A Precipitação da "Nuvem"
Dale McKechnie

O fato de saber que, nalgum lugar nas profundezas da mente de Deus, existe um grande armazém de “coisas conhecíveis”, é um pensamento reconfortante. Dá a impressão de um enorme cofre de tesouro repleto de ideias que, como joias, deslumbram a imaginação. Ideias para novos inventos que nos transportarão até às estrelas. Percepções relativas aos novos caminhos mediante os quais poderemos reverter o processo de envelhecimento de maneira que possamos viver para sempre e que nossos corpos nunca se desgastem. Ou, se não se trata de viver eternamente, pelo menos de como eliminar as rugas! Estou seguro de que estas ideias, e muitas outras sem importância, existem na grande “nuvem”, e talvez algum dia se precipitem na nossa consciência. Já temos evidência de que uma grande quantidade de precipitação tem tomado forma e motivado as atividades humanas. Não poderíamos considerar a Internet como uma correspondência no plano físico da nuvem de precipitação? Quase qualquer coisa que se desejar saber, qualquer ideia, pode ser encontrada na Internet, conhecendo-se o meio adequado de busca. O que verdadeiramente importa não são esses tipos de ideias no grande esquema das coisas, mas o que deveria ocupar os nossos pensamentos é o grande esquema que se mantém na mente de Deus. O mais importante é a glória maior que Deus demonstrará, finalmente, através de nós no reino humano, e as ideias que melhorem nosso entendimento do propósito divino.

Essas coisas conhecíveis existem no nível super consciente da mente e da alma. Estão localizadas aí porque, para poderem se precipitar no mundo sem problemas, têm que ir acompanhadas por uma combinação do amor e da sabedoria da alma. Existem muitas ideias que são demasiado potentes para podermos manejá-las, dado o atual estágio da nossa percepção limitada e egoísta. O Tibetano sugeriu algumas dessas ideias. Por exemplo, as que estão relacionadas com o emprego mântrico do som e do calor, e o segredo da levitação. No futuro, os sons mântricos serão utilizados para controlar as forças da natureza e do reino dos devas. Mas, recorrer ao reino dos devas nos exporá a tremendas potências que requerem ser manejadas com cuidado e sabedoria. Frequentemente o que nos falta é a sabedoria, como já vimos na utilização – na má utilização – da energia nuclear, e nos nossos esforços por controlar a contaminação do meio ambiente. A humanidade deve aprender a controlar a sua própria cobiça e egoísmo antes que se possa lhe confiar muitos dos segredos conhecíveis da nuvem de precipitação.

Antes que nós, a humanidade, possamos penetrar mais profundamente na nuvem de precipitação, nossa consciência precisa se imbuir do poder qualificador da alma. Esse poder é, como já sabem, o poder de um amor inclusivo e altruísta. É um poder compenetrador que apenas sabemos que existe, e muito menos pensamos que tenha algum valor material útil. Essa Percepção errônea forma parte do problema. No mundo atual parece que qualquer ideia nova deve ter algum valor material, do contrário não merecerá investir nela. Se o poder do amor e da boa vontade produz corretas relações humanas e a paz, então isto, segundo o raciocínio, é bom porque fomentará o comércio mundial. Esta é uma percepção extremamente limitada do nosso propósito no mundo, mas esta visão limitada constitui também, se formos capazes de vê-lo, nosso campo de oportunidade.

É óbvio que algumas das ideias mais cruciais que afetam nosso lugar no mundo já desceram da nuvem à nossa consciência. Trata-se de ideias que foram semeadas na consciência por Buda e por Cristo e outros iniciados de primeiro grau ao longo dos tempos. Gostaria de me concentrar em quatro ideias, quatro coisas conhecíveis do cofre de tesouro da alma que já possuímos na consciência: Fraternidade, Sacrifício, Salvamento e Vontade para o Bem. Essas quatro palavras existem na consciência humana há séculos. Mas sua expressão no mundo tem sido extremamente limitada. O que se requer agora é penetrar mais profundamente na nuvem do significado e relevância dessas palavras. Porque não são simplesmente palavras bem sonoras; na realidade, descrevem o próprio núcleo do propósito divino da humanidade no mundo. No seu conjunto, representam a grande oportunidade, o grande serviço que é nosso destino planetário.

A Fraternidade Mundial é o principal objetivo da era de Aquário. O plano da Hierarquia é que, dentro de dois mil anos, essa ideia seja um ideal plenamente realizado em todo o mundo. Em escala menor, já começou a se enraizar na nossa consciência. Por exemplo, no movimento trabalhista, que começou no Século XIX, temos a Confederação dos Trabalhadores Ferroviários, a Confederação dos Trabalhadores Siderúrgicos, e a dos Trabalhadores Mineiros. Estes primeiros sindicados trabalhistas demonstraram que o poder pode ser obtido por meio da cooperação coletiva, grupal. Diante de um considerável sacrifício pessoal aproveitaram a oportunidade para melhorar e elevar (isto é, salvar) suas condições de trabalho. Foi uma demonstração de vontade grupal que trouxe bons resultados aos trabalhadores e às suas famílias. Foi um primeiro exemplo do que a potência da fraternidade pode conseguir, incluindo esse nível material.

