da humanidade. Hoje temos a oportunidade de começar a compreender a visão, por trás das inspiradas palavras e somente mediante a plena participação de mulheres e homens podemos consegui-la.

“Peço-lhes que abandonem seus antagonismos e antipatias, seus ódios e diferenças e que intentem pensar em termos da família una, da vida una e da humanidade una”. (Alice A. Bailey, Problemas da Humanidade)

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