Como possivelmente sabem, o ciclo de 2000 anos da era de Aquário está dividido astrologicamente em três decanatos. E cada decanato, de aproximadamente 700 anos, está governado por um planeta regente específico. Portanto, a era de Aquário estará regida por Saturno, Mercúrio e Vênus, representando respectivamente Oportunidade, Iluminação e Fraternidade. Esses planetas já estão exercendo seu efeito. Saturno é o planeta do discipulado e da oportunidade – a oportunidade de experimentar um sofrimento material e emocional e, por meio do sofrimento, aprender a escolher corretamente, a analisar corretamente e a decidir-se por valores superiores. Produz uma etapa de crise que implica uma livre escolha e que produz a destruição daquilo que obstaculiza os valores da alma. Mercúrio estende a luz da alma – intuitiva e iluminadora – sobre a situação, para interpretar a relevância dos eventos e relacionar o passado e o futuro por meio da luz do presente. Finalmente, para o final da era, Vênus conferirá sua influência para produzir a união de coração e mente e introduzirá uma prolongada era de amor-sabedoria, de fraternidade e de expressão de relações fraternais. “Estes três: Oportunidade-Iluminação-Fraternidade são os contentamentos que Shamballa está planejando outorgar à humanidade durante a era de Aquário, se nos prepararmos para isso, se os empregarmos e os aceitarmos”. Esses são os contentamentos da nuvem de precipitação conhecidos pela alma, os quais devem ser descobertos por nós e aplicados a serviço do Plano. A humanidade tem hoje a oportunidade de trabalhar cooperando com a força de Shamballa, iniciando o caminho que nos é destinado.

A oportunidade está se apresentando de forma a nem sempre notarmos imediatamente, até lançarmos a luz iluminadora da alma sobre a situação. Gostaria de mencionar uma situação de crise que parece constituir uma oportunidade para demonstrar autêntica fraternidade em escala mundial. Estou falando da crise da AIDS. Ela constitui, agora, uma epidemia mundial e é especialmente aguda na África central e do Sul. O destino de milhões de homens, mulheres e crianças se encontra nas mãos de umas poucas companhias farmacêuticas do mundo. Os medicamentos necessários para combater esta enfermidade são caros, ou pelo menos as companhias proprietárias das patentes dos medicamentos os encarecem. E os custos elevados os põem fora do alcance dos pobres, que são a maioria. Os empresários dizem que devem pôr um preço elevado para poderem recuperar o custo de suas pesquisas e testes, e para poderem realizar lucros para seus investidores. Neste mundo altamente competitivo, o mais importante é a conta de resultados, que estabelece o padrão de valores; o que pode, talvez, constituir uma preocupação legítima em tempos normais. Mas quando nos confrontamos com uma epidemia de proporções monumentais, não deveria ser melhor estabelecer um precedente com padrão de valores mais elevados? Não podemos compreender que neste mundo globalizado devemos ser o guardião de nossos irmãos? A crise da AIDS, se a entendermos, nos apresenta uma oportunidade para demonstrar fraternidade, sacrifício e salvamento.

Geralmente penso que o sofrimento experimentado por pessoas que se veem envolvidas em desastres naturais como terremotos, inundações e tornados é a maneira que Deus tem de nos oferecer uma oportunidade de liberar a energia da alma para ajudar no esforço de salvamento. Isto é essencialmente o que acontece em tais casos; os seres humanos, na maioria das vezes, estão à altura das circunstâncias. Dão, voluntariamente, de si mesmos, de suas capacidades, seu tempo e seu dinheiro, para contribuir com o esforço de ajudar. Estes pequenos atos de amabilidade e amor acumulam-se na consciência humana ao longo do tempo e ajudam o reino humano a tornar-se mais sensível e amorosamente radiante. Se a gente humanitária de todo o mundo puder sacrificar seu tempo e seu dinheiro na ajuda a desastres, não poderiam, também, as companhias farmacêuticas porem-se à altura da ocasião? Elas têm o conhecimento e as medicinas necessárias. Mais do que usar a epidemia da AIDS como uma forma de aumentar seus lucros, não poderiam esquecer a concorrência, unir seus esforços e simplesmente fazer o que falta para acabar com esta praga? O mundo tomaria nota de semelhante gesto de boa vontade. Indubitavelmente, melhoraria a sua imagem. Algumas companhias já baixaram os preços de seus medicamentos destinados à AIDS. Mas suspeita-se que esta decisão está mais motivada pela concorrência de outras companhias farmacêuticas no Brasil e na Índia do que devido a elevados sentimentos altruístas. Se existisse uma cooperação total entre as companhias farmacêuticas, a Organização Mundial da Saúde, os médicos, enfermeiras, e os sanitaristas do mundo, todos trabalhando unidos num espírito de autêntica fraternidade, a epidemia da AIDS poderia ser detida, ou pelo menos colocada sob controle. Um verdadeiro espírito de sacrifício – que realmente significa “tornar-se responsável” – poderia ser demonstrado, ao ocupar-se da tarefa de salvar milhões de vidas. Isto seria uma autêntica demonstração que o ideal aquariano de fraternidade está começando a penetrar na consciência humana, e que a humanidade está respondendo ao poder da Vontade para o Bem, o poder de reunir pelo bem da totalidade, o poder de sacrificar e salvar.

Esta ideia pode parecer absurda, ingênua e altruísta a um executivo de uma grande companhia farmacêutica. Mas as epidemias, como os desastres naturais, são oportunidades para ajustar nossos valores, são oportunidades para deixar “que a alma controle a forma externa, a vida e todos os acontecimentos, e traga à luz o amor que subjaz em tudo que ocorre nesta época”. Estas são as coisas conhecíveis que realmente importam.

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